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Timor-Leste, outro rosto da história

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Academic year: 2021

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ÍNDICE

RESUMO ... 2

AGRADECIMENTOS ... 4

INTRODUÇÃO ... 8

Capítulo I 1.Timor antes dos Portugueses ... 13

2. Estrutura social ... .. 18

3. Timor-Leste, construído na diferença geográfica ... 22

4. Interesse holandês é o risco da soberania lusa ... 26

Capítulo II 1. Administração colonial e as linhas tomadas pelos governantes ... 39

2. O Ensino e o papel da Igreja Católica ... 48

3. Autoridades tradicionais ... 56

Capítulo III 1. A época de um olhar desdenhoso ... 65

2. Portugal e os dois vizinhos ... 73

3. O 25 de Abril português dita mudança ... 85

4. O ânimo pela democracia, aplaudido nas colónias ... 93

5. O futuro do País ...103

6. O novo pensamento clama por um só rosto e uma só fé ...116

7. Santa Cruz e os deuses da hiper civilização ...125

CONCLUSÃO ...140

FONTES E BIBLIOGRAFIA ... 145

ANEXOS ... 152

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Resumo

Trata-se de uma conquista dolorosa da história do Povo timorense no quadro de autodeterminação e independência, sob os impulsos do 25 de Abril português.

Os timorenses organizaram-se debater sobre o processo a definir o seu próprio estatuto, desvinculado do poder colonial. Episódio que se arrastava entre facções partidárias em desentendimento, tendo o governo português manteve-se em honra da sua política e na vontade de o discutir com todas as partes envolventes serem em consenso a volta de um calendário acordado à celebração do acto de descolonização nos prinbcípios de legalidade.

À época, sentia-se os efeitos da guerra fria transformaram alguns Estados da Indo-China em regime de comunismo, sendo influências receadas pelos poderes ocidentais, sentiriam-se prejudicados de interesses no Sudeste Asiático, em particular na Indonésia. Nos bastidores internacionais receavam a colónia portuguesa tornar-se-ia um Estado novo de regime maoista. Conhecido o novo governo português constituído, era de esquerdismo, por alguns líderes da FRETILIN serem portadores das ideologias desse regime a que Indonésia manifestaria, publicamente, o seu repúdio, declarando esfrangalhar o partido independentista. Reacção apoiada por partidos opostos a independência de Timor-Leste, reivindicando a integração do território à RI.

FRETILIN proclamou a independência da colónia a 28 de Novembro de 1975, com vista a dificultar a anexação e mobilizar a comunidade internacional, responsbilizá-la criar condições a reposição da legalidade internacional no território. Indonésia invadiu o país em 7 de Dezembro de 1975, por força anexou Timor-Leste à RI. Os massacres impressionaram o mundo. A Resistência Armada, o Povo em geral e a Igreja Católica com o apoio de Portugal opunham a ocupação, sem vergarem-se as ameças durante 24 anos do cativeiro timorense. A globalização impõe novas decisões e morais aos grandes mundiais a pronunciarem-se pela razão do 30 de Agosto de 1999, como marco historicamente definitivo do reconhecimento do Timor-Leste, Estado Independente e soberano, dos alvores do III milénio. O sucesso das Nações Unidas convidou os indonésios a abandonarem o Território até 30 de Outubro do mesmo ano. A 20/5/2002, o Estado novo de Assembleia Constituinte para Parlamento Nacional, Presidência da República e Governo da República Democrática de Timor-Leste, testemunhado pelas altas figuras internacionais. De seguida, seria inserido como Estado membro das Nações Unidadas.

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Summary

It is a question of a painful conquest of history of the timorese people in favour of self-determination and independency, under the impulse of the portuguese 25 of April.

The timoreses organized to debate upon the process and to define their own statute, disentailed on the colonial power. The episode in which dragged among the partisan factions in misunderstanding, having the portuguese government maintained in honour of his political and the will to discuss with all the enveloping sides to find an agreed consensus calendar for celebrating act of decolonization based on legality principles.

At that time, felt the effects of the psychology war (cold war) had changed in the some Indo-chine States under the communism regime, being influences feared by the western powers and there felt also prejudiced interest in the south-east asiatic, particularly in Indonesia. In the international embroidering frames feared the portuguese colony to become a new Maoist Regime State. Known that new portuguese government constituted, it was left-winger, and some FRETILIN’s Leaders being ideology porters of that regime which Indonesia would publicly manifest its repudiations, declaring to break the independency party. The reaction had been supported by the opposed parties to Timor-Leste (East Timor) independency, and claiming the integration to the territory of the Republic of Indonesia.

The FRETILIN, proclaimed the independency of the colony in 28 of November, 1975, by the purpose of making difficult the annexation and to mobilize the international community to hold responsible for creating conditions to a replacement international legality in the territory. The Republic of Indonesia invaded Timor-Leste (East Timor) in 7 of December, 1975, by the forces and annexed the country. The massacre moved the world. The Armed Resistance, the people in general and the Catholic Church with the Portugal support opposed the annexation, without bending the threats during 24 years of Timorese captivity. The globalization impose new decisions and morals of the great worlds-wide to pronounce by the reason of the 30 of August, 1999, as the historically definitive mark of Timor-Leste recognition Independent State and sovereign, and the values of third millennium. The success of the United Nations invited the Indonesians to abandon the territory until the 30 (thirty) of October that year (the same year). In 20 of May, 2002, the new State constituted its Constituent Assembly (precursory of National Parliament), Presidency of Republic and Government of the Democratic Republic of Timor-Leste, witnessed by high international figures. Afterwards, it would be inserted as the Member State of the United Nations.

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Agradecimentos

O modesto estudo apresentado, não resulta do exclusivo trabalho individual. Obteve contributos de pessoas e de instituições de diferentes formas, pelo que desejo expressar-lhes a minha gratidão.

À própria Universidade de Lisboa, pretendo dar credibilidade de apoio através do seu serviço adequado valer-me a bolsa de estudo destinada a dois anos, sem a qual não me foi possível ao acesso material e a outras condições de trabalho.

Ao Prof. Doutor António Ventura agradeço ter aceite assumir a orientação desta dissertação. Desde já, fico-lhe grato pela imediata aceitação à temática que o propus desenvolver, pelo acesso incondicional aos arquivos e bibliotecas que dispõem material a dar corpo ao trabalho.

Não quero deixar de exprimir as palavras de apreço a todos os professores que tiveram a paciência e a capacidade de transmitir os temáticos das respectivas áreas ao longo das aulas, as quais tornaram-me um impulso a chegar a esta escolha. É uma certeza, sem eles este trabalho não teria sido possível. Durante o percurso académico nenhum deles sabia qual seria o tema por mim escolhido para a tese, embora para todos começassem a abordá-la. De início, não ponderava a hipótese de me reter a estudar uma das parcelas de Soberania Ultramarina Lusa, ainda que dessa ser um capítulo de estímulo da história, e ao longo das sessões de aulas tomei o firme propósito decidir por esse rumo de opção própria.

Quanto ao ensino básico e secundário que a província timorense merecia, situavam-se numa diminuta atenção, quando se referia as etapas da administração portuguesa no quadro de afirmação secular, na Oceania. Sem formação adequada que garantisse o bom funcionamento das novas organizações políticas, administrativas, sociais, etc. se porventura elevassem a níveis mais acrescidos se cruzariam com comunidades internacionais. Daqui influia-me dizer ainda que fosse erradamente daquilo que deparei quando cresci e testemunhei aquilo ao longo do percurso que o povo para si ansiava, continuava assim caracterizado, cultural e economicamente no seu contínuo passado. Também não lhe foi este o horizonte intransponível... Daqui, nasceu-me a ideia de o descrever as causas do entrave, mas sentia-se seguro de si opor as políticas que opunham o seu princípio de pertença, naturalmente, defendia. Para tal achei-o difícil cristalizar a alguém em expectativa, mas sempre empenhei-me em busca de apoios dos colegas do mesmo curso como, Ednilson e outros davam-me pistas, entusiasmavam a chegar ao escolhido. Os meus compatriotas Dr. Luís Costa (ex-padre), Dr, Paulo Pires (prof. de filosofia do Secundário), Dr. Roberto Jerónimo e outros, conhecem a falta visível no Território,

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pretenderiam que fosse necessário alguém dedicar-se a este estudo como estímulo de um caminho aberto, atenderam os meus pedidos. Emitiam as suas opiniões, esclarecendo as dúvidas; sugerindo fontes relativas aos acontecimentos que impunham a sociedade ser antagonista, alheia dos princípios por Timor-Leste, ser senhor de si. Acabaram por me afirmarem a cobiça do outro, escondida atrás do ouro negro, muito antiga e da posição geográfica do território, embaraçava seu benficiário.

