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O 25 de Abril português dita mudança

No documento Timor-Leste, outro rosto da história (páginas 85-93)

Ao recordar um acto singular feito por um anónimo ou começado por uma organização social, deve-se também sublinhar de antes, o pioneirismo da expansão portuguesa para regiões desconhecidas. Torná-las conhecidas e inseridas na sua história, ao longo das épocas modernas a contemporaneidade, com todas as gentes, conhecidas na África, Ásia 181 e na América 182. Com as quais, influía o modo de viver nos padrões modernos, e conduzidas a revolucionar o seu património tradicional. Pela aventura eficaz ou fracassada, mas é um facto, donde as chamadas regiões remotas conhecerão a cultura civilizacional do Ocidente, e, serem laços de amizade com o mundo português. Partindo da sua pequenez geográfica, na Europa ibérica, nem sequer uma potência foi, conseguiu uma margem de manobra que o resultou como foram as grandes monarquias dos Valois, em França, e dos Habsburgo183, dos territórios por toda a Europa 184.

Os acontecimentos inventados pelos navegadores portugueses pelo mundo fora, como novos rumos abertos, de grande importância. Em períodos mais tarde, tornaram-se-lhes espinhosos, por os sucessos obtidos, nos territórios tidos como seus, cobiçados apoderar por outras potências ou parceiros ocidentais 185. Mas havia outros que persistiam, consolidavam-se, assegurados por uma estabilidade política seguida pelas cortes reais a república à evitar o afogamento de honra dos capitães-mores do passado.

De regimes absolutistas a monarquias constitucionais; destes a I república, e da qual torná-lo a uma república de regime ditatorial do chamado Estado Novo, por autoria do Dr. Anrónio Oliveira Salazar. Optou por estilo reunir em torno do seu governo, os monárquicos e moderados de esquerda em reconquistar a unidade nacional; considerava a Igreja Católica, como suporte principal a contribuir pela consolidação do regime salazarista. Assistia assim, uma paz aparente, acreditando o decurso do regime numa duração perpétua. Mas os tempos trazem outra realidade, e

181 Araújo, Carlos, Lisboa e os descobrimentos. 1415-1580: a invenção do mundo pelos navegadores

portugueses, Terramar, 1992, pp. 21 ss;

182 Serrão, Joel e Maeques, A.H. de Oliveira (direc.), Nova História da Expansão portuguesa. O Império

Luso-Brasileiro (1500-1620), Vol. VI, Editorial Estampa, 1992, pp. 57 ss;

183 Mourre, Michel, Dicionário de História Universal Vol. I, Edições ASA, 1998, p. 200;

184 Ramos, Rui (Coordenador), Sousa, Bernardo Vasconcelos e, e Monteiro, Nuno Gonçalo, História de

Portugal, 3.ª Edição, A Esfera dos Livros, 2009, pp. 199 e 200;

185 A Malaca tornara-se possessão portuguesa por autoria de Afonso de Albuqurque, a 15 de Agosto de 1511 e apoderada pelos holandeses, em 1641, conforme Araújo, Carlos, Lisboa e os descobrimentos.

a crença na persistência face as oposições cria-lhe desfavor na política internacional, mais acentuada pelo lado dos aliados, inglês e americano 186.

Em épocas do pós II Guerra Mundial são embaraçosas aos impérios coloniais na Ásia, puseram os políticos da coroa britânica numa situação incapaz para sossegar o movimento independentista indiano. As populações locais cada vez agitavam a volta dos seus novos líderes a reivindicarem pela imediata proclamação da independência da Índia. Ao evitar as chacinas continuadas entre hindus e muçulmanos, o governo britânico decidiu dar independência a Índia, em 1947; a gigante Índia britânica devido ao desentendimento hindu/muçulmano resultara em duas nações: Índia e Paquistão 187. Filipinas contestava o domínio dos EUA após ter sido expulso os espanhóis do poder (1898), alcançara, finalmente, a sua independência, a 1946188. Mais para lá, o Arquipélago da Insulíndia, à ocupação japonesa contaminou a ordem colonial holandesa para repor o seu sistema, o que ajudou o movimento separatista forçar a sua posição pela independência da Indonésia, numa forma irreversível189.

E, no entanto o governo do Estado Novo estava ao corrente do novo cíclo político. Aqui, a ideia de manter as posições nos territórios de soberania lusa são outro fenómeno “negativo” neste período turbulento no quadro da administração colonial europeia que é o relativo fracasso com a política internacional.

