• Nenhum resultado encontrado

Abertura do acesso à Praia e Loteamento Ipitanga Aracui Lauro de Freitas Meados

Fonte: GESTÃO ISMAEL ORNELAS (2015). Nota: Comentário da foto extraído da fonte original.

Ainda tratando das classes populares, os que chegaram mais recentemente, entre o final dos anos 1980 e meados dos 2000, já evidenciavam as mudanças Foto reproduzida do original. Estrada aberta pela Mobiterra,

loteamento Praia de Ipitanga. Vê-se o prefeito Ismael Ornelas Farias, visitando a “nova via” à Praia de Ipitanga (placa) nos limites da antiga Fazenda São João, Fazenda Buraquinho (Vilas do Atlântico à esquerda exatamente nos limites do bairro Araqui, Praça de Arcanja. Vê-se ainda areia e vegetação de caatinga – o prefeito conversa com acessor).

do entorno: Vilas do Atlântico gradativamente tornando-se local de moradia, alguns sítios assumindo a condição de domicílio e os primeiros empreendimentos destinados à moradia surgindo na Rua Juracy Magalhães, em Pitangueiras. Também, ainda que lentamente, alguns pequenos e simples equipamentos comerciais e de serviços eram inaugurados. No entanto, as avaliações do bairro quando de sua chegada é similar à dos mais antigos: “Era muito matagal!”; “[...] muito bom, tranquilo. Só não tinha as coisas, comércio”; “era ótimo, tranquilo, não tinha violência, assalto...”.

Todos os integrantes das classes populares que residiam há mais de cinco anos no Aracui ou em Pitangueiras notavam as alterações nos bairros com o passar dos anos. No geral, falaram das melhorias: ampliação na oferta de serviços, aumento no número de estabelecimentos comerciais e de residências, pavimentação das ruas, ampliação da ligação à rede de abastecimento de água etc. Apontaram o que designaram como a “evolução” e a “valorização” do bairro, fato associado aos loteamentos voltados aos segmentos sociais de maior renda.

Veja-se o que diz um jardineiro que viveu parte de sua infância e adolescência em Pitangueiras:

Naquela época [há 28 anos] era pacata [...] Apareceu Vilas, abriu a rua... asfalto foi mais ou menos em 2000... Tinha luz quando a gente chegou, era a única coisa que tinha. [...] Água era de poço, a gente pegava no mato. Tomava banho e pegava água [...] Esse condomínio todo [Eco Vilas] era área de lazer da gente... Naquele tempo era maravilhoso! Tinha lazer, não tinha violência. [...] Tá desenvolvendo e a violência veio pro bairro da gente. [...] Quando veio o condomínio [Eco Vilas] foi que veio o asfalto... desenvolveu mais para ter acesso a Vilas.

Uma faxineira de 64 anos e seu esposo, há 32 moradores de Pitangueiras, contaram que “Aqui era uma fazenda [...] Hoje não, tem tudo! [...] Mas, tem violência, a gente não pode sair, tem medo de nada. [...] Quando tava construindo Vilas, que veio a luz. [...] Quando canalizaram Vilas, depois foi que a água chegou [...]”.

No entanto, os problemas relacionados à infraestrutura pública não foram totalmente sanados, principalmente, o asfalto não tem qualidade e em algumas em algumas ruas ele inexiste. Ainda, não há rede de esgoto.

Mas, correntemente se destacou que o “crescimento” do bairro aconteceu junto ao aumento da violência. Esse aspecto, aliás, aparece na maioria das respostas, em particular entre os residentes mais antigos.

Contrastando com as descrições realizadas sobre o passado, na reunião ocorrida na AMA falou-se que o mais significativo no dia a dia do bairro, no presente, é o medo, o trabalho e a falta do passado. Antes, andava-se na rua à vontade, a qualquer hora. Havia festas, brincadeiras, jogos e encontros. “Esse passado que agregava, faz falta. O medo atrapalha”; “Os passeios que a gente fazia não dá pra fazer por causa da droga [...]”.

Nilton Silva120, um pedreiro que reside há 45 anos no Aracuí, entendia que:

[...] apesar de ter saudade da minha infância, essa mudança faz parte da evolução [...]. Antigamente aqui... não tinha nada, tipo um mercado, um hospital... Vivíamos bem, naquela época era bom viver, não é? Aquela vida de roça era boa... Mas tinha dificuldade no transporte. Tinha dificuldade na saúde. Hoje já não tem essa dificuldade... apesar de, né, ter sacrificado a natureza [...] mas a vida melhorou muito...

