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Santa Cruz e os deuses da hiper civilização

No documento Timor-Leste, outro rosto da história (páginas 125-163)

Antes e pós da visita de João Paulo II a Timor-Leste, os apelos dirigidos aos políticos de alta civilização cultural, inspiradores do padrão universal a quem os admirava, acreditava, pareciam ignorados os pedidos, esboroados a que o ódio sobre o Povo Maubere se repetia dia pós dia. Assistia momentos impiedosos, deparando a consciência dos homens pela lógica dos poderes sobrepunha o princípio, sem inversão prevista, mais sentida. Portugal manteve-se na postura pela libertação do seu antigo território, cada vez fora estimulado ao diálogo em estreita sintonia com os políticos timorenses, achando-o arte possível.

Os anos se sucedem, os dirigentes da nova geração portugueses assumem poderes de governo, também mudam decisões de como mitigar a fera a volta da questão timorense.

A acordada visita parlamentar portuguesa ao território 274, fora conhecida pela juventude timorense, considerava-a ser um importante evento histórico. Transmitia a todos se sentissem ânimo a cooperar-se nos prepartivos em grande escala para manifestação à chegada. Em paralelo, os serviços de espionagem indonésios, se movimentavam para acompanhar os passos da rede clandestina. Eram atentos a qualquer infiltração dos guerrilheiros na capital a incentivar acções de protesto. Suspeitavam uns comandantes a encaixarem-se na organização de juventude. Muitos jovens já conhecidos pela polícia política, são constantemente seguidos onde que fossem encontrados. Achavam-se inseguros dormir em casa, tinham que recorrer algum sítio de refúgio.

Uns sentiam-se dos seus dias mais candentes face a busca dos mais visados pelo Intel (polícia política), já ocorridos noutros bairros de Díli, tiveram que refugiar-se na igreja de Santo António de Motael durante a noite. Os militares/polícias sabiam de tudo o movimento, achavam que estivessem também alguns comandantes guerrilheiros, na igreja. Não suportavam com a constante mudança dos mais procurados, considerados mentores.

Logo de manhã as 3 horas, do dia 28 de Outubro de 1991, entraram romper a porta da igreja de Santo António. Dentro, envolveram-se em combate entre irmãos timorenses, doutro lado acompanhado por militares. Um dos perseguidos, Sebastião Gomes fora morto com tiros seguidos, e outro civil, morreu esfaqueado. Hora seguinte, o bispo foi reconhecer o atingido, tanto como governador Eng.º Mário Carrascalão. O jovem estava estendido na rua, fora da igreja. Os militares mentiram Ximenes Belo e

274 Fora público por MNE da Indonésia a 13 de Janeiro de 1988, conforme. Mattoso, José, A Dignidade,

Carrascalão que fora esfaqueado. Estes pediram virar o corpo, viram buracos de balas no corpo (os indonésios nunca foram e nem são homens de honra da sua palavra e da acção). O dia foi triste, para toda a maioria da população jovenil.

Em memória dos dois mortos a tiro e esfaqueado, o bispo rezou-lhes uma missa fúnebre. No seu sermão matinal, não esteve com rodeios: «Vocês, jovens, precisam de reflectir! Os bispos e os padres dar-vos-ão protecção! Mas precisam de pensar com a cabeça no lugar. Partir os vidros das janelas da igreja, tirar vida a outros, difamar o bispo, quebrar os objectos sagrados, tudo isto acontece nos dias que correm. Partiram a estátua de Nossa Senhora em Comoro. Em Lahane, em Bobonaro, falam mal do bispo, dos padres e das freiras.» E acrescentou de modo incisivo: «Isto só começou após a integração, a época da merdeka [«liberdade», em indonésio]. Na época colonial, sob domínio dos Portugueses, nunca se assistiu a cenas destas.» 275.

Protestado por todo o território, em silêncio, nos serviços, escolas. Depois do enterro do saudoso colega, decorrem os preparativos para cumprir o oitavo dia do derramar das flores, tradicionalmente, organizado pelos familiares. O dia vai assistir a grande presença da população de toda a idade, sobretudo da geração estudantil. A revolta quer ser exteriorizada, conhecida fora do território, mas sabiam dos riscos.