Neste contexto a oposição à guerra era difícil sustentar, o que justifica os impérios coloniais estariam fora da época. O júbilo das massas face à proclamação da guerra, depois do grande conflito não é um delírio colectivo momentâneo, mas o corolário de uma educação levada a cabo ao longo de décadas e séculos, com inculcação de valores patríoticos e da aceitação da autoridade. Cada nação, o seu destino e a sua função cívica, justificavam todos os sacrifícios.

A própria realidade vivida da época fez-se perceber aos poderes coloniais, nunca um indiano poderia chegar aos mais altos cargos da velha Inglaterra, da mesma forma que nunca um timorense estaria na cadeira do sub-secretário de um ministério português, nem javanês integraria o ministério holandês. E, em certo sentido, foi o próprio colonialismo a fornecer aos povos colonizados a fundamentação dos movimentos autonómicos.

Fernando Lima foi muito claro na sua obra, desenhando-nos a conferência dos países não-alinhados, realizada em Bandung, Indonésia a 18 de Abril 1955, esta como anfitriã. No discurso de sessão de abertua proferido por presidente da R.I., foi

186 Raimundo, Orlando, a Última dama do Estado Novo e outras histórias do Marcelismo, Temas e Debates, 2004, p. 99;

187 Mourre, Michel, Dicionário de História Universal Vol. II, Edições ASA, 1998, pp. 679-684; 188 Idem, Ibidem, Vol. I, pp. 471 e 472;

directamente ao assunto da descolonização da África e Ásia. Pretendendo que os países das duas regiões sejam livres de domínio estrangeiro. Apelava aos presentes a promover uma política junto da ONU para não esquecer dos países em situações do género. O discurso de tom, pesava imenso sobre presença portuguesa na África e na Ásia 190.

Nesta ponta do mundo de conferência dos países não-alinhados, Portugal vê nela como uma ameaça comunista, uma arma escondida da União Soviética, apenas ouvi-la de nome pronunciado pelos países do terceiro mundo, um verdadeiro indício de uma nova ordem mundial em progressão.

Desde 1947, do pós independência da Índia, esta cortara de vez o laço tutelar com a Grã-Bretanha, as coisas passaram embaraçosas aos ingleses em relação aos tratados com Portugal. No fim da II Guerra Mundial, as eleições do Reino Unido deram vitória ao Partido Trabalhista a frente do governo. O sistema de relações com Portugal alterava-se, na forma como o governo londrino conduziu a sua descolonização 191.

Em alguns países colonizados, achavam-se pela guerra que os cidadãos percebem, pela primeira vez na História e através do serviço no exército, que partilham um destino e um espaço comuns; envergam uma roupa igual e partilham o mesmo destino, percebe-se, em fim, que existe um sentimento de identidade. A partilha organizacional se transforme na construção ideológica, entusiasmada por corpos directivos de consciência colectiva emergentes, em constante oposição aos poderes coloniais inflexíveis a propostas nacionalistas, como acontecera nas Índias Orientais Holandesas 192. Pelo lado português não ignorava os episódios de clima insustentável, decorridos já na Ásia, descurava os planos que podiam ajudá-lo conduzir a descolonização de forma organizada, dos territórios de soberania portuguesa. E quanto Timor-Leste, sofrera a perda na ordem dos 60 a 70 mil timorenses, em defesa dos aliados ocidentais e da neutralidade no grande conflito portuguesa não havia nenhum obstáculo do regresso da administração portuguesa. O relacionamento dos liurais e da classe letrada com os portugueses menteve-se como decorrera, anteriormente 193.

