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4.3 Sistema BACEN JUD

4.3.4 Acesso e funcionamento

30 A respeito das constantes críticas que incidem sobre a generalização dos bloqueios, Odete Grasselli relata: “Fala-se em invasiva sucessão de atos constritivos eletrônicos, caracterizada, segundo críticos, pelos bloqueios generalizados, alcançando toda sorte de contas ou investimentos mantidos pelo devedor nas várias agências e/ou instituições financeiras, pouco importando as suas respectivas localizações territoriais, bem como sobre todo o numerário estratégico ali existente, inclusive sobre o capital circulante, atitudes apontadas como despóticas, arbitrárias e desmedidas, que sempre culminam por inviabilizar o funcionamento empresarial”. GRASSELLI, Odete. Penhora trabalhista on-line. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p.79.

O acesso ao sistema BACEN JUD torna-se viável apenas se o Tribunal ao qual o juiz estiver vinculado houver manifestado e formalizado sua adesão prévia ao Convênio, por meio de cadastramento no Sistema de Informações do Banco Central - Sisbacen.

Após o cadastramento do Tribunal, o juiz deve requerer seu credenciamento junto ao sistema, através da internet, com o objetivo de obter uma senha pessoal e intransferível, sem a qual o acesso não é possível. Aludido credenciamento é realizado por intermédio do gerente setorial de Segurança da Informação, então denominado Master, cabendo a esse a responsabilidade sobre todos os acessos efetuados.

De posse da senha própria, o magistrado poderá acessar o sistema e enviar requerimentos às instituições financeiras, com vistas a obter informações a respeito da existência de ativos financeiros em nome de pessoas físicas ou jurídicas que sejam parte em processos judiciais.31

As ordens judiciais de requisição de informações serão encaminhadas eletronicamente às instituições financeiras participantes32, por intermédio do Banco Central do Brasil. De posse das requisições, os bancos verificarão se há quantia existente em conta ou aplicação de titularidade do executado e, não sendo o caso, simplesmente afirmarão que não há saldo a bloquear.

As respostas serão enviadas ao Banco Central que, por sua vez, as encaminha aos juízes emissores da ordem. Com as respostas às requisições, o juiz fará uma análise destas33 e, em seguida, verificando-se a existência de valor passível de constrição, o magistrado expedirá, por

31 De acordo com o Manual do Sistema BACEN JUD 2.0, disponibilizado no site do Banco Central do Brasil, a ordem judicial de requisição de informações obedece às seguintes etapas procedimentais: a) ingresso no sistema BACEN JUD, por meio de duas maneiras distintas: através do endereço eletrônico www.bcb.gov.br, clicar no item Sistema Financeiro Nacional e, em seguida, clicar em sistema BACEN JUD, ou diretamente, pelo endereço www.https://www3.bcb.gov.br/bacenjud2/indexEstatico.jsp; b) no item Minutas do menu principal, escolher a opção Incluir Minuta de Requisição de Informações; c) informar a comarca ou município e a vara/juízo ao qual está vinculado o juiz solicitante e, em seguida, incluir o número do processo e o tipo ou natureza da ação; d) completar com o nome do autor ou exequente da ação (o preenchimento do CPF/CNPJ é facultativo); e) ato contínuo, informar o CPF/CNPJ das pessoas físicas ou jurídicas a serem pesquisadas. Após o preenchimento desse formulário, o próprio sistema efetuará a conferência do número digitado no cadastro da Secretaria da Receita Federal e informará o nome do titular para conferência ou se o número requisitado é inválido ou inexistente. Posteriormente, preenchem-se os campos de objeto da pesquisa, ou seja, saldos, endereços, relação de agências e contas, extratos e pesquisas de relacionamentos encerrados.

32 Entende-se por instituição participante, nos termos do art. 3º, IV, do Regulamento: “aquela que é responsável pelo cumprimento da ordem. São instituições participantes: o Banco do Brasil, os bancos comerciais, os bancos comerciais cooperativos, a Caixa Econômica Federal, os bancos múltiplos cooperativos, os bancos múltiplos com carteira comercial, os bancos comerciais estrangeiros – filiais no País, os bancos de investimentos, os bancos múltiplos sem carteira comercial e outras instituições que vierem a ser incorporadas ao BACEN JUD 2.0, com a expansão do alcance do Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro Nacional (CCS).”

33 Seguindo instruções do Manual do Sistema BACEN JUD, a consulta às respostas à ordem judicial de requisição de informações é realizada pelo número de protocolo da ordem, número do processo judicial ou por Juízo.

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meio eletrônico, uma ordem judicial de bloqueio do montante encontrado, com vistas a possibilitar o resultado positivo de uma futura ordem de penhora. A ordem judicial de bloqueio de valores tem o propósito de bloquear apenas a importância especificada, suficiente para garantir a execução.34

Ocorre que a ordem cronológica anteriormente descrita de medidas procedimentais a serem seguidas pelos magistrados e pelo Banco Central do Brasil, entretanto, não é absoluta e, na maioria das vezes, não é observada.

Assim, a ordem judicial de bloqueio de valores pode ser determinada em momento anterior ao da expedição da ordem judicial de requisição de informações. Essa conduta se deve ao fato, comumente testemunhado, de devedores empregarem numerosos artifícios com o intuito de se furtarem ao cumprimento da prestação, dificultando, sobremaneira, a recomposição do direito lesionado e ofendendo o direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva.