Os próprios familiares e parentes do jovem em questão, as 07.00 horas de

manhã, hora local do dia 12 de Novembro, já estavam prontos com coroas de flores para a missa, dirigida pelo mesmo pároco de Motael. Fora e dentro da igreja cheio de multidão a assistir a cerimónia religiosa, em memória do Sebastião Gomes. Uns estavam na rua a espera que terminasse a missa; apareciam mais grupos de 10 a 20/24, seguidos uns dos outros a juntarem-se aos que estavam. Ao terminar a cerimónia, à saída, os pais e tios do Sebastião viram a presente solidariedade dos colegas em massa a frente da igreja, em homenagem ao saudoso, abraçados uns aos outros a chorar. Os organizadores davam sinais ao início da marcha ao cemitério de Santa Cruz, à frente, uns jovens levavam flores.

Muitos queriam que este dia fosse bem aproveitado por alguns jornalistas ocidentais presentes, os quais foram já contactados, em antecedência e assegurados a este propósito. Todos na caminhada; outros, traziam consigo bandeiras da FRETILIN e retrato do Xanana debaixo das camisas. O entusiasmo imperava, as bandeiras abertas erguendo-se ao ar, flutuavam-se no seio da multidão; movimentos filmados.

A marcha tomava pela direcção da estrada marginal a frente do palácio do governo, pelo lado do estabelecimento policial; uns polícias junto a instalação, de

275 O acto atroz e infortunado particado pelos homens ABRI, na igreja, tornou furioso o bispo deixar umas expressões de tom mordaz: Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Editorial Notícias, 2002, p. 179;

mãos cruzadas com cara de quem assassina, olhavam a grande massa de gentes passando em sentido ao cemitério. Ao longo da marcha, viam polícias a roupa civil a misturar-se nas fileiras. O ódio dos jovens era tudo, não se importavam do que lhes aconteceria. Na medida que iam aproximar-se à porta principal para entrar, e o cortejo fúnebre se multiplicava em pessoas.

Os jornalistas estavam já no cemitério, dispersos na multidão. Outros fiéis posicionavam-se a volta da campa, rezando em português. Viram os militares armados descendo das camionetas. Dispersaram-se disciplinadamente, comandados por altos oficiais de roupa civil. De repente, viram fogo aberto sobre a multidão civil, orando. Rapazes caídos ao chão ensopados de sangue, outros fugiam desesperadamente da cena improvisada. Já mortos estendidos e os soldados saltaram para dentro do cemitério esfaquear aos ainda de sinais de vida. Reinava uma confusão. Muitos feridos chegavam escapar-se, tratados em casa. Uns chegaram em casa episcopal ensanguentados. Os militares, sem pejo nenhum, inundaram instalações da CVI em perseguição a uns manifestantes. Um jovem newzelandês, passava férias em Díli, encontrava-se no meio dos fiéis, confiscado os equipamentos, esfaqueado, posteriormente faleceu no hospital 276.

A famosa cena atroz infortunada, exibida, planeada pelas ABRI, fora filmada conforme os seus movimentos bárbaros, ocorridos no dia 12 de Novembro de 1991, no cemitério de Santa Cruz, no coração da capital 277. Os cadáveres, transportados por camiões ABRI, pareciam lançar ao mar ou em vala comum. Os familiares desconheciam os corpos jazigos e sepúlcros. Tragédia, fez morrer 271 pessoas 278.

Já o drama ter ocorrido meia hora de tempo, o bispo Belo fora informado e o governador Eng.º Mário Carrascalão dirigiram-se ao local, gritavam aos militares “matem-me a mim, matem-me a mim”, eles não têm culpa, sem armas.

Os que morriam nas camionetas, deixavam amontoados no hospital Lahane, outros ainda de consciência pediam água e solicitavam ajuda se pudessem salvar-se de morte. Lutavam pela sorte de vida no hospital, nas primeiras noites do acontecimento, infelizmente, todos morreram devido aos comprimidos desinfectantes muito forte para matar os insectos; esmagavam-os com objectos pesados à cabeça, peito. À meia-noite, os cadáveres foram transportados fora do hospital para valas comuns ou atirados ao mar, quando podiam ser entregues aos familiares enterrar com dignidade (anexo 9).

