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A Teoria da Adaptação, na enfermagem, vem sendo utilizada desde 1964, porém seus princípios teóricos foram colocados em prática em 1970, quando o corpo docente da Mount Saint Mary's College, de Los Angeles, adotou o chamado “Modelo de Adaptação” de Roy (GALBREATH, 2000).

Este referencial é de autoria da enfermeira doutora Sister Callista Roy, nascida em 1939. Segundo Galbreath (1993), seu maior tempo de atuação profissional foi no

Boston College, em Massachusetts. Dentre vários cargos ocupados, a teórica foi

membro da American Academy of Nursing, onde atuou na organização da North

American Nursies Diagnosis Association (NANDA).

Roy, na construção de seus pressupostos, apóia-se nos trabalhos do filósofo Von Bertalanffy, sobre a teoria geral dos sistemas, e nos estudos de Hatty Helson sobre teoria do nível de adaptação. Seus pressupostos surgem do humanismo e da veracidade, sendo este último com o objetivo de identificar a finalidade da existência humana (BLUE et al., 1989).

Para Galbreath (1993) e Leopardi (1999), são cinco os elementos essenciais no Modelo de Adaptação proposto por Roy:

¾a pessoa que recebe o cuidado de enfermagem; ¾a meta da enfermagem;

¾o conceito de saúde; ¾o conceito de ambiente;

¾a direção das atividades de enfermagem.

Estes elementos fornecem subsídios para a enfermeira construir o processo de enfermagem com o objetivo de promover a adaptação nas situações de saúde e doença. Roy (1984), dentro do seu modelo, apresenta alguns conceitos-chave, que sumarizo a seguir:

A “pessoa”: pode ser um indivíduo, uma família, uma comunidade ou uma

sociedade. Cada um representa um ser holístico e adaptativo. A pessoa, para a autora, é um ser bio-psico-social em constante interação com o meio em mudança, continuamente mudando e tentando adaptar-se.

Sistema: os aspectos individuais das partes que agem em conjunto para formar

um ser unificado.

Adaptação: a “pessoa”, para Roy, sofre alterações contínuas, denominadas por

ela como sendo “adaptações”. Cada uma delas é constituída por estímulos focais (mudanças imediatas que a pessoa enfrenta); contextuais (estímulos ao redor); e residuais (características internas da pessoa), representando a individualidade do ser, que pode apresentar respostas efetivas ou não. Estes estímulos serão descritos de

maneira mais aprofundada, na abordagem do conceito de enfermagem formulado pela teórica.

Ambiente: é definido como “todas as condições, circunstâncias e influências

que cercam e afetam o desenvolvimento e o comportamento das pessoas e grupos“ (GALBREATH, 2000, p. 210). Se o ambiente for favorável, as respostas serão eficientes.

Saúde: é um estado e um processo de ser e de tornar-se uma pessoa total e

integrada. A integridade da pessoa é expressa como a capacidade de preencher as metas de sobrevivência, crescimento, reprodução e domínio.

Enfermagem: não é definida pela autora, de modo explícito. Entretanto, o

modelo de Roy discute as metas e as ações da enfermagem, direcionadas para o processo assistencial. Dentre estas ações estão as que visam à manutenção de respostas adaptativas, apoiando assim, os esforços da “pessoa“ para utilizar, criativamente, seus mecanismos de enfrentamento. A meta da enfermeira é a de promover a saúde em todas as etapas da vida, incluindo o morrer com dignidade.

Os estímulos que podem provocar os mecanismos de enfrentamento ao modo de adaptação vêm do ambiente e estão classificados em três categorias. De acordo com Roy (1984), estas categorias pontuam a variação de respostas que são exclusivas a cada pessoa. Dentre os estímulos significativos encontram-se o grau de mudança, as experiências anteriores, o nível de conhecimento, os pontos fortes e/ou as limitações.

Categoria 1 - Estímulos focais: são as mudanças imediatas que causam impacto no indivíduo. Estão ligadas aos sentimentos e sensações de dor ou perda, separação, como por exemplo, quando os pais vivenciam o nascimento prematuro de seu filho, em que, após o parto, ocorre a separação da tríade, devido a necessidade do recém- nascido receber cuidados específicos em uma unidade neonatal.

Categoria 2 - Estímulos contextuais: são estímulos do mundo interno e externo que podem influenciar de forma positiva ou negativa sobre determinada situação. Exemplificando, o tempo de separação entre pais e bebê dependerá do contexto em que estão inseridos, podendo o ambiente favorecer ou não a superação das dificuldades em aproximarem-se. Visto que, considerando o ambiente externo como sendo a

unidade neonatal, os pais podem sentir-se impotentes frente a tanta tecnologia que cerca seu filho e, ao invés de aproximá-los, a distância poderá torna-se maior.

