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CAPÍTULO III – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.2 O PERFIL DOS ENTREVISTADOS

Nesta seção, buscou-se identificar algumas características do perfil dos entrevistados,82 quais foram: os treze Prefeitos (P), os treze chefes de Recursos Humanos (RH) e treze Técnicos Efetivos (TE) das prefeituras da região da AMMOC. A descrição desse

82 Foi adotada a nomenclatura E = Entrevistado; a seguir a letra correspondente ao segmento, sendo P = Prefeito;

RH = Recursos Humanos; TE = Técnico Efetivo, seguidos do número de ordem da prefeitura correspondente, conforme o exemplo: EP1 = Entrevistado Prefeito da prefeitura 1. A omissão dos nomes dos entrevistados e das prefeituras correspondentes deve-se à necessidade de resguardar a confidencialidade.

perfil visou apresentar, brevemente, quem são os sujeitos, objeto da pesquisa, favorecendo a contextualização de suas percepções.

A trajetória dos prefeitos entrevistados foi marcada por uma atuação em prol da coletividade cujo início se deu pela participação em movimentos comunitários tal como destaca o entrevistado (EP8):

Sempre fui uma pessoa que gostei muito de participar de associações festas de igreja, de comunidades, sempre foi o meu xodó. Sempre que eu tinha um tempo em casa eu procurava participar, eu fui regente de um coral infantil, aqui do município com 50 crianças [...] fui presidente de clube de mães por vários anos, fui presidente da escola, de clubes de serviço e presidente da comissão da igreja, sempre atuei na área social.

Essa presença dos prefeitos entrevistados na ação comunitária parece ter sido favorável à carreira eletiva já que “em cidade pequena quando você se destaca como líder acaba se envolvendo com a comunidade e com a política” (EP3). O mesmo não se observa na fala dos entrevistados do RH e os TE que iniciaram sua vida pública quase que exclusivamente quando do seu ingresso no executivo municipal, seja por concurso, seja por indicação política.

Em relação à escolaridade, observou-se que 13 dos entrevistados têm ensino médio completo e 12, nível superior completo. A escolaridade maior é a dos Técnicos Efetivos: 6 têm nível superior completo e 4 incompleto, seguida pela escolaridade dos Chefes de Recursos Humanos: 5 têm superior completo e 5 superior incompleto. Por fim, encontram-se os Prefeitos, entre os quais, 9 têm ensino médio e 4 têm superior completo.

A escolaridade dos prefeitos da região da AMMOC, em comparação com os demais prefeitos brasileiros, fica abaixo da média nacional. Enquanto que na região 61% dos prefeitos têm o ensino médio, no país, a maioria tem nível superior completo (IBGE, 2004)83.

83 Dos 5.560 prefeitos brasileiros, 2.204 têm nível superior completo, 408 superior incompleto, 1.412 médio

completo e 553 fundamental completo. Apenas 25 prefeitos são classificados como “sem instrução”, segundo o IBGE (2004).

Embora a formação superior não seja o único fator determinante para uma boa

performance no exercício da função de gestor público, supõe-se que quanto maior o capital

intelectual maior deve ser o desempenho, já que a escolaridade favorece uma elaboração mental e uma ampliação da visão de mundo que só o conhecimento científico é capaz de proporcionar. Essa percepção da importância atribuída ao capital escolar foi sentida até mesmo durante as entrevistas e relatada nas Notas de Campo: “A princípio, o entrevistado estava muito temeroso (...) ele insistia que talvez não soubesse responder aos questionamentos, pois não tem nível superior (NC3)84.”

Em relação ao sexo, vinte e dois entrevistados são homens e dezessete são mulheres. Entre os prefeitos, a maioria (doze dos treze) são homens, o que se repete entre os TE (oito são homens), enquanto que, no segmento RH, a maioria são mulheres (dez).