276 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 304;

277 Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Editorial Notícias, 2002, pp. 188 ss; 278 Biografia de Xanana Gusmão em indonésia, 1993, p. 7;

Dias a seguir, o mundo foi acordado, impressionado por imagens emitidas. Os telespectadores viram os timorenses rezar em português à volta da campa a morrerem esfaqueados, tiros, pontapeados, coronhadas com armas. A comunidade internacional ficou em choque perante o drama, emitido pela TV, planeado pelas ABRI. O governo de Jacarta não havia hipótese de mentir à semelhança dos massacres feitos desde 1975 seguintes, sem cobertura televisiva como foram denunciados por anterior chefe eclesiástico Martinho Lopes, através da missiva dirigida ao colega australiano e fotografias enviadas testemunham como as ABRI massacravam timorenses.

A Indonésia fora imediatamente cercada pela política externa. Alguns estados ocidentais paralisaram as ajudas concedidas. Os EUA, não tomaram de imediato uma posição, todavia, sentiram-se incomodadas, acusadas cúmplice no genocídio em Timor-Leste, mais tarde suspenderiam alguns programas de assistência militar à Indonésia 279. Portugal tomou de imediato uma política de condenação severa contra o acto decorrido. Reivindicou junto da UE para criar uma comissão internacional a investigar os incidentes, que obrigasse o governo de Jacarta a uma resposta justa 280. A organização não governamental, de origem portuguesa como CDPM, multiplicava publicações das informações sobre Timor-Leste, no sentido de serem conheciddas as injustiças em meios públicos, escondidas pelos sanguinários de Jacarta ao exterior. A organização manteve diálogos com todos os partidos políticos, quer do governo como de oposição, dando conhecer a sociedade civil portuguesa, movida sensibilizar-se pela causa timorense como problema nacional. A capacidade de transmissão era poderosa, fizera sentir noutras bandas de sociedade civil na defesa dos direitos do Povo timorense 281. A par deste esforço, as iniciativas individuais como professor Barbedo, no âmbito das jornadas da Universidade do Porto, tornara muitas figuras independentes internacionais preocuparem-se pela paz e justiça timorense.

Os próprios líderes timorenses, no exterior, multiplicavam os seus esforços junto das figuras de relevo internacional, organizações pela defesa dos direitos humanos, além da pessoa de José Ramos Horta, representante especial de Xanana Gusmão 282. Os países de língua oficial portugueses africanos, os seus apoios eram permanentes e decisivos, e Brasil, intensificou a acção de solidariedade 283.

279 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 310;

280 Idem, Ibidem, p. 305;

281 A cor das Solidariedades, CIDAC, Edições Afrontamentos, 2004, pp. 95 ss;

282 . Mattoso, José, A Dignidade, Konis Santana e a Resistência Timorense, Temas e Debates, 2005, pp. 157 ss;

283 Câmara dos Deputados, Solidariedade à luta pela independência do povo do Timor-Leste, Brasília, 1996;

Santa Cruz tornou-se um poderoso comunicador de crimes abafados, levar as pessoas a reflectir sobre o que circulava nos ecrãs das TVs, suscitando mudanças de tendências e de opiniões.

Ao longo dos anos argumentava-se a questão timorense para Jacarta como uma pedrinha no sapato. O drama contribuíu a dor inundar o coração de Soeharto e da cúpula política, não saberiam como libertarem-se do maldito espinho. A solidariedade por Portugal e Timor-Leste crescia; sessões de debates envolviam docentes universitários portugueses com importantes opiniões no âmbito das capacidades dos políticos nos bastidores. Os variados profissionais não estavam alheios do calvário timorense. Os timorenses, cada vez se alimentavam de esperança ao saber dos contactos do presidente Mário Soares e Cavaco Silva com o Vaticano, Bill Clinton e figuras de outros estados defensores das democracias nos bastidores da ONU.

O amor pelo antigo território em sofrimento, mobilizou uma solidariedade de estudantes de 23 países, participantes da Missão Paz em Timor, à cabeça estava o ex-Presidente da República português, general Ramalho Eanes no barco”Lusitânia Expresso” com destino a Timor-Leste. Pretendia lançar flores no Cemitério de Santa Cruz. As ABRI preparavam o material bélico em oposição à entrada do “Lusitânia Expresso” em todos os pontos observatórios de Lautém. Assim que se aproximava dos limites territoriais de Timor-Leste, os navios de guerra indonésios e força aérea bloquearam-no, forçá-lo ao regresso. Mais uma vez, a Indonésia é reafirmada responsável por todos os crimes perpetrados no país, isolando o povo timorense do resto do mundo 284. Antes do regresso do “Lusitânia Expresso” de Darwin, ouviu-se uma declaração proferida pelo ex-presidente afirmando a Indonésia violar o direito universal reconhecido aos timorenses. Desconhecia totalmente os apelos das organizações internacionais. Pelas tonalidades que se percebiam delas afirmavam os esforços portugueses não terminavam aqui com o impedimento naval e aéreo 285.

