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Acordos marco setoriais ou globais (international framework

5. A NEGOCIAÇÃO COLETIVA E OS INSTRUMENTOS COLETIVOS

5.1. Em prol da negociação coletiva internacional

5.1.5. Acordos marco setoriais ou globais (international framework

Muitos dos maiores empregadores mundiais são, evidentemente, multinacionais e a maior parte dos sindicatos do mundo são, hoje, filiados a entidades setoriais, como é o caso das federações sindicais internacionais (global union federations). É natural imaginar que ambos os pólos das relações industriais tenham tomado iniciativas para entabular, entre eles, acordos setoriais.

A despeito de muitas multinacionais possuírem, hoje, um código de conduta prevendo, ainda que em senso genérico, obrigações atinentes a relações sociais, os acordos marcos setoriais são importantes porque não só rechaçam várias incongruências próprias dos códigos de conduta, mas como, sendo bilaterais no mínimo, podem ser implementados e monitorados108 pelas federações sindicais internacionais.

Enquanto os códigos de conduta são, normalmente, escritos pela própria empresa, seu implemento e monitoramento ficam a cargo de consultores ou agentes sociais pagos pela empresa, cujo trabalho é de difícil acompanhamento. Os acordos marco setoriais, a seu turno, apresentam a possibilidade de as federações sindicais internacionais signatárias levarem, à direção da multinacional, qualquer questão relativa aos acordos, mormente no que tange ao inadimplemento de cláusulas ou normas. Com a participação das federações sindicais internacionais na feitura dos instrumentos, normalmente são previstas reuniões periódicas109 para tratar da implementação e do monitoramento do que, nos acordos, é normatizado.

O surgimento dos acordos marco setoriais revela um novo estágio do desenvolvimento, como disciplina autônoma, do Direito Coletivo do Trabalho. Em um primeiro momento, contemplava, conforme os respectivos sistemas normativos nacionais, os trabalhadores organizados dentro dos limites territoriais estatais e, já há algumas décadas, entidades e organizações sindicais que atuam nas esferas supranacional e internacional. Eis o porquê natural de serem viáveis os acordos marco setoriais ou

108 GRAHAM, Ian; BIBBY, Andrew. Global Labour Agreements: A Framework for Rights. The World of

Work: The Magazine of the ILO. Geneva: International Labour Office, nº 45, dezembro: 4-7, 2002, p. 4.

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“convenções-marco”110, como instrumentos jurídicos de direito privado, para abranger as unidades produtivas das multinacionais em diversos países e por meio dos quais se comprometem a respeitar algumas normas mínimas.

De um lado dos acordos, normalmente constam as federações sindicais internacionais acompanhadas de sindicatos representativos dos países sede ou de onde se instalam as empresas multinacionais. De outro lado, a direção e a gerência principal da empresa multinacional. O âmbito territorial de aplicação dos acordos é o global, em todas as operações internacionais da companhia e, de preferência, também, para todos os fornecedores e empresas subcontratadas111.

Nesse aspecto, tendem a tornar as relações sociais e industriais mais estáveis, muito embora os acordos marco setoriais apresentem o risco de as federações sindicais internacionais poderem ser usadas, até porque os instrumentos não contam com uma tutela internacional normativa específica e as federações não são protegidas nas legislações nacionais112, pelas grandes companhias para reforçar ou facilitar o papel do setor de relações públicas dessas empresas, uma vez que é muito comum que os acordos revelem um tratamento bem próximo ao temário conhecido da responsabilidade social empresarial e, assim, dos próprios códigos de conduta empresariais113.

Diante dessas circunstâncias, as entidades sindicais envolvidas precisam tomar muito cuidado e aproveitarem o ensejo da negociação coletiva internacional para a assinatura de um acordo marco setorial, que destaque alguns dos direitos universalmente proclamados pela “Declaração Universal dos Direitos do Homem”, pela “Declaração Tripartite de Princípios sobre Empresas Multinacionais e Política Social” da OIT, pelas “Diretrizes para Empresas Multinacionais” da OCDE. Enfim, para tratar de melhores contínuas nas condições de trabalho e nos padrões de exigência e fiscalização de saúde e

110 Na expressão de José Soares Filho (As Negociações Coletivas Supranacionais para Além da OIT e da

União Européia. Revista LTr Legislação do Trabalho (Revista LTr 71-08). São Paulo: LTr, v. 71, nº 8, agosto: 907-915, 2007, p. 908).