No silêncio, prepararando o seu raciocínio intelectual, aperfeiçoar o seu pensamento com a experiência individual e do colectivo usufruido dos contactos culturais com os agentes de latinidade durante o relacionamento com o domínio português. Desta afirmação plena, do seu cenário imaginativo criou um estado do diferente rosto no Oriente, criou a sua rivalidade e o ciclone arrasou as terras dos sândalos do oeste a ponta leste, mesmo que comungasse a mesma civilização cultural do Ocidente. Os grandes mundiais, inclinados à lógica de superioridade, ignoravam o Timor-Leste nos grilhões de cativeiro por reivindicar o seu direito.

Como todos os povos, pela justiça, o Timorense aceitou o martírio, fez a estratégica unificação dos líderes partidários da mesma resistência e do apoio do altar, mobilizou a nova solidariedade na Indonésia e se internacionalizou. Portugal manteve o seu princípio no contexto da descolonização do território, acompanhava muito de perto o sofrimento, reclamava em frequência nas tribunas internacionais.

Pela óptica quanto a evolução em crescendo implicava a relevância da cultura linguística portuguesa. Dela serviu de comunicação de resistência interna e externa, decorria nas nações de língua oficial portuguesa. Com ela os timorenses morrem nos braços indonésios perante as câmaras de comunicação social internacional.

Timor-Leste, hoje em dia, é o 191º Estado membro das NU. Na modesta descrição, em honra dos quantos responsáveis que mantiveram os princípios pela liberdade do seu país natal. Uns, fora da pátria, percorriam países, sensibilizar solidariedades, promover opiniões públicas, representar a voz de quem sofria nas mãos das ABRI, dos quais destaco uns: José Ramos Horta, Mari Alkatiri, José Luís, Rogério Lobato, Guterres, Abílio de Araújo, Roque Rodrigues, Luís Cardoso, Pascoela Barreto, Estanislau da Silva, Zacarias; João Carrascalão, Paulo Pires, Vicente Guterres, Mário Carrascalão, Manuel Tílman; religiosos bispo Carlos Ximenes Belo, actual bispo Ricardo, padres Domingos Alves, Filomeno Jacob, Leão, Domingos Cunha, José António, Apolinário Guterres; no interior a cabeça, líder nacional Xanana Gusmão, Francisco Guterres (Lu Olo), Matan Ruak, Mau Huno, Lere, Manuel Carrascalão, Octávio de Aeaújo, Armandina, Merita Alves, Lenita de Araújo.

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Eram vozes que se persistiam pela autodeterminação e independência e pela importância da unidade nacional. Convenceram a comunidade internacional a reconhecer Timor-Leste independente e soberano, como resposta de todo o esforço do Povo, quase uma eternidade. Também, não é honesto ignorar os sem rosto, predecessores da história de consciência, como Nicolau Lobato, Monsenhor Martinho da Costa Lopes, padres Francisco Fernandes, Mário Belo; António Carvarino, Vicente Reis, Hamis, José Mau Udo, Borja Costa, Saba Lae, Afonso Redentor, Moisés Amaral. e outros barbaramente, assassinados, e mulheres como Rosa Bonaparte, tantas outras...

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À Família,

a minha esposa, Martinha Pinto, companheira e mãe, desde que a tragédia começou, à semelhança das outras, viveu a mesma dureza da guerra, nas bases de Resistência cerca de três anos, nas montanhas. Por força maior, fomos para Díli. De seguida, fiquei cerca de três anos atrás das grades de prisão, em Díli. Ela, quem cuidava dos filhos: Paulo/Guida, Rosalino/Mery, Gil/Odete, Natalino/Ima e José/Manuel com tanta dificuldade. Tentou levá-los compreender aquilo que encaravam na ausência do pai. Momentos em que os seus desejos do quotidiano eram literalmente ignorados.

Foi, nesta travessia de dureza, muitas crianças sobreviveram em piores condições que outras e outras, entregues a sua sorte.

Naturalmente, a esposa e filhos, a quem são dedicadas umas expressões de amor e de carinho. Sei que nem todas as palavras lhes são desejadas seriam suficientes exprimir os meus sentimentos e reconhecimento...

Aos meus pais e dois irmãos, não os vi como partiram, em momentos cruéis, em memória.

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Introdução

Falar da actualidade Leste timorense, é referi-lo distinto do passado. Surge, frequentemente, nos meios comunicativos a despertar aqueles que, por ele interessam sua história. Ao saber em como veio construir a sua história como um povo, não lhe foi fácil de a abordar, por atravessar duros caminhos de lá chegar, e, agora, começaria fazer-se. Interesso-me pela postura, atrevo-me apresentar o presente trabalho intitulado Timor-Leste, Outro Rosto na História do Oriente. Terra que muitas vezes é o quebra-cabeças dos que governam e dos que a vêem como seu berço natal. Título este que optei para estampar o trabalho não significa que o território não pertença ao enfiamento das ilhas do Leste Sunda do Arquipélago da Insulíndia. Desde os primórdios, a sua mentalidade até nas modernidades, e, em épocas de crise inconciliável prolongadas, nem sequer lembrava substitui-la. Permaneceu-se nas que lhe são compatíveis de ser senhor de si para um futuro próximo. Sentia-se confiado nos saberes de vida adquiridos, que os achava como padrões válidos na condução do destino e na aproximação de solidariedade com todos da região.

A evolução da consciência humana impõe-se cada vez mais agir pelas reivindicações modernas a que na Oceania, o Timor-Leste não se escapara deste estímulo a ponto de o ser envolvido de altos e baixos, conforme o livro publicado por Fernando Lima, recentemente. Obra de grande ânimo, que tem mérito de nos descrever o que rodeava à volta deste timorense sobre o desconhecido dos timores, assustava e tranquilizava os homens que o achavam seu direito e à sua fonte de vida como doutros horizontes têm as mesmas afirmações inquestionáveis1

. O autor, no seu livro, reflecte as situações social, cultural e política internas e externas. Dá pistas em como o poder colonial mantinha a sobrevivência da ilha, assaz duradoura, assegurar-lhe relações externas de amizade com amigos de olhares extremamente dúbios.

Timor, situado ao norte da Austrália, cobre uma superfície de cerca de 19.000 km2, incluindo o enclave de Oe Cusse, ilha de Ataúro e o ilhéu de Jaco, conhecido por terra do sol nascente.

1 O autor adquire um vasto conhecimento da politica portuguesa e das outras intenções que giravam à volta do território timorense relativas ao futuro. Um importante contributo a estimular o estudo sobrea construção do país: Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à

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O trabalho escolhido, quer ser um estudo acerca da contribuição da obra do autor, permitir um espaço de pensamento a quem tenha interesse em desvendar os desconhecidos que perpetuam Timor mergulhar no medo e a viver o seu futuro no cenário enigmático. Apresento como contributo para um possível aprofundamento teórico a ser desejado pela nova geração timorense, desconhecido de preconceitos e longe dos factos, como a história os requer. Tornara-se, não só em direito histórico português, igualmente era de suserania lusa do império ultramarino, cerca de cinco séculos 2

.

No caso real havia, em absoluto, uma predisposição para saber o fenómeno da postura timorense, ciscunstância a que não foi estranha a mitificação que expressão Timor foi votada. A título de história é despertado por simples razões lúdicas, que, numa posteridade, são ultrapassadas pelo desejo de dilatar a linha de conhecimento pessoal e de comunidade científica. A disposição material tem sido inexistente ao facto de a anterioridade europeia, localmente desconhecia a produção literária. Mesmo assim, no que toca ao panorama social, rumos têm sido abertos, com notáveis resultados, por várias personagens, as quais podemos destacar Luís Filipe Thomaz e Luna de Oliveira3 para além uma já citada atrás.

