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O PARTIDO POLÍTICO COMO OBJETO DE CONHECIMENTO

2.1 A DIVERSIDADE DAS ABORDAGENS

2.1.1 Abordagem funcional

A preocupação nuclear do enfoque funcional sobre o Partido consiste em articular uma resposta para a finalidade dessa forma de organização política. Nessa busca, a idéia de funcionalidade engloba dois sentidos fundamentais bastante distintos: o primeiro sentido diz respeito às atividades partidárias; o segundo, às conseqüências objetivas de tais atividades.1

Através da relação função/atividade a abordagem funcional se propõe estudar os papéis efetivamente desempenhados pelos Partidos Políticos. Sorauf estudou as funções do Partido Político concebendo-as sob três formas básicas: 1) mobilização de homens em torno de uma organização política; 2)

controle do Partido sobre as autoridades no exercício do Poder, e 3) atividade do Partido junto ao eleitorado.2

1) mobilização de homens em torno de uma organização - o Partido Político se apresenta como organização

que visa reunir indivíduos a fim de estabelecer uma ação em conjunto para conquistar determinados objetivos. Para isso, em um primeiro momento, o Partido busca recrutar seus seguidores; em seguida, conquistar o Poder para lá colocar os seus correligionários. Desta forma, para os seus adeptos o Partido pode até vir a tornar-se um fim em si mesmo, uma vez que é na sua 1 CHARLOT, Jean. Os Partidos Políticos. Op. cit., p. 37.

2 SORAUF, Frank. Political Parties and Political Analysis. In: CHARLOT, Jean. Os Partidos Políticos. Op. cit., p. 39-40.

estrutura que os objetivos e as decisões serão traçados e definidos. O Poder, a autoridade e a influência são estabelecidos no Partido que deve articular apoios e recursos;3

2) controle do Partido sobre as autoridades

no exercício do Poder - no exercício do Poder os homens de Partido

se organizam em instituições representativas. Nos regimes parlamentares ocorre maior controle dos Partidos sobre seus representantes e o órgão de representação acaba transformando- se em prolongamento da organização partidária, enquanto que nos demais sistemas essa relação não aparece de forma tão nítida. A questão fundamental, porém, é verificar se os membros do governo representam no interior do Partido um setor organizado e consciente do que deseja, de seus propósitos, interesses e satisfações que serão diferentes daqueles estabelecidos pelo seu conjunto. Este tipo de impasse pode proporcionar o surgimento de determinados conflitos envolvendo, por um lado, os interesses dos representantes do Partido no governo e, por outro, os interesses do próprio Partido, o que acaba gerando uma situação extremamente complexa quando se pretende definir a sua efetiva responsabilidade quanto à execução de seu programa;4

3) atividades do Partido junto ao eleitorado - dentre todos os segmentos que o Partido envolve, o eleitorado em geral se apresenta como o mais instável, desorganizado e menos comprometido. Como eleitorado entende-se todos os

3 SORAUF, Frank. Political Parties and Political Analysis. In: CHARLOT, Jean. Os Partidos Políticos. Op. cit., p. 39.

4 SORAUF, Frank. Political Parties and Political Analysis. In: CHARLOT, Jean. Os Partidos Políticos. Op. cit., p. 39.

indivíduos que, mesmo não estando diretamente vinculados à organização, acabam prestando o seu apoio regularmente ao

Partido, nas eleições ou fora delas. Este tipo de eleitor se encontra

ligado ao Partido unicamente por um elo de simpatia relativamente estável e persistente no qual o órgão partidário passa a se fiar. Por fim, "a complexidade do comportamento dos partidos pode explicar-se, no essencial, pelo jogo das relações entre [aqueles] três setores do Partido e pela necessidade que enfrentam de coordenar motivações e objetivos divergentes’’.5

A segunda grande questão, sintetizada pela relação função/conseqüência, concerne aos efeitos objetivos e observáveis das ações do Partido Político. Para a compreensão mais clara do raciocínio funcionalista, vale mencionar as seguintes questões levantadas por Charlot a respeito de quais seriam as conseqüências das atividades partidárias e para quem seriam dirigidas, se para o sistema político como um todo, para o próprio

