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Requisição de informações e quebra do sigilo bancário

5.3 A penhora on line e o sigilo bancário

5.3.2 Requisição de informações e quebra do sigilo bancário

A possibilidade de decretação da quebra do sigilo bancário pelos magistrados quando da utilização do sistema BACEN JUD constituiu um dos fundamentos, dentre outros já apontados alhures, que ensejaram a propositura da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 3091-4/600-DF, em 2003.

Alega-se que os juízes estariam desrespeitando o sigilo conservado pelas instituições financeiras, cuja responsabilidade pertence ao Banco Central do Brasil. Haveria no caso uma violação da privacidade do devedor, porquanto, o juiz teria acesso a movimentações financeiras dos executados e aos seus respectivos dados, ao expedir a ordem judicial de bloqueio de valores.40

Ao expor as resistências e objeções à penhora on line, Humberto Theodoro Júnior faz referência ao direito à intimidade: “Outra objeção que se levantou contra o mecanismo da penhora on line, no plano constitucional, seria a violação da garantia da intimidade prevista no art. 5º, X, da CF, a qual incluiria em seu âmbito o sigilo bancário (LC 105/2001)”.41

Antes, porém, de adentrar de maneira mais aprofundada o tema em estudo, urge trazer à tona as diferentes funcionalidades oferecidas pelo sistema BACEN JUD. Como ressaltado em tópicos anteriores, o bloqueio de valores e, portanto, a penhora on line, não constitui a única funcionalidade do BACEN JUD.

O sistema permite requisitar e receber informações sobre a existência de ativos em nome do executado, como também possibilita ao juiz efetuar o bloqueio dos valores e o desbloqueio deles. Demais disso, a penhora on line não se confunde com o sistema BACEN JUD, portanto, partindo-se da premissa de que ela consiste apenas no bloqueio de valores, não há como explicitar qualquer movimentação financeira do devedor.

A penhora on line incide sobre valor específico, suficiente a satisfazer a execução; todavia, caso inexista quantia bastante a realizar esse propósito, o bloqueio recairá sobre o

40 Josiane Martinelli Silva, ao discorrer sobre a penhora on line no âmbito da Justiça do Trabalho, assume ser o instituto um mecanismo que atribui celeridade à execução trabalhista com vistas a satisfazer de maneira mais efetiva o crédito do empregado; no entanto, aduz que “na busca de tornar ágil o processo, alguns princípios estão sendo violados, como o devido processo legal e o sigilo bancário, ambos resguardados pela Constituição Federal”. SILVA, Josiane Martinelli. A penhora on-line no âmbito da Justiça do Trabalho. Consulex: revista jurídica, v. 11, n. 257, set. 2007, p.30.

41 THEODORO JÚNIOR, Humberto. A penhora on line e alguns problemas gerados pela sua prática. Revista de processo, v.34, n.176, p. 11-35, out. 2009, p.22.

valor total existente na conta, não se cogitando na publicidade de qualquer lançamento ou depósito que o titular eventualmente haja realizado.

Além da hipótese anteriormente mencionada, se a penhora on line não for efetivada por ausência de saldo suficiente, o juiz receberá tão somente uma comunicação informando que a requisição judicial de bloqueio não pôde ser concretizada, inexistindo, igualmente nesse caso, qualquer divulgação acerca de eventuais movimentações financeiras por parte do devedor.

Diante dessa rápida, porém necessária digressão, torna-se possível verificar que a questão atinente à quebra do sigilo bancário relaciona- se, na realidade, tão somente com a possibilidade que o magistrado possui de requisitar informações sobre a existência de valores nas contas do executado, não guardando conexão direta com o bloqueio de valores ou com a penhora on line.

Desse modo, com vistas a esclarecer a questão referente à ofensa do sigilo bancário mediante a expedição da ordem judicial de requisição de informações, relevante é trazer a lume a redação estabelecida pelo parágrafo 1º, do art. 655-A do CPC. De acordo com o referido preceptivo legal, “As informações limitar-se-ão à existência ou não de depósito ou aplicação até o valor indicado na execução”.

Para que a penhora de dinheiro em depósito ou em aplicação financeira seja possível, o juiz deverá requisitar informações sobre a existência de ativos financeiros em nome do executado, as quais serão limitadas ao valor da execução.