A ineficácia dos serviços da PIDE, em Timor português, assistiu uma prova de excesso de liberdade de entrada de alguns indonésios, provenientes do movimento da

190 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 77;

191 Oliveira, Pedro Aires, Os Despojos da Aliança. A Grã-Bretanha e a questão colonial portuguesa

1945-1975, Lisboa: Tinta-da-China, MMVII (2007), pp. 45 e 46;

192 Conforme Silva, Lurdes Marques, Descolonização, Nacionalismo e Separatismo no Sudeste Asiático

“os casos da Indonésia e Timor-Leste”, Lusotopie, 2000, p. 362;

193 Magalhães, António Barbedo de, Timor Leste na Encruzilhada da Transição Indonésia, Fundação Mário Soares, Gradiva Publicações, Lda. 1999, pp. 36 a 38;

revolta que se ocorrera em Ambon e das ilhas Molucas do Sul, em 1959. O governo de Jakarta deu caça aos actores, onde fugiram pedir asílio político em Timor-Leste. Donde muitos timorenses, influenciados, com eles decidiram um golpe contra a administração portuguesa. Pretendiam que Timor Português fosse apêndice indonésio. Ainda que o considerasse na sua modorra, o serviço secreto descobriu actuá-los, reprimi-los barbaramente, 500 a 1000 pessoas presas na ilha de Ataúro. Trinta e cinco pessoas tinham sido desterradas para a Angola 194.

A chamada sublevação de 1959, segundo as averiguações das autoridades

policiais da época, dão-nos algumas indicações da ocorrência, era o cônsul indonésio Nazwar Jacub Sutan Indra, em Díli, quem começava discretamente uma campanha antiportuguesa, utilizando o seu pessoal do consulado e de elementos árabes. Procuravam captar alguns timorenses evoluídos. Influía uns fugirem apoiados financeiramente; outros tiravam as fotografias dos quartéis, residência do governador e dos timorenses mal vestidos para efeitos de propaganda contra a negatividade da soberania portuguesa.

Já atrás referidos, nove indonésios do asílio político, o governo da província decidira fixá-los numa residência, em Baucau, diariamente cada um era subsidiado de 7 patacas (43$75 em escudos da época), tempo em que nenhum servente da construção civil merecia semanalmente tal quantia. Ocorrera divisão dentre eles, a qual uns influenciaram alguns nativos incautos roubar armas dos postos administrativos de Uato Lari e de Uato Carbau do concelho de Viqueque. Queimavam casas, desligavam ligações telefónicas a gerar perda de contactos com sedes administrativas e com a repartição do governo, que tiveram lugar em Junho do mesmo ano (F. Tehmudo Barata, pp. 49 -74).

Um acontecimento que surpreendeu a elite política portuguesa, verificando Timor manter-se numa terra de ruralidade e de analfabetismo mais acentuado. Realmente, descobria o fenómeno inquietante à autoridade colonial. A fragilidade de segurança fronteiriça era sinónimo de livre infiltração dos indonésios a colher informações atrás do ardil mercantil.

Quanto ao ano lectivo de 1959/60, dá-se o retrato da província em ensino: 60 escolas, 132 professores e 4627 alunos, além das secundárias de missões, escola de professores catequistas e de seminária. A sua multiplicação era difícil implementar por problemas financeiros. Os militares tiveram que abrir escolas nas unidades a elevar o grau de escolarização dos soldados e admitir a frequência dos filhos nativos, ministrados por alferes, furriéis. Anos a seguir, vêem-se surgir novas escolas

municipais nos postos administrativos (T. Barata, pp. 79 e 80). Sem material didáctico a disposição, e, num país de difíceis condições económicas, à falta de quadros adequados das suas gentes sempre apontava para o cenário de incerteza do futuro.

A maioria da sociedade portuguesa esclarecida, vê o regime como obstáculo a prosperidade e sem liberdade de expressão de opiniões públicas relativas ao país. As oposições se emergem, captam adesões de massas exigirem mudanças 195.

Pós II Guerra Mundial, as figuras políticas da diplomacia portuguesa defronta- se novos ventos incutir sentimentos de oposições nas colónias portuguesas. E, em 1961, o ódio interno do regime se tornou em acção provar a capacidade do Salazar, levado a cabo por Capitão Henrique Galvão a culminar-se no assalto ao paquete Santa Maria, no Coraçao, a 21 de Janeiro, a chamada “Operação Dulcineia”. As notícias correram mundo, dominaram os espaços de línguas inglesa, francesa e alemã. O mundo politico saía, assim, acordado pelos aspectos negativos do regime 196.

