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Os sujeitos do estudo foram os pais, juntamente com seus filhos nascidos pré- termo e/ou de baixo peso e que estavam aptos a participarem da prática do MMC no momento da coleta de dados. De modo geral, a pesquisa envolveu três casais e quatro recém-nascidos (já que um casal foi pai de gemelares). A escolha destes participantes teve como critério apenas o desejo dos pais em participarem como sujeitos do estudo, após conhecimento dos objetivos, intencionalidades e modos de participação.

Apresento neste momento, de forma mais detalhada, um pouco mais sobre cada um dos sujeitos desta pesquisa, salientando que, por mera coincidência, todos os bebês participantes eram do sexo feminino. Contudo, para facilitar a leitura, serão identificadas de modo genérico como “recém-nascidos”. As identificações de todos os sujeitos estão preservadas, sendo que, para denominá-los, adotei nomes fictícios sugeridos pelos próprios participantes.

ROSA, CRAVO E AMOR-PERFEITO

O casal é procedente de Tubarão, apresenta situação familiar econômica atual estável e não possui outros filhos. O recém-nascido não foi planejado e referem não terem tido experiência de prematuridade na família. Durante a hospitalização a organização da família se deu da seguinte forma: a mãe permanecia nos aposentos do hotelzinho do hospital durante a semana e nos finais de semana, quando seu esposo chegava, ficava na casa de uma prima que reside na capital. Seu esposo, durante a semana, permanecia em Tubarão para cuidar dos negócios e nos finais de semana vinha para Florianópolis. Em determinadas ocasiões, porém, como na ausência do marido, havia finais de semana em que Rosa não saía do hospital, preferindo permanecer no hotelzinho.

Rosa tem 32 anos, possuí 2o grau completo, exerce a função de agricultora (deixou de ajudar o marido na lavoura desde o momento em que rompeu a bolsa e precisou ser transferida para Florianópolis em 22/09/2005) e é seguidora da religião Testemunha de Jeová. Deu à luz sob parto vaginal no hospital, sendo o peso do bebê compatível com a idade gestacional. Foi criada pelos pais e refere que este processo

sempre foi permeado por carinho, dedicação e respeito. Durante o processo de internação, Rosa permaneceu disponível para permanecer na unidade neonatal no início nas 24 horas durante a semana e nos finais de semana durante o dia, porém em muitos momentos sua permanência foi mais constante. Sua produção láctea era adequada, variando para mais ou para menos dependendo do seu nível de estresse.

Cravo tem 41 anos, 2o grau completo, é agricultor e também é adepto da religião Testemunha de Jeová. Nasceu sob parto vaginal, em hospital, a termo, com peso apropriado para a idade gestacional, tendo sido criado por seus próprios pais. Refere ter sido criado com muito carinho. Apresentou disponibilidade para permanecer na unidade neonatal em alguns finais de semana e em algumas ocasiões “marcou presença”, como gostava de dizer, também durante a semana.

Amor-perfeito é uma menina, nascida em 24 de setembro de 2005, às 11horas

e 14 minutos, com 1.245g., de parto vaginal. Recebeu 8 na avaliação de Apgar do 1o minuto e 5o minuto. Sua estatura não foi verificada na sala de parto. Sua idade gestacional (IG) foi avaliada segundo o método de Ballard, em 31 semanas e 4 dias. Ao nascimento necessitou de O2 inalatório na sala de parto, mas logo após foi

colocada pele-a-pele com a mãe. Sugou o seio materno e foi acompanhada pelo esposo/pai durante o período que permaneceu no centro obstétrico. Amor-perfeito chegou à unidade neonatal no mesmo dia do seu nascimento, às 11 horas e 30 minutos, por ser pré-termo. Chegou em incubadora de transporte, O2 inalatório, com leve

desconforto respiratório. Não houve o acompanhamento de familiar naquele momento. Deu entrada diretamente na UTI, sendo instalado de imediato o oxímetro, o catéter de O2 e fluidoterapia com punção periférica. Segundo Rosa e Cravo, os mesmos não

recordam quem foi o profissional que lhes forneceu as informações iniciais na primeira vez que adentraram a unidade neonatal, pois estavam muito angustiados e estressados naquele momento. Segundo eles, a primeira impressão foi de “susto”, principalmente o pai.

NUVEM, CÉU, ESTRELA E LUA

O casal é procedente de Braço do Norte e possui situação familiar econômica atual estável. Não possuem outros filhos e a gravidez das gemelares não foi planejada.

