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2. MUDANÇAS CLIMÁTICAS

2.2 Direito, Políticas Públicas, Mudanças Climáticas e a Poluição Atmosférica

2.2.8 Acordo-Quadro sobre Meio Ambiente do Mercosul

A criação do MERCOSUL iniciou em 1985, é, portanto, o marco inicial do processo político que resultou na criação do Mercado Comum do Sul, pelo qual, Brasil e Argentina iniciaram as “negociações comerciais, no âmbito da Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), com vistas à formação de um mercado regional” (BÜHRING, 2016, p. 120-121).

Assim, o Mercado Comum do Sul teve sua origem a partir da assinatura do Tratado de Assunção, em 26 de março de 1991, pelos países fundadores -signatários – Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, tendo como objetivo fundamental a integração regional da América Latina para acelerar seus processos de desenvolvimento econômico e financeiro, assegurar uma melhoria na qualidade de vida, ainda que indiretamente, das pessoas dessa região.

Também, a Venezuela aderiu ao Bloco em 2012, mas está suspensa, desde dezembro de 2016, por descumprimento de seu Protocolo de Adesão e, desde agosto de 2017, por violação da Cláusula Democrática do Bloco.

Logo, todos os demais países sul-americanos estão vinculados ao MERCOSUL como Estados Associados. A Bolívia, por sua vez, tem o “status” de Estado Associado em processo de adesão.

Observe-se que, para alcançar os objetivos do Tratado de Assunção, os países-parte deverão aproveitar melhor os seus recursos disponíveis, preservar o meio ambiente, melhorar suas interconexões físicas e coordenação de políticas macroeconômicas de complementação de seus diferentes setores, com base nos princípios de flexibilidade, equilíbrio e reciprocidade. Inclusive, os Estados-parte deverão promover conjuntamente o desenvolvimento científico e tecnológico, ampliando a oferta e a qualidade de bens e serviços, a fim de melhorar as condições de vida de seus habitantes (MATTOS, 2002, p. 432).

Ainda, o Protocolo de Ouro Preto, assinado em 17 de dezembro de 1994, estabeleceu a estrutura institucional básica do MERCOSUL e conferiu ao Bloco personalidade jurídica de direito internacional.

73 Por conseguinte, o próprio Tratado de Assunção prevê a estrutura orgânica do Mercosul, delimitando a legitimidade e a competência, compreendendo o Conselho do Mercado Comum e o Grupo do Mercado Comum, na condução política para a tomada de decisões.

Segundo Seitenfus (2003, p. 252):

O Mercosul mantém o sistema de solução de controvérsias definido pelo Protocolo de Brasília (16 de dezembro de 1991). Ele prevê o uso de negociações diretas, de intervenção do Grupo Mercado Comum (através de recomendações) e o recurso ao procedimento arbitral. A arbitragem processar-se-á no âmbito de um Tribunal ad hoc. Admite reclamações por parte de Estados-Partes e também por particulares. [...] Tal quadro menciona ainda a competência do Conselho do Mercado Comum (CMC) para criar reuniões especializadas no âmbito do Mercosul, que desempenham um papel auxiliar ao Grupo Mercado Comum (GMC), no âmbito de competência dos seus Ministérios. O GMC eleva ao CMC os acordos firmados nas Reuniões de Ministros para que sejam aprovados e implementados. Foram criadas, nesta ordem, a Reunião dos Ministros de Economia e Presidentes de Bancos Centrais, a Reunião de Ministros da Educação; a Reunião de Ministros da Justiça; a Reunião de Ministros do Trabalho, da Agricultura, da Culta e da Saúde. Uma série de acordos, ajustados no âmbito da Reunião de Ministros da Justiça do Mercosul, começa a configurar condições objetivas de cooperação jurisdicional entre os Estados-Partes.

Assim, no decorrer do processo de integração, e em grande medida em razão do êxito inicial da integração econômico-comercial, a agenda do MERCOSUL foi paulatinamente ampliada, passando a incluir temas políticos, de direitos humanos, sociais e de cidadania.

Ademais, entre 1992 e 1996, após a negociação da Declaração do Rio, da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), da Agenda 21, da consolidação da Organização Mundial do Comércio (OMC), o tema ambiental e a implementação do desenvolvimento sustentável ganharam enorme destaque. E, na tentativa de reunir os principais pontos desses sistemas normativos, iniciou-se, em 1996, a negociação de um Protocolo Adicional ao Tratado de Assunção sobre Meio Ambiente para consolidar a proteção do meio ambiente no bloco. Infelizmente, as negociações do Protocolo foram difíceis, marcadas por sucessivos impasses e optou–se pela adoção um Acordo-Quadro, em 2001.