O governo do Estado Novo, ficara embaraçoso desde 1960 em diante, dadas as situações face a política ultramarina fosse informada a ONU, sendo outros países pretendam ser concedidos aos territórios colonizados de estatuto de autodeterminação e independência nacional. Salazar contestava a versão com o apoio de muitos países, excepto Grã-Bretanha e EUA, mantinham-se em silêncio. Movimentavam-se à volta do contraponto sombrio, a guerra de Angola detonava-se em Março de 1961. O regime reforçava a força militar no sentido de conter o movimento pró independência africana, entretanto, via-se internacionalmente de política afunilada. Salazar enfrentava um período menos feliz, por a política ultramarina apontada por presidente Kennedy ser necessária invertê-la 197. Na Oceania, Timor português sentira-se disputado nos interesses de entre Austrália e Indonésia, onde multiplicara a diplomacia para evitar surpresas 198.

Na medida que reforçava forças militares a Angola e Moçambique para restaurar a ordem pública, nem sequer sinais anunciavam vitórias, e de repente, a Índia Portuguesa (Goa, Damão Diu) era apoderada pelas forças da União Indiana. Em nome da honra e da dignidade, o comando português reagia o ataque, pela superioridade demonstrada pela força indiana, o governador de Goa, general Vassalo

195 Pinto, Jaime Nogueira, António de Oliveira Salazar o outro retrato, 2.ª edição a esfera dos livros, 2007, pp. 170 e 171;

196 Jesus, José Manuel Duarte de, Casablanca o início do isolamento. Memórias diplomáticas: Marrocos

1961-1963, Gradiva, 2006, pp. 50 e 51;

197 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, pp. 88-91;

e Silva assina a rendição, a 19 de Dezembro de 1961 199. Encarcerando no campo de concentração cerca de três mil militares 200. Portugal ainda tentava recursos nas Nações Unidas e junto dos aliados, mas a história é já nova e irreversível. Daí se desfez a presença portuguesa, inventada pelos capitães do passado luso, no quadro histórico de descobrimento e de conquistas, em séculos, no Oriente.

São momentos que a ONU domina os movimentos políticos portugueses concentrados a volta da guerra negocial, nem isso se favorecia ao regime. Em contextos de adesão à OTAN se viu margem de manobra como sendo o único cordão umbilical que o facilitou ao encadeamento e ao diálogo com europeus ocidentais e os EUA, gerindo assim, esta linha de ordem para evitar o total isolamento 201.

No Portugal metropolitano, o clima de tensão política antiregime crescia, pressionava a demissão do Salazar, exigido substituído por um novo, de sangue demorático e de visão pró liberdade. O desânimo ao alinhamento militar contribuía a fuga dos jovens ao estrangeiro. O clima conquistava vastos espaços sociais, cada vez, se estendia a todos, reclamavam por um novo regime que advogasse a justiça, liberdade e prosperidade económica 202.

Aqui, as realidades são bem pintadas, qualquer político do Estado Novo podia testemunhar o peso seguido pelas reclamações da ONU a desafiar o Salazar mais para lá do termo de poder. Quando deparara os diferentes olhares nas Nações Unidas à posição portuguesa, o homólogo da Austrália, a 15 de Outubro de 1963 escrevera pela segunda vez outra missiva a Salazar solicitar demover a regidez quanto a mudança da política ultramarina 203. Doutro lado do Atlântico, os EUA aconselhavam o governo tomar novas atitudes aos territórios ainda administrados.

Salazar acreditava muito no seu mito de perpetuar as civilizações do Ocidente nessas paragens, quando muitos, já tinham sido desprendidos das políticas coloniais. No quadro de uma cultura de insensatez, depois da incapacidade de Salazar, falecido, o seu substituto Marcelo Caetano tentava prosseguir o estilo seguido do desaparecido. Foi por aí, o jogo de continuidade, sem apoio de ninguém, cada vez pressentira o fim do regime 204.

199 Paço, António Simões do, 1961 o ano de todos os perigos, Centro Editor PDA, 2007, pp.48 ss; 200 Abreu, Paradela de, Timor a Verdade História, 2.ª Edição, Luso Dinastia, 1997, p. 21;

201 Jesus, José Manuel Duarte de, Casablanca o início do isolamento. Memórias diplomáticas: Marrocos

1961-1963, Gradiva, 2006, p. 28;

202 Paço, António Simões do, 1968 Salazar cai da cadeira, Marcelo senta-se, Centro Editor PDA, 2007, pp. 48-58;

203 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 101;

204 Os Partidos políticos de esquerda viam no chefe de governo a esgotar-se de energias e o afirmavam incapaz de democratizar o país e acabar com a guerra colonial, cf. Paço, António Simões do, 1973 nasce

A Indonésia vê Portugal nas nuvens da política colonial, associada com o poder desfeito na Índia Portuguesa, e as intenções de Jakarta pela posse de Timor Loro Sae calcularia, dentro de médio ou longo prazo 205.