Já antes da fixação portuguesa, vivera socialmente dividido, por guerras entre tribos e reinos4

. Os primeiros períodos de presença, praticamente, no Timor-Leste, fora difícil alterar o estado da situação aí existente.

Os missionários pela evangelização tiveram os sucessos iniciais, obtiveram espaços de aceitação dos conversos, proporcionaram contactos directos, mas a penetração dos metropolitanos no interior, sem expressão. À semelhança dos que Portugal passava, organizava-o em redes administrativas, chamando os naturais, conhecidos na mediação para se envolverem nas estruturas criadas. Desta partida, os incluintes passarão atribuidos de patentes de quadros oficiais: capitão, tenente-coronel, major, tenente-general. Um estrato socialmente nativo e de influência, iria contribuir na política colonial nos diferentes reinos5. Cada um dispunha companhia de moradores de segurança e para organizar as festas solenes, em tempos de visitas de governadores ou de altos funcionários do ministério do Ultramar idos da Metrópole.

2 Marques, A.H. de Oliveira (direc.), História dos portugueses no Extremo Oriente, I Vol. Tomo II, de Macau à Periferia, Fundação Oriente, 2000, pp. 351-369;

3 Thomaz, Luís Filipe, País dos Belos. Achegas para a Compreensão de Timor-Leste, Fundação Oriente, 2008; e Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal, 4 Volumes, Fundação Oriente, 1949, 1950, 1952 e 2004;

4 Timor divide-se em duas partes: província dos Belos de 46 reinos pertence a Portugal e de Oeste, Servião, de 16 reinos, ocupado por Holanda, sob influência do imperador de Sonobai: Castro, Gonçalo Pimenta de (governador) Coronel, Timor (subsídios para a sua história), Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1944, p. 26;

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Em paralelo, tentando introduzir as primeiras escolas, igrejas. Centros de começo de encontros à implementação de novos projectos em termos de divisão territorial administrativa para a fácil convivência entre os nativos e os portugueses. Em sinal de lealdade, pagava-se as fintas (uma espécie de imposto às autoridades administrativas em nome da Coroa Lusitana) 6

. Os séculos XIX e XX, o Território assiste uma instabilidade que leva a desconhecer a paz anos a fio, revoltas que às vezes, eram sinónimos do interesse holandês, também surgiam associadas a indiscplina dos governantes7

. E, mais tarde, fora fortemente castigado por consequências do II grande conflito mundial. Sem comunicação com Lisboa 8

. No último quartel do século XX, pelas tensões civilizacionais a nível internacional em que os povos decidam agir em favor de liberdade e de justiça, a que Portugal obteve a transição de Democracia do 25 de Abril de 1974, onde o Timor-Leste foi-lhe negado de forma brutal. Ocupado pelas forças da TNI (Tentara Nasional Indonesia = Exército da Indonésia), fechado ao mundo exterior parecia uma eternidade (07/12/1975-30/08/1999). Conseguiu o seu objectivo a custo de tantos sacrifícios, afirmado por uma Constituição da RDTL, de 2002. No quadro deste processo, a Igreja Católica como elemento principal juntava-se à população indígena, perseguida na sua terra. Sempre fiel ao seu papel. Em Timor-Leste, a estrutura da Igreja, como instituição, foi a única que persistiu, nos momentos mais críticos da história timorense, a sua voz manteve-se ouvir, em nome da justiça e de paz. Serviu-se de ponte de comunicação política com as autoridades portuguesas e com a liderança timorense no exterior em missão de diplomacia.

A chamada província Timor era de soberania lusa sem atenções no quadro de um processo de melhoramento. Fora destinada aos desprezados metropolitanos e de outras colónias, opostos a política do Estado Novo para aí cumprirem as obrigações impostas (René Pélissier, p. 88). Não havia nenhum projecto animador que visava mudar o rosto social. O analfabetismo imperava na sociedade, contribuía a lei de injustiça, forçando-a manter-se numa situação de vida atrasada. Do ponto de vista situacional da sociedade timorense, o conhecimento das percepções e das atitudes dos datós reveste-se também de um inegável interesse pessoal, e não apenas pela excepcional qualidade de informação vinda do alto aos seus semelhantes. Em nome das autoridades coloniais, os chefes tradicionais sentindo-se poderosos no quadro das relações internas a fabricar os seus benefícios no âmbito de cobrança tributária em ilegitimidade. A destacar outra realidade que é, a ausência cognitiva e de literacia era

6 Thomaz, Luís Filipe F.R.., De Ceuta a Timor, 2.ª Rdição, Difel, 1998, p. 595;

7 Pélissie, René, a História de Portugal. As Campanhas coloniais de Portugal 1844 -1941, Editorial Estampa, 2006, p. 89;

8 Teixeira, Nuno Severiano (dir.) Portugal e a Guerra. Histórias das intervenções militares nos grandes

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uma felicidade dos estratos de competição decisora. Acontecendo em favor, ditava a distância da grande maioria aos espaços imutáveis. Não havia formação adequada que produzisse bons quadros dos seus agentes para promover projectos ambiciosos, tanto como na condução de melhores relações com os vizinhos. Tudo estava condicionado aos apetites dos terceiros sem que o próprio fosse consultado de opinião ou em diálogos, na verdade, quando se tratava à propósito do futuro do seu território.

Timor é um mosaico dos coloridos, vê-se nos píncaros revestidos de neve. As encostas, ornadas de flores; as matas manifestam-se de verde permanente. Noutras zonas, as palmeiras estendem a sua abundância, em vastos espaços, e, matagais de bambus que são um bom esconderijo dos animais silvestres. As montanhas mais conhecidas são as de Matebian, Monte Perdido, a Tata-Mai-Lau é a mais alta de todas. Até ao 25 de Abril era a mais conhecida do império português, com a altura de 3000 metros 9

.

Os vales e montes com a paisagem, ordenados pela própria natureza, oferecem condições que influam a sociedade em várias técnicas de caça, e de movimentos de conflito humanos.

Em muitas regiões o crocodilo (lafaek), ainda, é animal sagrado, sendo chamado de avô. Pela oralidade transmitida diz que, os timores são descendentes. Um rapaz transportado no dorso, numa viagem dos Celebes ao Oriente em direcção às terras onde o Sol nasce vê primeiro. Pelas águas do rio, dos mares e do longo trajecto tornaram-o cansativo e sem forças, não encontrava cão ou cabrito para o salvar de fome. Tudo lhe faltava e sem alternativas, resolveu comer o garoto. Antes de o tomar como refeição, para tranquilizar a consciência, consultou os restantes amigos se devia ou não comer o rapaz. Desde macaco a gigante baleia todos o ralharam e acusando-o de ingrato.

Achava-se receoso de presença, no futuro, a ser mal visto, o animal dispôs-se continuar pelo mar fora e a levar consigo o rapaz por quem, vencida a tentação, sentia amizade quase paternal. Porém quando já totalmente fatigado de nadar, pensou em dar meia volta a retornar-se ao ponto de partida, sentiu-se cansado, imobilizado, tornara-se em pedra e terra, crescendo, crescendo, até formar-se em uma ilha.

A viagem com que o rapaz fez sobre o dorso da ilha, chamou-a Timor, em língua malaia, Oriente.

Timor, a sua altitude é o elemento que influa as variações de clima, pelo que apresenta-se homegéneo quanto à temperatura e, assaz, contrastante relativamente à precipitação, podendo afirmar-se que a ilha constitui um “mosaico de microclimas”.

9 Thomaz, Luís Filipe, País dos Belos, as chegas para a compreensão de Timor-Leste, Fundação Oriente, 2008, pp. 53 ss;

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Este panorama, comprovado pela vegetação, apresenta, todavia, tendências minimamente definidas para que se possam determinar especificidades ao nível meteorológico, principalmente devido à situação geográfica de Timor, a sua orientação frente aos ventos dominantes e ao relevo insular.

