• Nenhum resultado encontrado

22 Vide Glossário 2.

1.5 Comentários sobre os trabalhos localizados

De modo geral, os estudos realizados por psicólogos se enquadram em duas categorias. Na primeira, incluem-se as pesquisas de caráter empírico: na maioria realizada no exterior, são voltados à observação e análise do comportamento dos internautas frente à WEB e focalizam principalmente a análise dos usos considerados abusivos ou compulsivos. Na segunda categoria enquadram-se estudos de caráter teórico, menos numerosos se comparados à produção das demais vertentes das ciências humanas.

Quanto aos trabalhos de autores junguianos, além de relativamente pouco numerosos, de modo geral correspondem a reflexões e trabalhos teóricos nos quais se apresentam análises pontuais sobre aspectos psicológicos observados na presença humana no mundo virtual. Outra característica observada nesses artigos é o fato de alguns autores apresentarem opiniões valorativas sobre tais processos, em termos bastante pessoais. Alguns deles - como é o caso de Brien (1997) e Bostock (1997, 2003) -, em sucessivas publicações revisam e reformulam posições expressas anteriormente, na medida em que observam e acompanham as transformações da Internet.

Em outros os autores manifestam de forma cautelosa suas posições e conclusões sobre os processos psíquicos verificados na WEB. Alguns, mais entusiasmados, demonstram-se empenhados em defender a validade e pertinência do estudo da Internet (ou da cibercultura) pela Psicologia Analítica e advogam a realização de análises mais amplas sobre o tema por parte de seus pares.

Outra observação, referente aos junguianos mais interessados no estudo dos fenômenos da virtualidade (como Gomes, Bostock e Logeman): observam-se algumas imprecisões na aplicação de conceitos essenciais da abordagem, ao longo de suas análises. Em alguns trechos dos artigos conceitos fundamentais - como arquétipo e

Self, entre outros - são empregados estabelecendo analogias pouco esclarecidas nos

respectivos contextos. É possível que tal fato se deva ao afã dos autores em demonstrar a pertinência e relevância do emprego das ideias junguianas para a compreensão das vivências e comportamentos dos internautas. No entanto, parece necessária uma revisão quanto a essa aplicação, em nome da precisão do seu emprego, bem como visando demonstrar seu efetivo valor heurístico e aplicabilidade na análise dos processos em estudo.

Embora não tenha sido possível localizar as declarações nas quais Hillman possa ter se pronunciado diretamente sobre o tema31, em ao menos dois dos autores citados são feitas alusões às severas restrições que Hillman teria feito às imagens presentes na WEB (Bostock, 2003 e Logeman, 2008). Desse modo, isto é, a julgar pelas posições expressas nas referências às suas ideias, Hillman consideraria as imagens presentes na WEB como praticamente ilegítimas, por serem desprovidas de espontaneidade, e, portanto, não se justificaria seu estudo como expressão da alma humana. Por extensão - de modo generalizado - o estudo das vivências humanas na virtualidade seria um tema pouco interessante para a Psicologia Arquetípica.

Como contraponto à posição atribuída a Hillman, localiza-se em Imagem e

individualidade, de Gaiarsa (2001), outra análise sobre a profusão de imagens

providas ao homem de hoje, pelas diversas mídias, e sua avaliação sobre o conjunto dessas imagens como poderoso fator de estímulo à percepção e à autopercepção do indivíduo enquanto tal, bem como à ampliação de sua consciência. Gaiarsa vai além, estabelecendo um paralelo entre os múltiplos acessos às imagens, característicos da atualidade e a técnica da fantasia ativa, proposta por Jung (GAIARSA, 2001, p. 54):

Em termos de Jung, estamos todos experimentando – sem perceber e sem dar ao ato este nome – a técnica da “fantasia ativa”, semelhante á “visualização” dos indianos. Ao nos colocarmos diante de tantas imagens, ao selecionarmos programas e reportagens, estamos permitindo que nossa atenção seja chamada para esse ou

31 Apenas uma publicação foi localizada, na qual Hillman tangencia o tema da utilização das novas tecnologias, ao criticar o empobrecimento da linguagem atual por força da pressão cultural em direção ao universalismo. Ao enumerar as condições geradoras dessa pressão, a linguagem utilizada pela tecnologia é citada pelo autor como uma, dentre essas pressões. (HILLMAN, 2008)

aquele elemento da cena. Podemos assim encontrar símbolos adequados ao nosso momento

.

Enquanto a psicologia questiona a realidade - e pertinência (ou não) - do estudo das vivências presentes na WEB e sua respectiva análise, cabe lembrar, como referência, uma das declarações de Jung a respeito da chamada “realidade psíquica”:

“Tudo o que eu experimento é psíquico. A própria dor física é uma reprodução psíquica que eu experimento. Todas as percepções de meus sentidos que me impõem um mundo de objetos espaciais e impenetráveis são imagens psíquicas que representam minha experiência imediata, pois somente eles são os objetos imediatos da minha consciência. [...] Tudo o que nos é possível conhecer é constituído de material psíquico. A psique é a entidade real em supremo grau, porque é a única realidade imediata. É nesta realidade, a realidade do psíquico que o psicólogo pode apoiar-se”. (JUNG, 1984, § 680)

Ainda são muitas as questões por formular e pesquisar a respeito desses temas à luz da Psicologia Analítica. A intenção deste trabalho é oferecer uma colaboração e, principalmente, um estímulo nessa direção.

Um dos itens mencionados na revisão - a entrevista conduzida por L. Melander (ROBINSON in MELANDER, 2008) - evidencia outro aspecto fundamental para o estudo da Internet e suas derivações: a importância de se estabelecerem diálogos com profissionais das áreas afins, como, no caso, um especialista nos aspectos técnicos da informática. Isto porque, em parte, o entendimento do funcionamento básico dos equipamentos e softwares acionadores dos processos de comunicação é altamente esclarecedor sobre as funções psicológicas que adquirem para os usuários. Por outro lado, as estruturas básicas e funções originais desses recursos - uma vez assimiladas – por si mesmas permitem ao psicólogo elaborar análises amplificadoras sobre o potencial significado simbólico envolvido na sua concepção, bem como na evolução das respectivas formas da sua utilização.

Visando oferecer ao leitor uma breve introdução a alguns desses aspectos do processo de informatização, o próximo capítulo consiste em um apanhado histórico sobre o surgimento e evolução do computador, propiciando a criação da Internet e sua integração ao cotidiano humano da atualidade. Antes, porém, serão apresentados o objetivo e o método adotado na realização do trabalho.

OBJETIVO

_______________________________________________________________

O objetivo deste estudo é descrever comportamentos e vivências expressas pelos internautas no uso da Internet, buscando compreendê-los com base no referencial teórico oferecido pela Psicologia Analítica.

MÉTODO

_______________________________________________________________

Todo psicoterapeuta não só tem o seu método: ele próprio é esse método. (JUNG, 1985, § 198)