Houve planos indesejáveis doutras potências à alterar a política de domínio timorense, no contexto do pós II Guerra Mundial, ainda que não fossem públicos mas os sinais eram fortes. A Austrália na prioridade, pretenderia organização de segurança para evitar dos futuros ataques relativa as ilhas da sua proximidade incluindo Timor. A qual, os diplomatas de Portugal e de Austrália a título particular adiantavam já trocas de impressões e que incluiriam os projectos de comércio bilateral e do investimento australiano a Timor-Leste. As propostas chegadas a Lisboa eram acolhidas mas com tanta reserva, ainda que tornassem irrealizáveis dada a base militar americana no Pacífico, sgnificaria o afastamento do receio australiano. A propósito da aceitação duvidosa portuguesa, estaria associada a recusa australiana da presença lusa aquando se tratara da recepção da rendição nipónica, solicitada pelo governo português através dos aliados, Grã-Bretanha e EUA. Um facto que fatigou a diplomacia lusa perante a atitude do geverno de Camberra, só que veio a permti-la no acto da rendição japonesa e restaurar a administração portuguesa na ilha, consentida pelas autoridades américana e inglesa. Ainda outra tentativa formulada por um diplomata australiano com base da longividade de Timor-Leste do Portugal, este pudesse autorizar Austrália garantir a segurança durante 100 anos, suportada pelo poder colonial. Proposta fora rejeitada de imediato por representante Palmela sem consultar Lisboa. Vendo o cenário desenhado, seria uma tentativa de absorver a soberania portuguesa na Oceania, mas na confiança colaborante com os fortes aliados, ainda há margem de manobra em manter-se contínuo beneficiário da política administrativa do território (Fernando Lima, pp. 31-72).

As atitudes abordadas, voltariam a ser deparadas, agora, no lado indonésio mais sensíveis na não cooperação de acordo bilateral quanto a licença relativa à carreira aérea (TAP à Díli passar por Indonésia) a que as autoridades de Jakarta não estão dispostas de renovar a contínua licença semanal. O acordo em questão pode ser retirado em qualquer altura. Se se renovar, permitindo-a ser quinzenal e em reciprocidade, querem os aviões militares autorizados aterrar-se na capital timorense fazer a entrega da mala diplomática ao cônsul indonésio. As propostas conhecidas em Lisboa, consideradas um acto de hostilidade, uma vez que Portugal apresenta-se empenhado para cooperar com um bom amigo vizinho (F. Lima p. 74).

205 Oliveira, Pedro Aires, Os Despojos da Aliança. A Grã-Bretanha e a questão colonial portuguesa

O percurso do regime dito Salazarismo autoritário, cerca de meio século do século XX, mergulhava no desgostoso olhar da maioria popular, enfrentara crises políticas até ao último presidente do conselho de ministros ser agonizado por golpe militar de 25 de Abril de 1974. Marcou o ponto culminate da revolução pela mudança do Estado Novo à Democracia na sociedade portuguesa sob o signo dos três Ds: Democratizar, Descolonizar e Desenvolver. Portugal entrou em liberdade com o surgimento de novos partidos democráticos, além dos já conhecidos PS e PCP, transformar as instituições públicas em marcas democráticas 206.

Apesar de ser um acontecimento politicamente importante, imprimiu uma relação com as colónias a sofrer as consequências. Apesar destas circunstâncias e das que a seguir verificaremos, já relacionadas com o período posterior, Portugal não deixou nunca de se afirmar como potência administrante do território de Timor-Leste.

Em relação a colónia, embora fosse numa escala mais modesta se surgiram os partidos políticos, um a favor da completa descolonização de Timor português, que em geral as políticas seguidas pela ASDT/FRETILIN, e outro contra a descolonização, que seguia as propostas da UDT, de manutenção da ligação a Portugal, ainda que seja transitoriamente e a APODETI (Associação Popular Democrática de Timor 207.

206 Rosas, Fernando, Pensamenro e Acção Política. Portugal Século XX (1890-1976), Notícias Editorial, 2004, pp. 129 ss;

No documento Timor-Leste, outro rosto da história (páginas 85-93)