O mundo sabia de o povo estar em contínuo sofrimento, sem nenhuma entidade internacional capaz de travar a euforia dos militares de Jacarta a assassinar as populações, dia/noite como apeteciam. O apetite pelo mel dos lucros gordos é maior, deixem-no ao esquecimento. A preocupação era muito visível em Portugal, não havia hipótese de telefonar ao Soeharto a dar ordens aos seus soldados pararem de matar mais timorenses, em sua própria casa. O que está em causa é a falta da voz dos países de relevo internacional junto da NU exigir pelo direito da ex-colónia portuguesa.

284 Gusmão, Xanana, Timor-Leste um povo, uma pátria, Edições Colibri, 1994, p. 284; 285 Marques, Rui, Esperança em Movimento, Porto Editora, 2009, pp. 210-213;

Os membros da CEP percebiam do caso, sendo as suas acções decorrem sempre em rumos de alta hierarquia institucional, que muitas vezes se ouviam surgir outras versões a seu respeito. Entretanto, as opiniões apontavam o silêncio português, e em Timor-Leste o crime se repetia.

Era difícil suportar a dor. Em 1987, o bispo D. Manuel Martins de Setúbal representava o Movimento Pax Christi e da Comissão de Acção Social da CEP discursou perante a Comissão de Descolonização da ONU. No qual, referiu o direito reconhecido ao povo timorense, negado brutalmente, nem a igreja e nem pessoas têm sensibilidades pelo calvário imposto 286. O prazer pela morte de um povo e a sua identidade singular persistia-se no papel dos operacionais de Jacarta. Acreditando na fé, apoiada por interesses mercantis e ignora os apelos.

Mas aqui, há uma coisa que a Indonésia nunca chega a perceber da oposição timorense. Baseia-se firme na diferença em relação a potência invasora: culturas os dividem, a etnicidade individual associada aos hábitos tradicionais mais votados ao culto da bandeira portuguesa que se manifestavam outrora aos poderes holandeses e aos japoneses de querer afundar a soberania lusa. O crime escondido por detrás do muro de silêncio, descortinado, humilhou os países pró valores contemporanistas, seus amigos e a comunidade internacional em geral. Os descontentamentos aliados emergem-se no sentido de inverter o que Jacarta para si advogava. Mas esta, nem sequer sensibilizava-se dos actuais sinais, sensivelmente opostos. Os gritos de desespero continuavam ser conhecidos no exterior.

As perseguições aos guerrilheiros e a rede clandestina são a ordem do dia. As pessoas das vilas mais suspeitas tiveram que fugir, unirem-se as bases de guerrilha. Abandonavam as famílias para trás em fome, sem produzir hortas e vázeas a subsistência. O líder da resistência, comandante Xanana Gusmão refugiava-se em Díli, capturado por bóinas vermelhas a 20 de Novembro de 1992 (a população timorense metade é paga para destruir outra metade que defenda a identidade nacional). Foi submetido ao julgamento, rejeitou advogados escolhidos. Perante aos critérios judiciais a ele impostos Xanana foi sincero nas suas respostas dizer injusto ser julgado por tribunal indonésio. Afirmando-se cidadão timorense português, acrescentando que as actividades por ele promovidas em Timor-Leste não são hostilizantes aos valores universais. À justiça indonésia ignorava, levado a prisão de Cipinang/Jacarta a cumprir pena de 20 anos 287.

286 Messias, Jorge, o crepúsculo dos deuses. Igreja e fé?... Igreja e lucro?... Queda ou ascensão?, Campo das Letras, 2001, p. 138;

Em Junho de 1994, num domingo, em Remexio, celebrava-se missa por pároco vindo de Díli. Na comunhão, dois soldados indonésios também comungavam, à saída da missa a frente da multidão cuspiram as hóstias ao chão, pisadas. A população reagiu, mesmo no local. O descontentamento alastrara-se, e as capturas são expressões diárias, viam-se mães em casa do bispo em frequência a pedirem ajuda pelos filhos levados, sem saber do porquê. A 5 de Outubro de 1995 houve um problema na prisão de Maliana: um carcereiro indonésio escandalizou a estátua de Nossa Senhora, suscitou ondas de revoltas nas juventudes. Milhares de jovens para as ruas numa vaga de protestos que tornou inevitável a outros concelhos e postos administrativos. A força militar/policial interveio, ameaçava partir estátuas nas grutas 288, capelas nas aldeias.

