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Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano (1972)

2. MUDANÇAS CLIMÁTICAS

2.2 Direito, Políticas Públicas, Mudanças Climáticas e a Poluição Atmosférica

2.2.1 Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano (1972)

A consciência ambiental surgiu nos anos 60, com a Primavera Silenciosa9 de Rachel

Carson, e se expandiu nos anos 70, depois da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. Consequentemente, naquele momento é que foram assinalados os limites da racionalidade econômica e os desafios da degradação ambiental ao projeto civilizatório da modernidade (LEFF, 2001, p. 16).

Assim, um grupo de notáveis implementou um projeto que deu origem à célebre obra “Os limites do desenvolvimento”, de 1972, a qual nasceu no “Massachusetts Institute of Tecnology” (MIT), no âmbito da “System Dynamics Group” da “Sloan School of Management” e foi encomendado pelo chamado Clube de Roma.

Assim, a comissão chefiada por Nonella Meadows apresentou o denominado Relatório Meadows, apontando para o fato de que a atividade humana se desenvolve muito mais rapidamente que a capacidade da Terra para produzir os seus recursos, o que levaria, um determinado espaço de tempo, ao colapso. A solução para esse impasse seria diminuir a aceleração do desenvolvimento (GRANZIERA, 2011, p. 35).

Surge, desse modo, a preocupação com a implementação de normas jurídicas específicas com o propósito de proteção ao meio ambiente, fazendo-se necessário, para tanto, a cooperação internacional entre os países.

9 O livro Silent Spring (Primavera Silenciosa) mostrava como o pesticida DDT penetrava na cadeia alimentar e se

acumulava nos tecidos gordurosos dos animais e até mesmo do homem, o que poderia causar câncer e dano genético. O livro era provocativo, pois, além de expor os riscos do DDT, questionava a confiança desmedida da sociedade no progresso tecnológico. Quando publicado, provocou alarme e indignação, tanto dos leitores americanos, como da indústria de pesticidas, fazendo com que inclusive a sanidade da autora fosse questionada. Contudo, após investigações sobre o caso, foram emitidos relatórios favoráveis à autora e ao livro, o que levou o governo americano a supervisionar o uso do DDT até a data em que este foi finalmente banido. Tal livro permitiu uma maior conscientização da humanidade de que a natureza é vulnerável à toda forma de intervenção humana. Pela primeira vez, sentiu-se a necessidade de regulamentação da produção industrial de modo a proteger o meio ambiente. (Silent Spring, Boston, Houghton Mifflin, 1962).

41 Então, em 5 de junho de 1972, na cidade de Estocolmo, na Suécia, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, também conhecida como Conferência de Estocolmo, sendo considerada o marco de tematização da problemática ambiental no âmbito internacional, da qual resultaram diversas questões socioambientais que continuam a influenciar e a motivar as relações entres os diversos países, reconhecendo a proteção e a melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Conforme Soares (2003, p 45), esta conferência marcou todo o desenvolvimento posterior do direito internacional do meio ambiente.

As consequências diretas e os frutos da realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em 1972, foram incalculáveis, tanto do ponto de vista das relações internacionais, quanto de seu reflexo direto nos ordenamentos internos dos Estados. O número de tratados e convenções multilaterais adotados a partir de 1972 cresceu numa velocidade até então inexistente na história da humanidade, sendo que os mesmos passaram a versar sobre temas cada vez mais técnicos, e agora negociados sob a égide de um órgão altamente especializado da ONU, o PNUMA.

Dentre os principais objetivos da Conferência de Estocolmo, foi a aprovação de 26 princípios, voltados a proteção do meio ambiente e na busca do desenvolvimento sustentável, constituindo-se uma das mais importantes fontes do Direito Ambiental Internacional, na luta contra a poluição e ao combate da pobreza.

