• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2. CLASSE SOCIAL: REFLEXÕES E DEFINIÇÕES

2.2. PRESSUPOSTOS PARA A CONSTRUÇÃO DA CATEGORIA CLASSE SOCIAL

Tendo em vista que o capitalismo se reproduz perpetrando uma sociedade que lhe é particular, para tratar do atual contexto fazendo uso do pensamento marxista é preciso “atualizar” seus conceitos. Noutros termos, acreditando que tal teoria é válida para compreender o presente, no intuito específico de estudar classes sociais, cabe interpretar a sociedade buscando conhecer suas contradições, estejam elas explícitas ou ocultas. Isso não significa negar a dialética entre a estrutura social e a posição no processo produtivo ou desconsiderar que as estratégias originadas nas relações de produção acometem a vida social. Longe disso. A questão é entender como esses aspectos se manifestam num determinado contexto histórico e espacial.

Essa não é uma tarefa simples. Afinal, o próprio movimento do capitalismo obscurece ou mesmo transforma o conteúdo interno das classes e suas frações. Assim, evidentemente, amplia-se a problemática referente à forma de identificá-las ou de descrevê-las. No entanto, não há como escapar a isso, pois, a classe que emerge no mundo social não pode ser confundida com aquela elaborada abstratamente, no plano de uma teoria “pura” (BOURDIEU, 2010). Além disso, considerando o aporte teórico consolidado, há sempre que convergir os conceitos com a vida concreta, revendo-os sempre que preciso47.

É, portanto, importante retomar a noção de classe adentrando nos meandros, no detalhamento possível de como vivem – produzem e se reproduzem – os que integram uma ou outra delas e como elas se articulam. Do mesmo modo, cabe cotejar esse conhecimento à compreensão dos modos pelos quais o capitalismo vem se reproduzindo no presente.

A ideia aqui foi dar um passo nessa direção. Não se pretende elaborar um conceito de classe social, trata-se especificamente de propor um conjunto de critérios que permitam distinguir as classes que vivem num determinado recorte espaço-temporal.

47

Concorda-se, pois, com Bourdieu (2010, p. 63) quando defende que o trabalho de elaboração conceitual é cumulativo e que a busca desenfreada pela originalidade impede “[...] a justa atitude com a tradição teórica, que consiste em afirmar, ao mesmo tempo, a continuidade e a ruptura, a conservação e a superação [...]”.

Para isso, duas foram as formas de abordar a questão. Uma delas, evidentemente, é o conhecimento acumulado sobre o assunto. A outra decorre daquilo que se observou durante as atividades de campo, o que se viu, ouviu e sentiu (por que desprezar essa forma de entender o mundo?). A concatenação dessas duas possibilidades de apreensão da realidade ganhou consistência, sobretudo, a partir de discussões ocorridas no Grupo Espaço Livre de Pesquisa-Ação. Em diferentes momentos, estimulados, sobretudo, pela leitura de Lefebvre (2008; 2006a) e de Bourdieu (2011) e Bourdieu e outros (2012), se colocou a necessidade de confrontar concepções teóricas ao trabalho empírico e se questionou os modos de realizar esse intento. O estudo de textos desse último autor, ademais, reforçou a compreensão da importância de realizar “idas e vindas” entre a teoria e o mundo concreto como forma de melhor entendê-lo.

Portanto, para definir um conjunto de aspectos que possibilitem distribuir os indivíduos que contribuíram para esta pesquisa, na condição de respondentes e entrevistados, em classes sociais, cabe ter em consideração que são moradores de uma pequena área de uma cidade situada na RMS. Do mesmo modo, observar que o centro dessa região é uma das principais capitais brasileiras e, ao mesmo tempo, experimenta, ao longo de muitas décadas, a condição de periferia do capitalismo nacional. Sendo assim, é evidente que na definição das classes para este trabalho não se esquece de que a totalidade está presente e influencia a vida neste lugar, porém, ali encontra formas particulares de expressão. Com isso, os critérios que distinguem as classes sociais naquele ponto do espaço – uma parte dos bairros do Aracui e de Pitangueira – diferenciam-se dos que seriam mais pertinentes para compreender toda Lauro de Freitas ou, ainda mais, a RMS.

A questão inicial então é evidente: o que distingue uma classe de outra no contexto em questão?

