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A pesquisa foi conduzida de julho de 2005 a fevereiro de 2006 na unidade de neonatologia do Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago, da Universidade Federal de Santa Catarina – HU/UFSC. Este se caracteriza por ser um hospital-escola, administrado com recursos federais, que presta assistência gratuitamente à população. Objetiva a assistência, o ensino, a pesquisa e a extensão. A Maternidade do HU/UFSC possui onze anos de existência, inaugurada em 20 de

outubro de 1995, sendo Centro de Referência da região Sul para a prática do Método Mãe-Canguru.

A Maternidade deste hospital se baseia em uma filosofia que está firmada desde 1995, tendo sido elaborada por uma equipe interdisciplinar que assessora a direção do HU nas questões referentes à Maternidade. Seus pressupostos são os seguintes: receber atendimento personalizado que garanta uma assistência adequada nos aspectos biológicos, sociais, psicológicos e espirituais; favorecer o apego entre pais e seu recém-nascido; atuação da equipe interdisciplinar de forma integrada buscando refletir atitudes de respeito ao ser humano e reverter em benefício de uma melhor assistência; a equipe deve exercer um papel atuante na educação da mulher/acompanhante e grupo familiar, com vistas ao preparo e adaptação ao aleitamento materno, desenvolvimento da confiança e capacidade de cuidar do filho, execução de cuidados básicos de saúde e planejamento familiar devendo a mulher permanecer internada o tempo suficiente para que sejam atendidas suas necessidades assistenciais e de educação em saúde (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO, 1995).

A Maternidade do HU/UFSC está situada no segundo andar desta instituição e é composta pelos setores de triagem obstétrica, centro obstétrico (CO), alojamento conjunto (AC), central de incentivo ao aleitamento materno (CIAM), lactário e unidade neonatal. A estrutura da Maternidade conta ainda com as dependências do “hotelzinho”, que consiste em um alojamento para as mães cujos recém-nascidos encontram-se internados na unidade neonatal, permitindo desta forma que as mesmas permaneçam próximas dos filhos, estimulando assim o desenvolvimento do apego e a promoção do aleitamento materno. Este espaço comporta apenas quatro mulheres, uma vez que é uma área com espaço físico reduzido, havendo então prioridade de alojamento às puérperas que se encontram até o quinto dia de puerpério, as que estão iniciando o processo de amamentação e aquelas que não residem na grande Florianópolis.

A unidade neonatal está dividida em três ambientes. Atualmente possui capacidade para 14 leitos, estando distribuídos em:

¾Cuidados intensivos (4 leitos), onde internam bebês prematuros ou a termo com graves problemas de saúde e/ou muito baixo peso;

¾Cuidados intermediários (6 leitos), onde se encontram os recém-nascidos que necessitam ser observados nas primeiras 24 horas de vida, seja por prematuridade, processos físicos adaptativos do nascimento ou investigação diagnóstica;

¾Cuidados mínimos (4 leitos), onde ficam os bebês que tiveram alta dos cuidados intensivos e/ou necessitam adquirir peso.

Segundo Costa (2005), o serviço de neonatologia apresenta cerca de 47 a 62% de ocupação, contando com internações de bebês procedentes de todo o Estado de Santa Catarina. As principais causas das internações envolvem a prematuridade, o baixo peso ao nascer, a asfixia neonatal, o desconforto respiratório, hipoglicemias, dentre outros. O tempo de permanência varia de dias até meses.

A equipe interdisciplinar deste serviço é composta por 8 enfermeiras, 12 médicos neonatologistas, 2 fonoaudiólogas, 1 psicóloga, 1 assistente social, 1 nutricionista, 2 fisioterapeutas, 23 técnicos de enfermagem, 10 auxiliares de enfermagem e 1 escriturário.

No serviço de neonatologia deste hospital o acesso dos pais é livre e estimulado nas 24 horas, ou seja, em período integral. O horário de visita fica aberto a duas pessoas por dia, incluindo os irmãos do recém-nascido e os avós maternos e paternos, sendo que a visita é realizada individualmente no horário das 15 às 16 horas.