111 PAPADAKIS, Konstantinos; CASALE, Giuseppe; TSOTROUDI, Katerina. International Framework

Agreements as Elements of a Cross-Border Industrial Relations Framework. In: PAPADAKIS, Konstantinos (ed.). Cross-Border Social Dialogue and Agreements: An Emerging Global Industrial Relations Framework? Geneva: International Institute for Labour Studies – IILS; Geneva: International Labour Office, p. 67-87, 2008, p. 68.

112 HUXTABLE, David. The Failing Strategy of International Trade Unionism: The Need for a Global

Labour Organization. Saarbrücken: VDM Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, 2008, p. 24.

113 CROUCHER, Richard; COTTON, Elizabeth. Global Unions Global Business: Global Union Federations

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segurança nos locais de trabalho, para tratar de procedimentos de justas e legais negociações coletivas (onde quer que se estabeleçam, nacionalmente, regionalmente ou localmente) com respeito aos representantes sindicais de trabalhadores (ou mesmo representantes eleitos por trabalhadores) e para, na sequência, criarem organismos de revisão, de fiscalização (mediante reuniões semestrais ou anuais pré-programadas), de submissão de denúncias quanto às eventuais infringências ao pactuado, além de procedimentos tendentes a fomentar a revisão e a repactuação114.

Muitos dos acordos marco setoriais firmados se referem, também, a obrigações que se estendem a toda a cadeia produtiva, com a obrigação de empresa informar suas subsidiárias, fornecedores, contratantes e subcontratadas a respeito do teor do acordo115.

Para o início das tratativas que possam conduzir a um acordo marco setorial, assumem papel muito importante os sindicatos da sede da multinacional e os comitês de empresa europeus (se se admite uma tendência de “europeização” da negociação coletiva internacional116) do país da sede quando instituídos, inclusive para a provocação da federação sindical internacional competente.

Em situações outras, os comitês de empresa europeus ou os sindicatos nacionais da sede da empresa são tão fortes, como é o caso na Alemanha, que eles mesmos podem negociar o teor do acordo marco setorial e convocar a federação sindical internacional correspondente apenas para, ao final, firmá-lo117.

Historicamente, pode-se facilmente sustentar que os acordos marco setoriais sejam ilustrativos da primeira instância de acordos formalmente negociados entre entidades sindicais e corporações em escala global, muito embora tais acordos, muito mais produzidos em terreno europeu do que, por exemplo, norte americano118, não possam ser

114 CROUCHER, Richard; COTTON, Elizabeth. Global Unions Global Business, pp. 61 e 121. 115 BRONSTEIN, Arturo S. International and Comparative Labour Law, p. 116.

116 MARTIN, Andrew; Ross, George. European Integration and the Europeanization of Labor. In: GORDON,

Michael E.; TURNER, Lowell (ed.). Transnational Cooperation among Labor Unions. Ithaca: Cornell University Press, p. 120-149, 2000, p. 138.

117 CROUCHER, Richard; COTTON, Elizabeth. Ob. cit., p. 62. No mesmo sentido, MARGINSON, Paul. La

Dimensión Transnacional de la Negociación Colectiva en un Contexto Europeo. In: SCHMIDT, Verena; KEUNE, Maarten; SKERRETT, Kevin (ed.). Boletín Internacional de Investigación Sindical: Estrategias

Mundiales del Capital y Respuestas Sindicales. Hacia Una Negociación Colectiva Transnacional? Ginebra: Oficina Internacional del Trabajo, v. 1, nº 2, p. 71-87, 2009, p. 85.

118 BLANPAIN, Roger; BISOM-RAPP, Susan; CORBETT, William R.; JOSEPHS, Hilary K.; ZIMMER,

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considerados negociados coletivamente para o fim de terem aplicação coercitiva segundo os ditames da legislação internacional e nacional119.

