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Capítulo 2 – Estágio em Farmácia Comunitária: Farmácia Moderna

9. Aconselhamento e dispensa de outros produtos de saúde

Tal como salientado anteriormente, a panóplia de produtos disponível na farmácia vai muito para além de medicamentos. Uma das áreas de grande aconselhamento versa a área da dermofarmácia, cosmética e higiene.

9.1. Produtos de dermofarmácia, cosmética e higiene

Segundo o Decreto-Lei n.º 189/2008 de 24 de setembro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 113/2010 de 21 de outubro, produto cosmético é definido como “qualquer substância ou mistura destinada a ser posta em contacto com as diversas partes superficiais do corpo humano, designadamente epiderme, sistemas piloso e capilar, unhas, lábios e órgãos genitais externos, ou com os dentes e as mucosas bucais, com a finalidade de, exclusiva ou principalmente, os limpar, perfumar, modificar o seu aspeto, proteger, manter em bom estado ou de corrigir os odores corporais”(74).

Um aspeto importante acerca destes produtos é a necessidade de não prejudicarem a saúde humana aquando da sua utilização sob condições normais ou razoavelmente previsíveis, sendo

cosméticos presentes no mercado, mesmo quando é da inteira responsabilidade do fabricante, importador ou vendedor o cumprimento da legislação aplicável (74).

Pude constatar durante o estágio que as bastas quantidades de produtos presentes no mercado conduzem à necessidade de aconselhamento, bem como a confiança no farmacêutico e nos produtos vendidos nas farmácias levam a grande maioria das pessoas a dirigir-se a estas para adquiri estes produtos.

Os principais tipos de produtos cosméticos e de higiene corporal disponíveis na FM correspondiam a produtos de rosto e corpo, de higiene oral e íntima e também produtos capilares. Todos os farmacêuticos e colaboradores conheciam as gamas disponíveis e sempre que uma gama era adquirida pela farmácia, era prestada a formação necessária de modo a que os produtos fossem aconselhados com grande segurança e competência. De forma a possibilitar um atendimento mais completo no que toca a estes produtos, no ato de aconselhamento era muitas vezes consultado o mapa de produtos fornecido pelo fabricante, onde facilmente se identificava o produto que mais se adequava ao utente.

Durante o meu estágio por várias vezes prestei este tipo de aconselhamento, de início com ajuda dos colegas da farmácia e progressivamente de forma mais autónoma. Fui sempre sensibilizada para a necessidade de encontrar o produto correto para o utente, tendo para isso de conhecer os produtos existentes na farmácia e o que os diferenciava. A análise cuidada das gamas disponíveis, bem como a consulta de material fornecido pelas marcas e dos seus sítios publicitários na internet permitiram-me compreender a utilidade dos produtos.

9.2. Produtos dietéticos para alimentação especial

Estes produtos são definidos no Decreto-Lei n.º 216/2008 de 11 de novembro, como produtos alimentícios “destinados a uma alimentação especial, sujeitos a processamento ou formulação especial, com vista a satisfazer as necessidades nutricionais dos utentes e o seu consumo deve acontecer sob supervisão médica, destinando -se à alimentação exclusiva ou parcial de pacientes com capacidade limitada, diminuída ou alterada para ingerir, digerir, absorver, metabolizar ou excretar géneros alimentícios correntes ou alguns dos nutrientes neles contidos ou seus metabólicos, ou cujo estado de saúde determina necessidades nutricionais particulares que não géneros alimentícios destinados a uma alimentação especial ou por uma combinação de ambos”(75).

Devido à falta de rotatividade destes produtos, o seu stock na FM era reduzido.

O Despacho n.º 14 319/2005, de 29 de junho, alterado pelo Despacho n.º 4326/2008 de 23 de Janeiro, definiu os erros congénitos do metabolismo e estabeleceu os produtos dietéticos que, com caráter terapêutico, são indicados para satisfazer as necessidades nutricionais destes doentes. Sendo estes erros congénitos do metabolismo do grupo das aminoacidopatias,

acidúrias orgânicas, doenças do ciclo da ureia, défices da β-oxidação dos ácidos gordos, nomeadamente fenilcetonúria, hiperfenilalaninemia, leucinose, homocistinúria, tirosinemias, hiperlisinemia, acidúria argininosuccínica, acidúria propiónica, acidúria metilmalónica, acidúria isovalérica, acidúria 3-hidroxi-3-metilglutárica, acidúria glutárica do Tipo I, citrulinemia, défice em OCT, défice em CPS I, argininemia, e galactosemia (76,77).

Estes produtos são comparticipados na sua totalidade nas farmácias, desde que prescritos no Instituto de Genética Médica Dr. Jacinto de Magalhães, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia, E. P. E., Hospital Central do Funchal, Hospital do Divino Espírito Santo, de Ponta Delgada, Hospital de Santa Maria, E. P. E., Hospital de Santo Espírito, de Angra do Heroísmo, Hospital de S. João, E. P. E, Hospitais da Universidade de Coimbra, Centro Hospitalar de Lisboa Central, E. P. E. e Centro Hospitalar do Porto, E. P. E. (76,77).

O farmacêutico possui um papel preponderante no correto aconselhamento da utilização destes produtos e na referenciação para o médico.

9.3. Produtos dietéticos infantis

O leite materno deve ser exclusivo até aos 6 meses de idade, período após o qual é suplementado com outros complementos. Dentro desta categoria de produtos complementares encontram-se as farinhas lácteas e não lácteas, os boiões de frutas e as sopas (78).

Quando a mãe não pode amamentar o bebé, por exemplo porque tem de voltar ao trabalho, deve promovido o aproveitamento do leite materno através do uso de produtos disponíveis na farmácia como bombas para retirar o leite e sacos/frascos para o conservar.

