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Agricultura Sustentável e os Desafios Inerentes

A Agricultura Sustentável pode ser definida como uma agricultura ecologicamente equilibrada, economicamente viável, socialmente justa, humana e adaptativa (Reijntjes et al., 1992). Algumas definições de agricultura sustentável incluem ainda: segurança alimentar, produtividade e qualidade de vida (Stockle et al., 1994), mas existem também outras possibilidades8 (Lehman et al., 1993). Segundo Hudson & Harsch, 1991, a utilização sustentável caracteriza-se como a prática de sistemas de produção animal e vegetal integrada que de forma duradoira assegura os seguintes aspectos: (i) a satisfação das necessidades em alimentos incluindo fibra; (ii) o enriquecimento da qualidade do meio

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Segundos (Ehlers, 1996) existem catorze definições diferentes de Agricultura sustentável. Pretty apud por Ehlers, refere que desde 1987, existem mais de setenta definições, cada uma delas apresentando diferenças, cada uma reforçando diferentes valores, prioridades, objectivos e outros.

ambiente; (iii) o aumento da eficiência no uso de recursos não renováveis; (iv) a manutenção da viabilidade económica das operações dos campos e o enriquecimento da qualidade de vida dos produtores e da sociedade em geral.

De forma sumária os conceitos acima convergem ao considerarem as dimensões de sustentabilidade, social, económica e ambiental para proporcionar uma qualidade de vida que seja presente e durável pensando também em futuras gerações. A agricultura sustentável é um processo complexo, porque depende das especificidades de cada região. Assim recomenda-se que as tecnologias possam ser testadas e adaptadas antes de serem implementadas, tendo em consideração as especificidades sócio e agro-ecológicas de uma dada região, para serem sustentáveis (Marcatto, 2008).

A pobreza é uma das causas de problemas ambientais e ela deriva de estruturas político e económicas que encorajam a sobrecarga de terras, destroem sistemas tradicionais de maneio de recursos, privatizam recursos públicos e subsidiam tecnologias não sustentáveis (Allen, 1993). Marcatto (2008) e IFAD (2012) concordaram com Allen (1993) alegando também a pobreza como o problema principal da sustentabilidade, em que as difíceis condições de geração de renda contribuem para o uso não regrado de recursos por falta de condições de trabalho.

A agricultura não pode ser sustentável enquanto houver má distribuição de poder, terras, bens e saúde entre as pessoas (IFAD, 2012). Assim, atacar os problemas da pobreza é um caminho incontornável para à sustentabilidade, sendo primordial o envolvimento de stakeholders9 nesse processo (IFAD, 2012). Esta tese foi reafirmada pelas Nações Unidas através dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), ao decidir acabar com a fome e a pobreza em todas as suas formas em todos os lugares do mundo até 2030 (General Assembly, 2015).

Nas suas análises sobre gestão sustentável de recursos naturais, Hudson & Harsch, (1991) apontaram os seguintes problemas como sendo os mais comuns resultantes de práticas não sustentáveis de agricultura: a prática de queimadas descontroladas, o desmatamento não

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Stakeholder: qualquer indivíduo ou grupo que pode influenciar/afectar o desempenho de uma organização ou ser influenciado/afectado pelos objectivos desta (Freeman, at al. 2004).

43 seletivo, os métodos inapropriados de cultivo da terra, como o cultivo em declives sem a observância de medidas inerentes e o uso inadequado de produtos químicos.

As práticas não apropriadas de cultivo de solos resultam na perda de espécies animais e de plantas, sobretudo nativas. Para além disso, pode ocorrer também a distorção do ciclo de nutrientes nos ecossistemas, devido à descontinuidade feita nas cadeias alimentares e a salinização de solos devido ao uso inadequado de fertilizantes e pesticidas (Hudson & Harsch, 1991; Shiva, 1991; Gadziray & Mutandwa, 2006).

A agricultura contribui diretamente para os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) 1 e 7 (ONU, 2010), nomeadamente, Erradicar a pobreza extrema e a fome, através do aumento da disponibilidade e de acesso aos alimentos, e Garantir a sustentabilidade ambiental, através, portanto da observância de Políticas e aplicação de tecnologias e de metodologias compatíveis com uma agricultura sustentável, respectivamente.

