• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 2 – Estágio em Farmácia Comunitária: Farmácia Moderna

7. Dispensa

7.1. Dispensa de Medicamentos sujeitos a receita médica

Segundo o estatuto do medicamento, estão sujeitos a receita médica os medicamentos que possam constituir um risco para a saúde do doente, direta ou indiretamente, mesmo quando usados de forma correta, contudo sem vigilância médica. Ou aqueles que quando utilizados com elevada frequência em quantidades consideráveis para fins diferentes daquele a que se destinam ou contenham substâncias, ou preparações à base dessas substâncias, cuja atividade ou reações adversas seja indispensável aprofundar ou ainda quando se destinam a ser administrados por via parentérica (1).

A dispensa de MSRM só pode ser efetuada com a apresentação da respetiva receita médica, podendo esta neste momento surgir sob três formas diferentes, receita eletrónica materializada (anexo 5 e 6), receita manual (anexo 7) e Receita Sem Papel (RSP) (anexo 8). Sedo que a via manual só deverá ser utilizada em casos excecionais como na prescrição ao domicílio, em caso de falência do sistema eletrónico, por profissionais com volume de prescrição igual ou inferior a 40 receitas por mês e noutras situações excecionais de inadaptação comprovada sujeitas a registo e confirmação na respetiva ordem profissional. As regras de prescrição e os modelos de receita são definidas por portaria do Ministério da Saúde (1).

A prescrição de medicamentos feita eletronicamente tem como objetivo aumentar a segurança no processo de prescrição e dispensa, facilitar a comunicação entre profissionais de saúde de diferentes instituições e agilizar os processos de prescrição e de conferência de receituário. Durante o período de estágio assisti ao processo de implementação da receita desmaterializada.

De acordo com a classificação atribuída aos MSRM, estes são prescritos em diferentes tipos de receitas. Sendo assim possível enumerar a receita médica não renovável (anexo 5) utilizada essencialmente em tratamentos de curta e média duração, com validade de um mês a partir da data de prescrição e a receita médica renovável (anexo 6), cuja validade é de seis meses, é composta por um original e duas vias autocopiáveis, mais comum nos tratamentos crónicos. Com a implementação da RSP estes dois tipos de receitas podem surgir na mesma receita, sendo as datas de validade da prescrição atribuídas por medicamento, ou seja, por linha de prescrição. Existindo na mesma prescrição linhas com validade de 30 dias e outras com validade de 6 meses.

Outras substâncias podem ainda ditar a necessidade de uma receita médica especial ou restrita (1).

As receitas médicas especiais são obrigatórias para medicamentos que contenham uma substância classificada como estupefaciente ou psicotrópico, em dose sujeita a receita médica, que possam, em caso de utilização anormal, dar origem a riscos importantes de abuso medicamentoso, criar toxicodependência ou ser utilizados para fins ilegais ou que contenham uma substância que, pela sua novidade ou propriedades, se considere, por precaução que deva ser sujeita a este tipo de controlo mais apertado (1).

A prescrição de medicamentos inclui obrigatoriamente a DCI da substancia ativa, a forma farmacêutica, a dosagem, dimensão da embalagem e a posologia. Contudo, pode também ser incluída a denominação comercial. Podendo ser acompanhado de alguma das possíveis justificações técnicas que impedem a substituição do medicamento prescrito com denominação comercial, ou seja:

Exceção a) Prescrição de medicamento com margem ou índice terapêutico estreito, de acordo com informação prestada pelo INFARMED;

Exceção b) Fundada suspeita, previamente reportada ao INFARMED, de intolerância ou reação adversa a um medicamento com a mesma substância ativa, mas identificado por outra denominação comercial;

Exceção c) Prescrição de medicamento destinado a assegurar a continuidade de um tratamento com duração estimada superior a 28 dias (70).

No que concerne á dispensa de MSRM, o processo exige que sejam seguidos determinados procedimentos, tal como resumido na tabela 5. Sendo que durante o estágio tive a oportunidade de dispensar MSRM por RSP, receita eletrónica materializada, bem como por receita manual.

Tabela 5 - Processo geral de dispensa de MSRM.

7.1.1. Prescrições materializadas

Podem ser prescritos na mesma receita até quatro medicamentos ou produtos de saúde distintos, não podendo o número total de embalagens prescritas ultrapassar o limite de duas por medicamento ou produto de saúde. Com a exceção de quatro embalagens do mesmo medicamento no caso de os medicamentos se apresentarem sob a forma de embalagem unitária (70).

No caso dos MM, a receita não pode conter outros medicamentos e deve apresentar a palavra “Manipulado” e a expressão “f.s.a. e mande” (faça segundo a arte e mande).

O Código Nacional de Prescrição Eletrónica de Medicamentos (CNPEM) que agrupa todos os medicamentos com o mesmo DCI, dosagem, forma farmacêutica e o mesmo número de unidades. Este código é representado nas receitas em dígitos e código de barras, sendo possível ao farmacêutico ler o código e ver quais os produtos que pode dispensar com a prescrição em causa. Aquando da ausência de exceções, o doente pode querer manter a medicação utilizada anteriormente ou não.