Como mencionado na seção anterior deste capítulo, há vários aspectos que incidem nessa diferenciação. Vê-se que os que seguem mais estritamente a teoria marxista têm como eixo dessa classificação a relação com os meios de produção, o que não significa desprezo a outros elementos. No entanto, esses teriam como papel esclarecer como dita relação se manifesta na vida dos indivíduos e na sociedade. Bourdieu (2004, 2010, 2011), por sua vez, mesmo reconhecendo a relevância

daquela situação para a diferenciação das classes, avalia que é a articulação, ou melhor, a sobreposição das propriedades dos agentes, elaboradas nas múltiplas dimensões da vida, que as configuram.

Reforçando a ideia de que a compreensão teórica que se adota como central para esta tese é a marxista, considera-se pertinente ponderar, como o fazem Bourdieu (2004, 2010, 2011) e Souza (2015, 2012) que vincular classe somente à renda é negar sua existência enquanto práxis e que fixá-las no atual momento histórico como consequência do lugar na produção pode encaminhar a avaliação de sua posição social a partir da capacidade de consumo. Isso não significa que se pretenda fundir conceitos e pressupostos de duas teorias. Trata-se de atribuir maior relevo, a partir de indicações extraídas da obra desses autores, a outros elementos que permitam compreender determinados aspectos, comportamentos e escolhas dos indivíduos cujo lastro não se explica estritamente pela condição do homem frente ao mundo do trabalho.

Não se vê nessa estratégia uma contradição que inviabilize a reflexão. Considerando que classes sociais são categorias construídas e reconstruídas conforme o movimento da sociedade (STAVENHAGEN, 1973; OLIVEIRA, 2003) e as próprias reconfigurações do capitalismo, seria factível pensá-las supondo apenas a dialética burguesia-proletariado? Como ela se apresentaria no presente? É possível falar em proletariado na cidade em questão? Esses tipos ideais podem ser reconhecidos atualmente? Tendo-se em conta que “[...] a divisão da sociedade

exclusivamente em duas classes antagônicas representa uma tendência histórica e

não uma realidade de cada etapa histórica” (STAVENHAGEN, 1973, p. 159), parte- se do pressuposto de que a respostas a essas indagações é “não”. Assim sendo, para definir as classes sociais com vistas aos objetivos desta tese, além da condição frente aos meios de produção, outros requisitos são agregados.

Por isso mesmo, o ponto de partida para avançar nesse propósito é reconhecer que, como todos os autores mencionados apontam, as relações de produção são fundamentais para conceber as classes sociais. Há os proprietários e os não proprietários dos meios de produção, mas, cada um desses dois grupos não é homogêneo. Além disso, é preciso lembrar-se do que classicamente é chamado de meio de produção e notar que nem todos os proprietários estão numa posição típica

de dominação. Tal como observa Stavenhagen (1973), existem aqueles que, embora possuam meios de produção, não empregam mão de obra alheia – o que seria, para Marx, a pequena burguesia. Além disso, mencionando os que dirigem empresas ou aqueles que ocupam posição de destaque na burocracia estatal, chama a atenção para o fato de que esses não detêm os meios de produção, no entanto, isso não os impede de representar os interesses dominantes ou exercer dominação (algo também já esclarecido na teoria marxista, quando se discute o papel da ideologia na reprodução do sistema capitalista).

De todo modo, é importante retomar a ideia de que é mais comum que indivíduos que realizam atividades manuais estejam numa posição inferior, em termos de renda e direitos, do que aqueles que têm ocupações mais intelectualizadas e criativas. Igualmente, observa-se que o status ou valorização que cada um dos tipos de ofício possui na sociedade é diferente (SOROKIN,1973). Com exceções, as atividades manuais são tidas como menos relevantes do que as intelectuais48.

Falar da situação em relação aos meios de produção e da ocupação implica também mencionar renda. Se ela não é de per si o que estabelece uma classe, é fundamental na definição das condições de vida dos indivíduos. Isso porque, numa sociedade de consumo, frente aos que auferem menores rendimentos, é inegável que aqueles com rendas mais elevadas dispõem de um leque mais amplo de possibilidades, ao menos, de acesso ao conhecimento e a bens.