Em 22 de junho de 2001, em Assunção, Paraguai, os Estados-partes reuniram-se e celebraram o Acordo-Quadro. Participaram desse Acordo, o Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai, os quais declararam compromissados com as políticas comerciais e ambientais sustentáveis.

Considerando a necessidade urgente na proteção do meio ambiente, com vistas a alcançar a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento econômico e socioambiental, o

74 Brasil aprovou o texto do Acordo-Quadro sobre o Meio Ambiente, assinado em Assunção,

através do Decreto Legislativo nº 333, de 24 de julho de 2003.32

Posteriormente, o Governo Federal brasileiro através do Decreto nº 5.208, de 17 de

setembro de 2004, promulga o Acordo-Quadro sobre o Meio Ambiente do Mercosul33.

Ressalte-se que, o Brasil reconheceu a importância da cooperação entre os Estados- Partes com o objetivo de apoiar, e promover a implementação de seus compromissos internacionais, em matéria ambiental, observando a legislação e as políticas públicas nacionais vigentes.

E, de acordo com os artigos 1º e 2º, do Acordo-Quadro sobre o Meio Ambiente do Mercosul, os Estados-partes reafirmam seu compromisso com os princípios enunciados na Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992, bem como analisarão a possibilidade de instrumentalizar os princípios norteadores.

Dentre as principais ações para alcançar os objetivos deste acordo e implementar as suas disposições, os Estados-Partes deverão orientar-se, inter alía, pelo seguinte:

a) promoção da proteção do meio ambiente e aproveitamento mais eficaz dos recursos disponíveis mediante a coordenação de políticas setoriais, com base nos princípios de gradualidade, flexibilidade e equilíbrio; b) incorporação da componente ambiental nas políticas setoriais e inclusão das considerações ambientais na tomada de decisões que se adotem no âmbito do MERCOSUL, para fortalecimento da integração; c) promoção do desenvolvimento sustentável por meio do apoio recíproco entre os setores ambientais e econômicos, evitando a adoção de medidas que restrinjam ou distorçam de maneira arbitrária ou injustificável a livre circulação de bens e serviços no âmbito do MERCOSUL; d) tratamento prioritário e integral às causas e fontes dos problemas ambientais; e) promoção da efetiva participação da sociedade civil tratamento das questões ambientais; e f) fomento à internalização dos custos ambientais por meio do uso de instrumentos econômicos e regulatórios de gestão.

É importante notar que, dentre os objetivos do Acordo, na busca pelo desenvolvimento sustentável e proteção do meio ambiente, os Estados-Partes deverão trabalhar de forma articulada e conjunta, considerando as dimensões econômica, social e ambiental, em prol da melhor qualidade de vida e do meio ambiente, ecologicamente equilibrado (art. 4º).

Por fim, vale ressaltar que através do Acordo–Quadro sobre o Meio Ambiente do Mercosul (art. 6º), os Estados-Partes deverão aprofundar a análise dos problemas ambientais da

32 Decreto Legislativo nº 333/2003. Aprova o texto do Acordo-Quadro sobre Meio Ambiente, assinado em Assunção, no âmbito do Mercado Comum do Sul - MERCOSUL, em 22 de junho de 2001. Disponível em:

http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/2003/decretolegislativo-333-24-julho-2003-494160-acordo-quadro- 1-pl.html. Acesso em: 23 ago. 2018.

33Decreto nº 5.208, de 17 de setembro de 2004, promulga o Acordo-Quadro sobre o Meio Ambiente do Mercosul.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5208.htm. Acesso em: 23 ago. 2018.