Entre os 26 princípios contidos na Declaração de Estocolmo10, destacam-se:

Princípio 1 - O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, tendo a solene obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras. A este respeito, as políticas que promovem ou perpetuam o apartheid, a segregação racial, a discriminação, a opressão colonial e outras formas de opressão e de dominação estrangeira são condenadas e devem ser eliminadas. Princípio 2 - Os recursos naturais da terra incluídos o ar, a água, a terra, a flora e a fauna e especialmente amostras representativas dos ecossistemas naturais devem ser preservados em benefício das gerações presentes e futuras, mediante uma cuidadosa planificação ou ordenamento. [...] Princípios 4 - O homem tem a responsabilidade especial de preservar e administrar judiciosamente o patrimônio da flora e da fauna silvestres e seu habitat, que se encontram atualmente, em grave perigo, devido a uma combinação de fatores adversos. Consequentemente, ao planificar o desenvolvimento econômico deve-se atribuir importância à conservação da natureza, incluídas a flora e a fauna silvestres. Princípio 5 - Os recursos não renováveis da terra devem empregar-se de forma que se evite o perigo de seu futuro esgotamento e se assegure que toda a humanidade compartilhe dos benefícios de sua utilização. [...] Princípio 8 O desenvolvimento econômico e social é indispensável para assegurar ao homem um ambiente de vida e trabalho favorável e para criar na terra as condições necessárias de melhoria da qualidade de vida. Princípio 9 - As deficiências do meio ambiente originárias das

10 Declaração de Estocolmo sobre o Ambiente Humano 1972. Disponível em:

http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Meio-Ambiente/declaracao-de-estocolmo-sobre-o-ambiente- humano.html. Acesso em: 19 ago. 2018.

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condições de subdesenvolvimento e os desastres naturais colocam graves problemas. A melhor maneira de saná-los está no desenvolvimento acelerado, mediante a transferência de quantidades consideráveis de assistência financeira e tecnológica que complementem os esforços internos dos países em desenvolvimento e a ajuda oportuna que possam requerer. [...] Princípio 11 - As políticas ambientais de todos os Estados deveriam estar encaminhadas par aumentar o potencial de crescimento atual ou futuro dos países em desenvolvimento e não deveriam restringir esse potencial nem colocar obstáculos à conquista de melhores condições de vida para todos. Os Estados e as organizações internacionais deveriam tomar disposições pertinentes, com vistas a chegar a um acordo, para se poder enfrentar as consequências econômicas que poderiam resultar da aplicação de medidas ambientais, nos planos nacional e internacional. [...]

É de grande importância atentar-se para o “Princípio 1” dessa Declaração, pois esse princípio foi adotado por diversos países, inclusive pelo Brasil. E, de acordo com o art. 225, caput, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Outrossim, o Princípio 8, associa o desenvolvimento econômico e social à melhoria da qualidade de vida. O combate à pobreza, como forma de lutar contra os danos ambientais, tema enfatizado pelo Relatório de Brundtland, foi ratificado pelo Princípio 9. Além disso, o Princípio 19, assegura ser indispensável o direito a educação ambiental, em todos os níveis, em benefício tanto das gerações jovens quanto as adultas, com a devida atenção às populações menos privilegiadas, para assentar as bases de uma opinião pública bem informada e de uma conduta responsável por parte de todos os cidadãos, das empresas e das comunidades, inspirada na proteção do meio ambiente humano (GRANZIERA, 2011, p. 36-38).

Nesse viés, em 1987, a presidente da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (WCED), apresentou na Organização das Nações Unidas o Relatório “Nosso Futuro Comum”, o chamado “Relatório de Brundtland”, descrevendo sobre a necessidade de uma nova era de crescimento – um crescimento vigoroso, ao mesmo tempo social e ambientalmente sustentável.

Segundo Sarlet e Fensterseifer (2014, p. 90):

O conceito de desenvolvimento sustentável foi cunhado no âmbito da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas, designadamente por meio do Relatório Nosso Futuro Comum (1987, veiculando a noção de que o desenvolvimento sustentável seria “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades”. Incorporando o conceito adotado pela Comissão Brundtland, o Princípio 4, da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, veio a estabelecer que “a fim de alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção do ambiente deverá constituir-se como parte integrante do processo de desenvolvimento e não poderá ser considerada de forma isolada”.

43 Conforme já mencionado anteriormente, outro tema abordado, foi a preocupação com a pobreza, referida constantemente no Relatório, que a recupera como uma das principais causas e um dos principais efeitos dos problemas ambientais do mundo. Atribui-se à própria pobreza, contudo, grande parte das causas da degradação. E, pergunta-se: Por que não considerar, em uma inversão de perspectiva, que a pobreza e a degradação ambiental são reflexos de uma obsessão desenvolvimentista? (SILVEIRA, 2016, p. 144).