Além desses aspectos, a escolaridade, até aqui não citada, também está intrinsecamente articulada à posição na estrutura social e, ainda, incide na sua reprodução. Como bem demonstrou Bourdieu, a educação formal, escolar, tem papel importante na perpetuação da sociedade, mantendo ou legitimando privilégios, definindo os valores certos e os errados. Nesse sentido, o autor desmitifica o entendimento mais ou menos comum de a escola como transformadora da realidade social. Do mesmo modo, ele estabeleceu uma correlação entre o sucesso ou fracasso escolar e a origem social (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2002).

Em A distinção (BOURDIEU, 2010) e em outros textos sobre educação (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2002), explica que as diferentes classes sociais e frações de classe

48

Essa situação tem como fundamento a própria separação entre trabalho manual e intelectual que baliza a divisão do trabalho no capitalismo.

lidam de modo distinto com o sistema de ensino. Entre as classes populares, devido às necessidades mais imediatas e à falta de expectativas em relação ao retorno desse investimento, a importância dada à educação é relativamente menor frente ao que se passa nas classes médias. Para essas, a educação é percebida como possibilidade de ascensão social e, assim, tendo como base expectativas futuras, incentiva-se e investe-se no sucesso escolar. Em relação às classes superiores, também existe um elevado investimento em educação, porém, o papel a ela atribuído em termos da relação com a estrutura social é relativamente menor. Além disso, há diferenciações no interior dessa classe: nos segmentos em que o capital cultural prevalece frente ao econômico, tende-se a dar maior atenção aos níveis educacionais, situação inversa ao que prepondera entre aqueles em que o capital econômico supera o cultural (BOURDIEU, 2010)49.

Tendo Bourdieu como referência, Souza (2009) menciona que a existência de “classes positivamente privilegiadas” e de “classes negativamente privilegiadas” relaciona-se às distintas possibilidades de apropriação dos vários tipos de capital. Destaca que:

O capital cultural, sob a forma de conhecimento técnico e escolar, é fundamental para a reprodução tanto do mercado quanto do Estado modernos. É essa circunstância que torna as “classes médias”, que se constituem histórica e precisamente pela apropriação diferencial do capital cultural, em uma das classes dominantes desse tipo de sociedade. A classe alta se caracteriza pela apropriação, em grande parte pela herança de sangue, de capital econômico, ainda que alguma porção de capital cultural esteja sempre presente (SOUZA, 2009, p. 21).

49

Nogueira e Nogueira (2002, p. 26-27) apresentaram duras críticas à forma como Bourdieu relaciona educação e classe, colocando-a de forma quase que inexorável e desconsiderando as diferenças entre as famílias que integram uma mesma classe – conceito também questionado pelos autores. Para eles, “[...] uma série de pesquisas tem acentuado que a categoria classe social não seria suficiente como critério de diferenciação dos grupos familiares segundo suas práticas escolares [...]”, citam que “[...] Percheron (1981), [...] através de pesquisa realizada com famílias pertencentes às diversas classes sociais, conclui que certas atitudes em relação à educação dos filhos [...] variam não tanto em função da classe ou fração de classe, mas, sim, de outros fatores mais ou menos independentes em relação à divisão em classes” e que, conforme Lahire (1995), “[...] é necessário estudar a dinâmica interna de cada família, as relações de interdependência social e afetiva entre seus membros, para se entender o grau e modo como os recursos disponíveis [...] são ou não transmitidos aos filhos. A transmissão do capital cultural e das disposições favoráveis à vida escolar só poderia ser feita por meio de um contato prolongado, e afetivamente significativo, entre os portadores desses recursos (não apenas os pais, mas outros membros da família) e seus receptores. Esse tipo de contato, no entanto, dada as dinâmicas internas de cada família, nem sempre ocorreria”. Novamente afirma-se que a autora deste trabalho não é estudiosa de Bourdieu a ponto de poder participar dessa discussão. Nota-se, entretanto, que ele, mesmo tendo efetivamente um viés estruturalista, aponta constantemente a interação das trajetórias individual e de classe para a construção do habitus dos agentes. Ademais, em muitos pontos de seu texto fala de habitus e do gosto não como determinações, mas como tendências ou probabilidades.

Evidentemente, tenderão a ter maiores níveis de escolaridade aqueles que já detêm maior capital econômico.

