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Considerando que os aspectos mais amplos do referencial que guia este estudo já foram abordados, apresento neste momento, as minhas crenças e valores interligados aos que guiam a Teoria do Apego e da Adaptação.

Para Monticelli (1994, p.41), o marco conceitual é definido como “uma construção mental que deve comportar uma estrutura lógica de inter-relação entre os vários conceitos que o compõem. Serve para direcionar ou guiar o processo da prática assistencial de enfermagem” e, segundo Trentini e Paim (2004), também se reveste de igual importância durante o decorrer de processos investigativos.

De acordo com Trentini e Paim (2004), um conceito é entendido como uma representação mental de determinada realidade, sendo abstrato, embora a realidade seja concreta. Na construção dos conceitos é que o pesquisador poderá entender, delimitar e guiar seus passos durante o estudo. “Os conceitos são extremamente úteis para orientar o estudo, porém, não são necessariamente herméticos, como se fossem variáveis ‘a priori’” (MONTICELLI, 1994, p. 42).

Antes, porém, de apresentar os conceitos que guiaram a pesquisa, apresento os pressupostos que a nortearam e que são definidos por Lüdke (1991) e Trentini e Paim (2004), como sendo crenças, valores ou “coisas” em que se acreditam, não sendo necessariamente testáveis ou comprovados cientificamente. Os pressupostos deste estudo estão apoiados na Teoria da Adaptação de Roy (ROY, 1984), bem como na Teoria do Apego (KLAUS, KENNELL, 1992, 2000; WINNICOTT, 2001), além

daqueles provenientes da minha experiência pessoal e profissional em unidade neonatal.

3.3.1 Pressupostos da Teoria da Adaptação e da Teoria do Apego

¾ A pessoa é um ser bio-psico-social, que está em constante adaptação e interação com o meio ambiente.

¾ O nível de adaptação depende de quatro modos de adaptação: necessidades fisiológicas, autoconceito, função do papel e relação de interdependência.

¾ A saúde, bem como a integridade, é expressa em respostas às necessidades fisiológicas, psicológicas e sociais.

¾ A adaptação da “pessoa” depende da função dos estímulos aos quais ela está exposta e do seu nível de adaptação.

¾ A enfermagem faz parte de todo o processo, buscando promover as respostas adaptativas em situações de saúde e de doença.

¾ A necessidade de internação do recém-nascido em um ambiente de unidade neonatal torna-se, para os pais, um fator de insegurança e desestimulador para o estabelecimento precoce do vínculo afetivo.

¾ O apego não se estabelece do dia para a noite, depende do nível de adaptação dos pais para com o bebê e vice-versa, além do reconhecimento de seus papéis.

¾ A enfermeira da unidade neonatal atua constantemente como facilitadora do processo de adaptação dos pais à situação vivenciada, a fim de auxiliar no desenvolvimento do vínculo afetivo.

3.3.2 Pressupostos pessoais

¾ O processo de desvinculação entre os pais e o recém-nascido pré-termo e/ou de baixo peso ocorre inicialmente no momento do parto, antecedendo a internação no ambiente da unidade neonatal.

¾ O processo de luto experienciado pelos pais no momento do parto e, especialmente, no puerpério, é um fator que contribui para que o estabelecimento do apego não ocorra tão precocemente.

¾A equipe de enfermagem tem papel de suma importância no favorecimento da aproximação precoce entre a tríade (pai-mãe-filho).

¾ O Método Mãe-Canguru (MMC) é um modelo de atenção humanizada ao recém- nascido pré-termo e/ou de baixo peso, que favorece o contato precoce entre pais e seu recém-nascido, estimulando o estabelecimento do vínculo afetivo.

¾ O modo de adaptação dos pais dependerá não só da equipe de enfermagem, mas também, de fatores biopsicosocioculturais.

¾ Os pais só conseguem aplicar o MMC com os reais objetivos quando já estão conscientes da sua importância e eficácia. Para isto há necessidade de estarem envolvidos com seu recém-nascido e com os profissionais da equipe de saúde que devem favorecer esta compreensão.

3.3.3 Conceitos inter-relacionados

SER HUMANO

É uma “pessoa” bio-psico-social que está em constante busca, adaptações e em permanente processo de construção (ROY, 1984). É único, dotado de sentimentos e tem a capacidade de interagir com seus semelhantes e com o ambiente. A identidade da “pessoa” é um importante ponto de preocupação para a enfermagem (ROY, 1984).

