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CAPÍTULO III – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.3 A PERCEPÇÃO DOS GESTORES PÚBLICOS DA REGIÃO DA AMMOC

4.4.2 A abordagem burocrática tem força

Dentre as características da burocracia, as citadas foram:

a) a especialização do serviço;

b) a eficiência: fazer mais com menos e fazer o que se espera que se faça naquela função;

c)o foco nos controles;

d) o legalismo: obediência restrita às leis e aos estatutos;

A percepção de que a abordagem burocrática é a mais adequada à administração pública, está muito presente na fala dos gestores entrevistados. Destaca-se a característica especialização do serviço como uma, dentre as demais do modelo burocrático, citada pelos entrevistados. Nesse sentido, o EP1 assim se expressa:

É importante o assessoramento de pessoas competentes e com conhecimento da coisa pública. Daí, que isso aí, infelizmente, não acontece com muitas pessoas. Às vezes, a tua visão inicial é uma e no decorrer da teu mandato você vai ver que cometeu algum erro até na escolha de certas pessoas e que fica comprometida aí até a tua administração e não tem como.

Essa visão é compartilhada pelo ERH10, ao afirmar que a administração pública deve envolver “pessoas realmente capacitadas que venham trabalhar em prol do município. [Pessoas que] Administram bem os recursos.”

A especialização, na visão do EP6, requer, sobretudo, conhecimento da área específica na qual se atua. Ele percebe que, para a administração pública, é necessário “primeiro conhecimento. A pessoa tem que ter conhecimento e estar bem assessorado, o que não é fácil, hoje em dia, de acontecer isso, né.” Para o ERH1, esse conhecimento deve ser adquirido, “pois a gente vê que as pessoas não têm conhecimento na função que vão atuar. Tem que aprender!”

O conhecimento também é enfatizado na percepção do ETE4, quando se refere ao gestor maior da prefeitura: “ele, para ser prefeito, deve ter no mínimo conhecimento na área pública. Muitos só trabalharam na área privada e vão para a pública. Tem muita diferença, não é o mesmo sistema.”

Para o gestor ERH13, o conhecimento é muito relevante para a administração pública:

Olha, a gestão pública, é que nem eu falei no início ali: tendo de ter gente capacitada pra ter alguma coisa, pois não adianta fazer um concurso público ali e para pegar aqueles funcionários que não têm capacidade pra infrentá esta gente. Porque é bem diferente da área privada [...] Em primeiro lugar, tem de ter um pouco de estudo. Tem gente aí sem instrução [...] Porque tu veja bem, saiu da [cita

a empresa x], acostumado trabalhar numa indústria. Na administração pública, querem tocar o serviço do mesmo jeito de uma indústria! Eu não vou conseguir nunca, tem que se acostumar com o jeito, senão não vai ser ninguém.

Esse entrevistado reforça também a afirmação encontrada na literatura de que há diferenças entre a administração pública e a administração privada, seja em relação aos fins (interesse público x lucro), seja em relação aos meios (transparência x sigilo).95

Além do conhecimento, os gestores apontam outra forte característica da abordagem burocrática, a eficiência, como elemento importante para a administração pública. Para o EP1, o gestor público tem como preocupação central a gestão de recursos escassos, e cita o caso de sua administração:

[...] a gente tem uma dificuldade, pois temos um município muito grande em extensão territorial e não tem nenhuma indústria de base que nos desse uma segurança um pouco maior em termos de arrecadação. Nós temos hoje aqui no município cerca de 5% da renda oriunda de tributos municipais. Temos pouco recurso pra muito serviço.

Essa busca de recursos é uma preocupação constante do gestor EP11: “A gente vê pelo nosso município, que a partir de certos anos a coisa anda como deve ser, a administração foi atrás, lutou junto aos órgãos competentes e conseguiu verbas para o desenvolvimento.”

Administrar recursos também é essencial para o EP12, pois considera que o dever primeiro do gestor é “administrar o dinheiro público da maneira que é administrado no setor privado, [...] tem que controlar tudo, pois existe uma escassez de recursos e uma demanda de anseios, de pedidos, que a comunidade espera.” Essa percepção é compartilhada pelo ERH2, ao afirmar que a tarefa central da administração pública é “alavancar financeiramente o município.”

A eficiência, entendida como gestão de recursos, está presente na fala do EP13, da seguinte maneira: “Eu entendo que a gente tem que cuidar o máximo do que o município

arrecada e tem que aplicar bem esses recursos para conseguir o desenvolvimento do município.”

A seriedade no trato com os recursos públicos também é apontada. O ERH5 acredita que o gestor deve se preocupar e “saber quando se tem valores para serem gastos e aí um planejamento efetivo para a realização de despesas com seriedade, com honestidade.”