75 sub-região, oportunizando a participação dos organismos nacionais competentes e das organizações da sociedade civil, devendo implementar, entre outras, as seguintes ações:

a) incrementar o intercâmbio de informação sobre leis, regulamentos, procedimentos, políticas e práticas ambientais, assim como seus aspectos sociais, culturais, econômicos e de saúde, em particular aqueles que possam afetar o comércio ou as condições de competividade no âmbito do MERCOSUL; b) incentivar políticas e instrumentos nacionais em matéria ambiental, buscando otimizar a gestão do meio ambiente; c) buscar a harmonização das legislações ambientais, levando em consideração as diferentes realidades ambientais, sociais e econômicas dos países do MERCOSUL; d) identificar fontes de financiamento para o desenvolvimento das capacidades dos Estados Partes, visando a contribuir com a implementação do presente Acordo; e) contribuir para a promoção de condições de trabalho ambientalmente saudáveis e seguras para, no marco de um desenvolvimento sustentável, possibilitar a melhoria da qualidade de vida, o bem-estar social e a geração de emprego; f) contribuir para que os demais foros e instâncias do MERCOSUL considerem adequada e oportunamente os aspectos ambientais pertinentes; g) promover a adoção de políticas, processos produtivos e serviços não degradantes do meio ambiente; h) incentivar a pesquisa científica e o desenvolvimento de tecnologias limpas; i) promover o uso de instrumentos econômicos de apoio á execução das políticas para a promoção do desenvolvimento sustentável e a proteção do meio ambiente; j) estimular a harmonização das diretrizes legais e institucionais com o objetivo de prevenir, controlar e mitigar os impactos ambientais nos Estados Partes, com especial atenção às áreas fronteiras; k) prestar, de forma oportuna, informações sobre desastres e emergências ambientais que possam afetar os demais Estados partes e, quando possível, apoio técnico e operacional; l) promover a educação ambiental formal e não formal e fomentar conhecimentos, hábitos de conduta e a integração de valores orientados às transformações necessárias ao alcance do desenvolvimento sustentável no âmbito do MERCOSUL; m) considerar os aspectos culturais, quando pertinente, nos processos de tomada de decisão em matéria ambiental; e n) desenvolver acordos setoriais, em temas específicos, conforme seja necessário para a consecução do objetivo deste Acordo.

Por conseguinte, verifica-se que a gestão – democrática – com a participação dos organismos internacionais e da sociedade civil, nas ações conjuntas em defesa do meio ambiente e dos recursos naturais, revela um novo olhar em benefício do bem-estar e da busca da qualidade de vida, ainda que indiretamente, das pessoas dessa região.

Nesse contexto, Milaré (2014, p. 1621) afirma:

Mesmo num mundo em processo de “globalização”, o fortalecimento de semelhantes blocos é indispensável para salvar a identidade regional ou sub-regional, as culturas peculiares e os interesses econômicos e políticos específicos, porquanto o ecossistema planetário é também constituído de tantas diferenças. Aliás, a própria natureza faz as coisas diferentes; por conseguinte, tais diferenças são necessárias. Por óbvio, leis e normas jurídicas e administrativas devem estar forçosamente presentes em todo esse processo de desenvolvimento.

É facilmente perceptível as diferenças regionais, nacionais e globais, de ordem econômica, social, cultural e ambiental. Da mesma forma, as questões geográficas e climáticas são extremamente diferentes em vários pontos do mundo, sendo necessário um estudo aprofundado e detalhado de cada Estado ou região, para que sejam adotadas políticas

76 socioambientais comuns a cada região específica, observando-se, outrossim, o conhecimento especializado e uma capacidade técnica e tecnológica para resolver os problemas ambientais e os seus impactos na qualidade de vida das pessoas.

Além disso, no dia 7 de julho de 2004, a República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai, reconheceram a necessidade da proteção - de maneira especial – das pessoas vulneráveis (os setores pobres), que são os mais afetados pela degradação ambiental e os mais prejudicados em casos de emergências ambientais – ao ratificar o Protocolo Adicional ao Acordo-Quadro sobre o Meio Ambiente do Mercosul, em matéria de cooperação e assistência frente a emergências ambientais, adotado pela Decisão 14/04, do Conselho do Mercado Comum (CMC).

Vale frisar que, mais recentemente, no dia 20 de fevereiro de 2013, o Brasil através do Decreto nº 7.940, promulgou o Protocolo Adicional ao Acordo-Quadro sobre Meio Ambiente do MERCOSUL em Matéria de Cooperação e Assistência frente a Emergências Ambientais, considerando a necessidade – urgente – de contar com um instrumento jurídico de cooperação para prevenir, mitigar, responder imediatamente e recuperar em casos de emergências ambientais, em benefício das pessoas mais necessitadas.

