• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2: METODOLOGIA DA PESQUISA

2.2 Abordagem metodológica

De acordo com André (2008, 2013), o estudo de caso surge na Educação nas décadas de 1960 e 1970, com o objetivo de estudar, descritivamente, uma unidade, seja uma escola ou um professor, seja um grupo de alunos ou uma sala de aula. A partir do ano de 1980, o estudo de caso passa a estudar um caso em particular que merece ser investigado, considerando o contexto e as múltiplas dimensões, sob diversas perspectivas, requerendo, ainda segundo André (2013), o uso de múltiplos procedimentos metodológicos.

Para ser mais preciso, Yin (2015) entende estudo de caso como uma abordagem qualitativa de natureza empírica que busca compreender um caso contemporâneo a partir de um ambiente ou um contexto da vida real. Sendo assim, conforme Stake (1995), esse tipo de estudo também é denominado de pesquisa naturalística, na qual “o pesquisador não tem controle sobre eventos e variáveis, buscando apreender a totalidade de uma situação e, criativamente, descrever, compreender e interpretar a complexidade de um caso concreto”

(MARTINS, 2008, p. xi), ou seja, o pesquisador atua como um observador e um analisador de casos que ocorrem ao seu redor.

Com relação ao caso pesquisado no estudo de caso, Yin (2015) esclarece que pode ser de um único indivíduo, uma família, um objeto (como um ponto turístico), um sistema (como o educacional), uma organização (como a escola), um fato histórico, uma comunidade, uma nação, e assim por diante. Na Linguística Aplicada, o caso pode ser o aprendiz de língua (materna ou estrangeira), o professor, o falante, o escritor/editor, o tradutor, o material didático, entre outros (DUFF, 2008). Logo, de acordo com a perspectiva de Yin (2015), faz- se necessária a delimitação do caso que será estudado, na tentativa de esclarecer melhor o escopo da pesquisa.

Ecoando o pensamento de Stake (1995), de que estudo de caso é uma pesquisa qualitativa complexa46, relacionada a um caso contemporâneo social da vida real, em um sistema delimitado pelo tempo (que pode ser longo ou curto) e lugar, em que os participantes da pesquisa vivenciam o caso que está sendo estudado. Por essa razão, para esse autor, o estudo de caso é a escolha do objeto a ser estudado, holisticamente, e significativamente, em seu contexto particular e natural, de maneira completa e profunda, tornando, assim, de acordo com André (2013), o estudo de caso mais concreto e mais contextualizado.

Caminhando nessa direção, Stake (1995) afirma que o aspecto mais importante a ser considerado em um estudo de caso é a produção do conhecimento derivado do caso, a saber, o que se aprende ao estudar o caso (ANDRÉ, 2008). Nessa vertente, André (2013, p. 97) complementa que “o conhecimento gerado pelo estudo de caso é diferente de outros tipos de pesquisa, porque é mais concreto, mais contextualizado e mais voltado para a interpretação do leitor”.

Como bem pontuam Stake (1995) e Yin (2015), o estudo de caso também é uma pesquisa de natureza indutiva, pois parte de observações e análises de fenômenos reais, baseados em fontes de dados diversos, na tentativa de formular com precisão um problema, responder à formulação deste problema e desenvolver alguma teoria. Segundo Stake (1995), essas observações e análises podem ser caracterizadas de dois tipos, a saber: múltiplos casos (também denominado de estudo plurilocal) ou um único caso (também chamado de estudo intralocal).

46 Com relação a esse termo, trago as palavras literais do autor com relação ao estudo de caso: “Case study is the

study of the particularity and complexity of a single case, coming to understand its activity within important circumstances” (STAKE, 1995, p. xi).

“O estudo de caso é o estudo da particularidade e da complexidade de um caso único para compreender sua atividade considerando circunstâncias importantes.” (STAKE, 1995, p. xi, tradução minha).

Sob o ponto de vista do objetivo da investigação do caso, Stake (1995) classifica o estudo de caso qualitativo em três variações, a saber: intrínseco, instrumental e coletivo, atendendo não apenas a interesses diferenciados, mas, também, segundo André (2008), a diferentes orientações metodológicas.

A primeira variação (intrínseca) tem como pressuposto compreender os aspectos intrínsecos do próprio caso, que pode ter como foco uma situação incomum ou única, mas torna o caso interessante de ser estudado, como, por exemplo, um aluno, um livro didático, um currículo, a prática pedagógica de um professor, entre outros. Essa variação não tem o propósito de construir teorias ou elaborar construções abstratas. A segunda variação (instrumental) tem como foco um caso único que é estudado na tentativa de melhor definir e compreender uma questão mais ampla ou refinar uma teoria, ou seja, o caso é selecionado posteriormente para ilustrar a pesquisa. Finalmente, a terceira variação (coletiva) pauta-se em múltiplos estudos de caso (intrínsecos ou instrumentais) e não apenas em um único caso. Nessa variação, os casos são selecionados pelos pesquisadores para mostrar diferentes perspectivas da situação. É mister ressaltar que Stake (1995) faz a distinção entre os três tipos de estudo de caso “não porque seja útil agrupar os estudos de caso em categorias, mas porque para cada tipo poderão ser priorizados métodos de coleta diferentes” (ANDRÉ, 2008, p. 20).

Considerando tal subdivisão, posso afirmar que minha pesquisa é de um estudo de caso intrínseco intralocal, pois investigo meu próprio contexto de atuação acadêmica, ou seja, minha sala de aula de inglês e sua relação com as TDIC, na tentativa de melhor compreender e buscar respostas para esse contexto em particular.

Vale lembrar que o estudo de caso também advém de um paradigma interpretativista. De acordo com Moita Lopes (1994), os atores sociais atribuem múltiplos significados às ações humanas na tentativa de compreender e interpretar o mundo social – o particular (e não o geral) é o foco de interesse do pesquisador. Para esse autor, o paradigma interpretativista focaliza a intersubjetividade, ou seja, os significados construídos, destruídos e reconstruídos socialmente pelos participantes durante a interação. Nessa direção, Moita Lopes (1994) reconhece que a visão dos participantes do mundo social é fundamental no paradigma interpretativista.

Nessa perspectiva, Stake (1995), Lüdke e André (2013) lembram que o estudo de caso revela uma experiência vicária para o leitor, para dar-lhe a sensação de estar lá, além de permitir generalizações naturalísticas. Em outras palavras, há uma associação do conhecimento experienciado do pesquisador no estudo com casos que são frutos das suas experiências pessoais. Ainda segundo Lüdke e André (2013, p. 23), a pergunta que o

pesquisador deve fazer em seu estudo de caso é: “o que eu posso (ou não) aplicar deste caso na minha situação?”

Sendo assim, acredito que estudo de caso é um modelo de pesquisa para estudar o ambiente de sala de aula de línguas, pois o professor atua, nesse contexto educacional, mais como um profissional de ensino do que como um pesquisador de sua sala de aula. Em outras palavras, sua preocupação não é diretamente investigar e compreender sua própria prática real a partir da interação social, mas atuar como docente no processo de interação.

Dando continuidade ao capítulo de metodologia da presente pesquisa, descrevo, a seguir, seu contexto.