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CAPÍTULO III – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.3 A PERCEPÇÃO DOS GESTORES PÚBLICOS DA REGIÃO DA AMMOC

4.3.1 A visão econômica apresenta suas armas

A visão econômica acerca do desenvolvimento aparece, majoritariamente, na fala dos entrevistados, por meio da defesa das seguintes características:90

a) industrialismo: fundamentado na percepção de que a solução para gerar desenvolvimento é a criação de indústrias, particularmente a grande indústria fordista;

b) crescimento econômico: com ênfase maior na sustentabilidade econômica em detrimento das demais: social, cultural, política, ecológica;

90 As características de cada visão da dimensão desenvolvimento encontram-se descritas no referencial teórico e

c) investimentos em infra-estrutura física: entendimento de que o desenvolvimento é gerado a partir do incentivo do município à construção e ampliação de obras físicas de suporte ao crescimento econômico.

Percebe-se a tendência ao industrialismo, quando o prefeito EP1 descreve que um município se desenvolveu quando “cresceu a indústria e as pessoas estão adquirindo mais bens; o município está progredindo.” Também o EP5 entende que, para o desenvolvimento do município, a solução industrialista deve merecer maior destaque, afirmando que “tem que ter prioridade para mais empresas, para trazer novas e apoiar as existentes, para uma campanha que a população compre em [...]91 para aumentar a arrecadação.”

Da mesma maneira, o entrevistado ERH1 declara reconhecer um município desenvolvido quando “há indústrias se instalando no município.” Esse mesmo entrevistado ressente-se de que isso não acontece no seu município e declara: “não se vê a instalação de empresas aqui, sempre foi assim, há dez anos é a mesma coisa.”

Essa visão que apregoa a implantação de indústrias como sinônimo de desenvolvimento, também é compartilhada pelo ERH2, pois, na sua fala, defende “um desenvolvimento com as empresas e indústrias que possam alavancar, inclusive financeiramente, o município.”

O ERH10 lamenta a não existência de indústrias, pois elas representariam desenvolvimento, e assim se expressa: “o município é extremamente agrícola, nós não temos indústrias. Elas seriam um sinal de desenvolvimento.”

Já o entrevistado ERH11, reputa às indústrias o nível de desenvolvimento até então alcançado. Para ele, a presença de indústrias ajuda a desenvolver o município. Um município

desenvolvido é aquele que “[...] até ajuda a pagar a faculdade e as indústrias que vieram para o município ajuda no desenvolvimento.”

O entrevistado ERH13 destaca que, a seu ver, o desenvolvimento que se processou no município foi fruto da atuação de administradores que fomentaram a vinda de indústrias. Para esse entrevistado, a pequena indústria é a que mais tem contribuído:

[...] quando eu vim para cá, a gente não via nada, por exemplo, algum comércio ou indústria. Hoje vejo gente investindo e acreditando nele. Certamente isso se deve aos administradores que demonstram interesse, principalmente nas pequenas indústrias; o meno esses onze anos de desenvolvimento, foi pequeno, mas foi isso.

Essa visão de defesa da solução industrialista também aparece na fala do ETE1, quando a relaciona ao aparecimento de emprego e declara que o desenvolvimento necessita de investimento em indústrias. Defende que o município deve ter como “prioridade a implantação de indústria. Temos um colégio técnico sendo formado para uma especialidade92 e todos estão indo para fora. Se tivesse indústria, colocava-se o pessoal para trabalhar.”

Esse entrevistado, ainda, relaciona o aparecimento de indústrias com o papel do administrador municipal, já que parte do princípio de que aquilo que este gestor considera prioridade acaba por ser efetivado. Essa percepção se faz notar quando declara que “ele o [administrador] põe as mudanças e tem a visão do que fazer, pois você vê que o município progride nos setores que o administrador considera prioridade.” Observa-se, nessa fala, o pensamento de que o voluntarismo do gestor e sua iniciativa pessoal podem gerar desenvolvimento.

Essa abordagem voluntarista também se manifesta na fala do ERH3:

[...] desenvolvimento é tudo aquilo de bom. Tudo aquilo que os prefeitos conseguem trazer de bom para o município como indústria, enfim, tudo aquilo que eles possam, tudo o que eles traçam nos planos desde que são candidatos e tudo o que eles conseguem fazer.

Para o ETE6, a saída para o desenvolvimento do município também é o industrialismo. Na sua visão, para haver desenvolvimento, é necessária “a implantação de novas indústrias ou fazer uma pesquisa de mercado para verificar novas oportunidades.”

Essa busca por novas indústrias, na percepção do ETE9, deve ser no sentido de permitir ao município “mostrar sua potencialidade,” favorecendo o crescimento de setores nos quais já reuniria condições econômicas de competição num mercado mais ampliado.

Na visão do ETE10, desenvolvimento é sinônimo de aumento do número de empresas instaladas no município. Essa percepção é evidenciada ao afirmar: ”eu acredito que o município, para se desenvolver ou para ser considerado desenvolvido, precisa agregar empresas.”

Outra forte marca da visão econômica que está presente na percepção dos gestores públicos da região da AMMOC é a visão de que desenvolvimento é igual a crescimento econômico. Essa percepção é citada de maneira direta, tal qual afirma o EP4: “eu acredito que desenvolvimento é crescimento da economia” ou, mais indireta, como o faz o ERH8, quando aponta, como sinais visíveis desse crescimento, “um município que progride, que tenha alguém que leva ele prá frente, né. Quando você vê progresso.”

A centralidade da visão econômica também aparece na fala do ET2: “basicamente, o município deve ter uma economia segura, estável, tendo isso, ele automaticamente trará benefícios à população.” Observa-se que esse entrevistado percebe uma relação causal entre estabilidade econômica e bem-estar da população.

Os entrevistados também relacionaram investimentos em infra-estrutura física com desenvolvimento. Para o ETE3, o município deve fazer “investimentos de terraplenagem e em terrenos que a prefeitura possa doar para a empresa; dar isenção fiscal [...] tudo isso vai fazer com que o município se desenvolva.”

O EP10 defende a construção de um aeroporto maior para a região, pois, afirma que:

[...] se verificarmos, em cima de ações que caracterizam o crescimento de nossa região, nós acreditamos que ainda precisa de muitas coisa a fazer. Veja: a região ainda não tem um aeroporto que proporcione o desenvolvimento maior, ele ainda é muito pequeno, preciso outro.

O remédio da atração de indústrias pela via da concessão de benefícios às empresas candidatas a instalar-se nos municípios parece ser o mais recomendado pelos gestores entrevistados como solução para a demanda por desenvolvimento. Dessa maneira, os trechos ilustrativos apresentados, sinalizam para a presença de uma crença na visão economicista de desenvolvimento na região da AMMOC.