De acordo com o artigo 1º, do Protocolo Adicional34, entenderá por:

a) Emergência ambiental: situação resultante de um fenômeno de origem natural ou antrópica que seja susceptível de provocar graves danos ao meio ambiente ou aos ecossistemas e que, por suas características, requeira assistência imediata. b) Ponto Focal: o(s) organismo(s) competente(s) que cada Estado Parte identifique como tal, para intervir em caso de emergências ambientais.

Com isso, o Protocolo estimula os países a cooperarem entre si, com assistência mútua, quando ocorrer uma emergência que tenha consequências efetivas ou potenciais no meio ambiente ou na população.

Pelo que se viu até o presente momento, pode-se notar a preocupação e a necessidade da implantação de políticas públicas socioambientais, voltadas ao bem-estar e a busca pela qualidade de vida das pessoas, inclusive das gerações futuras.

Por outro lado, Pereira e Calgaro (2015, p. 22-23) advertem:

A humanidade moderna não se preocupa com gerações futuras, ela se preocupa com lucros futuros, com mercado especulativo, e se o mercado não tiver mais uma fonte

34 Decreto nº 7.940, de 20 de fevereiro de 2013. Promulga o Protocolo Adicional ao Acordo-Quadro sobre Meio

Ambiente do MERCOSUL em Matéria de Cooperação e Assistência frente a Emergências Ambientais, adotado pela Decisão 14/04 do Conselho do Mercado Comum, em 7 de julho de 2004. Disponível em:

http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/2003/decretolegislativo-333-24-julho-2003-494160-acordo-quadro- 1-pl.html. Acesso em: 23 ago. 2018.

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que viabilize os progressos econômicos, o futuro dos investidores estará condenado e todo o sistema de crescimento econômico que se conhece hoje cairá por terra. Eis aqui o momento em que a humanidade passa a se preocupar com o futuro da natureza, não por ela em si, mas sim pelo que ela representa dentro do mercado. Assim, faz-se necessário reinventar os vínculos do ser humano com o ser humano, reinventando e renovando os vínculos sociais; reinventando e renovando os vínculos com o meio ambiente. É preciso reinventar uma inteligência coletiva, uma visão global e uma sociedade para uma perspectiva ecológica.

Nesse prisma, passa-se a exigir, também, além da implementação e execução de políticas públicas - internacionais e nacionais -, a necessidade de uma nova racionalidade socioambiental, a fim de não apenas prevenir e remediar os riscos ecológicos, mas, sobretudo, possibilitar a realização, a conservação e a implementação de programas de desenvolvimento sociais, que incluem toda a comunidade, especialmente, as populações mais vulneráveis, visando fortalecer os vínculos com o ser humano, assegurando a todos, os direitos fundamentais: do direito a igualdade e do direito humano ao meio ambiente.

Isso implica uma nova ética e uma nova cultura política que irão legitimando os direitos culturais e ambientais dos povos, constituindo novos atores e gerando movimentos sociais pela reapropriação da natureza (LEFF, 2001, p. 64).

Por outro lado, vale destacar que, no mês de novembro de 2018, os Ministros da Saúde do Mercosul e dos Estados associados, assinaram uma declaração, com a finalidade de priorizar e assegurar que os sistemas de saúde se tornem resilientes e os planos nacionais se tornem resilientes a essas mudanças climáticas, de acordo com as recomendações da Organização Pan- Americana da Saúde (OPAS). Pois, a mudança climática foi considerada como “a maior ameaça mundial à saúde do século XXI”. De fato, o clima pode afetar a saúde de várias formas, inclusive por condições meteorológicas extremas e desastres, ondas de calor, contaminação de alimentos e água e aumento de doenças transmitidas por vetores. Logo, os impactos da mudança climática na saúde já estão sendo observados em todas as regiões da América Latina. Bem como, o aumento da temperatura pode provocar insolação, principalmente em idosos, e aumentar a duração das secas e o risco de incêndios florestais. Além disso, nos últimos dois anos, mais de duzentas mil pessoas - na região foram deslocadas - como resultado de incêndios florestais e milhões de dólares foram gastos para reparar danos estruturais. O aumento das temperaturas também amplia o número de tempestades tropicais intensas e inundações que atingem a região, com 335 desastres climáticos que ocorreram entre 2005 e 2014, um avanço de 14% em relação à década anterior. E em 2017, mais de 625 mil pessoas foram afetadas por chuvas intensas no Peru e mais de 270 mortes foram registradas na Colômbia devido a deslizamentos de terra. De maneira análoga, a OPAS está trabalhando para apoiar iniciativas e ações regionais sobre mudança climática e saúde, entre outras medidas, mediante a provisão de

78 criação de capacidades e apoio técnico para sistemas de alerta precoce de múltiplos perigos e na preparação de Planos Nacionais de Adaptação às mudanças climáticas de saúde (ONUBR, 2018).