Infere-se, portanto, do preceito estabelecido pela retromencionada disposição normativa, que a resposta à ordem judicial de requisição de informações restringe-se a comunicar sobre a existência ou não de valores nas contas do executado, ou seja, o juiz se limita a conhecer informações referentes à existência de ativos em nome do executado.

Com efeito, supondo-se, de saída, que o juiz tem acesso apenas às informações concernentes à existência ou não de valores a serem eventualmente bloqueados, falece a alegação de que o sistema BACEN JUD atentaria contra o direito de sigilo bancário.

Sucede que, com a nova versão do sistema BACEN JUD, originada no ano de 2005, aos juízes foi facultada a possibilidade de requisitar, além das informações acerca da

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existência de saldos, informações sobre extratos referentes a contas correntes ou contas de investimento, contas de poupança ou outros investimentos ou ativos.42

Assim, nos casos em que a ordem judicial se referir a informações acerca de extratos e saldos de contas do executado, poder-se-á falar em quebra de sigilo bancário pelo juiz requisitante. Ocorre que, não obstante a possibilidade de quebra do sigilo bancário na hipótese analisada, não seria correto alegar a inconstitucionalidade do sistema BACEN JUD com base nesse fundamento.

Ora, antes da institucionalização do BACEN JUD, em 2001, já se afigurava possível aos juízes requisitarem, por meio de ofícios em papel, informações a respeito da existência de valores depositados em contas do executado ou aplicados em instituições financeiras. Ressalte-se que as ordens judiciais de requisição e as respectivas respostas poderiam se referir, inclusive, a informações relacionadas aos extratos das contas do devedor.

Nesse âmbito, é cabível afirmar que, mesmo em momento anterior à criação da versão 1.0 do BACEN JUD, a quebra do sigilo bancário já era realizada na prática pelos magistrados, por meio do envio de ofícios em papel, quando presente a necessidade de encontrar valores a serem bloqueados, com vistas a garantir uma futura ordem de penhora e a satisfação da execução.

Pelo antigo método de requisição de informações, o juiz requisitante encaminhava ofício, através do correio ou mediante o oficial de justiça, ao Banco Central que, por sua vez, os enviava às instituições financeiras. O tempo decorrido entre o encaminhamento da ordem judicial de requisição de informações a respeito dos saldos e extratos bancários do executado às instituições financeiras e o recebimento das respectivas respostas pelo juiz margeava sessenta dias.

Essa forma de encaminhamento das respostas referente às informações dos extratos das movimentações financeiras do executado foi perpetuada pelo sistema BACEN JUD 2.0. As requisições de extratos serão enviadas em até trinta dias, pelas instituições financeiras participantes, por outro meio diverso do sistema BACEN JUD 2.0, de maneira mais segura e

42 Art. 17 do Regulamento BACEN JUD 2.0: O sistema BACEN JUD 2.0 permite ao Poder Judiciário requisitar endereços e relação de agências/contas, limitados aos 3 (três) endereços mais recentes e a 20 (vinte) pares de agências/contas por instituição participante, bem como as seguintes informações sobre os ativos do atingido que estão sob administração e/ou custódia da instituição: I - saldo bloqueável até o valor indicado na ordem de requisição; II - saldo bloqueável consolidado; e III - extratos, consolidados ou específicos, de contas correntes/contas de investimentos, de contas de poupança e/ou de investimentos e outros ativos.

confidencial, com observância do sigilo bancário.43 Assim, o juiz tem a faculdade de escolher o envio pelo correio ou diretamente por fac símile.44

Nesse lance, desprovida é de fundamento a arguição de inconstitucionalidade do BACEN JUD por ensejar de maneira inidônea a quebra do sigilo bancário.

O modo de envio das informações sobre os extratos do executado já se efetivava pelo correio antes mesmo da institucionalização do sistema45, portanto, não há razão para questionar esse método de encaminhamento de respostas, pois não constitui particularidade do BACEN JUD. Em verdade, o regulamento do BACEN JUD 2.0 contribui para a diminuição do prazo de envio das respostas, na medida em que determinou que elas fossem encaminhadas em até trinta dias.

É relevante salientar, no entanto, que a quebra do sigilo bancário mediante a requisição de extratos pelo magistrado deve ocorrer apenas nos casos em que reste comprovada a real necessidade da medida.