Outro aspecto de destaque é a correção realizada pelo marco entre mudanças climáticas e desastres, determinando como meio de mitigação desses a adequada gestão e a regulação de políticas relacionadas ao clima.

Segundo Wedy (2018, p.31):

O direito fundamental ao desenvolvimento sustentável no Brasil está relacionado diretamente com a observância e a execução da Política Nacional da Mudança do Clima. Portanto, é preciso verificar os mecanismos jurídicos que permitam a limitação das emissões dos gases de efeito estufa, a promoção de energia limpa, o combate ao desmatamento das florestas e, também, as medidas anticatástrofe calcadas no princípio da precaução. Adaptação e resiliência são necessárias para enfrentar o aumento das temperaturas e as suas consequências nefastas nos aspectos social, ambiental e econômico.

Faz-se necessário integrar às políticas públicas ações do governo e atuação eficiente de outras instituições econômicas e sociais, para o múltiplo e complexo desafio da implementação do desenvolvimento sustentável, com o intuito de combater o aquecimento global.

Essa reflexão é relevante na medida em que recebem atenção o crescimento e a perspectiva de respeito aos direitos humanos fundamentais; notadamente o direito à dignidade

da pessoa humana11, como elemento para balizar as decisões de cunho político e normativo no

regime multilateral.

Sarlet e Fensterseifer (2011, p. 37), enfatizam:

Tal marco jurídico internacional de proteção do ambiente resultou consolidado, vinte anos após a Declaração de Estocolmo, em 1992, quando da Conferência das Nações Unidas (ECO-92), onde resultou proclamada a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que consigna, no seu Princípio 1º, que “os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento sustentável. Tem direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com a Natureza”. Mais recentemente, a Declaração e Programa de Ação de Viena, promulgada no âmbito da 2ª Conferência Mundial sobre Direitos Humanos (1993), também conferiu, no seu art. 11, destaque especial ao direito ao desenvolvimento, considerando que o mesmo deve ser realizado de modo a satisfazer as “necessidades ambientais e desenvolvimento das

11 A dignidade da pessoa humana é um direito inerente ao ser humano, é qualidade integrante e irrenunciável da

própria condição humana, não pode e não deve ser retirada, criada ou concedida, pois é intrínseco, é atributo, é o esteio do Estado Democrático de Direito, é condição da democracia. BÜRING, Marcia Andrea. Dignidade – dimensão ecológica e deslocados ambientais. In: ZAVASCKI, Liane Tabarelli; BÜHRING, Marcia Andrea; JOBIM, Marco Félix. (Orgs.). Diálogos constitucionais de Direito Público e Privado. N. 2. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013, p. 146.

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gerações presentes e futuras”. Desta forma, o direito ao ambiente tomou acento de forma definitiva também no Direito Internacional dos Direitos Humanos, em razão da sua essencialidade à dignidade da pessoa humana, pilar de todo o sistema internacional de proteção dos direitos humanos.

E, de acordo com o posicionamento de Mazzuoli (2004, p. 105), a Conferência de Estocolmo, serviu como um paradigma e referencial ético para toda a comunidade internacional, no que tange à proteção internacional do meio ambiente como um direito humano

fundamental.12

Da mesma forma, a proteção do meio ambiente e o fenômeno desenvolvimentista passaram a fazer parte de um objetivo comum, pressupondo a convergência de objetivos das políticas públicas de desenvolvimento econômico, social, cultural e de proteção ambiental.

Assim, a Era das mudanças climáticas é o tempo do direito fundamental ao desenvolvimento sustentável, que também é um dever que vincula entes públicos – inclusive de direito internacional – e particulares (WEDY, 2018, p. 359).