Quando isto não é possível a substituição não deve ser feita sem indicação médica pois pode prejudicar a amamentação. Presente no Decreto-Lei n.º 217/2008, de 11 de novembro, encontra-se o regime jurídico aplicável às fórmulas para latentes (79). As várias marcas disponíveis dividem estas formulações em categorias nomeadamente as fórmulas: hipoalergénicas (HA), anti regurgitantes (AR), anticólicas (AC), antidiarreicas (AD) e anti obstipação (AO) e as fórmulas especiais (sem glúten ou lactose, por exemplo). São também divididas por idades ou estado de desenvolvimento a que se destinam (sendo muitas vezes classificadas em numeração crescente, para se distinguirem).

O farmacêutico possui a importante tarefa de aconselhar as corretas quantidades bem como a adequada conservação, reconstituição e administração destes produtos dietéticos infantis.

9.4. Fitoterapia e suplementos nutricionais

de problemas gastrointestinais, emagrecimento, cansaço físico e psicológico, ansiedade, insónia, prevenção de estados inflamatórios e infeciosos. Embora no senso comum considerados como inócuos, existe atualmente evidência de toxicidade associada a estes produtos, nomeadamente decorrente do menor controlo a que são sujeitos, mas também da sua utilização sem auxílio de um profissional de saúde, o que muitas vezes está na origem de interações medicamentosas graves.

Os suplementos alimentares, também disponíveis nas farmácias, destinam-se a suplementar ou complementar um regime alimentar normal, onde constituem fontes concentradas de determinadas substâncias (80).

A FM dispõe de algumas linhas destes produtos, sendo estas rigorosamente selecionadas pela DT, tendo por base critérios como a eficácia, segurança e qualidade.

Durante o meu estágio, vários utentes requisitaram este tipo de produtos, tendo eu prestado alguns aconselhamentos acerca dos mesmos, questionando previamente o utente acerca do seu perfil fisiopatológico e farmacoterapêutico, para aconselhar o produto que melhor se adequa às necessidades específicas daquele utente, bem como detetar e adverti-lo das possíveis interações entre estes produtos e a sua medicação habitual.

Como a farmácia dispõe do serviço de consultas de nutrição são mais diminutos os aconselhamentos prestados nas linhas de emagrecimento. O maior aconselhamento farmacêutico versa suplementos para fadiga, cansaço e dificuldades em dormir.

9.5. Produtos de uso veterinário

De acordo com o Decreto-Lei n.º 148/2008, de 29 de julho alterado pelo Decreto-Lei n.º 314/2009 de 28 outubro, medicamento veterinário é "toda a substância ou associação de substâncias, apresentada como possuindo propriedades curativas ou preventivas de doenças em animais ou dos seus sintomas, ou que possa ser utilizada ou administrada no animal com vista a estabelecer um diagnóstico médico-veterinário ou exercendo uma ação farmacológica, imunológica ou metabólica, a restaurar, corrigir ou modificar funções fisiológicas"(81,82). De forma complementar, o Decreto-Lei n.º 237/2009, de 15 de setembro, define produto de uso veterinário como " a substância ou mistura de substâncias, sem indicações terapêuticas ou profiláticas, destinada:

i) Aos animais, para promoção do bem-estar e estado higio-sanitário, coadjuvando ações de tratamento, de profilaxia ou de maneio zootécnico, designadamente o da reprodução;

ii) Ao diagnóstico médico-veterinário;

Estes produtos possuem uma inscrição "Uso Veterinário” em fundo verde, de forma a serem facilmente reconhecidos. A Direção Geral de Veterinária tem, sobre estes produtos, um papel fulcral no seu controlo, farmacovigilância, AIM, alterações e renovações, fabrico, importação, exportação, distribuição, comercialização, rotulagem, informação e publicidade.

Apesar de alguns MUV requererem receita médico-veterinária para a sua dispensa, estes não são comparticipados, sendo o utente obrigado a pagar a totalidade do custo.

Tal como referido anteriormente os MUV encontravam-se armazenados em zonas diferenciadas dos restantes medicamentos quer na zona de atendimento ao público quer no armazém.

Os produtos com mais procura e que, por conseguinte, tive maior contacto durante o estágio foram os desparasitantes ectópicos de uso externo e intestinais, os suplementos vitamínicos, as coleiras antiparasitárias e os contracetivos.

Compreendi que o farmacêutico deve assumir um papel ativo no aconselhamento deste tipo de produtos, esclarecendo quanto à forma adequada de utilização bem como qual a dosagem adequada para o animal. Neste sentido a FM dispõe da subscrição do serviço “Globalvet”, que fornece apoio à dispensa e aconselhamento de medicamentos e outros produtos de uso veterinário 24 horas por dia.

9.6. Dispositivos médicos

Os dispositivos médicos são classificados de acordo com o risco que apresentam e a vulnerabilidade da zona do corpo a que se destinam, bem como de acordo com o processo de fabrico e funcionamento, utilizando para isto as seguintes categorias: classe I (de baixo risco), classe IIa (de médio risco), classe IIb (de médio a baixo risco) e classe III (de alto risco) (65). Os dispositivos médicos que podem estar disponíveis na farmácia comunitária constam no Decreto-Lei n.º 145/2009 de 17 de Junho, sendo que o INFARMED, disponibiliza na sua página

online uma lista de quais os dispositivos médicos que podem estar à venda na farmácia

comunitária (anexo 12) (65).

A FM apresenta uma grande variedade de dispositivos médicos disponíveis, sendo que alguns dos mais solicitados são pensos, compressas, ligaduras, algodão, meias de compressão, testes de gravidez, lancetas e seringas

10.

Outros cuidados de saúde prestados pela Farmácia