Prossegue dizendo que na sua infância “[...] a uns 200 metros antes de Arcanja, acabava a estrada e daí em diante... dali em diante [...] era só, somente mato. Mata fechada. Hoje é Vilas do Atlântico, Praia de Ipitanga, é o Jóquei [...]. Hoje tudo existe. Na época não”.

Na sua concepção,

[...] hoje eu, eu... infelizmente eu [...] a violência infelizmente tomou conta, faz parte do dia a dia do povo brasileiro, né? [...] Eu tenho 41 anos que moro aqui e hoje,... hoje tenho um pouco de receio de andar na rua onde fui criado. [...] A causa da, da mudança... aumento da população. Simplesmente. [...] Hoje você tem Lauro de Freitas, você estuda, você se forma, você tem faculdade, tem empresas pra trabalhar, você mora, você tem lazer em Lauro de Freitas. Hoje você não tem necessidade de ir pra longe pra capital pra ver... pra... Hoje aqui mesmo você faz tudo. Lauro de Freitas realmente falta pouca coisa pra... completar.

Aqueles que chegaram mais recentemente, que têm menos de cinco anos de residência na área de estudo, em geral, realizaram comentários sucintos sobre seu bairro, embora não muito distintos do que foi dito pelos residentes mais

120

antigos. Realçaram a acessibilidade aos serviços e ao comércio e a precariedade do asfalto e dos serviços públicos.

Na leitura dos relatos das classes populares sobre das mudanças efetivadas no Aracui e em Pitangueiras, é notória a ideia de que geraram, simultaneamente, maior conforto e apreensão. O conforto é muito associado à expansão dos investimentos do capital imobiliário no entorno, na medida em que eles são as referências para situar o momento da instalação da rede de distribuição de água e a pavimentação das principais ruas. Além disso, esse movimento foi paralelo ao crescimento da população e à ampliação da oferta de empregos.

A apreensão é muito relacionada ao tráfico de drogas e, do mesmo modo, à ampliação demográfica. Porém, fala-se aí das invasões do entorno (os bairros de Lagoa dos Patos, Chafariz e Lagoa da Base). Em nenhum momento atribui- se a violência aos moradores dos bairros pesquisados. Argumenta-se que a rua não é mais segura, o que dificulta inclusive a manutenção das antigas relações de vizinhança. Para um senhor de 86 anos, “Gostava mais antes, a gente vivia à vontade, não corria risco. Hoje tem que se apegar a Nosso Senhor Jesus Cristo! A segurança é Deus”.

Everaldo Santos121, um pintor que reside no Aracui há 36 anos, ao falar de sua infância contou que

Minha lembrança é o Jóquei, que era aí no fundo, onde agora é a Unime122, agora é esse condomínio... Antes tinha o Jóquei123... Era a área de lazer da gente era esse fundo aí, esse terreno aberto. Agora também não tem mais nada, né? Cabô (sic) o Jóquei... a única parte da nossa infância mesmo que tinha, era essa parte mesmo aí do fundo, do Jóquei. Hoje não tem mais nada aqui que lembre minha infância, assim... Já tá tudo apagado mesmo... Já modificou tudo. [...] É... minha infância aqui era sempre brincando [...] Cavalo, muita volta de cavalo”. Com o “crescimento” e o “progresso” da cidade, “[...] as coisas foi se modificando (sic) aí... é por isso que a infância da pessoa fica apagada, né? Porque é muita coisa que já foi construída, né, já expandiu e acaba fugindo até da lembrança da pessoa.

Ele revelou que, conforme o lugar em que vive foi sendo transformado, seus referenciais se diluíram e a forma de percebê-lo e vivenciá-lo se alteraram.

121

Entrevista concedida em 18 de julho de 2014.

122

Conjunto de faculdades nomeado União Metropolitana de Educação e Cultura (Unime).

123

No local onda havia o Jóquei Clube de Salvador, foram implantados condomínios compostos de villages e edifícios, bem como parte outros empreendimentos.

chegando as faculdades, né... os comércios, os mercados (sic)... e nisso a cidade foi ficando do jeito que a senhora tá vendo aí: apertada. Hoje em dia você não pode nem... mais transitá (sic), né? De carro, principalmente de carro. A pé ainda dá, mas de carro...[...] cresceu demais... Cresceu tanto que ficou apertado, né?