Referem não terem tido experiências anteriores familiares iguais a esta. A organização da família durante a hospitalização aconteceu de diferentes maneiras; enquanto Céu estava de férias, o casal permanecia no hospital durante o dia, sendo que à noite hospedava-se na casa de um familiar. Quando terminou as férias de Céu, o mesmo retornou para sua cidade, trocou alguns plantões, uma vez que trabalha neste sistema, para obter mais folgas e retornar para Florianópolis com maior freqüência, enquanto Nuvem permaneceu neste período nos aposentos do hotelzinho.

Nuvem tem 21 anos, o 2o grau completo, é operadora de caixa e refere ser católica. Nasceu de parto vaginal, em ambiente hospitalar, dentro do prazo limite de 9 meses. Foi criada e educada por seus pais, que a tratavam com muito carinho e respeito. Sua disponibilidade para permanecer na unidade neonatal era incerta, mas enquanto permaneceu no hotelzinho ficava livre nas 24 horas, porém sua presença era mais freqüente durante o dia até por volta das 20 horas, e quando ia para a casa de seu parente permanecia apenas das 08 às 18 horas. Durante a hospitalização Nuvem oscilava na sua produção láctea, porém a mesma era geralmente suficiente para atender a demanda das duas filhas, sendo que referia um enorme desejo de amamentá- las.

Céu tem 23 anos, possui o 2o grau completo, é militar e se refere como católico. Nasceu de parto vaginal, em uma unidade hospitalar na cidade de origem e nasceu a termo. Foi criado por seus pais com muito carinho, “longe de ambiente agressivo e hostil”. Apresentou disponibilidade para permanecer na unidade neonatal diariamente das 08 às 18 horas, enquanto estava de férias, mas também estava sempre pronto e disponível para auxiliar Nuvem ou as meninas, sempre que havia necessidade.

Estrela (gemelar I) é do sexo feminino, nasceu em 01 de outubro de 2005, às

15 horas e 53 minutos, com 1.675g e 41 cm de estatura. Nasceu de parto cesárea, com apgar 8 no 1o minuto e 9 no 5o minuto. Sua idade gestacional segundo Ballard foi de 32 semanas e 5 dias. Necessitou de O2 inalatório na sala de parto. No momento do

nascimento não foi promovida aproximação entre as filhas e sua mãe através do contato pele-a-pele e tampouco sugaram o seio materno, devido às intercorrências clínicas. Estrela foi encaminhada para a unidade neonatal após ter recebido os cuidados na sala de parto, às 16 horas e 30 minutos. Foi internada por ser pré-termo e

ter risco para infecção. Chegou à unidade em incubadora de transporte, ar ambiente, sendo coletado exames de sangue e iniciado antibióticoterapia. Não houve acompanhamento de familiares naquele momento. Deu entrada diretamente na UTI, sendo necessário instalar aparelhos para controle clínico como oxímetro, monitor cardíaco e fluidoterapia por acesso periférico. Contudo, mesmo estando neste ambiente, na primeira vez que os pais entraram na unidade, foi facilitada a aproximação dos pais com a filha, não somente através dos olhares, mas também através do toque. Nuvem e Céu não recordam qual profissional forneceu as primeiras informações, pois estavam cheios de expectativas e com certa ansiedade naquele momento. Porém, referem sentirem-se satisfeitos com as informações e pelo “tamanho da criança”.

Lua (gemelar II), também uma menina, nasceu em 01 de outubro de 2005, às

15 horas e 55 minutos, com o mesmo peso de sua irmã, 1.675g e 40 cm de estatura. Nasceu de parto cesárea, com apgar 9 no 1o minuto e 9 no 5o minuto. Sua idade gestacional segundo Ballard foi de 32 semanas e 5 dias. Também necessitou de O2 na

sala de parto, além de sonda orogástrica aberta, para drenagem de secreções. Não houve a possibilidade de ser colocada em contato pele-a-pele e de sugar o seio materno devido à instabilidade clínica decorrente da prematuridade. Necessitou de internação urgente na unidade neonatal às 16 horas e 30 minutos, em companhia de sua irmã. Também foi internada por ser pré-termo e ter risco para infecção. Chegou em incubadora de transporte, ar ambiente, sendo coletado exames de sangue e iniciado antibióticoterapia. A chegada na unidade neonatal foi realizada apenas por funcionários do centro obstétrico, sem a presença de um familiar. O ingresso de Lua foi direcionado para a UTI, sendo instalado oxímetro de pulso, monitor cardíaco e fluidoterapia por venopunção periférica. Nuvem e Céu referem que não tiveram dificuldades para se inserirem no ambiente neonatal. Disseram que foi bom ter tocado no bebê, sendo que neste momento também receberam informações sobre as condições clínicas da menina.