Neste estudo, os seres humanos participantes são os pais e seus filhos recém- nascidos pré-termo e/ou de baixo peso, por serem as “pessoas” envolvidas no processo de formação do apego.

Os pais são seres individuais que compartilham a mesma experiência do nascimento prematuro de seu filho e necessitam adaptar-se à nova situação existencial. Possuem crenças, valores e sentimentos. São sujeitos de sua história e estão unidos em busca de mecanismos de enfrentamento para superar as dificuldades vivenciadas durante o processo de nascimento e adaptar-se à nova realidade. Os pais são os protagonistas do nascimento e do envolvimento com seu filho (MOURA et al., 2004) e, com ajuda da enfermagem e dos demais profissionais da equipe neonatal, terão confiança e capacidade para aproximarem-se do filho nascido prematuramente, a fim de iniciarem a formação do apego.

O recém-nascido pré-termo e/ou de baixo peso é um ser único no mundo. Seu processo de nascimento representa um momento especial na sua vida, na de seus pais e para a realidade que o cerca. Depende dos seus pais, dos recursos ambientais disponíveis e da equipe de saúde para superar sua condição, prevenindo agravos de saúde física e mental (MONTICELLI, 1997). É aquele ser singular que nasceu antes do previsto e tem uma grande necessidade de adaptar-se a esta situação tão nova e inusitada, bem como, precisa de um ambiente adequado que propicie respostas adaptativas eficientes, superando as dificuldades e preenchendo as metas de sobrevivência, crescimento, reprodução e domínio. Para tal a enfermagem faz intervenções, principalmente através da prática do Método Mãe-Canguru, em busca do estabelecimento precoce do apego entre este recém-nascido pré-termo e/ou de baixo peso e seus pais.

ENFERMAGEM

É uma profissão que facilita, promove e apóia o estabelecimento precoce do apego entre a tríade, possuindo conhecimentos e habilidades para auxiliar os pais na compreensão do ambiente neonatal e da situação da prematuridade. A enfermagem promove o conhecimento das potencialidades dos pais para cuidar do recém-nascido e para utilizá-las em prol da formação do apego. Em conjunto com outros profissionais, torna possível a prática do Método Mãe-Canguru, como estratégia primordial no processo de formação do apego entre pais e seus recém-nascidos pré-termo e/ou de baixo peso. A enfermagem trabalha em busca da saúde e da adaptação em todos os momentos e processos da vida, favorecendo as respostas adaptativas através de um ambiente propício, auxiliando os pais no processo de enfrentamento da experiência do nascimento prematuro de seu filho.

PROCESSO DE FORMAÇÃO DO APEGO

É um processo longo, duradouro e complexo, expressado através de cuidados, sentimentos, preocupações e afeições entre duas ou mais pessoas. Pode sofrer influências de fatores internos (aspectos psicológicos, relação familiar) e externos

(ambiente hospitalar, profissionais) (KLAUS; KENNELL, 1992). Roy (1984, p. 39) diz que saúde “é um estado e um processo de ser e de tornar-se uma pessoa integrada e total”, segundo o qual a adaptação é um processo que consiste na promoção da integridade fisiológica, psicológica e social (BLUE et al., 1989). Considerando saúde nesta dimensão, a mesma está diretamente relacionada com uma resposta eficiente no processo de adaptação, onde Roy coloca a enfermeira como articuladora dos enfrentamentos das dificuldades geradas pelos pais. Portanto, a enfermagem deve ter claro que é benéfico, para os pais, compartilharem as responsabilidades no cuidado de seu bebê, repartirem uma pequena área do ambiente neonatal com os profissionais atuantes, oportunizando um contato mais próximo e concreto.

Para o início e a concretude da formação do apego entre os pais e seu filho pré- termo e/ou de baixo peso, visando a promoção da saúde, deve-se propiciar a aproximação e o contato pele-a-pele através da prática do Método Mãe-Canguru, o mais precoce possível, pois os laços afetivos pré-estabelecidos correspondem a uma parte significante das atitudes e comportamentos sociais por toda vida.