Categoria 3 - Estímulos residuais: são as influências internas e externas que podem transformar algumas características do indivíduo. Os pais carregam em si, uma carga genética, provém de determinado contexto cultural, possuem determinados aspectos psicológicos, fatores estes, que antecedem o nascimento deste bebê. As características pessoais são determinantes para o processo de adaptação a esta situação tão nova e inusitada que é o nascimento precoce de seu filho e cujas respostas ao evento podem, inclusive, ser diferentes, para a mãe e para o pai. Dependendo de como estes pais apresentam-se frente a estes fatores, o processo de formação do apego entre a tríade poderá variar de modo expressivo.

Pais que vivenciam o nascimento precoce do seu filho, se não tiverem um ambiente favorável e pessoas que possam aproximá-los do seu recém-nascido e que auxiliem também no processo de enfrentamento, dando luzes para o estabelecimento do vínculo afetivo podem, no transcorrer desta caminhada, não produzirem respostas efetivas para o sucesso desta aproximação precoce.

A teórica considera, neste contexto, que um estímulo significativo no ambiente da criança são os pais, e que quanto maior o foco interno de controle dos pais, maiores os padrões de apego; quanto maior o foco externo de controle dos pais, menores os padrões de apego, sendo que ambos favorecem a independência da criança. Neste sentido, a intervenção da enfermagem é dirigida para a manipulação do ambiente e quanto maior o nível de habilitação da criança, maior a necessidade de intervenção da equipe de enfermagem (GALBREATH, 2000).

Com a finalidade de representar o sistema adaptativo de um indivíduo e de fazer com que o mesmo alcance sua integridade fisiológica, psicológica e social, Roy destaca dentro dos princípios básicos de sua Teoria, através de uma figura, os seguintes subsistemas:

Entrada Processos Causadores Saída (Input) de Controle (Output)

Para Leopardi (1999), o nível de adaptação é individual e o estímulo pode ser interpretado através dos mecanismos de enfrentamento, ou seja, dos subsistemas regulador e cognitor. O regulador refere-se à resposta inata, onde através do sistema nervoso autônomo responsável por organizar uma ação reflexa que permitirá ou não uma adaptação da pessoa ao estímulo. Com relação às respostas advindas do recém- nascido prematuro, estas irão sofrer influência devido à imaturidade neurológica. O cognitor, por seu lado, refere-se a um processo que é construído, adquirido, relacionado às habilidades e experiências adquiridas ao longo da vida, favorecendo sua resposta adaptativa frente aos estímulos. Os pais, por sua vez, podem propiciar respostas efetivas ou inefetivas, dependendo de como o processo cognitor foi construído.

Roy (1984) acrescenta que as respostas produzidas podem manifestar-se através de quatro modos efetores, como segue:

Função fisiológica: é a única que está relacionada com o subsistema regulador.

É formada pelas necessidades vitais de oxigenação, nutrição, eliminação, atividade/descanso, integridade cutânea, sentidos, fluidos e eletrólitos, função neurológica e endócrina.

Autoconceito: o indivíduo (“pessoa”) se faz através de suas crenças, valores e

sentimentos. O enfoque do modo de autoconceito está diretamente ligado aos aspectos psicológicos e espirituais do ser humano. É entendido por duas subcategorias, sendo o ser físico e o ser pessoal. O ser físico fica dirigido a sua imagem corporal e o ser pessoal é o esforço da pessoa em se auto-organizar para manter-se em equilíbrio. Os pais de recém-nascidos pré-termo e/ou de baixo peso, ao passarem pelo processo de luto devido à perda do bebê ideal para o real, podem ter uma imagem corporal de si

Respostas: Adaptativas e Ineficientes Estímulos: Nível de Adaptação Mecanismos de Enfrentamento: Regulador Cogniscente Função: Fisiológica Autoconceito Função do Papel Interdependência Retorno (Feedback)

próprios que não seja estimuladora, porém buscam através de suas crenças subsídios para evitar o desequilíbrio e conseguirem uma aproximação mais precoce com seu bebê.

Papel: é a forma como a pessoa se relaciona e interage com as outras pessoas.