Assim, quando contactei com qualquer prescrição materializada, verifiquei a validade e autenticidade, confirmando os todos parâmetros necessários (anexo 9).

Posteriormente efetuei a analise dos medicamentos prescritos tentando entender as patologias apresentadas pelo doente. É um fator importante ter-se conhecimento da idade do doente em causa, para tentar verificar a adequação da prescrição.

Em caso de dúvida (por exemplo, caligrafia do médico nas receitas prescritas manualmente), o farmacêutico deve contactar o médico prescritor.

De acordo com os medicamentos prescritos o doente deve ser informado pelo farmacêutico dos medicamentos disponíveis na farmácia com a mesma substância ativa, forma farmacêutica, apresentação e dosagem do medicamento prescrito, uma vez que o doente tem direito a optar por qualquer medicamento que contenha a mesma DCI, forma farmacêutica e dosagem do medicamento constante da prescrição médica, salvo nos casos em que não haja medicamento genérico, ou o médico tenha optado pela colocação de umas das possíveis exceções na prescrição (1).

Posteriormente, passava a recolha da medicação para ceder ao utente, sendo de extrema importância transmitir as indicações, posologia, modo de administração e conservação, precauções, contraindicações e efeitos secundários quando se justificasse.

No caso da receita materializada eletrónica, a leitura do numero da receita e código de acesso permitem que automaticamente sejam introduzidos os medicamentos possíveis para aquela prescrição, tendo já em conta possíveis exceções, bem como o sistema de comparticipação e despachos, constantes da receita.

No caso de uma receita manual procede-se à leitura ótica dos códigos de barras das embalagens, confirmando-se o preço de cada um, introduz-se a entidade responsável pela comparticipação e exceções ou despachos, quando existirem.

No caso de MM, introduz-se a palavra “MANIPULADO” e o preço é colocado manualmente. Após o processamento informático imprimem-se diretamente no verso da receita, ao abrigo da Portaria nº 24/2014 de 31 de janeiro, os seguintes elementos: o preço total de cada medicamento, o encargo do utente, a comparticipação do Estado, o valor total da receita, a data da dispensa, o código do(s) medicamento(s) em caracteres e em código de barras e a informação do direito de opção do utente, quando aplicável.

O utente tem de assinar a receita independentemente de ter exercido ou não o direito de opção, confirmando simultaneamente os medicamentos dispensados. Quanto à fatura/recibo, é carimbada e rubricada e entregue ao utente.

7.1.2. Receita Sem Papel

No caso da RSP, em linhas de prescrição distintas podem ser prescritos produtos de saúde e medicamentos distintos, sendo que cada linha de prescrição só pode incluir um produto de saúde ou um medicamento (71). Na RSP para além do número da receita, do local de prescrição ou respetivo código, da identificação do médico prescritor, incluindo o número de cédula profissional, do nome e número de utente, entidade financeira responsável e número

de beneficiário, acordo internacional e sigla do país, quando aplicável, a sua validade depende ainda da inclusão de mais elementos (anexo 9).

A farmácia acede à prescrição do utente mediante a apresentação por este, ou pelo seu representante, do cartão de cidadão ou dos respetivos códigos de acesso e dispensa. Nos casos em que o utente exerça o direito de opção, este deverá disponibilizar ao farmacêutico o código de opção que irá atuar como confirmação da sua escolha. A farmácia recebe também a informação de prestação assinada pelos Serviços Centrais de Prescrição e Dispensa por cada linha da prestação, disponibilizada pelo serviço de validação da dispensa. Este dado permite garantir que a informação da prestação não é alterada após a validação. Esta informação deverá ser utilizada posteriormente na faturação eletrónica.

7.1.3. Dispensa de estupefacientes e psicotrópicos

A prescrição de medicamentos contendo uma substância classificada como estupefaciente ou psicotrópica ou a «anfepramona», «benzefetamina», «clobenzorex», «etilanfetamina», «fencanfamina», «fenproporex», «flunitrazepam», «mefenorex», «secbutabarbital», «SPA», «lefetamina», não pode constar de receita eletrónica materializada ou por via manual, onde sejam prescritos outros medicamentos ou produtos de saúde.

Aquando da dispensa de um medicamento estupefaciente ou psicotrópico, o sistema informático apresenta alguns campos adicionais de preenchimento obrigatório, onde constam: o nome e número da ordem do médico prescritor; nome do utente a quem se destina o medicamento e respetiva morada; nome, morada, número de bilhete de identidade ou cartão de cidadão e idade do adquirente.

A receita é copiada frente e verso, sendo que o original é enviado para a respetiva entidade que comparticipa e a cópia é arquivada na farmácia juntamente com os talões emitidos automaticamente pelo sistema informático, durante um prazo de 3 anos.

Estes medicamentos são menos cedidos na farmácia do que os medicamentos em geral, contudo tive a oportunidade de dispensar alguns destes medicamentos como o Palexia® (tapentadol), Ritalina® (metilfenidato) e sistemas transdermicos de Fentanilo.