Sua aplicabilidade dependerá, muito, dos valores constantes dos procedimentos regulamentares que as entidades sindicais conseguirem negociar e, também, da habilidade dessas entidades em pressionarem as companhias por mobilizações e campanhas as mais diversas120 a partir da atuação dos sindicatos locais em âmbito nacional e dos representantes sindicais nos locais de trabalho.

O sucesso desses acordos dependerá de um longo processo de implementação, de um trabalho de convencimento e de treinamento dos representantes de trabalhadores nos locais de trabalho, bem como de tradução, em vernáculo, das disposições versadas no instrumento, com um esquema de solução de dúvidas e de alerta para a importância do documento121.

Todas essas providências são úteis para que, inclusive, as disposições dos acordos marco setoriais possam, se o caso, ser reproduzidas e replicadas nos instrumentos coletivos nacionais pelos sindicatos nacionais e pelos representantes de trabalhadores nos locais de trabalho, mormente para reforçar, em toda essa cadeia de instrumentos, as disposições normalmente constantes dos acordos marco setoriais, quais sejam, os direitos fundamentais no trabalho firmados pela OIT122, como a liberdade sindical, a liberdade de

tendência, já referida, a uma “europeização” da negociação coletiva internacional. Aliás, a literatura dá conta de que, de modo global, a experiência da negociação coletiva internacional tem tido lugar no hemisfério norte do planeta (razão para a qual a literatura também divide os trabalhadores em trabalhadores do “Norte” e trabalhadores do “Sul”), no âmbito de empresas multinacionais situadas em países desenvolvidos e industrializados (FRANCO, Julio; MARCOS-SÁNCHEZ, José; BENOÎT, Christine. Negociación Colectiva

Articulada, p. 162).

119 STEVIS, Dimitris; BOSWELL, Terry. International Framework Agreements: Opportunities and

Challenges for Global Unionism. In: BRONFENBRENNER, Kate (ed.). Global Unions: Challenging Transnational Capital Through Cross-Border Campaigns. Ithaca: Cornell University Press, p. 174-194, 2007, p. 175; WATERMAN, Peter. A Trade Union Internationalism for the 21st Century: Meeting the Challenges from Above, Below and Beyond. In: BIELER, Andreas; LINDBERG, Ingemar; PILLAY, Devan (ed.).

Labour and the Challenges of Globalization: What Prospects for Transnational Solidarity? London: Pluto Press; Scottsville: University of KwaZulu-Natal Press, p. 248-263, 2008, p. 253; GALLIN, Dan. International Framework Agreements: A reassessment. In: PAPADAKIS, Konstantinos (ed.). Cross-Border Social

Dialogue and Agreements: An Emerging Global Industrial Relations Framework? Geneva: International Institute for Labour Studies – IILS; Geneva: International Labour Office, p. 15-41, 2008, p. 26.

120 STEVIS, Dimitris; BOSWELL, Terry. International Framework Agreements: Opportunities and

Challenges for Global Unionism. Ob. cit., p. 175.

121 HELLMANN, Marion F. Social Partnership at the Global Level: Building and Wood Workers’

International Experiences with International Framework Agreements. In: SCHMIDT, Verena (ed.). Trade

Union Responses to Globalization. Geneva: International Labour Office, p. 23-34, 2007, p. 29.

122 Segundo a principiologia da “Declaração da OIT sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho

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associação, o direito à negociação coletiva, a abolição do trabalho forçado e do trabalho infantil, o direito a tratamentos equitativos e não-discriminatórios (por conta de raça, cor, sexo, religião, opinião política, militância sindical, nacionalidade, orientação sexual, origem social) e, em um outro patamar, o direito de os representantes de trabalhadores, em qualquer subsidiária da multinacional123, principalmente os de natureza sindical, terem acesso a informações e à consulta nos locais de trabalho.

A FITAAHRTA foi a entidade sindical pioneira no estabelecimento dos acordos marco setoriais. Em 23 de agosto de 1988, concluiu o primeiro acordo global com a multinacional francesa Danone (à época, até 1994, BSN)124, principalmente com o propósito de viabilizar o oferecimento de informações, acerca do desempenho econômico empresarial, para os representantes de trabalhadores e, em 1994, para tratar dos direitos sindicais125.

