• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 2 – Estágio em Farmácia Comunitária: Farmácia Moderna

4. Medicamentos e outros produtos de saúde

Os produtos que podem ser fornecidos ao público numa farmácia comunitária constam do ponto 1 do artigo 33º do Decreto-Lei nº 307/2007, de 31 de agosto, alterado pelo Decreto-Lei n.º 171/2012, de 1 de agosto. São estes: medicamentos, substâncias medicamentosas, medicamentos e produtos veterinários, medicamentos e produtos homeopáticos, produtos naturais, dispositivos médicos, suplementos alimentares e produtos de alimentação especial, produtos fitofarmacêuticos, produtos cosméticos e de higiene corporal, artigos de puericultura e produtos de conforto (58). No decorrer do estágio tive a oportunidade de contactar com estes e entender as suas especificidades, bem como a legislação que os rege. Segundo, o Decreto‐Lei n.º 176/2006, de 30 de Agosto, o medicamento é definido como “toda

a substância ou associação de substâncias apresentada como possuindo propriedades curativas ou preventivas de doenças em seres humanos ou dos seus sintomas ou que possa ser utilizada ou administrada no ser humano com vista a estabelecer um diagnóstico médico ou, exercendo uma ação farmacológica, imunológica ou metabólica, a restaurar, corrigir ou modificar funções fisiológicas” (1).

Deste modo outros produtos de origem animal, vegetal, mineral ou sintética, que estão também presentes na farmácia não podem ser considerados medicamentos uma vez que não cumprem todos os requisitos acima citados, como, por exemplo, produtos dietéticos, cosméticos e de higiene corporal.

Contudo a definição de medicamento é muito alargada e importa ainda clarificar algumas definições mais específicas. Como por exemplo conhecer o significado de substância psicotrópica e estupefaciente, uma vez que os medicamentos por elas constituídos estão sujeitos a regras especiais. As substâncias psicotrópicas e estupefacientes exercem o seu efeito no sistema nervoso central, o que se traduz em benefícios terapêuticos num número alargado de patologias, não obstante de conduzirem a dependência e tolerância tanto física como psíquica (63), sendo assim necessário controlo especial, para evitar que sejam utilizadas de forma inapropriada. A distinção entre estas encontra-se legalmente definida no artigo 72º do Decreto-Lei nº 15/93, de 22 janeiro, mais especificamente, consideram-se estupefacientes as substâncias ou preparações compreendidas nas tabelas I-A e III e psicotrópicos as substâncias ou preparações compreendidas nas tabelas II-B, II-C e IV, sendo as tabelas alvo de atualizações periódicas (64).

No ambiente de farmácia comunitária não são apenas dispensados medicamentos industrializados, mas também em menor proporção MM, ou seja, qualquer fórmula magistral ou preparado oficinal produzido e dispensado sob a responsabilidade de um farmacêutico. Sendo que um preparado oficinal corresponde a um MM preparado segundo as indicações compendiais de uma farmacopeia ou de um formulário oficial, destinado a ser dispensado diretamente aos doentes assistidos pela farmácia ao passo que uma fórmula magistral difere do anterior uma vez que é produzido segundo uma receita médica, onde consta a sua fórmula (1).

De entre os produtos disponíveis na farmácia, uma grande fatia corresponde a DM, ou seja, “qualquer instrumento, aparelho, equipamento, software, material ou artigo utilizado

isoladamente ou em combinação, incluindo o software destinado pelo seu fabricante a ser utilizado especificamente para fins de diagnóstico ou terapêuticos e que seja necessário para o bom funcionamento do dispositivo médico, cujo principal efeito pretendido no corpo humano não seja alcançado por meios farmacológicos, imunológicos ou metabólicos, embora a sua função possa ser apoiada por esses meios, destinado pelo fabricante a ser utilizado em seres humanos para fins de:

i) Diagnóstico, prevenção, controlo, tratamento ou atenuação de uma doença; ii) Diagnóstico, controlo, tratamento, atenuação ou compensação de uma lesão

ou de uma deficiência;

iii) Estudo, substituição ou alteração da anatomia ou de um processo fisiológico; iv) Controlo da conceção” (65).

Importa ainda clarificar as definições de medicamento genérico e medicamento de referência. O medicamento genérico é definido no estatuto do medicamento como um medicamento que apresente a mesma composição qualitativa e quantitativa de substâncias ativas, a mesma forma farmacêutica e bioequivalência comprovada com um medicamento de referência, sendo o medicamento de referência o medicamento autorizado com base em documentação completa, ou seja, ensaios farmacêuticos, pré-clínicos e clínicos (1).Uma vez que todos estes produtos de saúde se encontram disponíveis na farmácia comunitária, estas diferentes classificações definem a sua localização tal como foi explicitado anteriormente na organização do armazém.

4.1.

Sistemas de Classificação

Os três sistemas de classificação de medicamentos são: o sistema ATC, a classificação farmacoterapêutica e a classificação por forma farmacêutica.

O sistema de classificação ATC corresponde ao sistema adotado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Prima pela simplicidade, classificando os medicamentos segundo o órgão ou sistema anatómico no qual exercem efeito e pelas suas propriedades químicas, terapêuticas e farmacológicas. Corresponde a um sistema de classificação alfanumérico, em que é atribuída uma letra para o principal grupo anatómico, dois números para o grupo terapêutico, uma letra para o grupo farmacológico, uma letra para o grupo químico e por fim dois números referentes à substância química específica.

Exemplo da classificação de um produto: M – Sistema musculo esquelético

M01 – Produtos anti-inflamatórios e antirreumatismais

M01A - Produtos anti-inflamatórios e antirreumatismais, não esteroides M01AE – Derivados do ácido propiónico,

M01AE01 – Ibuprofeno (66).

Este sistema de classificação é o adotado pelo SIFARMA 2000, sendo inquestionável a sua grande utilidade no dia-a-dia da farmácia.

Outro sistema de classificação é o farmacoterapêutico, que organiza os medicamentos de acordo com as suas finalidades terapêuticas. É o sistema de classificação utilizado, por exemplo, no Índice Nacional Terapêutico e Prontuário Terapêutico, em que os medicamentos estão divididos por grupos como por exemplo o grupo 1 para os medicamentos anti-infeciosos, 2 para o sistema nervoso central, 3 – aparelho cardiovascular, 4 – sangue, 5 – aparelho respiratório, 6- aparelho digestivo, 7- Aparelho geniturinário.

Em Portugal, foi aprovado pelo Despacho n.º 4742/2014, de 21 de março, o sistema de classificação numa tentativa de uniformização entre a classificação ATC da OMS e a

classificação oficial de Portugal, classificação farmacoterapêutica. Através das tabelas presentes neste mesmo decreto-lei onde é estalecida a correspondência com os códigos ATC (67).

Existe ainda um sistema de classificação por forma farmacêutica utilizado na Farmacopeia Portuguesa, dividindo os medicamentos como por exemplo em cápsulas, comprimidos, colírios, entre outros, indicando apenas o estado final em que se apresenta o medicamento. Por último a classificação de mercado, também inserida no SIFARMA 2000, abrangendo produtos que são comercializados pela farmácia, contudo não são contemplados na classificação ATC. A classificação é feita segundo as seguintes categorias: classificação de grande mercado, mercado, categoria e segmento.

Durante o meu estágio contactei com todos os sistemas de classificação acima descritos, através da pesquisa de informação nas fontes que os utilizam, sendo que o que mais utilizei foi sem dúvida a classificação ATC, pela sua presença no sistema informático, permitindo uma grande celeridade a encontrar alternativas para determinados produtos.