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CIBERESPAÇO COMO ESPAÇO PSÍQUICO

5.5 Novas formas de construção do saber

5.5.2 Acessos colaborativos

Quando de seu lançamento, a Wikipédia91 – enciclopédia digital colaborativa – foi alvo de críticas e avaliações reticentes sobre a confiabilidade dos dados oferecidos, principalmente nos meios acadêmicos. Tais reações provavelmente ocorreram pelo fato da sua elaboração prever a livre inclusão de verbetes, por qualquer pessoa interessada em participar da sua construção on-line. Ainda se observam reações dessa natureza, especialmente por parte de pessoas que ainda não utilizaram esse recurso de consulta – disponível em vários idiomas - e que, portanto, desconhecem os meios criados para seu aprimoramento. Entre as formas de filtragem das informações incluídas na Wikipédia, destaca-se a participação de colaboradores voluntários, especialistas em diversas áreas do conhecimento que atuam como moderadores ou “cuidadores” de algum verbete em particular: os voluntários acompanham continuamente as postagens realizadas pelos internautas, zelando pela qualidade das informações em relação ao tema da sua especialidade, e acompanhamento das eventuais invasões por hackers e pichações virtuais. É interessante registrar que, em função das dimensões da base de dados registrados na Wikipédia, esse exército de colaboradores faz um trabalho hercúleo, especializado, e totalmente voluntário.

Com formato e estrutura de funcionamento semelhante, estão disponíveis outras bases de dados derivadas da Wikipédia original, como a Wikicommons, especializada em fotos, vídeos, imagens e documentos sonoros de domínio público, e a Wikinotícias 92, especializada na publicação de notícias e informações sobre diversas áreas do conhecimento.

Outras fontes de consulta de grande popularidade são o Youtube93, voltado ao

compartilhamento de vídeos sobre os mais variados temas; ou ainda o Google Earth e o Google Maps94, sites que utilizam programas de alcance global dedicados à

localização de endereços e mapas, permitindo o traçado de rotas de acesso aos locais pesquisados. Sistema semelhante é utilizado nos equipamentos conhecidos como GPS (do inglês Global Positioning System) utilizados pelos motoristas em trânsito para finalidades semelhantes.

91 Endereços: <www.wikipedia.com>; <www.wikipedia.com.br>; <www.wikipedia.com.pt>; etc. 92 Respectivamente: <http://commons.wikimedia.org/wiki/Main_Page> e

<http://pt.wikinews.org/wiki/P%C3%A1gina_principal> 93 <www.yutube.com>

Estima-se que há cerca de 1 trilhão de sites disponíveis na Internet. Essa imensa quantidade de dados remete a outra questão crucial: a necessidade de se contar com ferramentas eficientes para a busca e filtragem de dados, ou seja, que possibilitem ao internauta não apenas localizar, mas também avaliar a confiabilidade das informações acessadas, discriminando o joio do trigo. A princípio essa função é suprida pelos sites de busca, porém de forma ainda relativamente elementar.

Cientes das limitações, os buscadores (como o Google e o Yahoo) estão pesquisando novas soluções, baseadas em análises semânticas dos dados digitados na consulta feita, além de outros recursos matemáticos sofisticados. Um exemplo foi apresentado no blogspots português Átomo e Meio em 20/05/09 (entre outras fontes no mesmo período), ao informar sobre o estágio atual do Wolfram Alpha95, o sistema

de buscas desenvolvido pelo físico Stephan Wolfram: com objetivo e funcionamento diferentes do Google (que apenas busca na rede endereços de sites associados à palavra chave digitada pelo internauta), o novo sistema fornece respostas às perguntas propostas na consulta: “Depois de feita uma pergunta, o sistema processa as respostas, recolhendo dados de várias páginas e bases de dados contendo unicamente informações relevantes para essa pergunta em concreto”. (ÁTOMO E MEIO, Acesso em 11/06/09). Segundo essa fonte, compreender o conteúdo das páginas e das perguntas do internauta – e não apenas localizar palavras-chave - é apontado por muitos analistas como o futuro da pesquisa na Internet. Tanto o Google como o Yahoo têm cientistas trabalhando nessa área.

Outra reportagem – “Teste de sabedoria” -, publicada no Caderno de Informática da Folha de S. Paulo em 17/06/09, ressalta o interesse dos usuários por esse tipo de serviço virtual. Segundo o texto, o site Answers do Yahoo.com96 é o segundo em número de acessos, depois do Wikipédia, recebendo 177,8 milhões de usuários por mês e computando cerca de 680 milhões de respostas para 100 milhões de perguntas, de teores extremamente variados. Um dado interessante é o fato de o Brasil ser o segundo país que mais usa esse serviço. Em primeiro lugar estão os Estados Unidos. No site as perguntas são enviadas por qualquer pessoa e respondidas voluntariamente pelos internautas, sem receber qualquer tipo de remuneração. (CAPANEMA, 2009)

95 <http://www.wolframalpha.com/>

96

A matéria informa ainda que um serviço semelhante foi oferecido em 2002 pelo Google, incluindo a proposta de remuneração pelas respostas, que variaria de US$ 2,00 a US$ 200,00 dólares. O projeto fracassou e foi desativado em dezembro de 2006. O Asnwers não oferece remuneração pelas respostas, mas mantém um ranking com o cômputo das participações individuais dos colaboradores e avalia as melhores respostas. Segundo Boucinhas, diretor de produtos do Yahoo: “Achamos que o que move o produto é a comunidade, a troca de experiências. Não é o dinheiro”. (BOUCINHAS, apud CAPANEMA, 2009). Essas constatações parecem falar a favor do predomínio – na WEB - do espírito colaborativo sem fins lucrativos do ponto de vista financeiro, ao menos nos grupos compostos por internautas “pessoas comuns” (como na Wikipédia), movidos principalmente pelo prazer em participar das atividades grupais em que o principal objetivo é troca de informações.

O sucesso atual dos Blogs, especialmente os mantidos por jornalistas e pessoas públicas, também indica o entusiasmo dos internautas na participação na comunicação em rede, como uma atitude que supera - ao menos em certas áreas - os objetivos de lucro financeiro imediato.

De acordo com as observações, a digitalização da informação é apenas o recurso, que assume a forma de diferentes ferramentas que, por sua vez, têm diferentes aplicações e tendem a se entrelaçar com as demais mídias existentes, conforme descrição de Levy (LEVY, 2006, p. 269):

O ciberespaço, a Internet e as novas formas de comunicação e de interconexão entre todos os computadores do planeta não se constituem em um meio de comunicação em particular, e, sim, em uma espécie de metameio que está em vias de integração com todos os outros.

Outra forma do uso dos recursos digitais - relativamente discreta, do ponto de vista da sua visibilidade -, é o favorecimento da inclusão social pelas vias informatizadas. Diversas aplicações nessa área estão em andamento, beneficiando especialmente grupos de pessoas portadoras de deficiências motoras ou visuais. Um exemplo é o sistema operacional DOSVOX97 que permite às pessoas cegas utilizar um microcomputador comum (PC) para desempenhar uma série de tarefas, adquirindo assim um nível alto de independência no estudo e no trabalho. Outra iniciativa relevante nessa área é ilustrada pela REDESACI98: um portal (site centralizador de

97 <http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/> 98 <http://saci.org.br/>

informações) que atua como facilitador da comunicação interativa e da difusão de informações sobre deficiência, visando a estimular a inclusão social e digital, a melhoria da qualidade de vida e o exercício da cidadania das pessoas com deficiência.