A principal necessidade preenchida neste modo é a integridade social. O modo de comportamento é identificado como podendo ser instrumental ou expressivo. Os comportamentos instrumentais são geralmente físicos e têm seu enfoque no domínio dos papéis, ligado a questões de gênero e os comportamentos expressivos são os sentimentos ou atitudes ligados a fatores emocionais que, segundo a autora, buscam respostas mais imediatas. Deste modo, a enfermagem deve agir com o objetivo de propiciar aos pais uma adaptação no espaço cênico da unidade neonatal, meio na qual vão conviver por um longo período, favorecendo as inter-relações dos pais com o bebê, dos pais com a equipe profissional e da equipe com o bebê, sem priorizar as questões de gênero, propiciando a aproximação da tríade de maneira igualitária. O objetivo nestas interações é o estabelecimento precoce do apego entre a tríade.

Interdependência: adequação do indivíduo a partir dos valores humanos como

afeição, sistema de suporte, comportamentos receptivos e de contribuição. É onde as necessidades afetivas são estabelecidas, tanto individualmente quanto no coletivo.

Esses modos apresentados pela teórica constituem os meios pelo qual a “pessoa” passa a adaptar-se às mudanças internas e externas. Estas mudanças podem ocorrer com um único modo adaptativo, porém, na sua maioria, a reação é processada em mais de um modo (GALBREATH, 2000).

Roy também propõe em seu modelo um processo de enfermagem que, em essência, trata-se de uma metodologia que propicia à enfermeira a avaliação do nível de adaptação do indivíduo (incluindo-se aí a investigação do comportamento e do estímulo); o diagnóstico de enfermagem; o estabelecimento de metas; a intervenção e a avaliação, também denominada de evolução.

Num primeiro momento, a enfermeira realiza uma coleta de dados, sendo que na avaliação comportamental deve haver uma investigação habilidosa e cautelosa do comportamento e o conhecimento prévio para avaliar a pessoa, através da resposta comportamental adaptativa ou ineficiente. Na investigação de estímulos, por suas vez,

caso na etapa anterior a pessoa apresente resposta adaptativa ineficiente, deverá haver, por parte da enfermeira, uma investigação dos estímulos externos e internos que possam estar influenciando no comportamento. Através da coleta de dados sobre os estímulos focais, contextuais e residuais da pessoa, a enfermeira consegue esclarecer a(s) causa(s) do problema.

Logo a seguir, procede-se ao diagnóstico de enfermagem (ou diagnósticos) que, segundo Roy (1984), pode ser efetuado de três maneiras, ou seja, por meio de “levantamento dos problemas”, pelo relato da resposta observada frente aos estímulos e, por fim, pela associação das respostas a um ou mais modos adaptativos.

O próximo passo dessa metodologia consiste em estabelecer as metas que são os resultados esperados com relação ao tipo de comportamento que a pessoa deve ter frente aos estímulos, de modo a registrar a resolução do problema de adaptação. São divididas em metas de longo prazo, que representam a resolutividade dos problemas adaptativos e a possibilidade para o preenchimento de outras metas (sobrevivência, crescimento, reprodução e domínio); e as metas de curto prazo, que identificam os comportamentos previamente esperados após terem passado pelo controle dos estímulos focais e contextuais.

A seguir elabora-se então os planos para a implementação das metas. Nesta etapa o objetivo da enfermagem é o de intervir com o intuito de modificar ou controlar os estímulos focais e contextuais, buscando ampliar a capacidade de enfrentamento da “pessoa”, para que a mesma tenha capacidade de adaptação.

A etapa que complementa a metodologia trata então da evolução ou avaliação, em que a enfermagem verifica, através do comportamento e modo de adaptação, se a “pessoa” atingiu as metas propostas. Caso tenha necessidade, nestes momentos de avaliação podem ser traçadas metas e intervenções para possibilitar uma readaptação.

Na busca pela integração e adaptação dos pais com seu recém-nascido pré- termo e/ou de baixo peso na vivência do Método Mãe-Canguru, estas duas teorias abordadas se consolidam. No modelo proposto por Roy, a “pessoa”, no caso, os pais e o bebê pré-termo e/ou de baixo peso, estão em constante interação com o ambiente e com outras pessoas, buscando adaptarem-se frente aos estímulos internos e externos, direcionando positivamente seus mecanismos de enfrentamento. A teoria do apego

favorece o entendimento destes mecanismos e facilita a compreensão de cada etapa que os pais e seu filho pré-termo e/ou de baixo peso irão vencer em direção a concretude e o estabelecimento do vínculo afetivo.

Para que possa aliar o pensamento e os caminhos oferecidos por estas duas teorias, considero que o modo como percebo estas relações e suas influências são de suma importância a serem expressos. Assim, apresento a seguir o marco conceitual, com a finalidade de tornar a pesquisa mais consistente e fundamentada.