Partido ou para um determinado subgrupo a ele interno. Ainda

sobre tais conseqüências objetivas para cada sistema de referência, o autor aponta algumas hipóteses, nas quais aquelas podem ser manifestas e, portanto, desejadas, ou, latentes e, por conseguinte, inesperadas. Em ambos os casos as referidas conseqüências objetivas poderiam comportar-se ainda, como

funcionais, quando apresentam alguma contribuição para o reforço

do sistema; como disfuncionais, se contribuírem para enfraquecer o sistema; ou como afuncionais, no caso de não fornecerem nenhuma ameaça. Charlot coloca ainda que pode haver algum 5 SORAUF, Frank. Political Parties and Political Analysis. In: CHARLOT, Jean. Os Partidos Políticos. Op. cit., p. 39-40.

substituto funcional para o Partido, suplantando seu monopólio no exercício justamente das funções que o caracteriza imprescindível.6

No entanto, a questão fundamental para esta abordagem funcional do Partido é de como esse modelo de organização deve atuar dentro dos limites do próprio sistema, a fim de evitar que ele proporcione uma eventual ruptura em toda a estrutura. Pode-se concluir, desta forma, que no enfoque funcional a função que está reservada ao Partido é a de atuar como mero descongestionante da vida social e política.7

As observações de Luhmann são extremamente exemplific ativas desse tipo de abordagem. Segundo o autor, a “eleição política dificilmente se presta a deixar" que os conflitos sociais sejam definidos pelos próprios interessados. O processo eleitoral somente se presta “a trazer os conflitos para dentro do sistema político, em vez de os levar para fora”, enquanto aos Partidos resta a tarefa de amalgamar os conflitos, “mediante processos internos de pré-seleção e desintensificação”, e apresentá-los “aos eleitores apenas sob a 6 CHARLOT, Jean. Os Partidos Políticos. Op. cit. p. 37-38.

7 Em uma perspectiva mais ampla, pode-se definir sistema como determinado conjunto de elementos em que, individualmente, cada um pode ser encontrado em posição diferente em relação aos outros. Em sentido estrito, o sistema pode ser definido como conjunto de elementos interdependentes. Nesse caso, todos os elementos estão ligados por algum tipo de relação. Assim, se houver alguma alteração em tais relações, imediatamente haverá reflexo sobre todos os demais elementos e, como conseqüência, todo o conjunto poderá ser alterado. A respeito ver: ABREU, Alcides. Análise Sistêmica de Partidos Políticos. Florianópolis : Editora Movimento, 1977. FERRAZ Jr, Tércio Sampaio. Apresentação. In: LUHMANN, Niklas. Legitimação pelo Procedimento. Trad. Maria da Conceição Côrte-Real. Brasília : Editora UnB, 1980. p. 01-05. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. Florianópolis : OAB/SC, 1999. p. 96-98

forma dum programa ideal, do agrado geral”. Ou seja, a eleição política acaba convertendo-se em um mecanismo com a função de promover a absorção de conflitos e o auto-sancionamento do sistema político como um todo.8

As metodologias de corte funcional, em suas mais variadas diferenciações, têm como denominador comum típicos objetos de preocupação: elementos integradores de uma realidade que passa a ser descrita de forma a conformar-se perfeitamente com seus elementos internos. O Partido Político poderia, então, ser um desses elementos. O enfoque é preponderantemente dirigido ao exame de sua funcionalidade, ou seja, do estudo descritivo e sistematizado de suas funções dentro desse todo maior e aparentemente harmônico.

A visão de uma grande panela de pressão cujo conteúdo compete às instabilidades interiores ao sistema é uma ilustração intrigante desse tipo de abordagem, isso considerando-se que a válvula de arrefecimento da pressão interna caberia a instituições políticas como os Partidos. Desse ponto de vista, estes últimos assumiriam função meramente legitimadora e, como tal, trabalhariam pela manutenção da estabilidade e equilíbrio do sistema político. Não existe, portanto, possibilidades transformadoras que possam realizar-se pelos organismos partidários, o que se coaduna fortemente com a visão liberal dos

Partidos: são meros instrumentos de legitimação do Poder Político.

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