Para o cargo de primeiro mandatário dos municípios, a região tem escolhido pessoas do sexo masculino. A participação das mulheres, nesses municípios, no pleito eleitoral majoritário, tem sido recente e coincide com a conquista e ampliação de direitos políticos que vem acontecendo desde os anos 80. Já para uma função não-eletiva, como a chefia do setor de Recursos Humanos, a presença predominante de mulheres pode indicar que esse setor é visto, por essas organizações, como campo para a ação feminina.

Chamou a atenção o espaço físico e os equipamentos destinados ao setor de pessoas,85 conforme anotou-se na NC3: “A sala, em reforma, estava em total desordem. Pilhas de pastas caíam dos arquivos. A entrevistada disse-me que a reforma estava sendo solicitada há mais de um ano. De trás de sua velha máquina de escrever, a RH concedeu-me a entrevista.“

84 As Notas de Campo (NC) foram numeradas na mesma ordem das prefeituras. No caso desse entrevistado, para

deixá-lo mais à vontade, foi reforçado o esclarecimento acerca dos objetivos da pesquisa e de que não havia necessidade de ter nível superior para responder às questões já que elas tratavam das suas percepções pessoais.

85 O setor de pessoas é denominado nas prefeituras comumente como “Departamento de Pessoal”. Neste estudo

uma vez que a nominação foi feita antes de iniciar a pesquisa de campo, preferiu-se manter a denominação de setor de Recursos Humanos, sem, contudo, entrar nos amplos debates semânticos que envolvem a opção por essa ou aquela nomenclatura.

Da mesma forma, em outro município, o setor de pessoas causou impressão semelhante e foi anotada na seguinte observação: “A RH atendeu-me em sua sala repleta de arquivos e papéis amarelados pelo tempo. Talvez não haja um arquivo público municipal e o setor de pessoas seja o único local para a guarda desses documentos históricos” (NC11).

Quanto à faixa etária, observou-se que os treze prefeitos estão acima dos 41 anos. Entre os RH, as faixas em que se concentram a maioria dos entrevistados são as seguintes: cinco estão entre 31 e 40 anos e seis estão entre 41 e 50 anos. Já entre os TE entrevistados, a maioria está em faixa etária inferior, dois têm menos de trinta anos, seis estão entre os 31 e 41 anos e quatro entre os 41 e os 50. A idade mais elevada encontrada entre os prefeitos, é possível que se deva à sua trajetória na vida pública, já que eles iniciaram sua carreira disputando eleição para vereador e somente depois dessa etapa passaram a concorrer para prefeito.

Do ponto de vista da aparência física, muitos dos entrevistados demonstravam cansaço e certa desilusão com a área pública, fator observado nas NC, tais como: “encontrei o prefeito muito abatido. Declarou sua desilusão com o povo. Disse-me que a falta de entendimento das pessoas prejudica muito o homem público” (NC4). Da mesma forma, na NC4, anotou-se: “Por fim entrevistei o Prefeito. Muito solícito, serviu-me chimarrão, cafezinho, biscoitos [...] Foi difícil concluir a visita. O entrevistado parecia ansioso por conversar com alguém isento sobre suas dificuldades à frente do executivo“ (NC3).

E, ainda, na NC5, “No dia que consegui entrevistá-lo, ele estava revoltado com os adversários políticos e com a população. Sentia-se injustiçado.”. Igualmente, na NC6, fica expresso o descontentamento do gestor com a atividade política: “O prefeito já declarou no início de nossa entrevista que não queria mais saber de política. Disse estar desiludido. Não percebe mudança e nem melhorias nos órgãos estadual e federal. Acha que os municípios são muito prejudicados.”

Quando observada a forma de entrada para a área pública do segmento prefeito, observa-se que 10 dos 13 prefeitos entrevistados teve seu ingresso por processo eleitoral e, a princípio, para o exercício da vereança. Quanto aos RH, 6 dos 13 entrevistados ingressaram a convite em um cargo comissionado.