Por sua vez, Sachs (2002, p. 60) aponta sete pressupostos de sustentabilidade e seus respectivos critérios de consecução:

1. A sustentabilidade social envolve (i) um patamar razoável de homogeneidade social; (ii) uma distribuição de renda justa; (iii) emprego pleno ou emprego autônomo com qualidade de vida decente; (iv) igualdade no acesso aos recursos e serviços sociais. 2. A sustentabilidade cultural contempla (i) mudanças no interior da continuidade, ou seja, equilíbrio entre respeito à tradição e inovação; (ii) autonomia para elaboração de um projeto nacional integrado e endógeno, em oposição às cópias servis de modelos alienígenas; (iii) autoconfiança combinada com abertura para o mundo. 3. A sustentabilidade territorial requer: (i) configurações urbanas e rurais balanceadas, eliminando inclinações urbanas nas alocações do investimento público; (ii) melhoria do ambiente urbano; (iii) superação das disparidades inter-regionais; (iv) estratégias de desenvolvimento ambientalmente seguras para áreas ecologicamente frágeis (conservação da biodiversidade pelo ecodesenvolvimento. 4. A sustentabilidade econômica exige: (i) desenvolvimento econômico intersetorial equilibrado; (ii) segurança alimentar; (iii)capacidade de mobilização contínua dos instrumentos de proteção e de um razoável nível de autonomia na pesquisa científica e tecnológica; (iv) inserção soberana na economia internacional. 5. A sustentabilidade política nacional depende (i) da democracia definida em termos de apropriação universal dos direitos humanos; (ii) do desenvolvimento da capacidade do Estado para implementar o projeto nacional, em parceria com todos os empreendedores; (iii) de um nível razoável de coesão social. 6. A sustentabilidade política internacional seria resultado: (i) da eficácia do sistema de prevenção de guerras da ONU, garantia da paz e cooperação internacional; (ii) de um pacote norte-sul de ecodesenvolvimento, baseado no princípio da igualdade; (iii) do controle institucional efetivo do sistema internacional financeiro e de negócios; (iv) do controle institucional efetivo da aplicação do princípio da precaução na gestão do meio ambiente e dos recursos naturais, prevenção das mudanças globais negativas, proteção da diversidade biológica e cultural, gestão do patrimônio global como herança comum da

12 É no princípio da dignidade humana que a ordem jurídica encontra os seus próprios sentidos. Este é o ponto de

partida e de chegada da hermenêutica constitucional contemporânea. Consagra-se, assim, a dignidade humana como verdadeiro superprincipio a orientar tanto o Direito Internacional como o Direito Interno. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e teoria da constituição. 7. ed. Coimbra: Almedina, 2003, p. 416- 417.

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humanidade; (v) de um sistema efetivo de cooperação científica e tecnológica internacional e eliminação parcial do caráter de commodity da ciência e tecnologia, também como propriedade da herança comum da humanidade. 7. Por fim, a sustentabilidade ecológica, em um sentido estrito, refere-se: (i) à preservação do potencial do capital natureza na sua produção de recursos renováveis; (ii) à limitação no uso dos recursos não renováveis.

Então, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, tal como são expressos nessas várias acepções, muitas vezes não envolvem conceitos analíticos, mas noções operacionais, objetivos e metas para serem alcançados (ROCHA, 2011, p. 22).

Certamente, a compreensão do instituto reclama a sua contextualização histórica. Isso porque sabemos que o liberalismo tornou-se um sistema inoperante diante do fenômeno da revolução das massas (FIORILLO, 2011, p. 83).

Nessa perspectiva, Freitas (2011, p.53-70) defende que a sustentabilidade é pluridimensional. Destaca-se a dimensão ética da sustentabilidade, no sentido de que todos os seres possuem uma ligação intersubjetiva e natural, de onde segue a empática solidariedade como dever-prazer universalizável.

Por isso, sustentável ou não, o futuro será marcado por riscos gradativamente maiores, associados às novas tecnologias e à crescente complexidade dos empreendimentos humanos. É também indubitável que o número, a dimensão e a frequência de catástrofes naturais, provocadas pelo homem, tornam-se progressivamente mais significativos. (SILVEIRA, 2014, p. 148).

Derani (2001, p. 140) afirma que uma política ambiental vinculada a uma política econômica, assentada nos pressupostos do desenvolvimento sustentável, é essencialmente uma estratégia de risco destinada a minimizar a tensão potencial entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade ecológica.