COALA, LEÃO E GATINHA

O casal é procedente de Treze Tílias e, segundo informações colhidas, apresenta situação familiar econômica atual precária. Possui dois filhos anteriores, sendo que a criança mais velha (5 anos) é fruto da união de Coala com outro homem. O casal não fazia uso de contraceptivos, pois tinham vontade de ter mais um filho, já que deste casamento, possuíam apenas um garoto de 3 anos de idade. Não tiveram experiência como esta de prematuridade em sua família. Durante a hospitalização os pais permaneceram juntos desde a transferência de sua cidade para Florianópolis até cerca de 30 dias após o nascimento. Enquanto os pais estavam fora do domicílio, os filhos menores permaneciam sob os cuidados da avó materna em sua cidade natal. O casal permanecia durante o dia nas instalações hospitalares, mais precisamente dentro da unidade neonatal e ao entardecer se deslocavam para uma casa que abriga pessoas advindas de outras localidades e que não possuem condições financeiras, ou não possuem algum familiar mais próximo. Ao passar os trinta dias de permanência do esposo-pai no HU, o mesmo precisou retornar à sua cidade para ir em busca de um emprego e para dar atenção aos outros filhos. A partir daí os contatos foram mais raros devido às dificuldades de acesso aos meios de comunicação mais comuns. Em apenas dois momentos do processo de internação é que Coala teve a possibilidade de se encontrar com seus filhos. Na ausência de seu esposo, Coala permaneceu indo descansar no abrigo. Após ter conseguido vaga nos aposentos do hotelzinho, Coala passou a permanecer mais próxima da filha.

Coala tem 22 anos e possui 1o grau incompleto. Atualmente não trabalha, apenas se ocupa dos afazeres domésticos e é seguidora da religião Evangélica. Nasceu sob parto vaginal, em hospital, a termo. Foi criada pelos pais e refere ter recebido apenas carinho de seu pai, pois sua mãe abandonou a família quando ainda era pequena. Considerava que sua mãe sentia desprezo por ela. Somente muitos anos depois é que sua mãe e ela passaram a ter novamente contato. Coala possui dois meninos e Gatinha que é sua terceira filha. Durante o processo de internação, Coala permanecia na área hospitalar durante o dia e no período noturno, no início, não ficava junto da filha. Somente depois de ter se alojado no hotelzinho é que passou a

freqüentar a unidade também à noite e muitas vezes somente no horário das mamadas. Sua produção láctea era excelente e referia “muita vontade” de amamentar.

Leão tem 28 anos, 1o grau incompleto, é pedreiro, mas atualmente está desempregado. Refere seguir a religião evangélica. Nasceu sob parto vaginal, em hospital, a termo, com peso apropriado para a idade gestacional. Foi criado por seus avós paterno, “com muito carinho e respeito”. Apresentou disponibilidade para permanecer na unidade neonatal durante os primeiros 30 dias de nascimento de sua filha. Após este período teve que retornar à cidade de origem. Possuí um filho de três anos e esta filha atual.

Gatinha é do sexo feminino e nasceu em 16 de dezembro de 2005, às 13horas e

53 minutos, com 800g, de parto cesárea. Recebeu 2 no apgar do 1o min e 7 no 5o minuto. Sua estatura não foi verificada na sala de parto devido a sua instabilidade clínica. Sua idade gestacional foi avaliada, segundo Ballard, em 30 semanas e 6 dias. Ao nascimento, necessitou de O2 inalatório na sala de parto, não havendo

possibilidades de ser colocada pele-a-pele com a mãe. Foi somente “mostrada” à ela. Coala foi acompanhada pela sua mãe durante o período que permaneceu no centro obstétrico. Gatinha chegou à unidade neonatal no mesmo dia do seu nascimento, às 14 horas e 05 minutos, por ser pré-termo e pequena para a idade gestacional. Chegou em incubadora de transporte, entubada, com desconforto respiratório e hipotérmica. Não houve o acompanhamento de familiar naquele momento. Deu entrada diretamente na UTI, sendo instalada de imediato no respirador artificial, com oxímetro, monitor cardíaco, fluidoterapia e medicamentos por catéter de inserção central periférica

(PICC), e sonda orogástrica. Os pais, logo na primeira vez que entraram na unidade tiveram a oportunidade de tocar a filha. Receberam informações sobre sua condição de saúde pela médica e pela enfermeira do plantão, mas referiram que estavam “extremamente preocupados” naquele momento, com “toda a situação”, achando que a menina não “vingaria”.