Já a maioria dos TE (16 entrevistados) teve seu ingresso no serviço público por meio de convite pessoal, seja do prefeito, seja do partido político, realizando, posteriormente, concurso público. Nos dados gerais dos entrevistados, constata-se que a forma de ingresso predominante dos entrevistados foi a convite, de acordo com o Gráfico 1:

10 16 0 11 2 0 0 0 5 10 15 20 1 Eleição Convite Decisão do partido Concurso Indicação Contrato temporário Outra

Gráfico 1- Forma de ingresso dos entrevistados na administração pública

Nota-se que a prática de nomeação pessoal para o serviço público ainda prevalece na região da AMMOC. Apesar da exigência de concurso público, a primeira aproximação com a carreira pública de 41% dos entrevistados, foi por meio de convite pessoal, feito pelo prefeito, para exercer um cargo comissionado. Devem ser somados a esses 41% outros 5% que ingressaram na administração pública por indicação partidária.

Essa prática, muito utilizada pela abordagem patrimonialista, obedece a uma lógica de nomeação de pessoas alinhadas aos interesses pessoais do prefeito, ou do partido político da coalização política que governa o município, especialmente quando se trata de exercer cargos de chefia.

Outro aspecto observado durante a pesquisa foi o ambiente de trabalho dos entrevistados, ou seja, seus espaços nas respectivas prefeituras. Alguns, muito aprazíveis e condizentes com a função pública, tais como o que se lê na nota: “O prédio da prefeitura foi totalmente restaurado e adaptado. A obra respeitou as técnicas construtivas da época de edificação e o resultado é a integração da memória da comunidade com as atividades do poder público municipal.” (NC6). Outros espaços apresentavam algumas dificuldades no momento da entrevista:

No dia que estive nessa prefeitura para fazer a entrevista chovia muito e o ETE me recebeu entre inúmeros baldes que aparavam a água que caía das goteiras. Visivelmente contrariado, contou-me que a prefeitura acabara de passar por uma re- inauguração, pois havia sido feita uma ampla reforma. Parece que as goteiras seriam causadas por um jardim suspenso que fizeram para o gabinete do prefeito, exatamente em cima da sala do ETE e que, por alguma falha, estava produzindo as tais goteiras (NC7).

Por vezes, não só a sala dos entrevistados, mas a sede do executivo como um todo parecia demandar melhorias: “A prefeitura está no centro da cidade em um prédio decadente, mal conservado e com fiação à mostra. Seu aspecto externo desfavorece a primeira vista da cidade” (NC11).

Quanto ao perfil, os entrevistados foram, portanto, pessoas com escolaridade entre o ensino médio e o superior completo, vinte e dois homens e dezessete mulheres, majoritariamente entre os trinta e um e os cinqüenta anos, cujo ingresso na área pública foi predominantemente por convite para os RHs e para os TEs ou por eleição para os Ps.

No aspecto mais subjetivo, observou-se que o modelo burocrata se cristaliza nos gestos comedidos dos servidores públicos, talvez condicionados pela habitualidade de práticas rotineiras que pouco desafiam seu potencial criativo e não lhes tragam a certeza de que estejam colaborando com a efetivação do interesse público. Essa reflexão foi motivada pela NC14, onde se lê:

No geral encontrei gestores públicos desanimados, tensos, ansiosos. Confessaram- me sua desilusão com a área pública, sua tristeza pelo emperramento e sua desesperança em relação à mudança dessa situação. Até sua aparência física transmite esse desânimo: sua vestimenta é majoritariamente cinza e seus gestos são arrastados. Tudo leva a crer que passam por uma falta de motivação crônica. Os ambientes também são muito escuros, exceto os gabinetes dos prefeitos. O aspecto físico das salas dos funcionários públicos reforça a visão do senso comum de burocracia emperrada: muita papelada, muito carimbo, muitas pastas empilhadas (NC14).

Feita essa breve descrição de algumas características dos entrevistados e do seu ambiente, passou-se a apresentar o entorno social e político que os envolve.

4.3 A PERCEPÇÃO DOS GESTORES PÚBLICOS DA REGIÃO DA AMMOC ACERCA