AMBIENTE

Segundo Roy (1984), os estímulos que podem provocar os mecanismos de enfrentamento vêm do ambiente, podendo ser provenientes do interior da pessoa ou os estímulos que circundam a pessoa. O ambiente de uma unidade neonatal é formado por seres humanos protagonistas de sua própria história e com equipamentos de alta tecnologia. Está inserido dentro de um contexto físico, social, cultural, político e econômico, no qual pode transformar ou vir a transformar situações de saúde/doença. É um fator determinante no processo de aproximação entre pais e seu bebê prematuro, uma vez que, por aparentar ser um ambiente hostil, poderá dificultar este caminhar em busca para a formação do apego entre a tríade mãe-pai-filho. A condição ambiental auxilia a enfermeira a promover a adaptação e definir intervenções que anulem a distância entre pais e filhos. A enfermagem, em cooperação com os demais profissionais da equipe neonatal, e por meio da prática do Método Mãe-Canguru, tem a responsabilidade de transformar o ambiente neonatal em um cenário agradável e harmônico, desmistificando e aproximando as relações.

PROCESSO DE ADAPTAÇÃO

É a forma como o ser humano passa a se inserir em um determinado contexto físico, social, político e cultural e, através deste, transformar-se para almejar seus objetivos, buscando enfrentar, através de ações, as situações a serem vivenciadas. A enfermagem é o elo entre os pais e seus filhos pré-termo e/ou de baixo peso para, de forma crescente e progressiva, estimular o processo adaptativo, estabelecendo a formação do apego. Como forma de viabilizar este contato precocemente, utiliza a prática do Método mãe-Canguru, em colaboração com outros profissionais. A adaptação dos pais frente ao nascimento inesperado de um bebê pré-termo e deste bebê para com o mundo extra-uterino requer tempo e proximidade, além de um ambiente que apresente condições, circunstâncias e influências que facilitem o acesso dos pais, contribuindo para a concretização do apego.

MÉTODO MÃE-CANGURU

É um modelo de assistência direcionada aos recém-nascidos pré-termo e/ou de baixo peso e seus pais, que consiste não apenas em um contato pele-a-pele precoce entre a tríade mãe-pai-filho, onde o recém-nascido permanece apenas com fralda, ou seja, ligeiramente vestido, em decúbito prono, na posição vertical, contra o peito do pai ou da mãe. Mas, em especial, o Método promove ou favorece a aproximação precoce entre a tríade. Quando os pais iniciam o contato com seu filho, as relações vão se aprimorando e a formação do apego vai tomando contornos que são benéficos para a saúde familiar. O MMC propicia que os pais realizem os cuidados de higiene e conforto, alimentação, dentre outros, fazendo com que as relações aconteçam de maneira gradual. O contato pele-a-pele gera uma harmonia nos sentimentos entre mãe/pai/recém-nascido, porém, acredito que o desejo desta aproximação deverá partir dos pais, sendo que a enfermagem tem a responsabilidade de oferecer um suporte assistencial com uma equipe de saúde adequadamente capacitada. O ambiente é de fundamental importância no caminhar desta aproximação, devendo ser um local que proporcione conforto, segurança e estimule sentimentos positivos rumo a esta caminhada, sendo o mais adequado aquele que for similar ao ambiente familiar,

fugindo das características tradicionais de uma unidade hospitalar, facilitando o processo de adaptação dos seres humanos envolvidos neste tipo de assistência.

“Ser mãe e ser pai é desenvolver paciência e generosidade sem limites. É conhecer o amor incondicional que incorpora com o tempo o amor condicional”. (Adriana T. Nogueira)

Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo Convergente-Assistencial (PCA). Este gênero de pesquisa foi proposto e delineado pelas enfermeiras brasileiras Mercedes Trentini e Lygia Paim e publicado originalmente em 1999. Atualmente a obra que contém este referencial encontra-se em sua segunda edição (TRENTINI; PAIM, 2004). A PCA é um método que está orientado para a resolução ou minimização de problemas da prática que a enfermeira enfrenta e nas possibilidades de mudança e de introdução de inovações nas práticas de saúde. Consubstancia-se num tipo de investigação que se desenrola de modo concomitante com a prática assistencial de enfermagem, já que sua principal característica é a convergência com essa prática. Deste modo, durante a operacionalização do processo de cuidar, a enfermeira coleta dados com a finalidade de responder à(s) pergunta(s) de pesquisa. O processo de cuidar passa a ser o meio para se buscar as informações necessárias que irão alimentar as indagações processadas pela pesquisa. Segundo Trentini e Paim (2004, p. 11) “trata- se de pesquisa simples e exeqüível que pode ser implementada juntamente com as atividades profissionais cotidianas dos profissionais de saúde, em especial, das enfermeiras e enfermeiros”.