O ETE11 partilha dessa preocupação e apregoa a eficiência na geração de recursos próprios para o município. Na visão dele, isso é necessário, pois as outras esferas de governo não repassam o que seria devido ao município:

Para uma boa gestão pública, eu acho que tem que ter ações rápidas internas para criar leis e atos que gerem receitas, receitas próprias, porque o município depende muito dos repasses estaduais e federais, que não vem acontecendo, como é o caso do transporte escolar, que o estado não repassa nada ao município, e outros gastos que foram municipalizados, gastos na saúde, educação, agricultura, em resumo, atendimentos ao cidadão com ônus sempre para o município.

Também o gestor ETE2 entende que o cuidado com recursos é sinônimo de boa administração pública. Assim se expressa:

Olha, na nossa área, se considera que uma boa administração é saber aplicar bem os recursos. Então, como já trabalhei na área de tributação, eu acho que sempre deve haver justiça fiscal, deve haver procedimentos padrões sem nunca abrir exceções, e fazendo isso naturalmente a administração pública terá verbas para investir para tudo de um modo geral.

O foco nos controles, outra característica central na composição do conceito de burocracia, aparece na fala dos entrevistados, como controle de custos, à mesma maneira como é feito na iniciativa privada. Observa-se isso na declaração do EP2:

Eu penso que a administração pública é boa, quando você faz administração parecida com a privada, com controle de custos. A gente vê que hoje melhora a arrecadação. A administração pública deve se preocupar com a arrecadação para fazer investimento, com uma visão empresarial.

O controle parece ser uma das marcas mais relevantes da administração pública na percepção do ETE8:

Primeiro ele tem que, no caso, o município, tem que fazer um investimento do tamanho da sua receita. Não adianta dar um passo maior do que a perna. Uma que a lei já não permite mais, e outra, que os fornecedores não vão mais receber ou não se tem condições de pagar o salário, daí é pior. O bom gestor tem que saber escolher o bom investimento, que traga retorno para o município.

Controlar os recursos para o município é o elemento central da administração pública para o ETE7, que defende que esse controle seja feito de maneira empresarial:

A ampliação dos recursos públicos deve ser administrada com muita serenidade; eu acho que o dinheiro público é como se fosse uma empresa privada, onde se mede cada real que é gasto, sempre em benefício da coletividade e não da individualidade. Qualquer recurso que você gasta deve ser empregado na coletividade. Você fazendo isso consegue dar uma boa saúde, higiene, educação. Eu acho que é por aí.

Também para o gestor ETE6, o administrador público deve, “Antes de mais nada, gastar menos do que arrecada”, para assim ter “uma boa administração pública.”

Outra característica da abordagem burocrática também está presente na fala dos entrevistados. Trata-se do legalismo, expresso na obediência restrita às leis e aos estatutos, constituindo-se no fim último da administração pública. Essa visão é destacada na percepção do EP5, ao afirmar que o mais importante na administração pública é “conhecer as leis, da parte jurídica.” Percepção essa compartilhada pelo ERH4, ao afirmar que o essencial na administração pública é “conhecer a legislação.”

Além de conhecer as leis, o ERH11 enfatiza que é necessário “seguir bem as leis, porque se seguir as leis, você não tem erro, né?”. Essa percepção é reforçada pelo ERH8, ao declarar: “acho que na administração pública tem que saber fazer a coisa certa, nem sempre se faz a coisa certa, mas procurar fazer dentro das leis, dentro do que é certo.”

Para fazer a coisa certa, exige-se do gestor público disciplina, mais uma das

características inerentes ao modelo burocrático. Essa disciplina aparece na fala dos entrevistados como “organização, pontualidade e seriedade no trabalho” (ERH3 e ETE 9). O gestor ERH3 salienta que o gestor público “Tem que ser organizado em todos os setores; tudo certo, tudo organizado.” Já, para o ERH1, essa disciplina deve ser exercida pelo prefeito ao exercer um “controle da turma”, isto é, dos servidores municipais.

Também a impessoalidade, marca registrada do modelo clássico da burocracia, faz-se presente, na percepção dos gestores, como elemento fundamental para a administração pública. O RH6 assinala a impessoalidade por meio da imparcialidade, defendendo que, na área pública, deve-se ter “primeiro imparcialidade, respeito para com todo mundo.”

O ERH12 também entende que a impessoalidade deve nortear a compreensão da administração pública: “Eu acho que essa visão que tem que ter de não priorizar alguns lados apenas por questões políticas, mas priorizar sim o que é necessário e realmente ser todos iguais. Apesar de que, em cidade pequena, isso é bem agravante, mas...”

Embora a abordagem burocrática venha se delineando como a favorita para a maioria dos gestores públicos entrevistados, parece começar a surgir uma percepção favorável a alguns dos pressupostos da NAP.