Não é comum aos magistrados requererem informações sobre extratos de movimentações financeiras do executado para fins de instruir as execuções por quantia certa; nesses casos, geralmente, já se afigura bastante a mera informação acerca de saldo de titularidade do devedor, constante em depósito ou aplicado em instituição financeira.

Nesse âmbito, mostra-se inconsistente a asserção de que há violação à intimidade e à vida privada do devedor quando o juiz toma conhecimento acerca da existência de valores pertencentes ao devedor e suficientes para garantir a satisfação do direito de crédito.

Discorda-se aqui do posicionamento de Guilherme Goldshmidt que, ao analisar a quebra do sigilo bancário pelo sistema BACEN JUD na seara da Justiça trabalhista, afirma

43 Art. 17, § 3º, do regulamento do BACEN JUD 2.0.

44 Indira Chelini e Silva Pietoso compartilha do mesmo entendimento de que a faculdade pertencente ao juiz de requisitar extratos de contas de aplicações financeiras não viola o sigilo bancário. Obtempera a autora que “à primeira vista, tal permissão parece ferir o sigilo bancário. Contudo, visando evitar a quebra do sigilo bancário, o regulamento determina que os extratos sejam enviados de forma segura e confidencial, ou seja, somente terá acesso a ele, as pessoas autorizadas, assim como acontece quando as declarações de imposto de renda dos últimos 5 anos são enviadas a um processo”. PIETOSO, Indira Chelini e Silva. Penhora on line: o uso da ferramenta e sua repercussão no mundo jurídico. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2009, p.97-98.

45Ana Cláudia Redecker e Liza Bastos Duarte compartilham do mesmo entendimento: “Segundo informações do Banco Central do Brasil, o sistema BACEN Jud não impacta a quebra de sigilo bancário das pessoas físicas e jurídicas porque já é permitido aos juízes, por força de lei, determinar o bloqueio de ativos financeiros e obter de entidades públicas ou privadas as informações necessárias para instrução de processos, respeitadas as regras constitucionais e processuais vigentes”. REDECKER, Ana Cláudia; DUARTE, Liza Bastos. Penhora on-line: constitucionalidade questionada. Síntese trabalhista, v. 15, n. 173, p. 147-154, nov. 2003, p.151.

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que “a quebra de sigilo bancário sempre foi uma medida de exceção, que o convênio firmado entre o TST e o BACEN pretende tornar uma regra geral, aplicável a processos de execuções trabalhistas, afrontando o bom senso e a razoabilidade”. 46

Trata-se de direito do exequente, tendo em vista que a ele foi conferida a faculdade de apontar bens do patrimônio do executado suscetíveis de constrição judicial, sem que essa indicação constitua afronta ao princípio da menor onerosidade da execução.47

A violação ao direito de privacidade do devedor, pela quebra do sigilo bancário, é verificada somente nos casos em que a coleta de informações, necessárias e suficientes a instruírem o processo de execução, seja utilizada como pretexto para a realização de uma minuciosa análise sobre as movimentações financeiras nas contas do executado.48 Pela redação do parágrafo 1º do art. 655-A, infere-se que as informações deverão ser fornecidas na medida necessária a satisfazer o direito do exequente.

Outrossim, não se deve olvidar ainda o fato de que o direito ao sigilo bancário, fundamentado no direito à privacidade, não pode ter caráter absoluto nem deve ser considerado ilimitado. O sigilo deve ser quebrado nos casos em que restar demonstrada a necessidade de preservar outro valor amparado constitucionalmente e que se sobreleve diante do interesse na conservação do sigilo.49

Ao se deparar com os casos concretos em que seja constatado um aparente conflito entre o direito fundamental à privacidade do devedor e o direito fundamental do credor à

46 GOLDSHMIDT, Guilherme. A penhora on line no direito processual brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p.78.

47 Luiz Guilherme Marinoni, não se descurando da efetividade da tutela jurisdicional, assevera que “é preciso deixar claro que o exeqüente tem o direito de saber se o executado possui dinheiro depositado em instituição financeira, pela mesma razão que possui o direito de saber se o executado é proprietário de bem imóvel ou móvel. Ou seja, tal direito é conseqüência do direito à penhora, que é corolário do direito de crédito e do direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva (art. 5º, XXXV, CF). De modo que a requisição de informações ao Banco Central objetiva apenas permitir a penhora, que é inquestionável direito daquele que tem direito de crédito reconhecido em título executivo, particularmente em sentença condenatória não adimplida, nada tendo a ver com alguma intenção de violar direito à intimidade.” MARINONI, Luiz Guilherme. Penhora on line. Revista

jurídica, Porto Alegre, v. 56, n. 365, p. 45-52, mar. 2008, p.49.