A rua apertada, tumultuada, dificulta a circulação e mesmo estar nela. Mas, esse crescimento revela aspectos positivos:

Emprego que aqui faltava, hoje em dia não falta mais. Tem gente que fica desempregado por opção, né, mas, na minha época [de juventude] era muito mais desemprego do que... era hoje”. Além disso, “Mercado que é perto, é... a escola dos meninos também que é perto... Hospital que também é perto...

Porém, há a violência. “Saiu disso, aqui é uma maravilha!”. Por essas palavras, assim como por outras falas acima, vê-se que, para as classes populares, a rua, antes percebida como espaço de lazer e encontros, passa a significar apreensão.

3.4.2. Classes médias

O rol de observações feitas pelas pessoas das classes médias que vieram para o Aracui e Pitangueiras há mais de 20 anos tem elementos similares aos mencionados pelas classes populares. Também relacionam o passado à precariedade e ao pequeno número de habitantes e de moradias. Repetem-se ideias tais como “as ruas eram de barro”, “não tinha tanta casa”, “não tinha nada”. Igualmente menciona-se o uso da rua como espaço para brincadeiras e para a convivência com os vizinhos.

Porém, aparecem percepções distintas das até aqui citadas. Pitangueiras foi descrita como área de veraneio e valorizada pela possibilidade de contato com a natureza. Entre os que responderam aos questionários e que viveram sua infância nesse bairro, ouviu-se que “[...] toda rua era de barro, era calma... Antes a gente tinha mais contato com a natureza, com os vizinhos...” e que “[...] a sociedade era bem unida [...] tudo era festa aqui na rua: Natal, São João, sábado de Aleluia. [...] Tinha muito lazer porque a gente tinha espaço”. Em relação ao Aracui, “Era muito bom, maravilhoso! Tinha rios, dunas... As ruas era (sic) de barro, mas a gente vivia mais a natureza [...] a água era cristalina, tinha peixe... Era uma maravilha! Me arrependo de não ter curtido mais...”.

Para João Rocha , antes,

[...] a gente reclamava que não tinha nada. [...] Mas, eu acho que tinha tudo e a gente não valorizava isso. A gente tinha muitos... árvores [...] pra gente seguir pra, pra praia em Vilas do Atlântico, que hoje é Vilas do Atlântico, era um caminho que a gente seguia até a praia. [...] Aqui também tinha um São João que era muito... é... valorizado. [...] todos os anos tinha uma festa de São João. Fechava tudo isso aí, a comunidade, todo mundo, participava, era muito bolo, é quadrilha... e era tudo de graça! [...] aqui [também] tinha o futebol, né [...] a comunidade final de semana... era todo mundo envolvido. O campo se enchia de gente, não só daqui da comunidade, mas de Portão, Lauro de Freitas... [...]. E sempre também, festas. Era um motivo de festas, toda semana na casa de um amigo, que faziam aqui... Datas comemorativas, Páscoa [...].

Segundo avalia, embora houvesse uma série de carências, vivia-se junto com a comunidade e havia tranquilidade.

Essas falas são de pessoas cujos pais pertenciam às classes populares e que tiveram uma infância e juventude convivendo com indivíduos dessa mesma classe125. No entanto, essa visão não lhes foi particular.

As palavras da filha de uma secretária bilíngue, que possui nível superior e que trabalhava numa das empresas do Copec, trazem essa mesma visão. Ela, que tem 34 anos e concluiu uma pós-graduação, passou sua adolescência em Pitangueiras e diz que, naquela época, o bairro, “Parecia uma cidade do interior, tinha muito mato, era tranquilo, seguro... Aquele tempo é que era vida [...] Gostava muito da coisa de interior [...] as pessoas se conheciam...”. Uma funcionária pública de nível superior que está há 25 anos no Jardim Ipanema, conta que no passado “[...] era barro puro [...] local de veranista [...] tinha mais privacidade, tranquilidade [...] minha filha brincava na rua como num interior”. Os que estão nos bairros em apreciação há mais de 10 e menos de 20 anos – que chegaram a Lauro de Freitas quando o município se consolidava como local de moradia para os grupos sociais de maior renda –, da mesma forma ressaltam a tranquilidade, a presença de casas de veraneio e a precariedade da infraestrutura. Uma mulher contou que “Há 14 anos era muito pacata [...] Na época não tinha infraestrutura nenhuma, para você ter ideia, os postes nós [a

124

Entrevista concedida em 25 de fevereiro de 2016.