Fazendo parte do contexto da unidade neonatal há um espaço físico destinado ao Método Mãe-Canguru. Desde sua implantação neste serviço, o ambiente que os pais dispunham para praticar o Método Mãe-Canguru era composto por um quarto contendo: duas camas de solteiro, dois berços de calor radiante, criado mudo com abajur em cada cama, televisão, aparelho de som, ar condicionado, poltrona, cadeiras, mesa para refeições, pia e um balcão utilizado para guardar pertences dos bebês e de suas respectivas mães, além de servir de apoio para a banheira de banho dos recém- nascidos. O banheiro para o uso dos pais localiza-se fora do quarto, havendo necessidade destes se deslocarem. Entretanto, no momento atual, a unidade passa por um processo de reforma que visa ampliar o espaço e a estrutura destinada à prática do Método Mãe-Canguru. Esta reforma tem como meta atender aos requisitos do Ministério da Saúde com relação ao Método. O projeto teve início em 1996 e conta com o reconhecimento e apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES) e da Fundação ORSA. Ao findar este processo, a unidade contará com 8 vagas destinadas ao MMC, 2 vagas para isolamento e 2 consultórios para atender a demanda ambulatorial (3a etapa do MMC), além de ambientes destinados a atividades manuais, como por exemplo, a confecção, pelos pais participantes do Método, de roupas para os bebês e de oficinas que possibilitem a troca de experiências entre os grupos de pais participantes, e destes com a equipe interdisciplinar; incluindo ainda nesta estrutura, uma ampla lavanderia e uma área aberta destinada ao banho de sol. Até que a reforma seja concluída, os pais realizam o Método dentro das salas da unidade neonatal, ou seja, a primeira etapa acontece na UTI e a segunda etapa na sala de cuidados intermediários.

Para ingressar no Método, neste serviço, os pais passam por uma triagem, feita pela enfermeira, pelo médico neonatologista, pela psicóloga e pela assistente social, sendo que cada um destes profissionais fornece seu parecer, por escrito, no prontuário do recém-nascido prematuro apto a ingressar nesta prática. Na avaliação realizada pela enfermeira da unidade, os principais requisitos a serem apresentados pelos pais consistem no apego dos pais ao recém-nascido, a segurança e a independência nos cuidados ao mesmo. O desejo expresso dos pais em ingressarem no Método é considerado ponto-chave para que sejam iniciados os preparativos para a vivência neste novo estágio de internação dos recém-nascidos. O Método Mãe-Canguru é composto por três etapas (citadas no capítulo introdutório), sendo que cada uma delas possui requisitos específicos. Conforme levantamento realizado por Guimarães e Schneider (2003), desde a implementação deste Método na unidade neonatal até o ano de 2003, houve a participação de 67 bebês e seus pais.

Em julho de 2005 comecei a me inserir no ambiente neonatal como enfermeira- pesquisadora, com o propósito de integrar-me paulatinamente na vida da unidade e, em especial, no MMC, verificando a viabilidade de realizar este tipo de pesquisa, uma vez que haveria de ter pais aptos a participarem da proposta. Naquela oportunidade conversei com alguns profissionais sobre minhas expectativas, apresentando o objetivo deste estudo. Todos os integrantes da equipe com quem interagi neste primeiro momento enfatizaram o benefício que este tipo de estudo poderia trazer para a unidade, considerando a proposta como algo extremamente importante para os pais,

para os bebês e também para os profissionais, já que a promoção do apego tem sido uma questão que vem preocupando a todos.

Deste momento em diante comecei a realizar leituras mais aprofundadas sobre o referencial teórico que utilizaria para guiar a pesquisa convergente-assistencial, bem como fui em busca de outros estudos que haviam sido realizados com desenhos semelhantes ao que eu iria desenvolver. Posteriormente, tendo domínio da abrangência desta temática foi que, em setembro de 2005, com a proposta já melhor delineada, voltei à unidade neonatal para então selecionar neste contexto os pais que estariam dentro dos objetivos propostos pelo estudo e passariam a ser participantes da pesquisa convergente-assistencial, de forma voluntária, após concordarem e assinarem o termo de consentimento livre e esclarecido. Após estes primeiros movimentos, combinava com os pais como seriam nossos encontros. No início o contato era diário e então, à medida que as dificuldades de adaptação iam sendo superadas, os encontros eram agendados com menor freqüência. Porém, os sujeitos participantes tinham consigo todos os meus contatos telefônicos para que, em qualquer situação ou necessidade, pudessem entrar em contato.

A duração dos encontros variou entre uma hora e meia até quatro horas, conforme as necessidades se apresentavam dentro do cenário assistencial. O período vespertino era o mais solicitado (devido à rotina dos pais e da unidade), mas em alguns momentos nos encontramos no período matutino e menos freqüente no período noturno. Nossos encontros aconteciam em diferentes locais, sendo o mais rotineiro, dentro da unidade neonatal, próximo ao recém-nascido, mas também acompanhei os pais em outros locais como no “hotelzinho”, na CIAM, e até mesmo nos corredores. Algumas vezes estivemos em salas reservadas, quando se tratava de algum “desabafo” ou da necessidade de conversas individuais.

Os contatos entre a pesquisadora e os pais com seus bebês eram aproximadores, tendo os pais toda a liberdade para expressarem seus sentimentos, sendo estes positivos ou não, de forma que juntos conseguíssemos definir as dificuldades e traçar o caminho a ser percorrido rumo à formação do apego.