Nesse contexto, Leff (2001, p. 85):

Toda formação social e todo o tipo de desenvolvimento estão fundados num sistema de valores, em princípios que orientam as formas de apropriação social e transformação da natureza. A racionalidade ambiental incorpora assim as bases do equilíbrio ecológico como norma do sistema econômico e condição de um desenvolvimento sustentável; da mesma forma se funda em princípios éticos (respeito e harmonia com a natureza) e valores políticos (democracia participativa e equidade social) que constituem novos fins do desenvolvimento e se entrelaçam como normas morais nos fundamentos materiais de uma racionalidade ambiental. Deste modo, a racionalidade ambiental se funda numa nova ética que se manifesta em comportamentos humanos em harmonia com a natureza; em princípios de uma vida democrática e em valores culturais que dão sentido à existência humana.

Inquestionavelmente, os impactos das mudanças globais - ambientais – na ordem econômica e social do mundo, ameaçam a todos, razão pela qual devemos preservar e valorizar

46 os recursos naturais, a diversidade étnica e cultural da espécie humana, para manter o equilíbrio ecológico do planeta, e para obtenção de um desenvolvimento sustentável.

Por isso, delimita-se o princípio do desenvolvimento sustentável como o desenvolvimento que atenda às necessidades do presente, sem comprometer as gerações futuras, vinculados a uma ordem econômica e uma racionalidade social também globais, penetrando nas políticas públicas em nível nacional e nas economias regionais.

Importante ressaltar, as conclusões de Sarlet e Fensterseifer (2014, p. 90-91):

Até por uma questão de justiça entre gerações humanas, a geração presente teria a responsabilidade de deixar como legado às gerações futuras condições ambientais idênticas ou melhores do que aquelas recebidas das gerações passadas, estando a geração vivente, portando, vedada a alterar em termos negativos as condições ecológicas, até por força do princípio da proibição de retrocesso ambiental1314e do dever (do Estado e particulares) de melhoria progressiva da qualidade ambiental.

Assim sendo, temos que pensar a médio e longo prazo e desenvolver estratégias, necessárias a implementação de políticas públicas atuais que não afetem a vida dos que ainda não nasceram, pensando no bem-estar e na qualidade de vida das presentes e das gerações futuras.

13 O princípio de proibição da retrogradação socioambiental é o sintagma proposicional de todos os demais

princípios do direito ambiental. Portanto, as palavras empregadas para caracterizá-lo não devem conformar atos de poder, mas sim atos de cooperação e solidariedade do ser humano no “lugar de encontro” em que está inserido. Convertido em palavras, o princípio de proibição da retrogradação se revela como a extensão perceptual (vale dizer, relaciona-se com a experiência sensorial imediata) do objeto que conota; contudo, observe-se que, como palavras: o princípio de proibição da retrogradação socioambiental, não expressa um sentido estrito (sobre o objeto delimitado), nós é que o expressamos por via de nossa conduta, valendo afirmar ainda, que é só através da conduta que interpretamos. Por isso é que denominamos linguagem como ação (ação comprometida). Aí assume importância a dignidade do humano que é mais restrita que a noção de dignidade da pessoa humana. In: MOLINARO, Carlos Alberto. Direito ambiental: proibição de retrocesso. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 100.

14 Em linhas gerais, é possível afirmar que a humanidade caminha na perspectiva de ampliação da salvaguarda da

dignidade da pessoa humana conformando a ideia de um “patrimônio político-jurídico”, consolidado ao longo do seu percurso histórico-civilizatório, para aquém do quel não se deve retroceder. Em termos gerais, essa é a ideia consubstanciada na assim designada garantia (princípio) constitucional da proibição de retrocesso. A proibição de retrocesso ambiental, da mesma forma como ocorre com a proibição de retrocesso social, está, por sua vez, relacionada ao princípio da segurança jurídica e dos seus respectivos desdobramentos (princípio da proteção da confiança e as garantias constitucionais do direito adquirido, do ato jurídico perfeito e da coisa julgada), bem como guarda conexão com os limites materiais à reforma constitucional, considerando que tais institutos também objetivam a tutela de direitos e bens de matriz constitucional em face de atos e/ou medidas de caráter retroativo ou que venham, de algum modo, a afetar situações e posições jurídicas. [...] A proibição do retrocesso, de acordo com o entendimento consolidado na doutrina, consiste em um princípio constitucional implícito, tendo como