Para pensar em classe há algo mais a mencionar: a prática social. Bourdieu (2011, 2010, 2004) e Lefebvre (2013, 2005, 1991a), ainda que percorram caminhos teóricos e métodos distintos, convergem em um ponto. Para ambos o perfil das práticas sociais tem vinculação com a classe social.

Para Bourdieu (2011, p. 97), uma classe de agentes se trata de uma “[...] unidade que se dissimula sob a diversidade e a multiplicidade das práticas em campos dotados de lógicas diferentes, portanto, capazes de impor formas diferentes de realização, segundo a fórmula [(habitus) (capital)] + campo = prática”. De acordo com Serpa (2007, p. 176), “O habitus é estrutura estruturante, que organiza as práticas e a percepção das práticas, mas também estrutura estruturada, produto da divisão em classes sociais”. Assim, é uma referência para identificar e compreender suas práticas50 e remete a analisá-las considerando o tempo e o espaço. Não se dissocia, no âmbito da proposta do autor, o que é uma classe do contexto em que suas práticas acontecem, visto que seu perfil guarda relação com a trajetória do indivíduo e a do seu grupo no mundo social. É esse movimento que permite verificar sua posição e condição de classe51

.

Lefebvre (2005, p. 22) considera que os atos sociais são portadores de conteúdos, símbolos e ritos que não têm o mesmo sentido nas diferentes classes, camadas ou frações de classe. Em verdade, eles “[...] constituem os critérios de pertencimento a uma classe, e também de exclusão a ela”. Falando do vivido, como algo relacionado aos planos fisiológico, familiar, econômico, ideológico, religioso, entre outros, argumenta que ele é, simultaneamente, “[...] íntimo e social, privado e público, oculto e manifesto de diferentes maneiras. Ele muda segundo as classes e tem diferentes repercussões” (LEFEBVRE, 2005, p. 23).

50

Bourdieu (2011, 2004) postulou que o habitus, consequência da trajetória individual e social, produz estratégias que se revelam adaptadas às situações. Ele se referiu a elementos incorporados no decorrer da trajetória do agente, ou seja, a partir da experiência ocorre uma espécie de aprendizagem que permeia (conscientemente ou não) os atos e pensamentos. Por esse meio são elaboradas as concepções do mundo, as práticas e os gostos, o habitus, o que, dialeticamente, se faz responsável por desencadear determinadas ações e interpretações do mundo social.

51

Elaboração decorrente de discussões realizadas no âmbito do Grupo Espaço Livres de Pesquisa- Ação, em maio de 2015.

Ao discutir o psiquismo das classes – quando diferencia a psicologia coletiva da burguesia, dos operários, dos camponeses e das classes médias –, argumenta que ele não se trata de um nível de realidade à parte da realidade em geral. Existe, na sua avaliação, um sócio-psiquismo porque “Todo o individual é já social, mas em níveis sucessivos, de modo que a interioridade reproduz e contribui, assim, para reproduzir as profundidades da vida social” (LEFEBVRE, 2005, p. 26-27). O psiquismo, que vem a ser encontrado nos atos e representações, está articulado às relações sociais e é também por ela constituído.

Nesta tese, duas práticas estão colocadas em foco: trabalho e lazer. Todavia, apenas o trabalho, tal como será esclarecido a seguir, será tomado como um indicador para se definir classe. Essa decisão decorreu da estratégia de levantamento de dados, a aplicação de questionário domiciliar. Por meio dele, um morador – necessariamente com mais de 18 anos – prestaria informações a respeito da atividade profissional de cada residente, assim como de lazer. Entretanto, raros foram aqueles que souberam mencionar as principais atividades de lazer de todos os residentes no domicílio, apenas se citou aquelas partilhadas com o respondente. Em relação à atividade produtiva, a situação foi inversa, poucos não souberam esclarecer o tipo de ocupação dessas mesmas pessoas.

Portanto, o lazer foi tomado como algo que esclarece sobre as classes, mas não como parâmetro para defini-las.

Optou-se por estabelecer três classes, assim designadas: populares, médias e (médias) superiores. Não há qualquer inovação no uso dessas expressões que, aliás, à exceção da última, são bastante comuns. Antes de melhor detalhar como se classificaram as pessoas nesses grupos, ressalva-se que esse processo partiu de uma avaliação das características dos sujeitos de pesquisa, tal como reveladas pelos questionários. A tentativa foi compor cada classe considerando as semelhanças de determinados traços, do ponto de vista social e do perfil de sua atividade produtiva.