Consoante a isso, um relatório divulgado pela ONU – Desafios globais, oportunidades globais – demonstrou dados alarmantes: I) em 2002, 40% da população mundial enfrentava escassez de água; II) 90 milhões de hectares de florestas foram destruídos na década de 90; III) a cada ano, 3 milhões de pessoas morrem de doenças causadas pela poluição; IV) a falta de saneamento básico vitima 2,2 milhões de pessoas por ano (MILARÉ, 2014, p. 1609).

Além disso, entre 1750 e 2013, após as grandes ondas de mudanças tecnológicas, o aumento das emissões de dióxido de carbono foi de 280 partes por milhão; de metano, o aumento foi de 700 partes por bilhão para cerca de 1.758 partes por bilhão; e de óxido nitrosos, foi de 270 partes por bilhão para 323 partes por bilhão. Não há dúvida, o aquecimento global causa impactos e danos à saúde humana (WEDY, 2018, p. 27).

Outros dados relevantes, divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), conforme a publicação “World Health Statistics 2018”, que apresenta as mais recentes estatísticas mundiais de saúde, incluindo dados empíricos e estimativas relacionadas à mortalidade, morbidade, fatores de risco, cobertura de serviços de saúde e sistemas de saúde. A nova edição destaca progressos notáveis em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em algumas áreas. No entanto, outras continuam com progresso estagnado e algumas conquistas realizadas pelos países e regiões podem ser facilmente perdidas. E os dados do relatório destacam, entre outros pontos, que menos da metade da população mundial recebe hoje todos os serviços de saúde essenciais. Em 2010, por exemplo, quase 100 milhões de pessoas foram levadas à pobreza extrema por terem que pagar pelos serviços de saúde com dinheiro dos próprios bolsos. Estima-se também, que 13 milhões de pessoas morrem todos os anos antes dos 70 anos por doenças cardiovasculares, doenças respiratórias crônicas, diabetes e câncer – a maioria delas em países de baixa e média renda; e que, em 2016, morreram por dia 15 mil crianças menores de cinco anos (OPAS/OMC BRASIL, 2018).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 2030 e 2050, as mudanças climáticas causarão cerca de 250 mil mortes a mais do que ocorre anualmente, em razão do aumento na incidência de doenças cardíacas ou respiratórias, provenientes das inundações, enchentes, secas, ondas de calor mais frequentes, entre outros fenômenos. Vale lembrar que, os problemas estruturais, como a ausência de saneamento básico e tratamento de água, agravam os desdobramentos das transformações do clima e dos seus impactos sobre a saúde humana, podendo proliferar epidemias de doenças, como as hepatites, infecções intestinais, dengue, zika e chikungunya. Visto que somente a escassez de alimentos provocaria 529 mil mortes de adultos

79 até 2050. Além disso, as mudanças climáticas rebaixariam 100 milhões de pessoas à pobreza extrema até 2030, e essa população, por ter piores condições de vida, estaria mais vulnerável a problemas de saúde. (GLOBO, 2019).

Sobretudo, a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) entendem a mudança do clima como um enorme desafio para a saúde, em particular para os países e populações pobres. Essas organizações têm apoiado e colaborado com os países a identificarem e desenvolverem estratégias de mitigação e adaptação para proteger a saúde frente à mudança do clima.

Também, percebe-se que as mudanças na temperatura global influenciarão a saúde humana, por diversos mecanismos, sendo de fundamental importância a necessidade de políticas públicas e respostas imediatas, a fim de evitar maiores sofrimento e consequências adversas à saúde e a qualidade de vida das pessoas, especialmente, das futuras gerações.

Beck (2016, p. 32) afirma aquilo que prejudica a saúde e destrói a natureza é frequentemente indiscernível à sensibilidade e aos olhos de cada um e, mesmo quando pareça evidente a olhos nus, exigirá, segundo a configuração social, o juízo comprovado de um especialista para sua asserção “objetiva”.

Assim sendo, como podemos observar a partir do estudo dos diversos tratados existentes em matéria de Direito Internacional do Meio Ambiente, a cooperação internacional