• Nenhum resultado encontrado

Ferramentas disponíveis para a solidariedade internacional

3. BREVE CODA

4.2. Ferramentas disponíveis para a solidariedade internacional

117

De tudo o que se demonstrou, constata-se que o sindicalismo internacional, além de suas estruturas e da necessidade de desenvolvimento de um amplo tráfego de informações por entre os níveis de representação coletiva, do local de trabalho ao âmbito mundial, deve estar imbuído da construção de uma nova linguagem para fazer uso das ferramentas tecnológicas ao seu dispor e para estabelecer, de forma fácil e rápida, como exige a bilateralidade com as operações das empresas multinacionais, uma intensificação dos contatos entre trabalhadores de uma mesma empresa.

Essa ponte de contatos pode se dar em estruturas de comitês de empregados (ainda que localizados em diversas localidades) ou pode ser mantida, com os meios disponíveis, com organizações da sociedade civil, com a comunidade local adjacente ao ambiente de trabalho, com organizações não-governamentais, com ativistas de direitos humanos e, principalmente, com outras formas de representação coletiva de natureza unitária e não-sindical, como os delegados de pessoal, os representantes de trabalhadores, os comitês, as comissões ou os conselhos de empresa ou de fábrica. O tráfego de informações pode se estabelecer, em outro nível, em organismos de natureza paritária eventualmente existentes na empresa.

Tudo sem descartar o uso, mais acentuado, e para manter viva a troca de informações entre o sindicalismo em diversas partes do mundo, de conferências, de programas educacionais e de treinamento, newsletters, websites, resoluções, e-mails16,

banners, broches, sacolas, a fim de atrair o maior público possível à movimentação internacional, no qual se insere, também, o jovem e o feminino17, frequentemente alijados do sindicalismo tradicional.

Toda essa conexão, esse network de troca de informações e de experiências, nos níveis local, regional, nacional e global, tem o condão de criar uma comunidade laboral

15 MELMAN, Seymour. Depois do Capitalismo: Do Gerencialismo à Democracia no Ambiente de Trabalho.

História e Perspectivas. Trad. Bazán Tecnologia e Linguística. São Paulo: Futura, 2002, pp. 552-553.

16 “Corrobora a viabilidade da proposta a facilidade e agilidade com que as informações circulam no mundo

atual. A internet possibilita um contato constante entre os sindicatos de vários países fazendo com que os avanços, conquistas e estratégias de atuação possam ser imediatamente compartilhados com os demais” (FARIA, Fernanda Nigri; ROSIGNOLI, Juliana Bernardes. Atuação Transnacional: Uma Perspectiva para os Sindicatos no Mundo Globalizado. In: HENRIQUE, Carlos Augusto Junqueira; DELGADO, Gabriela Neves; VIANA, Márcio Túlio; RIBEIRO, Patrícia Henriques (coord.). Trabalho e Movimentos Sociais. Belo Horizonte: Del Rey; Belo Horizonte: Instituto de Ciências Jurídicas e Sociais, p. 195-216, 2008, p. 213.

17 MARGARET FONOW, Mary; FRANZWAY, Suzanne. Transnational Union Networks, Feminism and

Labour Advocacy. In: SCHMIDT, Verena (ed.). Trade Union Responses to Globalization. Geneva: International Labour Office, p. 165-175, 2007, p. 165.

118

internacional que, enquanto prossegue a globalização, é fundamental para contrapor o capital global18 de maneira eficiente e racional.

O intuito é o de impedir a competição intersindical e a concorrência entre os trabalhadores por empregos para o fim de alavancar uma maior cooperação intersindical19 (nem que, eventualmente, a cooperação advenha mediante fusões de entidades sindicais20), mas sempre com discussões prévias e mediante troca de informações e campanhas de solidariedade como as já referidas, além de boicotes ou greves simultâneas internacionais e

lobby político21.

Práticas internacionais, entretanto, devem se harmonizar às práticas locais adotadas pelos atores próprios dos locais de trabalho. É essa coordenação e interdependência de níveis de representação que caracteriza o centro nevrálgico de qualquer ferramenta que o sindicalismo venha a adotar para confrontar o capital global e a empresa multinacional.