125

No questionário não houve perguntas específicas sobre o perfil dos pais dos respondentes. No entanto, conforme sua posição no núcleo familiar foi possível identificá-la. Sugere-se que em levantamentos futuros sobre o tema haja perguntas mais apuradas a esse respeito.

família] é que pagamos pra colocar [...]”. Um homem, que se considera “apaixonado” pelo lugar em que vive, falou que nos primeiros dias após sua mudança chegou a se perder quando voltava para casa, pois, era tudo muito deserto, “[...] era tudo escuro. Era um negócio rústico mesmo”. Porém, ao mesmo tempo, ambos destacam os benefícios de se ter amigos na rua e a possibilidade de adquirir um terreno a baixo custo.

Ao abordar o que se passa na atualidade, convergindo com as avaliações anteriormente apresentadas, ressaltam-se a permanência da infraestrutura deficiente e a ampliação da violência. Sobre o primeiro aspecto, as afirmações de uma senhora de 64 anos, residente de um sítio localizado em Pitangueiras, coincidem com muitas das ideias que se ouviu. Revela que, quando se mudou de Piatã para lá, queria um lugar mais tranquilo, ainda que a estrutura fosse ruim. Porém, com o passar do tempo, “A cidade cresceu bastante, mas aqui [sua rua] nada!”. O bairro “[...] não melhorou muito. Aumentou o número de moradias, mas, o fator melhoria em prol de quem mora aqui é quase nenhuma”. Seu esposo mostra-se indignado com a prefeitura, pois, “[...] vários lugares de Lauro melhoram, menos essa rua”. De fato, sua rua, embora conte com casas, condomínios e uma pequena empresa, não é pavimentada e, no dia em que eles responderam ao questionário de pesquisa, nela havia cavalos soltos e mal cheiro.

Essa não é a única via de Pitangueiras nessa condição. Mesmo com investimento do capital imobiliário, que vai capturando crescentemente o bairro, em algumas delas, quando chove, mesmo à pé, a circulação é inviável.

Um aspecto interessante é que do total de pessoas das classes médias que residiam há mais de 10 anos no Aracui e em Pitangueiras, apenas duas moravam em algum tipo de espaço residencial fechado. No entanto, entre os que chegaram mais recentemente, encontram-se mais pessoas nesse tipo de habitação, sendo esse montante tanto maior quanto menor é o tempo nesses locais.

Em relação à compreensão que revelam do bairro, os indivíduos com menos 10 anos no atual domicílio ressaltam mais suas características positivas.

Mesmo assim, os temas violência e a deficiência da infraestrutura permanecem em pauta. Exemplifica-se. Com nível superior incompleto e estando aposentada, uma senhora diz: “Eu adoro aqui, gosto muito. Não quero sair de jeito nenhum!”. Por isso, em breve, vai mudar-se para outra casa na mesma rua, num condomínio, para se sentir mais segura. Na mesma linha, uma administradora de 51 anos relata que “O bairro é bom, tem tudo em quantidade e qualidade. [...] O que tá matando aqui é o transito e o transporte [...] tem assalto muito também...”.

Márcia dos Anjos126 e Ana Lima127 não mencionam a questão da violência como algo relevante. Relacionam o bem estar ao lugar em que moram. Para Márcia, comparativamente a onde antes residia, encontra em Pitangueiras maior qualidade de vida. Ana também discorre mais sobre o assunto. Fala que no seu bairro há “[...] um ambiente familiar. [...] eu saio pela rua e é ‘bom dia’, ‘bom dia’, ‘bom dia’. É, é aquele ambiente familiar. Eu gosto por isso”.

Os que se encontram em condomínios, em geral, escolheram esse tipo de moradia com o propósito de ter menores custos e maiores facilidades com a manutenção domicílio. Alguns tinham imóveis mais amplos, que necessitavam de elevado investimento para manutenção, e o condomínio é visto como uma opção mais prática e barata. Em outros casos, ele correspondeu à possibilidade de deixar de morar em apartamento para viver numa casa. Poucas foram as menções à escolha desse tipo de residência por conta de questões de segurança.

Sobre a localização do seu imóvel, inexistiram indicações de interesse específico pelo bairro. Aliás, quando se realizou perguntas sobre o motivo da escolha do atual endereço, registrou-se que importavam mais o perfil do imóvel, seu custo e o fato de estar perto de algumas infraestruturas, inclusive do acesso a Salvador. Se se perguntava se houve algum motivo particular para a escolha de Pitangueiras, a resposta sempre foi negativa. O interesse pela localização em particular, quando mencionado, se referia ao fato desse bairro estar na parte “nobre” de Lauro de Freitas e perto de Vilas do Atlântico.