A influência das monções regista-se, por seu lado, em duas estações: a primeira, decorrente de Novembro a Março, corresponde à monção de noroeste, marcada por chuvas cupiosas em toda a ilha; a segunda, corresponde à monção de sueste, da direcção australiana faz-se sentir de Junho a Outubro, sendo a estação de Verão dos ventos frescos, apenas entrecortada na costa Sul e, no princípio da estação, por chuvas de origem local. Entre ambas estabelecem-se períodos de transição com características comuns a cada uma delas 10

10 Cit. in Cinati, Ruy (1987), Arquitectura Timorense, Instituto de Investigação Científica Tropical, Museu Etnologia, Lisboa;

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1.1. Timor antes dos portugueses

Geograficamente, encontra-se no prolongamento de cadeias das ilhas do Leste Sunda - arquipélago da Insulíndia. Toda a região, no século XVI tornara-se lago dos ocidentais da Europa 11 dado ao estado paradisíaco, em tempos anteriores, conhecido já por muitos. Criara disputas entre concorrentes em torno do projecto de expansão que residia, naturalmente, em posse das maiores quantidades de produtos comerciáveis asiáticos. O éxito deste mundo mercantil ganhara outro patamar à medida que os europeus sentiam-se acrescidos de apetites, perpetuavam a sua fixação sob o jogo de domínio político e de militar.

Na sequência da conquista de Malaca, em 1511 por expedições comandadas por Afonso de Albuquerque12, os portugueses prosseguiam as navegações, construíam feitorias e possessões, em Ambon/Molucas, Flores, noutras ilhas e culminaram-se em Timor. Encontraram uma sociedade, de vida socialmente diferente, pois, estava dividida por duas partes de influência: Belos, a parte Leste que mais tarde passaria fiel a suserania Lusitana, e a de Servião, ocidental, de domínio neerlandês. Este, afirmado pela marinha mais poderosa da época, chegava colocar os portugueses em cheque nas possessões ocupadas perante a nova autoridade emergente, cada vez mais afirmada. A Malaca foi brutalmente ocupada13, os portugueses foram imediatamente expulsos pelos holandeses.

Timor, terra de sândalos, produto aromático, muito atractivo, para a indústria de perfumes, e como produto de consumo religioso, usados pelas famílias de aristocracia e dos altos funcionários da corte do império celeste, China e Índia 14.

Uma sociedade, alheia dos hábitos ocidentais europeus, quer em vestimentas, religião e sem cultura letrada. Vivia com aquilo que a terra produzia espontaneamente. Ao nível organizacional adaptava-se o viver tradicional que se baseava em regulados/reinos e tribos, cujos responsáveis conhecidos datós15. As relações

familiares, constituídas a partir de laços matrimoniais. Um elo de ligações, que muitas vezes gerava novos projectos de poder de decisão sobre outros reinos. Os vínculos do género perduram até hoje em dia, consolidados por dias festivos que, na prática, reúnem todos os familiares após construções dos cemitérios ou cruzes dos parentes

11 Morineau, Michel, As Grandes Companhias das Índias Orientais (séculos XVI-XIX), Publicações Europa-América, 2004, pp. 7 ss;

12 Araújo, Carlos, (direc. da Edição portuguesa), Lisboa e os Descobrimentos 1415-1580: a invenção do mundo pelos nevegadores portugueses, Terramar, 1992, p. 41;

13 Idem. Ibidem, p. 205;

14 Boxer, C.R. , O Império Marítimo português 1415-1825, Edições 70, 2001, p. 58; 15 Comaparados a chefes/rei ou nobres, conhecidos régulos;

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já falecidos. Ou algumas casas construídas a título sagrado para conservar objectos de culto animista, no sentido de perservar a memória dos seus antepassados. Matam animais em que todos os presentes consomem. També é o tempo adequado para abordar as questões de barlaque/dote entre feto san umane (sogros e genros), que se achava pendente, visam doar cabeças de gado, espada aos pais/familiares da nora, e, estes, em retribuição entregam tecidos (tais timor), mutiçala (colar), cabritos/bodes e alguma quantidade comestível aos pais e familiares do genro.

Nunca viviam tranquilos com reinos vizinhos - uma cultura mais votada a guerra. Os membros vencidos seriam levados pelo lado vencedor, entregues ao trabalho produtivo, e com o andar do tempo passarão a ser integrantes da família que detinha o poder de decisões.

Também é uma zona florestal, várias espécies de árvores de qualidade, tais como pau-rosa ou o palvão, eucalipto fornecem madeiras de resistência e de dureza. Muito apreciadas na construção de casas. Dentre elas, o sândalo, planta muito aromática, ocupva o lugar cimeiro do comércio – mais procurado por muitos mercadores da época 16 e 17.

A cobiça europeia antes de ser concretizada no arquipélago da Insulíndia, já os chineses, os árabes, guzerates da Índia circulavam na área em busca dos produtos locais, em troca com os objectos trazidos. Chegavam nas costeiras litorais de Timor a procura de sândalos, mel e cera, sem indícios da penetração no interior da zona. Por outro lado, a maioria esmagadora dos timorenses não eram votados ao comércio. Ainda que não nos dispusesse uma escrita descritiva daqueles distantes tempos, mas percebemos da inexistência de amizade e de língua do vizinho, sentidas no lado dos

Belos, Timor-Leste. Uma cultura que nos remete a descobrir o pensamento timorense

em não dar confianças aos estrangeiros, ainda que permitisse algum espaço mercantil e muito menos, acolhê-los, frequentemente, no interior do território...

Há fauna, como veados, macacos, javalis; existe espécies de cobras, jibóias, jacarés. Não se fala do animal feroz à semelhança de África ou doutras partes da região. Antes e durante a administração colonial portuguesa, o mar timorense nunca foi pescado por barcos, sofisticamente equipados para capturar peixes enormes e outras espécies. Muitos chegam a afirmar que os grandes animais perseguidos, em permanente, para o fundo do mar timorense deve estar povoado por enormes peixes, fugidos às armadas pescatórias.

16 Serrão, Joel e Marques, A. H. de Oliveira (direc.) e Coordenação de Alexandre, Valentim e Dias, Jill, Nova História da Expansão – Império Africano (1825-1890), Editorial Estampa. 1998, p. 777;

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A alimentação principal da população é: batata, batata doce, mandioca, inhame, sacarina e sagú; milho, arroz, café (introduzidos); frutas – banana, manga, anona, ananás, papaia, toranja, tangerina, melancia, melão, jaca, fruta-pão, etc.

Além destes, segundo os especialistas, o solo dispõe minas de ouro, petróleo, quer no espaço marítimo como terrestre 18. A sua exploração, praticamente, fora inexistente, na ilha. Muitos tinham havido intencionado, davam-se voltas à cabeça para construir a sua glória, em exclusivo .

Na verdade, nos primiros tempos da presença portuguesa, ao afirmar-se lança a sua sede administrativa como prova de entendimento com os indígenas timorenses, optou Lifau, em Oe-Cusse, como capital do Timor português, em 1695. Porém, esta parte ocidental mais próxima da Servião, do lago neerlandês, não era pacífico. Difícil conhecer uma vida normal, decidiu-se a mudança da capital para os Belos, mais a Leste – Díli, em 1769, já na era do governador António José Teles de Meneses, sítio que fornecia melhores condições portuárias 19. A nova capital proporcionava perspectivas as autoridades para os propósitos de segurança. Pelo menos é do centro do país, teoricamente de domínio português, vai-se aproximando dos régulos de confiança com os moradores a coopoerarem-se na defesa do seu Leste timorense.

A população vive em casas construídas sobre estacas. Utilizam madeiras resistentes, pau-ferro, palvão. Cobertura de capim, folhas de palmeira, planta onde se extrai tuaka espumosa e fresca, como cerveja dos timorenses, também de tali metan (gamuti), igualmente produz tuaka, após de ser destilada é tua sabu (aguardente). Estas bebidas, frequentemente usadas nos dias festivais em memória dos antepssados, etc. como atrás se referiu. À parede, o bambu é o elemento essencial, aberto longitudinalmente e planificado para o efeito e para lanténs em que se dorme. Neles se guardam as coisas e sacas de milho, néli, feijão; tubérculos secos como mandioca, batata doce, já cortados em lâminas, reservados a épocas de chuva. Desde os tempos remotos, durante a noite usam o camim moído, preparado a volta de nervuras das folhas de coqueiro para acender e iluminar a casa.