De forma indireta, mas não menos importante, a agricultura contribui também para os outros ODM, seguintes: Objetivo 2: Atingir educação primária universal; Objetivo 3: Promover a igualdade de género e a aquisição de poder pela mulher; Objetivo 4: Reduzir a mortalidade infantil; Objetivo 5: Melhorar a saúde materna; Objetivo 6: Combater o HIV e SIDA, a malária e outras doenças e o Objetivo 8: Criar uma parceria global em prol do desenvolvimento. Deste modo, implementar os ODM é uma forma de praticar ações de desenvolvimento sustentável.

Os ODM também influenciam-se mutuamente. Por exemplo, a capacitação de produtores agrários é um processo educativo que contribui para o desenvolvimento do capital humano (Schuh, 2001). O desenvolvimento humano requerer saúde e nutrição adequadas. Neste processo está evidente de forma inequívoca, a necessária implementação coordenada de todos os ODM.

Foi depositada grande aposta sobre os ODM de tal forma que as cifras revelaram-se desafiantes para a sua conquista a escala mundial. O presente trabalho não pretende avaliar o balanço do seu cumprimento mas a meta mundial da ODM 1 partia do seguinte pressuposto: a Cimeira Mundial de Alimentação realizada em Roma em 1996, estimou que 800 milhões de pessoas, correspondente a 20% da população sofriam de malnutrição

crónica. Que para se alcançar o ODM de reduzir a insegurança alimentar em 2015 para metade, teria que reduzir em 20 milhões por ano, contra os 8 milhões por ano nessa altura (Rivera & Qamar 2003). A relação entre o desenvolvimento agrário sustentável, o alívio à pobreza e a equidade do género, sobretudo em África tem sido preocupante, existindo práticas consideradas pouco coerentes (Harris, 2007). Como exemplo, este autor mencionou que o fato de a atribuição de responsabilidades à intervenção local de desenvolvimento não ser correspondida pela disponibilização de respetivos recursos tem limitado a implementação de ações locais de desenvolvimento (Harris, 2007). Esta discrepância entre as atribuições e recursos disponibilizados pode servir para agravar a marginalização de grupos vulneráveis, sobretudo de mulheres nas zonas rurais.

Os recursos atribuídos a investigação e a extensão, igualmente revelam-se limitados em relação ao trabalho requerido desses subsectores para o desenvolvimento agrário. As análises feitas por TCD (2015) sobre o financiamento da investigação e da extensão indicam que o orçamento atribuído em África manteve-se estagnado na década de 1980 a 1990 com cerca de 1200 milhões de Dólares Americanos por ano. Este valor é considerado um pouco mais que o valor atribuído em 1976. Entretanto, na década de 1960 a 1970, houve duplicação do valor atribuído, de 360 milhões de Dólares Americanos em 1961 para 993 milhões em 1976.

O orçamento atribuído à investigação e a extensão em África depende em geral de fundos externos providenciados por parceiros de cooperação. TCD (2015) aponta que a saída dessa vulnerabilidade na dependência em recursos financeiros deve ser atingida através da diversificação de fontes de financiamento, fortalecendo as ligações com outros intervenientes como o setor privado e a Academia. Neste processo, a promoção de serviços de extensão de procura é crucial para interessar sobretudo o setor privado (DNEA, 2007; Curtis, 2011; Mc Arthur, 2013; TCD, 2015). Alguns países como Uganda, África do Sul têm tradição de contarem com firmas privadas como parceiros fortes que financiam a investigação e a extensão agrária numa base regular (TCD, 2015).

A investigação e a extensão devem ser adaptativas, considerando a inovação e adaptação de tecnologias e de metodologias para os contextos que caracterizam os vários sistemas de produção agrários (Alage, 2002; MINAG, 2011a; Garrity et al., 2012). Os desafios da

45 investigação e da extensão no processo de geração, adaptação e adoção de tecnologias pelos produtores são agravados, entre outros, pelas mudanças climáticas, cujos impactos se revelam assoladores (Cenamo, 2004; Conti, 2005; Adefila, 2011).

Nessa perspectiva os países africanos têm o desafio de combater a fome e a pobreza, munindo os produtores com tecnologias adequadas através de serviços de extensão agrária inovadores e dinâmicos em resposta às limitações, sobretudo dos produtores mais carenciados. É nesta ótica que os países africanos, na sua maioria, desencadearam um processo de reformas agrárias em geral e particularmente nos seus serviços de extensão agrária de modo a providenciarem serviços mais eficientes e eficazes para almejar o aumento da produção e da produtividade (Qamar, 2005 e Hurtiene, 2005; Gadzirayi, et al., 2008; Nyamike Jnr & Adjoe, 2008; Philibert, et al., 2008; Tigere, et al., 2008; Pye-Smith, 2014).