48 Nas palavras de Luciane Amaral Corrêa, “não há necessidade de solicitar um extrato bancário se o que se

pretende saber é se o devedor possui dinheiro em conta-corrente: basta que o julgador indique que pretende conhecer o saldo e se há lançamento de débitos programados, não necessitando de informação acerca de seu conteúdo, o que, desde já, afasta, ao menos em tese, qualquer possibilidade de violação da intimidade”. CORRÊA. Luciane Amaral. O princípio da proporcionalidade e a quebra do sigilo bancário e do sigilo fiscal nos processos de execução. In Ingo Wolfgang Sarlet (Org.). A Constituição concretizada. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2000, p. 208.

49 MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de direito constitucional. Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio Mártires Coelho, Paulo Gustavo Gonet Branco. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p.420.

efetividade da tutela executiva, o magistrado deve se utilizar de um juízo de ponderação com o propósito de alcançar a solução que menos restrinja um direito para que o outro se realize.

É valido ressaltar, no entanto, que o sigilo bancário não pode ser oponível nos casos em que fique manifestado o interesse de atribuir efetividade às decisões do Poder Judiciário, bem como o de salvaguardar os interesses do credor. Assim, o direito à privacidade dos dados bancários do devedor é relativo e não pode inviabilizar a efetivação da tutela jurisdicional, mormente quando se estiver diante de condutas fraudulentas ou atitudes protelatórias por parte do devedor.50

O acesso à justiça é verdadeiramente concretizado com a efetiva entrega da prestação jurisdicional ao titular do direito lesado; para tanto, aquele possui íntima relação com o direito à razoável duração do processo, na medida em que a tutela executiva só alcança efetividade quando se der de forma célere.

O sistema BACEN JUD oferece mecanismos que buscam materializar a celeridade e a efetividade no procedimento de constrição judicial dos bens do devedor e, dessa forma, possibilitar a satisfação do credor com a maior brevidade possível.

Nesse lance, não se afigura razoável considerar inconstitucional um instrumento que restrinja a utilização de meios ardilosos empregados pelo devedor, no intuito de se furtar ao cumprimento de suas obrigações. Mencionados artifícios processuais atentam contra o regular seguimento da execução e prejudicam a realização do direito de crédito já reconhecido por decisão judicial ou consubstanciado em título executivo extrajudicial.51

50 GRASSELLI, Odete. Penhora trabalhista on-line. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p.82. Compartilhando do mesmo entendimento, Anita Caruso apregoa que “no confronto de valores entre proteger dados bancários de devedor executado inadimplente e efetivar direitos tutelados e não efetivados, prevalece o direito do lesionado em seu direito material fundamental e/ou seu direito fundamental à tutela jurisdicional adequada, efetiva e tempestiva, e a seu direito fundamental de ação, tendo em vista o interesse público superior na credibilidade do Poder Judiciário, que é fruto de históricas conquistas democráticas”. PUCHTA, Anita Caruso. Penhora de

dinheiro on-line. Curitiba: Juruá, 2009, p.89.

51 Nesse sentido se manifesta a jurisprudência do TJ do Rio Grande do Sul: “AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO E PENHORA ON LINE. BACEN-JUD. EXCEPCIONALIDADE CONFIGURADA. O bloqueio de contra corrente, com o fim de realizar penhora on line, somente é possível em casos excepcionais. Excepcionalidade configurada na espécie, diante das reiteradas tentativas do devedor de frustrar a execução, criando incidentes injustificados. Hipótese, ademais, em que presentes os requisitos para a aplicação de multa, por ato atentatório à dignidade da justiça. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME”. (Agravo de Instrumento nº 70037057890, Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Pedro Celso Dal Pra, julgado em 19/08/2010, DJ 26/08/2010).

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Insta invocar ainda a LC no. 105, de 10 de janeiro de 2001, apenas para enfatizar a constitucionalidade do sistema BACEN JUD, no que tange à quebra do sigilo bancário e ao direito à intimidade e à vida privada do devedor.