O povoamento é disperso, os seus moradores são sempre agarrados a uma actividade agrícola muito tradicional. Usando objectos arcaicos, de madeira para revirar a terra arável. Desabam matas para o cultivo, durante duas a três épocas 20. Seguida por gerações, que ultimamente se vê reduzida esta prática. A lavoura da várzea é utilizada pela actividade dos búfalos, em movimentos torneantes no espaço

18 Thomaz, Luís Filipe F.R..De Ceuta a Timor, Difel, 1998, 1998, p. 595;

19 Oliveira, Luna, Timor na História de Portugal, Vol. II, Fundação Oriente, 1950, p. 11;

20 Serrão, Joel e Marques, A.H. de Oliveira (direc.), e coorde por Alexandre, Valentim e Dias, Jill, Nova

História da Expansão portuguesa, Vol. X, o Império Africano 1825-1890, Editorial Estampa, 1998, p. 778;

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destinado ao lançamento de nêli, depois de ter sido tornado mais ou menos lodoçal como preparativo final. Esta prática agrícola de arroz, seguida pela maioria da população quando os gados já introduzidos na ilha pelos europeus portugueses. Criam animais domésticos em redor das habitações, mais próximos das pessoas, provocam doenças, mas os próprios desconhecem como surgem a situação malígna. Ignoravam a noção de viver em higiene.

Numa povoação onde uma família constrói uma casa, todos os habitantes da mesma, do sexo masculino, dirigem-se, ao local, em conjunto, põem a andar a construção; transportando vigas, barrotes e colunas/postes de madeira, palmeira, em geral, preparadas longe do sítio de habitação, portanto, na mata.

No grupo, há sempre alguém que tenha habilidade a dirigir os restantes de como colocar esta ou aquela viga para resistir a corrente dos ventos. Construir discos de madeira colocar no extremo superior da coluna onde suporta as armações de lantém para impedir o acesso dos ratos ao interior. Uma vez concluir, arranja-se um escadote de bambu de quatro degraus para poder entrar em casa e, durante a noite, puxá-lo guardar dentro. Em concentração para cooperar, o dono de casa, normalmente, dar de comer: pequeno almoço, almoço e jantar. Matar umas cabeças de cabra, porco, galinhas conforme número pessoal. Para entusiasmar o trabalho, o

tuaka e tua sabu estarão sempre presentes acompanhar as refeições.

Esta cultura de cooperação tradicional está presente também nos tempos da ceifa de nêli, após ter amontoado, é necessário números humanos para debulhar, durante um a dois dias – desprender os grãos dos caules com os pés. De seguida, o proprietário é agora, encher nos sacos feitos de palmeira, e transportá-los para casa. Fins do mês de Outubro, a várzea, é literalmente vazia, sem actividade, por acabarem de transportar o nêli, onde vai começar o trabalho das hortas, em preparativos à sementeira de milho. E assim, o ciclo de vida agrícola tradicional se repete, em todas as comunidades para garantir a sobrevivência do agregado.

As áreas que se servem para a exploração agrícola, são vedadas para evitar a entrada dos animais silvestres, durante a noite. Tanto como os domésticos doutras famílias, normalmente, os proprietários são conscientes a dirigi-los a lugares de pastagem longe dos sítios cultivados. Algumas vezes, os descuidos improvizam-se de modo que alguns animais rompem o pagar dos vizinhos, em que os estragos são pagos conforme as quantidades identificadas. Existe também alguma noção de moral que permita alertar o dono a evitar o futuro, porque reconstruir um cerco/pagar de dezenas de metros de comprimento é um desgaste físico, e uma tarefa hérculea.

As famílias constituidas de poligamia, geralmente, possui mais várzeas e hortas, pelo facto de ser o marido de tal estado, cada esposa terá o direito sobre as

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que se julgam ser suas. Depois da colheita, cada uma comercia alguma parte de sucesso em troca doutros objectos de uso pessoal, permutar com algumas cabeças de animais para novas criações.

Bens conseguidos, o futuro dos filhos já é garantido, isto é, dentro de pouco espaço de tempo aparecerá um novo rosto de uma rapariga na família – nora, sinónimo de um novo lar, constituído.

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1.2. Estrutura social

A sociedade timorense, como todas, assente-se na constituição familiar, base celular de um país, sendo o pai representa a autoridade, em todos os momentos de vida social. Na base deste universo se verifica uma afinidade mais coesa – algo endelével, associado a um respeito assaz aderido. Um património tradicionalmente do local, privilegia para além das relações de parentesco, até ser modificado por culturas introduzidas pela administração portuguesa.

As relações estendem-se, por elos matrimoniais. A durabilidade prolongada explica-se pela multiplicação de gerações, filhos, netos contudo, estes não se afastarão de ideias de respeito e de reconhecimento pela linhagem genealógica.

Os constituintes de uma determinada família dependem-se, directamente das condições económicas de quem como chefe de célula familiar. Organizador único e modelo da colectividade, desempenha o sentido divino escondido, quer dizer, suas influências são bem seguidas pelos descendentes.

O pai, sendo de papel importante, cabe-lhe conduzir o casamento dos filhos em exclusividade. Um acto que se associa com interesses dos bens da escolha familiar. Não só da necessidade de riqueza dos planos familiares, há a atenção pela beleza das raparigas o permitirá. Por outro lado, os casamentos consentidos invocam a ideia de estratos sociais do mesmo grau, independentemente dos desejos e do amor que os jovens tendem deles a concretizarem.

Na maioria da sociedade obedece uma certa regra. Uma vez, dois jovens tiverem o mesmo plano para se casarem, o pretendente deverá comunicar aos futuros sogros e aos próprios pais para estarem-se em mútuo reconhecimento do caso. Desta decisão, à parte do presumível genro decidirá doar algo de valor (dinheiro vivo, gado, cavalo, etc.) como prenda, significa a moça ter já um pretendente confirmado do qual, ela é impedida aceitar novos pedidos. Porventura surgisse algum incidente que levaria a rapariga romper o prévio acordo, os bens serão literalmente restituidos. E se ocorresse o contrário, em que o jovem decidisse desfazer o plano, não haveria nenhuma devolução.

Ao acto final do casamento normal, ambas as partes familiares terão que regularizar a questão de barlaque. De seguida, se os pretendentes forem todos cristãos católicos, entrarão em contacto com o catequista a tratar o calendário do casamento com o pároco. Terminado o acto, a rapariga leva consigo algo como dote (1 a 2 cavalos, tais/tecido timor, mutiçala (colar) para o uso próprio em casa dos sogros/da família do noivo (esposo), nos primeiros tempos.

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As classes abastadas, que geralmente se afirmam na abundância de bens agrícolas e de posse de uns números de animais, têm tendências para manter a política de poliginia. A par da realidade, o barlaque, um dos elementos mais conhecidos ao longo de laços matrimoniais21

. Persiste-se durante gerações, atravessando períodos portugueses, porém, indo assistir a descida porcentual à medida que os conversos cristãos e o saber ler, escrever se abrem em leque.

O conjunto de esferas familiares, em ordem no espaço geográfico organizacional, dirigido, em Timor-Leste, denominado regulado/reino, sob alçada de um régulo/rei (liurai), escolhido por datós, praticamente, responsáveis de várias povoações (correspondem mais ou menos os nobres, principais). Naturalmente, a estrutura social timorense encontrava-se em conjuntos referidos, quando fora enfrentar novas ordens de modificações por alta autoridade colonial, uma vez, achando-se confiança na cristalização de amizades.

O aparente domínio português, nos primeiros períodos, articulava-se por intermédio destas estruturas, sobretudo na ligação com os régulos para que as intenções lusas pudessem ser sentidas nos indígenas, no interior dos respectivos reinos dos Belos, Timor-Leste. A partir desta conquista, iam melhorar-se a rede administrativa colonial a partir da base: Povoação com responsável chefe da povoação; Suco com chefe do suco/liurai, Posto Administrativo, com o chefe posto/administrador do posto. Assim estabelecidos, modelos adequados para coordenar os projectos traçados pelo poder/governador da colónia.

