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Refletindo sobre a atuação da enfermeira no processo cuidativo com os pais e seus

E/OU DE BAIXO PESO

No transcorrer deste estudo, desempenhei diferentes papéis, estando imbuída, em sua maioria, da função de pesquisadora, porém, por se tratar de uma investigação que envolveu uma prática assistencial, atuava como enfermeira. Mas não posso negar que algumas vezes deixava vir à tona meus sentimentos maternos e minha experiência como mãe. Em alguns momentos entrava em ação, auxiliando e favorecendo algumas práticas; em outros, ficava apenas como expectadora, observando todos os movimentos dos pais, dos bebês e da equipe de saúde neonatal. Minha atuação sempre envolveu muita negociação com os pais inseridos neste estudo, principalmente com relação à minha presença e forma de intervenção. Acredito que, deste modo, promovi a participação mais ativa e afetiva no processo de cuidar, ao mesmo tempo em que procurei garantir os diretos dos mesmos, durante todas as etapas deste percurso.

Apesar de terem poucas tríades (pai-mãe-bebê) inseridas no contexto neonatal quando iniciei o processo cuidativo, uma vez que, em sua maioria, os recém-nascidos estavam acompanhados apenas pela mãe, gostaria de enfatizar que os participantes deste estudo sempre estiveram de algum modo facilitando o desenrolar deste trabalho, ainda que, em alguns momentos, já bastante estafados pelo processo de hospitalização.

O cuidar destes sujeitos com relação à formação no apego no MMC teve altos e baixos. No começo, como na maioria dos casais que tiveram o nascimento prematuro, foi um tanto conturbado, principalmente pelos múltiplos sentimentos que afloravam tanto no homem como na mulher, necessitando mais a minha presença enquanto facilitadora deste processo. Já, quando aparentemente fortalecidos e adaptados à nova realidade, a interação entre pais e filho parecia fluir com menos entraves. Contudo, quando algo inesperado acontecia ou quando iniciavam novas etapas, como a amamentação, que exigia mais dedicação e paciência, era novamente chamada a atuar de modo mais íntimo com a família. Todo o processo cuidativo com todos os casais e recém-nascidos aconteceu desta forma, ou seja, num constante “ir” e “vir”, que me parecem ser característicos de jornadas vitais como esta, repleta de ansiedades, medos, incertezas e intensos períodos de incongruências sentimentais.

Assim, procurei seguir sempre o tempo de cada um dos sujeitos envolvidos, uma vez que apesar das nossas relações terem sido sempre permeadas por respeito e empatia, Ribeiro (2005, p. 57) destaca que “o tempo para a interação é fundamental, pois sem tempo não há vínculo; é ele que possibilita a realização dos elementos intersubjetivos”.

As teorias adotadas para este empreendimento profissional e científico me facilitaram fazer um desenho do meu dia-a-dia no contexto neonatal, de modo bastante próximo aos participantes. A teoria do apego me fez perceber os aspectos mais subjetivos desta proposta, mergulhando em um universo pouco trabalhado pelas enfermeiras, inclusive por mim, que é o da psicologia do desenvolvimento, que nos faz compreender cada estágio que os casais vivenciam ao se tornarem pais prematuros e um tanto despreparados. Já, a teoria da adaptação, mostrou-me de forma mais sistemática todos os estímulos internos e externos que os sujeitos teriam que enfrentar para alcançarem suas metas. No entanto, algumas dificuldades surgiram no decorrer do estudo, primeiramente porque apesar das teorias se complementarem, não havia alguns conceitos bem definidos, como por exemplo, o de enfermagem, necessitando de maior dedicação de minha parte e sucessivas leituras até conseguir extrair com maior profundidade a essência das teorias. Outro fator importante é que a linguagem utilizada pela teórica Roy é um tanto complexa, me levando a discutir com outros

profissionais que já haviam utilizado como referência a teoria da adaptação em seus estudos, com a finalidade de lapidar determinados pontos até então obscuros.

A metodologia utilizada esteve sempre em consonância com as teorias e com o objetivo deste estudo. Sempre tive em mente que o instrumento de coleta de dados adotado seria flexível, não seria algo rígido, até mesmo porque estava amparada pelas trilhas de um estudo de natureza qualitativa. As técnicas adotadas se complementaram de tal modo que seria quase impossível excluir alguma delas no decorrer do trajeto empreendido. Algumas vezes me sentia angustiada pelo fato de ter tantas observações e registros a fazer e que acabavam se acumulando até ao final do encontro, exigindo muita concentração e um constante repensar, considerando que se eu parasse para fazer algum registro no momento em que estava junto ao casal e o bebê, mesmo que fosse por questão de minutos, com certeza perderia valiosos flashes da realidade. Contudo, quando porventura algo “fugia” aos meus pensamentos, a equipe me fazia resgatar, fosse através do diálogo como também através dos registros efetuados no prontuário do bebê.

A equipe de saúde neonatal foi sem dúvida extremamente importante no desenrolar desta proposta, considerando que minha permanência neste serviço foi por curto espaço de tempo e que a promoção do apego no MMC está diretamente ligada ao modelo assistencial adotado pelos profissionais. Penso que o processo cuidativo adotado neste estudo e aceito pela equipe, principalmente de enfermagem, veio a contribuir para o repensar das práticas do serviço de neonatologia, no que tange as relações afetivas entre pais e bebês pré-termo e/ou de baixo peso.

Pensando que a tríade necessita de alguém que facilite as aproximações no ambiente de cuidados intensivos, acredito que tanto os pais precoces quanto o bebê que de certo modo é um ser indefeso e incapaz de sobreviver sem a presença de um cuidador competente, enquanto enfermeira, sempre atentava para que minhas atitudes estivessem refletindo estímulos positivos sobre esta família, agregando saberes e condutas humanizadas compatíveis com as necessidades do momento, estimulando que a equipe demonstrasse um relacionamento acolhedor como modelo de atendimento.

Assim, os pais passavam a entender que a equipe de saúde, principalmente a de enfermagem, liderada pela enfermeira como “ser simbólico e central no processo de interação”, fazia parte desta etapa de suas vidas (SILVA; BOCHI, 2005, p.185).

5.3 REFLETINDO SOBRE AS PERCEPÇÕES DOS PAIS A RESPEITO DA