NA CONDIÇÃO DE ÓRGÃO MEDIADOR DA REPRESENTAÇÃO POLÍTICA
10 Para Cerroni, esta fase é denominada de pré-política por possibilitar a agregação de indivíduos em torno de uma organização maior Ver em:
CERRONI, Umberto. Teoria do Partido Político. Trad. Marco Aurélio Nogueira e Silvia A. Kneip. São Paulo : LECH, 1982. p. 17-18. MEZZAROBA, Orides. O Partido Político no Brasil. Joaçaba : Unoesc, 1995. p. 37.
11 Cf. CHARLOT, Jean. Os Partidos Políticos. Op. cit., p. 7-10 e 22-29. DUVERGER, Maurice. Os Partidos Políticos. Trad. Cristiano M. Oiticica. 3. ed. Rio de Janeiro : Editora Guanabara, 1987. p. 20-26.
enquadrar este novo segmento em comitês eleitorais, como forma de divulgar os representantes e canalizar os votos. Enquanto os agrupamentos parlamentares organizam as suas atividades e propostas, os comitês eleitorais ficam encarregados de reunir o apoio popular.12 Para a teoria interna, da articulação entre os grupos parlamentares e os comitês eleitorais é que nasceria o
Partido.
Para a teoria externa, o nascimento do
Partido não está condicionado à existência do Parlamento,
podendo vir a constituir-se, em alguns casos, antes do próprio Parlamento, como também para reivindicá-lo ou para propor a sua criação. A existência do Partido não estaria relacionada com a do Parlamento, mas com a organização social e, fundamentalmente, com a vontade dos indivíduos que desejam participar das decisões políticas. O Partido se apresenta “como uma forma de agregação ideológica para defender uma condição humana, para remover determinadas circunstâncias históricas que a deformam, não apenas como uma forma de agregação ideológica”. Ou seja, o
Partido representa o embrião de nova estrutura estatal, “a
primeira célula na qual se resumem os germes da vontade coletiva que tendem a se tornar universais”. Para a teoria externa, o significado histórico e teórico do nascimento dos Partidos não pode ficar restrito à análise dos comitês eleitorais ingleses ou dos clubes surgidos na Revolução Francesa, já que em determinados casos, como visto, podem anteceder a criação de Parlamentos,
12 DUVERGER, Maurice. Os Partidos Políticos. Op. cit., p. 20-26. DUVERGER, Maurice. As Modernas Tecno-Democracias. Op. cit., p. 74-78.
como também eles podem ser constituídos para exigir a institucionalização de órgãos representativos.13
Para a teoria interna, que limita a sua investigação ao nascimento dos clubes e dos comitês eleitorais, o
Partido “aparece como um simples mecanismo de organização de
forças dotadas de alguma unidade na propaganda de um certo programa e na luta pela conquista do poder”.14 Já para a teoria externa, o Partido teria dimensão histórico-teórica que transcenderia a experiência da Inglaterra e da França, ele seria um “fenômeno histórico mundial".15 Na perspectiva dessa teoria, o papel do Partido é servir de protótipo, de ponto de encontro e de confrontação entre as diferentes correntes de pensamento, visando a prefiguração de uma Sociedade futura. A partir da
práxis, o Partido deve proporcionar o desenvolvimento de uma
consciência política, fundada em rigorosa análise científica da realidade.16
O aparecimento de Partidos em qualquer sistema político, por si só, supõe uma ruptura com o passado, já que a sua existência, enquanto organizações espontâneas e não institucionalizadas de vontades, implica que a Sociedade se levante frente ao Estado para transformar a estrutura política existente. Os Partidos aparecem, então, como instrumentos mediadores entre a Sociedade e o Estado, com a função de 13 CERRONI, Umberto. Teoria do Partido Político. Op. cit., p.12-14, 17,19.
14 CERRONI, Umberto. Teoria do Partido Político. Op. cit., p. 17. 15 CERRONI, Umberto. Teoria do Partido Político. Op. cit., p. 13.
16 MARX, Karl, ENGELS, Friedrich. Crítica ao Programa de Gotha. In: Obras Escolhidas. São Paulo : Alfa-Omega. [s.d], v. 2, p. 203-234. MEZZAROBA, Orides. O Partido Político em Marx e Engels. Florianópolis : CPGD/Paralelo 27, 1998. p. 68-69.
aglutinar vontades individuais e harmonizá-las em vontades coletivas. Desta forma, a partir, principalmente, da metade do século XDÍ, o Partido passa a se apresentar como um dos instrumentos mais adequado para intermediar a reforma do Estado, buscando a sua socialização.17
1.2.2 Relações etimológicas conceitualmente relevantes
Existem algumas relações etimológicas que são extremamente relevantes para a compreensão do desenvolvimento do Partido Político enquanto órgão mediador da
representação política: a relação entre parte, facção e Partido.
1.2.2.1 A relação entre parte e partido
A raiz etimológica do vocábulo partido encontra-se no latim, do verbo partire, no sentido de dividir, de parte, de fração, de pedaço, no sentido de que um todo seria composto de partes. Com esse significado o termo em questão foi adotado por algumas línguas ocidentais: em alemão, partei\ em
17 LENK, Kurt, NEUMANN, Franz. Teoria y Sociologia Críticas de los Partidos Políticos. Op. cit. p. 6. DUVERGER, Maurice. Os Partidos Políticos. Op. cit., p. 19.
francês, parti; em inglês, party; em espanhol e português,
partido}8
Conforme destaca Sartori, até o século XVII o termo partido não estava presente no vocabulário político, o que vale dizer que o seu significado político não está diretamente vinculado ao latim. A predecessora mais antiga do vocábulo em tela possui conotação etimológica muito parecida e vem a ser a palavra seita, “do latim secare, que significa separar, cortar e, com isso, dividir”. Pelo fato de seita já existir e estar consolidado como termo transmissor do significado preciso de partire, a palavra
partido passou a ser utilizada basicamente para transmitir uma
idéia imprecisa e obscura de parte, sem qualquer sentido depreciativo.19
Com a vinculação do termo parte ao vocábulo partido, entre os séculos XVII e XVIII, obtém-se uma palavra com duas influências semânticas: por um lado “a derivação de partire, dividir”, e de outro, “a associação com tomar 18 No período clássico os romanos já utilizavam o termo partis secanto, no Direito Criminal, quando determinavam dividir em partes os corpos dos criminosos executados com a pena capital. Cf. MEIRA, Silvio. O Direito vivo. Goiânia : Ed. UFG, 1984. p. 245; Sobre a origem da palavra partido ver: DUVERGER, Maurice. Os Partidos Políticos. Op. cit., p. 20-33. DUVERGER, Maurice. As Modernas Tecno-Democracias. Op. cit., p. 74-78. JUSTO LÓPEZ, Mário. Partidos Políticos. Teoria General y Régime Legal. 3. ed. Buenos Aires : Depalma, 1982. p. 18. LINARES QUINTANA, Segundo V. Los Partidos Políticos; Instrumentos de Governo. Buenos Aires : Editorial Alfa, 1945. p. 63-81. SARTORI, Giovanni. Partidos e Sistemas Partidários. Op. cit., p. 23-33. CHARLOT, Jean. Os Partidos Políticos. Op. cit., p. 5-19.
19 SARTORI, Giovanni. Partidos e Sistemas Partidários. Op. cit., p. 24. Para