Mencionado preceito legal dispõe sobre o sigilo das operações de instituições financeiras e estabelece, em seu art. 1º, que “as instituições financeiras conservarão sigilo em suas operações ativas e passivas e serviços prestados”. Por sua vez, o parágrafo quarto da referida disposição normativa excepciona o caput, ao determinar que “a quebra de sigilo poderá ser decretada, quando necessária para apuração de ocorrência de qualquer ilícito, em qualquer fase do inquérito ou do processo judicial, e especialmente os seguintes crimes [...]”.

Não obstante retromencionado preceito legal referir-se apenas a instruções em matéria de inquéritos ou processos judiciais criminais, defende-se a ideia de que a interpretação não pode ser restritiva, devendo se estender a outros casos em que estiver presente o interesse público do Estado em concretizar o direito fundamental à tutela executiva. Importa destacar as palavras de André de Luizi Correia acerca do tema:

[...] as hipóteses autorizadoras da quebra do sigilo bancário não são apenas aquelas literalmente previstas na LC 105/2001, porquanto o próprio conceito contemporâneo desse sigilo se assenta na idéia de que os bancos não podem revelar, sem justa causa ou sem que assim exija o interesse público, as informações obtidas em virtude de suas operações e serviços.52

Depreende-se, portanto, que o sigilo bancário é atenuado, por exemplo, nos casos em que o juiz decreta a quebra do sigilo fiscal ao expedir ordem judicial à Receita Federal, requisitando informações a respeito da declaração de renda do devedor.53

Atente-se para o fato de que o sigilo fiscal é amparado pelos mesmos preceitos constitucionais que salvaguardam o sigilo bancário e a informação acerca das declarações de

52 CORREIA, André de Luizi. Em defesa da penhora on line. Revista de processo. v. 30, n.125, jul. 2005, p.140.

(92-152).

53 AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO. PENHORA. REQUISIÇÃO DE CÓPIAS DAS ÚLTIMAS DECLARAÇÕES DE IMPOSTO DE RENDA DA EXECUTADA À SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL PARA FINS DE LOCALIZAÇÃO DE BENS PASSÍVEIS DE PENHORA. POSSIBILIDADE QUANDO, ENVIDADOS DILIGENTES ESFORÇOS DOS CREDORES NO SENTIDO DE LOCALIZAR BENS DA DEVEDORA APTOS À SATISFAÇÃO DE SEU CRÉDITO, ESTES RESTARAM INEXITOSOS. PROVIDÊNCIA QUE ENCONTRA RESPALDO NO PRINCÍPIO DA CELERIDADE DA JUSTIÇA E EFICIÊNCIA DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. EFETIVIDADE DO PROCESSO EXECUTIVO QUE SE SOBREPÕE ÀS ALEGAÇÕES DE OFENSA AO SIGILO FISCAL, QUE NÃO TÊM O CONDÃO DE FRUSTRAR O DIREITO DO CREDOR DE SATISFAZER O SEU CRÉDITO, MORMENTE EM SE TRATANDO DE FEITO EXECUTIVO QUE JÁ TRAMITA HÁ MAIS DE QUATRO ANOS SEM QUE HAJA NOTÍCIA DE GARANTIA DO JUÍZO. AGRAVO CONHECIDO E PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 1859853200680600000, Relator: Francisco de Assis Filgueira Mendes, Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do CE, julgado em 01/09/2010, DJ 07/10/2010).

renda serve para identificar bens penhoráveis do patrimônio do devedor e, portanto, instruir o processo de execução.54

O art. 3º da LC no. 105/2001 prescreve que o Banco Central do Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários e as instituições financeiras devem prestar as informações requisitadas pelo Poder Judiciário, devendo ser preservado o caráter sigiloso e limitado o acesso às partes, as quais não deverão utilizar os dados para fins que não se coadunem com o objeto da lide.

Após a juntada das informações sigilosas aos autos, o juiz deverá determinar que o processo corra em segredo de justiça a fim de resguardar a intimidade do devedor, conforme ordena o art. 155 do CPC. De acordo com o preceituado no inciso I do aludido dispositivo legal, os atos processuais são regidos pelo princípio da publicidade, correndo, entretanto, em segredo de justiça os processos em que o interesse público exigir.55

Deve-se entender por interesse público o interesse social previsto no preceito