126

Entrevista concedida em 29 de fevereiro de 2016.

127

As impressões emitidas por esse grupo, os moradores de condomínios, não diferiam das dos demais. Descreve-se que Pitangueiras é um bom local para morar, embora existam questões relacionadas à infraestrutura e à segurança. Um consultor financeiro aposentado de 67 anos comenta que “A gente gosta dessa região [...] se for para sair daqui só se for uma causa muito forte [...]”. Uma dona de casa de 42 anos, que migrou de São Paulo por conta das atividades profissionais do esposo, considera “[...] o bairro bom, perto de comércio, clínicas [...] às vezes é violento, tem assaltos”. Vinda de Minas Gerais, uma comerciante de nível superior diz: “Gosto daqui, é tranquilo [...] mas é caro e precário”. Todas essas pessoas assinalam também problemas decorrentes do aumento da quantidade de construções que, em sua análise, repercute na ampliação do movimento de veículos e de pessoas nas ruas próximas à sua casa, e do barulho, já que no dia a dia ouvem ruídos decorrentes das obras.

3.4.3. Classes (médias) superiores

Os domicílios em que se encontram pessoas com perfil compatível com o das classes (médias) superiores foram ocupados mais recentemente e representam um conjunto bem menor do que os demais. Eles podem ser divididos em dois grupos: o dos espaços residenciais fechados (condomínios e villages) e o dos que fizeram da antiga casa de veraneio sua moradia. A única exceção se refere a uma residência do Aracui ocupada por um casal: ambos aposentados, com nível superior e ganhos individuais superiores a R$ 12.500,00. Optaram por comprar uma casa nesse local há cerca de sete anos por querer um espaço amplo, com um quintal para os netos brincarem.

Em casas individuais, estão três respondentes que residiam há mais de 15 anos em Pitangueira. Um deles é um aposentado de 64 anos, que possui nível superior e se dedica às artes. Morador do Jardim Ipanema, falou que sua rua “[...] não tinha asfalto e a infraestrutura era pequena. Mas tinha muita paz. Não tinha violência, barulho de carro. Construí quando instalaram a luz elétrica, depois veio a água. Vinha fim de semana...”. De acordo com uma universitária de 23 anos, quando a família se mudou para Pitangueiras, seus pais, profissionais de nível superior, andavam a cavalo pela rua e, de lá, iam até a

Estrada do Coco. Tinha-se, pondera, uma vida de cidade do interior. Lembra- se: “Não tinha nada, tudo de barro [...] um monte de terrenos vazios [...] daqui [janela da sala] via árvores, hoje é um condomínio”. A terceira pessoa, uma mulher de 28 anos que parou de trabalhar para cuidar do filho, fala que antes “Era tudo de barro, tinham só quatro casas [...] era bem isolado”.

A essas rememorações junta-se à de uma moradora de um amplo sítio – que possui, além da casa principal, duas menores para os empregados (que residem na propriedade), um campo de futebol, jardim e uma área onde estão várias árvores frutíferas. Ela estava no mesmo endereço há cerca de três anos, entretanto, há 30 anos sua família começou a construir a casa e a frequentá-la como lugar de lazer. Essa professora universitária aposentada comenta que naquele momento “[...] faltava tudo. Isso aqui era praticamente... não tinha nada, nem acesso à praia [...] não tinha telefone, água [...]”. Tudo tinha que ser trazido de Salvador, pois não havia nenhum tipo de comércio por perto. Mas, a família e os amigos adoravam ir para lá. Havia sempre a sensação de férias.

Assim, as avaliações dos mais antigos moradores das classes (médias) superiores convergem com as das demais quando se assinala a falta de estrutura urbana dos tempos passados. Todavia, para esses, isso não é tratado sempre de modo negativo, afinal, além de essa classe ter maiores possibilidades de resolver os problemas decorrentes de tal situação, encontrava-se a tranquilidade. Melhor dizendo, naquela época era onde encontravam a distância dos problemas comuns à cidade e a possível fuga da rotina.

Esse contexto e as avaliações dele realizadas condizem com pesquisas feitas por autores como Villaça (2001) e Sposito e Góes (2013). Mesmo considerando-se todas as diferenças entre as cidades por eles estudadas (distintas metrópoles e as cidades médias paulistas, respectivamente) e Lauro de Freitas, e que o foco de suas análises foram condomínios, o fato é que para