Em 1995, a FITAAHRTA firmou acordo marco setorial com a rede francesa de hotelaria Accor. Em 2001, com a americana da agricultura Chiquita; em 2002, com a neozelandesa Fonterra126; e, em 2004, com a francesa Club Med.

trabalho forçado; 87, de 1948, sobre a liberdade sindical e a proteção ao direito de organização sindical; 98, de 1949, sobre o direito sindical e a negociação coletiva; 100, de 1951, sobre a remuneração equalitária; 105, de 1957, sobre a abolição do trabalho forçado; 111, de 1958, sobre o combate à discriminação; 138, de 1973, sobre a idade mínima; e 182, de 1999, sobre as piores formas de trabalho infantil.

123 AUER, Peter. The Internationalization of Employment: A Challenge to Fair Globalization? International

Labour Review. Geneva: International Labour Office, v. 145, nºs 1-2: 119-134, 2006, p. 134.

124 Muito se especula sobre o porquê de a Danone ter sido a primeira multinacional a entabular um acordo

marco setorial. Uma das explicações possíveis é de natureza subjetiva, da personalidade do fundador e CEO da companhia até 1996, Antoine Riboud, falecido em 2002. Segundo se alega, Riboud era um católico progressivo com laços com o Partido Socialista Francês e, portanto, enxergava, no sindicalismo, a contraparte legítima em todos os níveis de representação. Em uma das reuniões com uma delegação da FITAAHRTA,

Riboud teria sustentado que não imaginaria comandar a empresa contra os empregados e sem respeitar seus direitos sindicais. Esse traço da personalidade de Riboud, segundo a literatura, também sustenta a razão de feitura do acordo, marcado por um contexto de total ausência de conflitos com a FITAAHRTA, em clima de respeito e confiança. Não sem razão, a partir do acordo marco setorial, outros instrumentos surgiram no grupo

Danone, como o “Plano para a Informação Econômica e Social nas Empresas do Grupo Danone” (1989), o “Programa de Ação para a Igualdade de Homens e Mulheres nos Locais de Trabalho” (1989), o “Acordo para o Treinamento de Competências” (1992), a “Declaração Conjunta IUF/Danone sobre Direitos Sindicais” (1994) e o “Entendimento Conjunto para os Eventos de Alterações nas Atividades Empresariais que afetem o Emprego e as Condições de Trabalho” (1997) (GALLIN, Dan. International Framework Agreements: A reassessment. In: PAPADAKIS, Konstantinos (ed.). Cross-Border Social Dialogue and Agreements, pp. 29 e 31).

125 SCHMIDT, Eberhard. Sustainability and Unions: International Trade Union Action to Implement

Sustainability Norms at Corporate Level. In: SCHMIDT, Verena (ed.). Trade Union Responses to

Globalization, p. 17.

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Outras federações sindicais internacionais, como a FITIM, a FITQEMID, a FITCM e a RSI seguiram os passos da FITAAHRTA, contabilizando, até meados de 2008, com dados mais confiáveis, mais de 73 (setenta e três) acordos marco setoriais.

Em 2002, a FITIM firmou acordo marco setorial com as alemãs automobilísticas DaimlerChrysler e Volkswagen; e com a metalúrgica italiana

Indesit/Merloni Elettrodomestici; em 2003, com a alemã GEA, com a alemã automotiva e elétrica Leoni, com a alemã eletrônica Rheinmetal e com a sueca SKF; em 2004, com a alemã Prym, com a montadora francesa Renault, com a alemã Bosch e com a alemã

Röchling; em 2005, com a metalúrgica luxemburguesa ArcelorMittal, com a alemã

BMW127, com a indústria de defesa holandesa EADS128; em 2006, com a francesa PSA

Peugeot Citröen; em 2008, com a holandesa Brunel e com a metalúrgica francesa

Vallourec129.

Em 1998, a FITQEMID firmou acordo marco setorial com a norueguesa

StatoilHydro; em 2000, com a alemã química Freudenberg; em 2002, com a mineradora sul-africana Anglo-Gold Ashanti, com a espanhola Endesa, com a energética italiana ENI, com a norueguesa de papéis Norske Skog; em 2004, com a energética russa Lukoil, com a sueca de papéis SCA (Svenska Cellulosa Aktiebolaget); em 2005, e em conjunto com a Federação Internacional do Pessoal de Serviços Públicos/International Federation of

Employees in Public Services (IPS), com a energética francesa EDF, com a construtora francesa Lafarge (em conjunto com a FITCM) e, ainda, com a química francesa Rhodia; em 2007, com a mineradora alemã RAG; e, em 2008, em conjunto com a FITIM, com a metalúrgica belga Umicore130.