Uma das soluções conseguidas para impor a administração de forma indirecta, por via de delegados indígenas, uma sumidade de poder na contribuição de efectivar a presença portuguesa, tornar a autoridade política em triunfo.

Os processos conseguidos, levá-los a estender cada vez mais o papel assumido pelos sacerdotes. Criando capelas rudimentares junto dos povoados indígenas para efeitos de catequese e de celebrações de eucaristias, acto que se traduza em maiores atracções a conversões. Criando umas escolas, a mais conhecida, era o colégio de Soibada, fundado por padre jesuíta Sabastião Aparício da Silva, ajudado por alguns régulos locais como, D. André Doutel Sarmento. Estimulou o inicio da formação da civilização, desenvolveu a educação. Produziu gradualmente, os primeiros grupos letrados pertencentes a vários reinos do país. Normalmente eram filhos dos aristocratas rurais 22

. Os primeiros saídos, os melhores a colaborarem nos

21 Burguière, André, Klaplisch-Zuber, Christiane e Zuna bend, Françoise (direc.), História da Família, 3.º Vol. O choque das Modernidades: Ásia, África, América, Europa, Terramar, 1998, p. 288;

22 Thomaz, Luís Filipe, País dos Belos. Achegas para a compreensão de Timor-Leste, Fundação Odiente, 2008, pp. 44 ss;

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projectos defendidos a partir da sede capital e a estreitar a confiança de se entenderem mutuamente.

Os régulos e datós, nas respectivas regiões, tomando uma atitude visa transmitir a boa maneira de viver e de pensar conforme autoridades.

A par do referido colégio, nos finais do século XVIII, os dominicanos criavam escolas em cinco sítios: Díli duas escolas, Oecusse, Batugadé, Manatuto, Luca/Viqueque, uma em cada. Imprimia pequenos estímulos nos filhos indígenas a conquistarem cada vez o fenómeno escrever e ler, ajudá-los a compreender pouco a pouco a mudança de vida do quotidiano.

É-nos curioso recordar que a sociedade timorense, umas pequenas partes que se entusiasmavam comerciar sândalo, sem terem a noção de perpetuar a sua existência. Na primeira década do século XIX, já se assistia receitas, acentuadamente nebulosas, sinónimo do esgotamento do arbusto, praticamente associado a ignorância de ganância, facto que impressionava alguns governadores, como José Pinto Alcoforado 23

.

Esta parte do mundo, onde os portugueses querem cristalizar os seus projectos, mas as ilhas circundantes de poder nerlandês não os deixa operar tranquilamente. A conflitualidade é latente, ainda que as autoridades procurassem encontrar entendimentos a tréguas entre as partes envolventes no âmbito de tratado que decorria em 1641. Contudo, às possessões, a ambição territorial holandesa era absorver a presença portuguesa, evento que levou os portugueses a reconhecer a ocupação permanente de Kupang pela Holanda, metade ocidental da ilha de Timor. Resolveu-se definir a soberania de Portugal e de daquela nas respectivas partes afectas a cada um, concretizava-as por acordo bilateral, realizado em Lisboa, em 1661.

Pós alguns anos, a colónia entrou em novo cíclo de governação, visava a representação do poder da coroa a iniciar por nomeação de um governador, dependente do Estado da Índia, Goa. Nas primeiras décadas do século XIX, (1844) o governo central reconhecia a capacidade de governação afirmada em Macau e Timor, da qual decidiram desprender-se da tutela da Índia, mas Timor ficava sob as ordens de Macau. Era preciso esperar mais de cinquenta anos de tempo (1896) para o Timor tornar-se um distrito autónomo, desta vez, ficar independente de Macau 24.

Metade da ilha, imensamente pequena, dispunha-se várias etnias linguísticas:

23 Serrão, Joel e Maeques, A. H. de Oliveira (direc.), e coord. por Alexandre, Valentim e Dias, Jill, Nova Hiistória da Expansão portuguesa, Vol. X, o Império Africano, 1825-1890, Editorial Estampa, 1998, p. 779;

24 Pires, Mário Lemos (último governador de Portugal), Descolonização de Timor. Missão

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Tétum Díli, tétum terik, português, china, makassae, galole, dagadá, tokodede, mambae, atoni. Como referimos, não tinha escrita. Soube ensinar aos filhos pela oralidade para perpetuar aquilo que pertença a clã. Além de título familiar há outros conhecidos contadores de histórias (Lia, Na’ain), significa memorizadores de palavras. Estes homens, muitas vezes, nas cerimónias tradicionais, geralmente, em presença dos chefes knuas/povoações, liurais, recitam as palavras, com uma tonalidade bem produzida, suscita o silêncio e respeito. Há lendas (aik nanoik) 25

.

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1.3. Timor-Leste, construído na diferença geográfica

No arquipélago, umas ilhas são geograficamente superiores que países independentes e soberanos, todas inseridas na R.I. Terras de imensa fertilidade, de uma heterogeneidade étnica, sob poderes dos respectivos sultões, em controles comerciais com os estrangeiros. Todas são tocadas pela influência muçulmana, resultara a queda do império existente e à emergência de um novo, imperava grande parte em termos de expansão cultural da mesma religião 26.

A própria riqueza asiática fora território de constantes conflitos europeus e com sociedades locais, em função de novas glórias individuais e às cortes ocidentais, por uma política de controlo mercantil, em absoluto, criavam bases militares. O arquipélago da Insulíndia viria tornar-se maior aliança dos mercadores holandeses. O interesse pelo negócio crescia à medida que as intenções neerlandesas se glorificavam, a aliança sofreu o estatuto inicial para uma política de poder e de domínio territorial, designado Indias Orientais Holandesas. As populações locais mantiveram a sua cultura, língua e religião. As ambições coloniais ultrapassavam os limites de soberania e a antagonizarem-se com os portugueses com vista a desalojá-los das possessões, em proveito exclusivo 27. O seu objectivo principal era desfazer os obstáculos e poderes lusos para se proceder uma aliança com a grande China. Cooperavam-se com os muçulmanos das ilhas, em redes comerciais para conquistar a amizade timorense em absorver a presença portugusa de uma vez para sempre.

Do ponto de vista dos Liurais, que não são muçulmanos, a VOC (Companhia de Comércio Holandesa) 28 é uma má opção porque aliada dos muçulamnos. É aqui que os portugueses e o cristianismo entram em força em Timor, com missionários dominicanos.

Na segunda metade do século XVII e na primeira do século seguinte, o que se vê é os holandeses com poder mas sem ligação local, e uma força de portugueses com dominicanos e topasses (mestiços, portugueses pretos). Isto associado à geografia timorense, cria aos holandeses imensas dificuldades. Estas dificuldades vão ditar a divisão de Timor, no século XIX, em Leste e Oeste.

Como todas as regiões de presença europeia, em Timor-Leste, viu-se introduzir novas maneiras pelos missionários aos indígenas de estar na vida: espírito de

26 A nova religião introduzida pelos comerciantes árabes que frequentavam no centro mercantil de Malaca, cerca do século XII, através dos sumatrenses, conforme Moure, Michel, Dicionário

de História Universal, Vol. II, Edições Asa, 1998, p. 686;

27 Mauro, Frédéric, a Expansão europeia, 2.ª Edição, 1995, p. 118;

28 Morineau, Michel, AS Grandes Companhias das Índias Orientais (séculos XVI-XIX), Publicações Europa-América, 2004, pp. 15 ss;

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responsabilidade, inspira viver em organização, pela exactidão dos tempos de trabalho, etc. 29

.

À medida que a posição holandesa na fronteira se afirmara, tornara-se hostil aos Belos, por estes comportarem-se aliados, supostamente fiéis dos Lusos, cada vez se fechavam sobre si, nem sequer lembravam dos régulos e irmãos da Servião/Kupang, como vizinhos fundamentais. Estes com os olhos sobre o ganho comercial de sândalos com a VOC, que aplicara a força de trabalho de 30 mil escravos, incluídos timores do Leste, na Batávia 30

.

Os timores sentiam-se sob o olhar desdenhoso e a consequente inexistência de contactos social e cultural determinava o total desconhecimento do mundo, além da ilha. As capacidades de navegação marítima a distância a novas descobertas, naturalmente, inexistiam na sociedade timorense.