Notavam-se movimentos de total desgosto e desconcilição nas relações opressor/oprimido. Díli, tornava-se mais uma vez, debaixo do fogo. A concentração multiplicara-se, queixando-se da constante humilhação, escândalo à cultura local, elemento identitário que se vê mais perturbado. Tiveram intervenção dos padres Mário Belo, José António Costa e Manuel Carrascalão para acalmar os ânimos da juventude. Toda a reacção generalizada, os padres perseguidos cujas vozes se associavam ao protesto. O eco dinamizava a diplomacia portuguesa mais activa nos foro internacionais, consolidada com o envolvimento da sociedade civil portuguesa, nos diferentes meios a mobilizar a opinião pública.

Na medida que se sentia apoiado o esforço português, as coisas começarão indiciar reivindicações pela mudança do regime soeharto, organizadas pelos próprios estudantes universitários indonésios.

Voltando-se ao interior da pátria, encontrava-se a inexistência de uma voz que representasse a autoridade política em audição com figuras internacionais por Xanana impedido, umas vezes por outras visitarem o território ou a convites. Desde a invasão os chefes eclesiásticos, em nome da Igreja Católica local, atendiam as necessidades mais específicas do povo como podiam. Durante os momentos mais agonizantes, nos últimos anos era o bispo D. Ximenes Belo quem se situava neste ponto nebuloso em contactos com autoridades indonésias, a Resistência interna, líderes timorenses no estrangeiro e políticos portugueses, etc.. Timor-Leste no jogo dos grandes que era,

288 Em Outubro deste ano, deu-se confrontação entre dois pelotões policiais e cerca de uma centena de jovens descontentes, em Saboraka Laran-Becora/Díli. Dois soldados correram em direcção a gruta desta povoação para arrancar a estátua, de repente ouviu-se gritarias das mulheres: jangan-jangan, itu tidak

salah bapak (não pode, não pode, senhor, esta não tem culpa). Os colegas ameaçaram-os recuar. Eu morava nesta povoação, acompanhei toda a cena. Com esposa e filhos fechados em casa, os vidros da janelas desapareceram. Faltava pouco para arrombar portas para me levar ao comando por ser antigo assistente de uma zona de resistência e ex-prisioneiro de 25/01/1984-30/08/1985, graças a um parente polícia intel do mesmo grupo que impediu partir portas.

tanto que o prelado timorense no território como Ramos Horta representante especial de Xanana no exterior tiveram vozes ouvidas ignoradas por outras. Os que preocupavam-se pela liberdade e justiça rompiam a indiferença face as posições tomadas em defesa da dignidade do povo pelos dois citados, representavam a consciência colectiva, não podiam ser esquecidos pela comunidade internacional 289. A solidariedade pela questão timorense não se residia apenas em palavras, tornou-se um triunfo na proposta de dois candidatos timorenses serem atribuídos com o prémio Nobel da Paz 290, segundo anúncio publicado em Outubro de 1996 291. O dia da cerimónia de entrega do prémio estavam presentes Chefes de Estados e de Governos, figuras de relevo internacional, incluindo o representante do Vaticano cardeal Roger Etchegaray, presidente do Conselho Pontifício para a Justiça e a Paz. Centenas de agências noticiosas e CNN tiveram a sua oportunidade pela emissão imediata do evento. A entrega precedida por discursos de ambos, impressionaram a assembleia, moveram milhares corações a tornarem condensado aquilo que é reconhecido ao povo timorense.

A história torna-se nova, a solução do problema passará ser decidida pelos detentores de poder internacional. Os laureados passaram à ribalta em participarem quaisquer sessões e conferências que tratariam assuntos de paz e de justiça. Por outras palavras, líderes timorenses vêem-se livres do isolamento desfeito, os caminhos dos deuses fechados, abertos à diplomacia externa. Por um lado, o poder

No documento Timor-Leste, outro rosto da história (páginas 125-163)