Em 1998, a FITCM firmou acordo marco setorial com a sueca IKEA131; em 1999, com a alemã Faber-Castell; em 2000, com a construtora alemã Hochtief132; em 2001, com a construtora sueca Skanska; em 2002, com a construtora holandesa Ballast Nedam;

127 Intitulado “Declaração Conjunta sobre Direitos Humanos e Condições de Trabalho”.

128 Intitulado, expressamente, como “Acordo Marco Setorial (International Framework Agreement)”. 129 CROUCHER, Richard; COTTON, Elizabeth. Global Unions Global Business, pp. 59 e 60. 130 Idem, ibidem, pp. 58, 59 e 60.

131 Intitulado “Acordo de Código de Conduta”.

132 O acordo prevê, por parte da matriz da companhia e das empresas subcontratadas, um “estatuto” integrado

por normas mínimas atinentes à eleição livre do emprego, ausência de discriminação, proibição do trabalho infantil, direito à liberdade de associação e de negociação coletiva, percepção de salários “adequados”, estabelecimento de horários de trabalho “razoáveis” e manutenção de condições de trabalho dignas (PURCALLA BONILLA, Miguel Ángel. El Trabajo Globalizado, p. 242).

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em 2005, com a construtora italiana Impregilo, com a alemã Schwan-Stabilo e com a norueguesa Veidekke133; em 2006, com a construtora holandesa Royal BAM e com a alemã

Staedtler; e, em 2007, com a construtora holandesa VolkerWessels134.

O acordo marco setorial firmado entre a FITCM e a Faber-Castell em 1999 merece algum destaque porque uma de suas maiores fábricas fica em São Carlos, Estado de São Paulo, no Brasil, e porque o acordo foi entabulado segundo um modelo padrão, desenhado pela antiga CIOSL e publicado em 1997, segundo o qual, além dos direitos fundamentais previstos pela OIT, a direção central da empresa se comprometeu a pagar salários “suficientes”, a não exigir trabalho em sobrejornada, a garantir condições de trabalho aceitáveis, com garantia de tratamento de saúde aos empregados, e a se abster de proceder a qualquer forma de intimação e assédio sexual, tudo para valer em cada local de trabalho e com disponibilização a todos nas línguas pátrias, de modo a que também os sindicatos, e representantes de trabalhadores, tenham acesso a informações relevantes da companhia em todos os locais de trabalho135.

Em 1999, a RSI firmou acordo marco setorial com alemã Metro; em 2001, com a francesa Carrefour, com a grega OTE Telekom e com a espanhola Telefónica; em 2003, com a dinamarquesa ISS; em 2004, com a sueca H&M; em 2005, com a dinamarquesa Falck; em 2005, com a suíça UPU; em 2006, com a holandesa Euradius, com a sul-africana Nampak, com a portuguesa Portugal Telecom, com a sueca Securitas e com o grupo australiano National Australia Bank Group; em 2007, com a francesa France

Telecom, com a australiana NAG e com a canadense Quebecor136; em 2011, com o brasileiro Banco do Brasil.

No caso da RSI, também merece destaque o acordo marco setorial entabulado com a Telefónica. No Brasil, a entidade sindical filiada à RSI, o Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações no Estado de São Paulo (Sintetel), conseguiu, com base nesse acordo de 2001, no período pós-privatizações e sem a oposição da companhia, alargar significativamente a sua base de representação categorial com novas filiações,

133 Intitulado “Acordo Marco Setorial sobre o Desenvolvimento de Boas Condições de Trabalho nas

Operações Internacionais”.

134 CROUCHER, Richard; COTTON, Elizabeth. Global Unions Global Business, pp. 58, 59 e 60.

135 SCHMIDT, Eberhard. Sustainability and Unions: International Trade Union Action to Implement

Sustainability Norms at Corporate Level. In: SCHMIDT, Verena (ed.). Trade Union Responses to

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exatamente quando a conduta empresarial tenderia, nesse cenário, ao afastamento dos sindicatos das operações137.