Aliás, por ordem natural, Timor dos Belos, vinha construindo a própria identidade ao sabor da sua singularidade, na região – uma identidade diferente na área. Durante um grande período da História do Leste timorense tivera um contacto directo com o Ocidente europeu. Recebeu a língua, cultura e doutrina cristã católica, pela mão dos missionários lusos. Fenómeno civilizacional que a Grécia e a Antiga Roma deixaram ao Ocidente da Europa e Península Ibérica 31 como património inspirador do progresso da humanidade – cultura superior, mais seguida até a actualidade pela sociedade humana.

A convivência tornava-se revolucionária à mentalidade timorense em aspectos de relações e a inculcar valores de latinidade, permitia assim, gerar novos pensamentos de como consolidar a sua identidade e a adquirir visões com outros povos. O papel da evangelização dotou as populações de uma nova religião, sem que estas apagassem da sua memória o seu pensamento religioso, tipicamente animista, considerada original. Esta penetração originou a novos sincretismos, em que a doutrina cristã convivia com elementos gentílicos tal como sempre sucedera na Europa, quer na Antiguidade e na Idade Média, quer na Idade Moderna 32

.

29 Mauro, Frédéric, a Expansão europeia, 2.ª Edição, 1995, p. 176;

30 Scammel, Geoffrey V., A primeira era imperial. A Expansão Ultramarina Europeia c.

1400-1715, Publicações Europa-América, 2000, p. 153;

31 Cerca do século III a. C. os Romanos introduziram a sua organização administrativa, cultura religiosa, etc., durante a ocupação no actual território português, conforme Marques, A.H. de Oliveira, História de Portugal, desde os tempos mais antigos até à presidência do senhor

general Ramalho Eanes, 3.ª Edição, Palas Editores, 1986, p. 19 e Enciclopédia da História Universal, Selecções do Readers Digest, 1999, p. 529;

32 O Cristianismo surgiu e engrandeceu com a conversão dos pagãos/gentios, segundo: Atlas da História do Mundo, Selecções do Readers Digest, 2001, pp. 92-93 e Collins, padre Michael e Price, Matthew, História do Cristianismo 2000 anos de Fé, Círculo de Leitores, 2000. pp. 7 ss;

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Conscientes desta realidade, os clérigos com os governantes uma vez achavam a maioria timorense sintonizar-se com o que está em mudança equivaleria um sucesso.

A conversão tornava-se socialmente aliciante para muitos dos nativos, que assim podiam ter acesso aos serviços públicos ou a conquista da sua hierarquia, além de passarem a ser súbditos do poder político. Ao longo da soberania portuguesa o Povo leste timorense orgulhara-se profundamente da cultura europeia, considerando-a elemento fundamental da existência identitária, na região. Indo influir-lhe capacidades a adquirir os padrões internacionais, inspiradores de mútuo respeito e de solidariedade com todos.

Timor tem o seu temperamento próprio face aos seus amigos. Às pessoas quer do mesmo território ou doutros, conhecem-se em largos anos, é-lhe difícil o contrário à amizade – muito hospitaleiro. Se porventura aparecesse um amigo de longos tempos seria acolhido, mesmo não tiver condições recorra aos vizinhos para o efeito, mas também é belicoso quando é ofendido por outra etnia ou grupo de diferente cultura. O perfil timorense é obediente e subserviente, mas sobe ao poder tende a autoritário.

Este tipo do ser timor vinha ganhar a sua evolução por via do ensino, desenvolvem-se relações de grande proximidade com os estratos sociais de influência. Uma realidade remete-nos compreender as iniciativas dos missionários, mais próximos das populações. A capacidade de inovar o que já existira era maior. Em regra, as ordens religiosas tentam impor no ultramarino as mesmas regras religiosas da Europa, os mesmos cânticos, a mesma orgânica desajustada dos conceitos e das tradições locais.

A Igreja passa a ter um número muito significativo de conversos, para lá dos limites onde os governantes ainda não têm o domínio de contactos.

Também não é afirmativo que a presença de um missionário num determinado regulado é uma verdadeira magia transformar todo este espaço humano em conversão. Os obstáculos eram vários: receio de serem desvinculados dos seus ritos de culto ancestral, mas esta verdade tivera as suas consequências benéficas, pois abriu caminho a gerações futuras a aderi-lo, tal como sucedera anteriormente aquando da conversão dos vários povos europeus.

Todo o acontecimento ocorrido, no âmbito abstracto, constitui o próprio património do Leste timorense, como já se referiu atrás, valorizar os seus ideais e adquire de si a consciência como um povo desta parte do mundo da Oceania.

A língua portuguesa, aos poucos, vai ganhar espaços, circula-se em escrito no seio dos letrados; da capital da colónia aos centros administrativos dos reinos, este meio comunicativo põe as pessoas numa fase mais privilegiada e revolucionária. A nova presença não põe em risco o estatuto do Tétum, língua falada pela maioria dos

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timorenses. Os europeus que cedo aprenderam a língua nativa eram os missionários, entabulavam questões de catequese com catequistas e cristãos, em tétum para criar a mútua credibilidade de entendimento.

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1.4. Interesse holandês é o risco da soberania lusa

Os portugueses sentiam-se firmes em funcionalidade nos objectivos em cadeias de entendimento com os Liurais a decorrer até ao século XIX. Uma das condições conseguidas para imprimir a sua cultura. Graças ao sucesso alcançado, nos primeiros anos do período precedente (1701) pelo primeiro governador, António

Coelho Guerreiro, obtivera a simpatia da maioria dos régulos, ainda que o desgosto

de alguns fosse de maior visibilidade pela perda de prestígio e de poder33.

Percebe-se, portanto, pelas descrições históricas das loucas corridas ocidentais ao Índico, o domínio marítimo português era de glória desde séculos XVI-XVII. Tornara-se em difícil situação dado o vizinho holandês, de poder naval sob alçada dos directores da VOC, inimigo fiel dos ibéricos. Reduziu a influência portuguesa em muitas ilhas. Por outro lado, Timor encontrara-se na depedência jurídica bastante prolongada de Goa, ou de Macau, não lhe permitia algo de mudança em progresso, ainda que tivesse uma Junta de Justiça aos crimes militares e civis ocorridos no reino. Constantes governadores para aí enviados enfrentaram dificuldades várias para tranquilizar alguns reinos descontentes e da incúria da metrópole, conduzindo os funcionários e soldados num castigo de sem salários, em anos. O estado da situação afectava a sobrevivência e a leldade pelas funções atribuidas, aos agentes da administração pública.

O moroso interesse à ilha pelo poder central deixara para a liderança do governador e comissário real, José Joaquim Lopes de Lima sem condições financeiras para dar eficácia ao conjunto das estruturas já criadas. Fora incumbido de directrizes pela corte régia para negociar com os holandeses sobre a delimitação de fronteiras entre as duas metades da ilha e de Flores em relação as de domínio holandês. Porém, a presente debilidade contribuiu aos holandeses como novos beneficiários da ilha de Flores e das pequenas em contiguidades. O poder neerlandês ficou em plenitude nessas ilhas34

. Em troca da maioria perdida aos portugueses, apenas restituiu a Maubara, encaixada na soberania lusa. Mantêm-se o enclave de Oecusse, a ilha de Ataúro, situada a frente de Díli e o ilhéu Jaco, ponto extremo de Lautém, mas este não fazia parte da contenda política, desabitado. Em compensação, os holandeses prometeram pagar 200 mil florins, em três prestações, à primeira, recebida por

33 Castro, Gonçalo Pimenta de (Coronel), República Portuguesa, Ministério das Colónias (Subsídios para a sua História), Divisão de Publicações e Biblioteca Agência Geral das Colónias,Lisboa, MCMXLIV (1944), PP. 24 SS;

34 Bessa, Carlos Gomes, a Libertação de Timor na II Guerra Mundial, Academia portuguesa de História, 1992, p. 323

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governador no valor de 80 mil florins em dinheiro 35

. O sucedido foi mal considerado, sem ter prévio consentimento de Lisboa. O Lopes de Lima foi severamente criticado de grande felonia e dizia-se ter fugido com o dinheiro recebido aos EUA.