O tempo gasto entre o envio da ordem judicial de requisição de informações e a disponibilidade das respostas provenientes das instituições financeiras é de aproximadamente vinte e quatro horas. Nesse ínterim, o devedor pode tomar conhecimento da expedição da ordem e se antecipar na retirada de eventuais valores subsistentes nas instituições financeiras requisitadas, ou pode, simplesmente, encerrar a conta no banco, obstaculizando, dessa forma, a posterior e efetiva entrega da prestação jurisdicional a quem de direito.

Destarte, o magistrado opta por expedir a ordem judicial de bloqueio antes de tomar conhecimento da real existência de quantias disponíveis. A imediata expedição da ordem de indisponibilidade de valores se faz necessária, como já enfatizado, com vistas a evitar que o devedor tome conhecimento do possível e iminente bloqueio antes mesmo que ele seja efetuado.

Procura-se impedir que o devedor, com a nítida intenção de procrastinar o feito executório, transfira a importância depositada ou aplicada para outra localidade, impedindo, assim, a obtenção de um resultado satisfatório decorrente da ordem de bloqueio judicial.

34 A ordem judicial de bloqueio de valores segue alguns procedimentos empregados para a ordem judicial de requisição de informações, portanto, a inclusão dos réus ou executados ocorre de forma semelhante. Indica-se em campo próprio o valor a ser bloqueado, como também se o bloqueio deve recair em conta específica ou sobre todas as contas existentes nas instituições financeiras, em nome do titular.

Com essa prática, consubstanciada na expedição da ordem de bloqueio anteriormente à requisição de informações, pode-se constatar, em alguns casos, a ocorrência de excesso de bloqueio, ou seja, é possível que a constrição judicial recaia sobre valor superior ao efetivamente necessário a satisfazer a execução.

O Regulamento do BACEN JUD 2.0, por intermédio de seu art. 13, esclarece que as ordens judiciais emitidas por intermédio do sistema possuem como uma de suas finalidades o bloqueio de ativos até o limite das importâncias especificadas, abrangendo os saldos existentes em contas de depósitos à vista (contas correntes), de investimento e de poupança, depósitos a prazo, aplicações financeiras e demais ativos sob a administração e/ou custódia da instituição participante.

Sucede que a ordem de bloqueio, como destacado alhures, pode incidir sobre ativos excedentes. Nesse caso, cabe ao magistrado emitir uma ordem judicial de desbloqueio de valores a ser imediatamente cumprida pelas instituições financeiras. Se o juiz assim não proceder, o bloqueio demasiado dos valores poderá causar graves prejuízos às pessoas físicas ou jurídicas que tiveram suas quantias bloqueadas a maior, na medida em que a constrição judicial impossibilita a realização de qualquer movimentação financeira sobre as mesmas.

A ordem judicial de desbloqueio de valores também deve ser expedida nas situações em que for verificada a efetivação de bloqueio sobre valores considerados impenhoráveis. É certo que o bloqueio de valores tende a assegurar uma posterior ordem judicial de penhora; dessa forma, os bens considerados impenhoráveis pela lei ou por sua própria natureza não estão sujeitos a referidas constrições.

Não sendo o caso de bloqueio de valores excedentes ao necessário a garantir a execução ou não se verificando que ele tenha recaído sobre quantia impenhorável, a próxima medida a ser adotada é a expedição, por meio eletrônico, de ordem judicial de transferência dos valores anteriormente bloqueados.35

Após a elucidação de todas as etapas procedimentais a serem seguidas pelo magistrado com vistas a efetivar o bloqueio de valores existentes em depósitos ou aplicações financeiras e, ainda, verificada a diminuição considerável do tempo empregado para a realização desse

35 Válido é lembrar que no PLS no. 166/2010 – Senado (NCPC), a transferência do montante indisponível para

conta vinculada ao juízo da execução realiza-se somente após a conversão da indisponibilidade em penhora e a lavratura do respectivo termo. (art.810, § 5º).

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propósito, pode-se afirmar que o sistema BACEN JUD é instrumento de fundamental importância para a efetivação do direito à tutela jurisdicional.36

Essa ferramenta confere maior grau de racionalização e eficiência na comunicação entre o Poder Judiciário, o Banco Central do Brasil e as instituições financeiras, facilitando, dessa forma, o envio e cumprimento das ordens judiciais de requisição de informações, de bloqueios, de desbloqueios e de transferências de valores eventualmente bloqueados para conta indicada pelo respectivo juiz emissor da ordem.

Nesse sentido, o BACEN JUD foi criado especificamente com o propósito de atribuir maior celeridade ao trâmite processual, na medida em que reduz significativamente o tempo utilizado para a efetivação da ordem judicial de bloqueio de valores e, por conseguinte, da fase de apreensão de bens do devedor. Depreende-se, portanto, que esse sistema contribui, sobremaneira, para a concretização do direito fundamental à razoável duração do processo.

Não se deve olvidar ainda que o BACEN JUD, igualmente, concorre para a diminuição dos recursos materiais e humanos empregados no envio e cumprimento das ordens judiciais de bloqueio de dinheiro em depósito ou aplicado em instituição financeira, respeitando, dessa maneira, o princípio da economia processual.

Realizadas as considerações a respeito do acesso ao sistema e funcionamento do BACEN JUD, assim como sua essencial importância para a concretização do direito fundamental à razoável duração do processo e, consequentemente, do direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva, urge estudar as duas versões pelas quais percorreu o sistema, com vistas ao seu aprimoramento. É o que se passa a fazer no tópico seguinte.