Bem demarcando o início dos procedimentos que conduziram à entabulação de vários dos acima referidos acordos marco setoriais, e a evidenciar o papel de destaque que, nos países de origem das multinacionais, os sindicatos locais e os comitês de empresa europeus possuíram e ainda possuem, ainda que, no que diz respeito aos comitês de empresa europeus, tenham sido instalados antes da Diretiva nº 94/45/CE da União Europeia, é importante frisar que os acordos marco setoriais que envolveram a Hochtief (2000), a Volkswagen (2002), a DaimlerChrysler (2002) e a Renault (2004) inicialmente contaram com a participação de comitês ou conselhos mundiais de trabalhadores ou comitês ou conselhos de empresa mundiais que já haviam se inserido na representação dos trabalhadores naquelas empresas em escala global138.

O comitê de trabalhadores mundial da Volkswagen é tido como um dos mais bem estruturados e com os melhores relacionamentos, cooperativos, com a gerência da empresa, tanto é que o Comitê de Empresa Mundial da Volkswagen firmou, juntamente com a FITIM, uma “Declaração de Direitos Sociais e Relações Industriais” em 6 de junho de 2002139. A DaimlerChrysler, na sequência, algumas semanas depois, também firmou, com o seu Comitê de Empresa Mundial, juntamente, também, com a FITIM, uma “Declaração de Princípios de Responsabilidade Social”140.

A FITIM, como representante dos trabalhadores nas indústrias metalúrgicas, muito importantes no seio europeu e, de forma destacada, na Alemanha, foi a federação sindical internacional que assinou o maior número de acordos marco setoriais e é a única,

136 CROUCHER, Richard; COTTON, Elizabeth. Global Unions Global Business, pp. 58, 59 e 60.

137 CONFEDERACIÓN INTERNACIONAL DE ORGANIZACIONES SINDICALES LIBRES (CIOSL).

Una Guía Sindical sobre La Mundialización, p. 107.

138 PAPADAKIS, Konstantinos; CASALE, Giuseppe; TSOTROUDI, Katerina. International Framework

Agreements as Elements of a Cross-Border Industrial Relations Framework. In: PAPADAKIS, Konstantinos (ed.). Cross-Border Social Dialogue and Agreements, p. 77.

139 “Reconhece-se o direito fundamental que todos os trabalhadores têm de constituir sindicatos e

representações laborais e aderir aos mesmos. A Volkswagen e os sindicatos ou representações laborais trabalham abertamente em conjunto, com vista à resolução cooperante e construtiva dos conflitos. (Carta Social, Bratislava, 6 jun. 02)” (BRIDI, Maria Aparecida. Trabalhadores dos Anos 2000: O Sentido da Ação Coletiva na Fábrica de Nova Geração. São Paulo: LTr; São Paulo: Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (ABET), 2009, p. 39).

140 GRAHAM, Ian; BIBBY, Andrew. Global Labour Agreements: A Framework for Rights. The World of

Work, p. 5; SOARES FILHO, José. As Negociações Coletivas Supranacionais para Além da OIT e da União Européia. Revista LTr Legislação do Trabalho (Revista LTr 71-08), p. 914.

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também, que admitiu que a entabulação de seus acordos se desse de forma múltipla, com a participação, naquelas avenças, de comitês de empresa europeus e comitês de empresa mundiais ou comitês ou conselhos mundiais de trabalhadores, bem como de sindicatos nacionais141.

Bem entendidos, a expressão “comitês” ou “conselhos de empresa mundiais” ou “comitês” ou “conselhos mundiais de trabalhadores”, ao se referirem aos organismos de trabalhadores de toda a corporação empresarial, do mundo inteiro, reconhecidos pelas empresas, não necessariamente são entidades integrantes de alguma estrutura sindical, mas pode ser que, nesses comitês ou conselhos, os sindicatos atuem com certa importância. Esses organismos podem representar uma simbiose entre a representação sindical e a representação unitária e não-sindical, agindo em conjunto e em paralelo, como convém aos