Entretanto, Lisboa decidiu-se a substituição por novo governador, D. Manuel Saldanha da Gama, naturalmente chegara a Díli em 6 de Setembro de 1852, foi-lhe recusado o cargo do governo por Joaquim Lopes de Lima. Este acabou por ceder-se embarcar sob ordens de prisão pelo mesmo navio que desembarcara o governador, substituto. Não chegou a Lisboa, ficando falecer em Batávia, capital das Índias holandesas durante o trajecto do navio (Carlos Bessa, 1992, p. 323).

A morte do governador receava os políticos vir devolver os 80 mil florins recebidos, sensações que forçavam adiar negociações para mais dois anos. Aberto as negociações a 6 de Outubro de 1854, parecera idêntico ao que encarado por Lopes de Lima, e em Haia o parlamento reivindicara à inactividade do culto católico na ilha das Flores. No entanto, esta zona com outras pequenas não se desapareciam nas memórias lusas, mais tarde, o governo liderado por Fontes Pereira de Melo tentara novas negociações com Haia em 1858 com o intuito de trocar um território africano para reaver Flores e outras ilhas, contudo os esforços saíram baldados. Chegaram a um acordo pelo Tratado de Lisboa de 1859, momento que Lisboa assistiu a queda do governo pelo que o restante das indemnizações pago pela Holanda decorreu em 1860 36

.

Os anos referidos, foram um período de campanha colonial portuguesa pela pacificação, onde decorriam operações militares na África, porérm, em Timor o governador era surpreendido por revoltas populares, a conhecida expressão cortadores de cabeça eram assustadores.

Depois de ter resolvida a revolta de Camenassa que surgira designadamente dos animistas terem sido humilhados de culto desrespeitado dada a maioria ser convertida cristã, onde dois missionários foram mortos pelos rebeldes do reino, em 1719. Conseguida a pacificação, proveniente de um esforço concertado com os régulos fiéis, de cerca de 50 anos de tempo para neutralizar os restantes líderes do regulado, antiluso (1769). Todas elas, compreendidas neste período, eram relacionadas as posições governativas na legislação tributária. Definia a obrigação do indígena cumprir pagar ao Estado, que às vezes, ultrapassava a capacidade produtiva das pessoas. O descontentamento cevou o ódio contra os portuguses que, estendia até aos régulos da região de Viqueque, acabando por destruir os templos cristãos e

35 Thomaz, Luís Filipe F. R., De Ceuta a Timor, in Relance na História de Timor, Difel, 1998, p. 596;

36 Bessa, Carlos Gomes, a Libertação de Timor na II Guerra Mundial, Academia portuguesa de História, 1992, p. 324;

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perseguir os já convertidos. O governador teve que organizar as forças indígenas com os poucos efectivos que dispunha, com o apoio vindo da Sica, Flores, em conjunto no total de 4 mil nativos para desfazer a revolta, em 1731, ano de paz requerida pelos rebeldes 37.

Aliás, as chamadas novas revoltas terão decorridas em Cotubaba e Cová junto a fronteira, levarão o governador Francisco Teixeira da Silva a tomar decisões bastante difíceis. As forças deste lado, em números comparativos para uma operação de resposta não eram vantajosas, significava enfrentar cortadores de cabeças, em posições confortáveis e activas, nos pontos altos, fortificados 38.

A autoridade de Díli, tinha que reunir o máximo das suas forças em Batugadé para reprimir as aldeias revoltadas, contudo, o acontecer impressionava o lado do governador por rebeldes. Resultava perdas de vida que chegavam mais de 126 homens. Os planos tomados à resposta eram inêxitos. Perante a dificuldade, resolveu-se inverter a estratégia, em vez de manter as forças goesas, macaensas e metropolitanas à operação, entregou-se as armas aos régulos fiéis para o efeito segundo à maneira. Organizaram os seus moradores em conjunto das do governo colonial, confrontavam-se com os rebeldes, o que levou estes a submeterem-se e pós termo a resistência 39.

A tradição habitual de rebeldia timorense não desaparece nos reinos já resolvidos e pacificados por batalhas sangrentas, atrás citados. O problema de fintas, pagas por cabeças de animais é o elemento mais recusado por muitos dos regulados, suscitava movimentos de desobediência; celebrava o corte de cabeças dos vencidos reunidas perante centenas de pessoas a confirmar a heroicidade dos reinos triunfantes - um acto repetitivo. O ambiente turbulento se repete noutra ponta de Timor, mais a Leste, em Lautém. Uma revolta surgia associada ao rapto de centenas de gados aos sucos fiéis dos portugueses. Punições de toda a ordem, estendiam actos desobedientes para outras povoações, dos quais a força de segurança achava-se difícil recompor o disciplinamento. Era preciso recorrer aos régulos de aliança de Díli, Baucau, Vemasse, Laleia, etc. com o apoio dos planos de secretário e ajudante do governador em concertação para repô-los em ordem normal40 .

Além da falta dos bons soldados de segurança do governo, conforme descreve René Pélissier, verificava-se a inexistência de confraternização entre a chefia militar portuguesa com os seus componentes goeses, moçambicanos. E noutro horizonte,

37 Gunn, Geoffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, pp. 104 ss;

38 Pélissier, René, As Campanhas Coloniais de Portugal 1844- - 1941, Editorial Estampa, 2006, pp. 130-132;

39 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal, Vol. II, Agência Geral das Colónias, 1950, p. 138; 40 Idem. Ibidem. pp. 233 ss;

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pinta-nos a simpatia e a confiança entre Governante lusa e de Batávia numa relação de falta de amizade europeia na Insulíndia 41

.

Os sucessivos governadores passaram ao serviço da portugalidade na ilha, não havia nenhum que escapasse da insubmissão de alguns régulos. Muitos deles, não conseguiam iniciar algum projecto, não por insucesso de entendimento com autoridades indígenas em resistência, mas nem sequer lembravam de seus deveres no tocante ao melhoramento das actividades da capital, Díli. Esperavam que chegasse o tempo de missão para serem transferidos para outras colónias – pareciam uma ave de arribação 42. Por outro lado, a distância da metrópole contribuiu os políticos a esquecerem da ilha em matéria de apoio, elemento fundamental para os estimular em novas iniciativas que permitissem envolver mais autoridades naturais.

É de recordar que, o reino de Maubara, em poder holandês desde 1761, devolvido à Portugal, a 1861, na sequência de tratados assinados entre Lisboa e Haia, na capital portuguesa. Achavam-se o regresso tornar-se um cordeiro manso perante todas as exigências, duramente impostas, por acções militares sobre cobranças de impostos. Porém, as ordens sob o consulado do governador António Francisco da Costa (1887-1888) transformara-se em acto malogrado para o referido reino e tanto para o próprio governante. Segundo a descrição do historiador militar português Esparteiro, citada na obra do Geoffrey C. Gunn, toda a Maubara revoltara-se sob a direcção do seu régulo. Os seus homens massacraram muitas forças de guarda, o governador ficara espantado com a tamanha situação de rebeldia e o reino de novo hastear a bandeira holandesa. A inversão do acontecer devia a intervenção da canhoneira Diu, partiu de Macau a pedido da autoridade de Díli. Durante mais de uma semana a percorrer pelo mar do Sul da China, estreitos de Solu e Molucas, finalmente chegou a costa timorense, iniciava o bombardeamento sobre as aldeias de rebeldia, Fatuboro, e apertadas pelos moradores organizados dos liurais de aliança lusa.

O recurso ao concertado apoio de forças de operação contra a rebeldia, actuavam eficazmente, transtornaram o régulo em lealdade portuguesa. Este, e outras autoridades locais prometiam cumprir as obrigações tributárias. E a Maubara, castigada por macabrismo, atingiu a população de todas as idades, que o serviço de saúde era difícl socorrê-la, e no entanto, permitiu a reposição da bandeira portuguesa

41 Péliddier, René, As Campanhas Coloniais de Portugal 1844 – 1941, Editorial Estampa, 2006, p. 195;

42 Castro, Gonçalo Pimenta de (Coronel), Timor (Subsídios para a sua História) Divisão de Publicações e Biblioteca Agência Geral das Colónias, Lisboa, MCMXLIV (1944), pp. 82-83;

Referências

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