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Neste estudo, a frequência de médicos que reportaram casos de opções terapêuticas não satisfeitas pelos medicamentos comercializados com AIM foi de 50%. No entanto, o valor encontrado pode não refletir a frequência real, quer pelas limitações referidas na secção seguinte, quer pelo facto de os médicos com casos a reportar poderem ter maior suscetibilidade de responder ao questionário. De salientar que cerca de 40% dos médicos que reportaram casos tinham mais do que um caso a reportar, chegando a 6 casos reportados pelo

A especialidade mais representada foi a Medicina geral e Familiar com 76 (48,10%) respostas, coerente com o facto de ser a especialidade com maior número de médicos em Portugal, de acordo com dados da ordem dos médicos de 2015 (49).

No que respeita aos medicamentos em falta, o fármaco associado a maior número de casos foi a fenoximetilpenicilina, na forma de preparações sólidas orais. Esta necessidade relaciona-se com a carência de um antibiótico de espectro mais restrito para utilização em amigdalites, particularmente em idade pediátrica. A amigdalite de origem bacteriana é uma das patologias comuns neste grupo, sendo o tratamento de eleição a penicilina, pela sua eficácia, segurança, espetro estreito de ação e não existência de casos documentados de resistência (50). Atualmente, a penicilina só se encontra disponível no mercado Português em preparações injetáveis, que é via invasiva e menos comoda, quando comparada com a via oral. Como esta opção terapêutica se encontra revogada e/ou caducada, a decisão dos médicos passa pela substituição por outro antibiótico do mesmo grupo, disponível em formulações orais. Esta opção terapêutica encontra-se disponível em países como França e Espanha. As formas orais sólidas e líquidas foram as mais frequentes (61%) nos medicamentos em falta, sendo estas as mais utilizadas pela sua comodidade e segurança de administração. No que se refere à frequência com que os médicos se deparam com os casos que reportaram, cerca de 40% referem “mais de uma vez por mês”, o que reforça a pertinência da sua identificação. A solução preferencialmente utilizada, substituir por outro medicamento existente no mercado Português, poderá dever-se à maior facilidade de acesso do utente ao medicamento de substituição comparativamente à importação ou preparação de manipulados. A razão mais frequentemente apresentada, para a não utilização de manipulados foi o facto de não existir uma fórmula oficinal adequada, nem a tradição de prescrição de uma formula magistral. Tendo por base bibliográfica o FGP, e analisando as fórmulas oficinais nele inscritas, concluímos que não existem fórmulas oficinais adequadas para substituir a grande maioria dos medicamentos reportados. Contudo, conclui-se também que em 4 dos casos reportados (suspensão oral de prednisolona, propranolol, metronidazol e trimetroprim) estas fórmulas existem, não tendo sido utilizadas (12).

A maior parte dos casos reportados dizem respeito a opções terapêuticas que já existiram sob a forma industrializada no mercado Português e que neste momento se encontram revogados. Da informação recolhida junto do INFARMED e da Indústria Farmacêutica, concluiu-se que as razões para a revogação da AIM se deveram na maioria dos casos ao desinteresse comercial. O desinteresse comercial dos medicamentos para os titulares de AIM, está muitas vezes relacionado com a não comparticipação pelo SNS desses medicamentos, o que se relaciona com o motivo da não comercialização de algumas especialidades farmacêuticas com autorização válida. Alguns titulares de AIM afirmaram que o medicamento se encontra em

processo de obtenção de comparticipação, como são os casos do midazolam solução bucal, do cetoconazol 200 mg comprimidos e do febuxostate 80 mg comprimidos.

Entre os casos reportados de medicamentos com AIM em Portugal com indisponíveis, verificou-se que 7% estão se encontram atualmente comercializados. Este facto pode ser explicado por determinadas especialidades farmacêuticas terem estado indisponíveis durante algum tempo e só recentemente terem sido de novo comercializadas. Alguns casos que também foram incluídos nesta categoria dizem respeito a medicamentos que sendo utilizados em ambulatório noutros países, em Portugal são atualmente de uso exclusivo hospitalar, como é o caso da ceftriaxona e do carbamizol.

Em relação aos medicamentos que nunca tiveram AIM em Portugal, verificou-se que cerca de 40% apresenta medicamento alternativos com a mesma substância ativa, embora em dosagens ou formas farmacêuticas diferentes das pretendidas ou em alguns casos em associação a outras substâncias ativas.

Dos casos clínicos explicitados pelos médicos para justificar as necessidades reportadas, os mais frequentes referem-se a situações infeciosas, de etiologia bacteriana e parasitológica, sendo o grupo farmacoterapêutico mais frequente o dos medicamentos anti-infeciosos. A escabiose é referida com justificação da necessidade quer de permetrina (7 casos), quer de ivermectina (7 casos). Um dos problemas associados à permectina diz respeito à ausência de uma formulação semissólida cutânea com concentração adequada para a utilização no tratamento da escabiose. Esta opção já existiu, contudo encontra-se revogada, apenas existe permetrina no mercado Português sob a forma de uma solução cutânea em concentração muito inferior, para utilização em pediculoses. Esta opção terapêutica encontra-se disponível tanto em Espanha como na França. Em relação à ivermectina, este principio ativo apenas se encontra aprovado sob outra forma farmacêutica e para outra indicação terapêutica. Encontra-se, contudo, disponível em França. A eficácia bem como a segurança da ivermectina no tratamento da escabiose, encontram-se comprovadas, tal como da permetrina, existindo estudos comparativos entre as duas substâncias que atribuem uma eficácia superior a permetrina (51–53). A suspensão oral de metronidazol (outros 7 casos) também é querida para o tratamento de parasitoses, neste caso a giardíase em idade pediátrica (51). Este medicamento já se encontrou disponível no mercado português, estando neste momento revogado. A solução apresentada pelos médicos é aconselhar os utentes a efetuar a sua aquisição em Espanha, onde este se encontra disponível.

Quanto à análise inferencial, esta demonstrou que o maior número de casos foram reportados por médicos com tempo de serviço na especialidade compreendido entre os 11 e os 20 anos, o que vai ao encontro de um maior conhecimento e experiencias adquiridos durante os anos de serviço. No que concerne às especialidades médicas, a dermatologia e pediatria apresentarem casos reportados em praticamente todos os inquéritos que foram respondidos por médicos

destas especialidades. Este resultado era espectável, uma vez que tradicionalmente são das especialidades mais associadas à prescrição de MM (11).