Em relação à expressão classes populares, entende-se que, na atual conjuntura, responde melhor ao conjunto que se quer delimitar do que proletário ou trabalhador. No primeiro caso porque proletário se refere a um tipo ideal, concebido na literatura

científica como aquele que só tem a força de trabalho para vender. Todavia, ainda na literatura, o termo é relacionado também ao operariado industrial, algo que não se aplica a miríade de possibilidades de inserção no mundo socioprodutivo apresentada pelos sujeitos da pesquisa. Também não se usou classe trabalhadora porque, embora se verifique uma separação e formação de hierarquias entre as atividades de cunho manual e intelectual, em ambas acontece a transformação de um objeto (material ou não) em outro por meio da ação do homem, portanto, trabalho52.

O termo popular é, nos dicionários da língua portuguesa, indicativo do que é do povo ou mesmo vulgar e comum; se refere ainda a, por exemplo, trivial, ordinário e democrático; homem do povo, transeunte53. Embora muito se fale da classe popular, haja representações e uma concepção a priori da mesma, não se encontrou uma definição mais apurada da expressão. Assim, aqui se compreende classes

populares como o grupamento daqueles que, entre os que responderam ao

questionário e que seus familiares exerciam atividades profissionais notadamente manuais ou outras que exigissem pouca habilidade intelectual e se inseriam de forma precária do processo produtivo. Também se considerou, para delimitá-la, que o perfil de sua ocupação se referia execução de tarefas mais rotineiras, pouco criativas, e que, em geral, sua prática inviabilizaria maior nível de ascensão mesmo que do ponto de vista estritamente econômico. Eram, ademais, indivíduos que apresentavam baixos níveis de renda escolaridade.

A respeito de classes médias – normalmente tratadas no plural –, diferentes autores assinalam sua ambiguidade. Stavenhagen (1973) disse que os grupos que as constituem ocupam, na estrutura social, uma posição entre os dominantes e

52

Antunes (2010) elabora uma noção ampliada de classe trabalhadora: classe-que-vive-do-trabalho. Para ele, essa expressão melhor define o ser social que trabalha na contemporaneidade. Tal classe inclui o conjunto dos trabalhadores produtivos (os que diretamente geram mais-valia e que participam da produção, aqueles que exercem o trabalho manual) aos quais acresce as demais formas de trabalho social que sejam assalariadas. Assim, participam dessa classe também os indivíduos cujo trabalho se converte em serviço (e não em produto) e que não se implica diretamente no processo de valorização do capital. Na verdade, essa classe envolve todos os trabalhadores assalariados, sem excluir a centralidade do trabalhador produtivo. “Uma noção ampliada de classe trabalhadora inclui, então, todos aqueles e aquelas que vendem sua força de trabalho em troca de salário, incorporando, além do proletariado industrial, dos assalariados do setor de serviços, também o proletariado rural, que vende sua força de trabalho para o capital” (ANTUNES, 2010, p. 103). Colocados nesses termos, com poucas exceções, praticamente a totalidade dos que participaram dessa pesquisa estariam nessa classe. Aqueles que não, possivelmente, comporiam a pequena burguesia.

53

Consultou-se o dicionário digital Aurélio – Século XXI e o Dicionário online português, este disponível em: http://www.dicio.com.br/popular/.

dominados, no entanto questiona se comporiam uma classe na medida em que ela não se coloca em oposição a nenhuma outra. Para Gurvitch (1973, p. 104), o fato de existirem classes médias não diminui o conflito ou a incompatibilidade entre burguesia e proletariado, no entanto, entende-as como classes em formação, “[...] com estruturas fluidas e extratos móveis [...] Daí a impossibilidade freqüente de prever as reações das classes médias de seus diferentes extratos em conjunturas concretas”.

Marx e Engels (1998, p. 18) mencionam essa situação no século XIX. Ponderam que as classes médias combatem a burguesia com o propósito de garantir sua existência enquanto classe e impedir seu próprio declínio. Destacam que sua essência é conservadora. Seu caráter revolucionário se apresenta apenas quando está sob o