Os aliados internacionais (confederações e federações sindicais internacionais) dos movimentos sindicais nacionais não terão condições, diante da pesquisa prolongada e sistemática para o desencadeamento de uma ação sindical direta contra uma multinacional, de atender aos anseios das campanhas queridas nos locais de trabalho que podem se dar a qualquer tempo e local. É que milhares de locais de trabalho existem ao mesmo tempo em um dado setor da economia ou de atuação profissional em diversas regiões, em diversos países. No entanto, organizações internacionais possuem a capacidade

18 JURAVICH, Tom. Beating Global Capital: A Framework and Method for Union Strategic Corporate

Research and Campaigns. In: BRONFENBRENNER, Kate (ed.). Global Unions: Challenging Transnational Capital Through Cross-Border Campaigns. Ithaca: Cornell University Press, p. 16-39, 2007, p. 31.

19 OLNEY, Shauna L. Unions in a Changing World: Problems and Prospects in Selected Industrialized

Countries. Geneva: International Labour Office, 1996, pp. 69, 70 e 71.

20 O problema em fusões sindicais é o de que a operação pode menosprezar a atividade crucial de dirigentes

locais e abafar soluções anti-democráticas pela natural concentração de poder que pode não só afastar a organização das bases, mas como pode burocratizar a organização sindical em prol de um grupo que acessa o poder, alijando vários militantes da criação, inclusive, de grupos de oposição. Em contraposição, as fusões sindicais diminuem o número de sindicatos e objetiva o embate com o patronato, o poder de barganha na mesa de negociação aumenta, elimina conflitos de representação e libera recursos para ações sindicais úteis, aumenta o poder político, aumenta o acesso da entidade aos meios de comunicação de massa e a uma melhor tecnologia em termos computacionais e ajuda a mobilizar os talentos a permanecerem na entidade (SHOSTAK, Arthur B. Robust Unionism, pp. 286 e 288).

21 RAMSAY, Harvie. Know Thine Enemy: Understanding Multinational Corporations as a Requirement for

Strategic International Laborism. In: GORDON, Michael E.; TURNER, Lowell (ed.). Transnational

119

de objetivar as discussões deflagradas em vários locais de trabalho em alvos específicos, de menor quantidade, que são as multinacionais22 e os seus centros decisórios.

Para que a coordenação dos variados níveis, local, regional, nacional e global, de representação sindical surta efeitos práticos concretos e benéficos aos trabalhadores, torna-se necessário que haja, por parte de todos os envolvidos, do local de trabalho ao espaço global,

(i) a percepção de que a interdependência dos níveis representativos é essencial para a colaboração transnacional;

(ii) comprometimento a ferramentas (como a internet, databases, grupos de discussão, chats online, publicações eletrônicas) que alarguem o campo de visão de dado problema e que facilitem a formação de alianças com grupos que, em princípio, teriam interesse marginal em assuntos trabalhistas, em detrimento de percepções viciadas a debates e a análises tradicionais e nacionais dos problemas enfrentados e dos interesses envolvidos;

(iii) a coleção, a análise e a troca de informações, pelos modernos meios de comunicação, para além das fronteiras territoriais e estatais, sem que tais atividades possam ser consideradas como de menor importância, até porque informação significa poder e agir; (iv) o comprometimento dos trabalhadores em voluntariamente aderirem a ações e a assumir, com destemor, as suas responsabilidades, os seus riscos23, na defesa de suas próprias condições de trabalho;

(v) a colaboração tendente a alterar o relacionamento mantido entre os empregadores e seus grupos acionários mediante pressões e lobby no governo contra empresas que ignoram regulações trabalhistas, bem como o relacionamento de

22 ANNER, Mark. Local and Transnational Campaigns to End Sweatshop Practices. In: GORDON, Michael

E.; TURNER, Lowell (ed.). Transnational Cooperation among Labor Unions. Ithaca: Cornell University Press, p. 238-255, 2000, p. 250.

23 “Worker representatives must themselves feel – and convey to their membership – a far greater sense or

urgency about the global anti-union trends that are undermining collective bargaining and workplace protection for millions of people. Unions must be willing to break more rules, take more risks, ignore protocol, and change long-established modes of organizational so that workers can unite and fight more effectively. If we fail, the telecommunications revolution will end up forging what for our members may be a new set of chains” (RECHENBACH, Jeff; COHEN, Larry. Union Globalization Alliances at Multinational Corporations: A Case Study of the Ameritech Alliance. In: NISSEN, Bruce (ed). Unions in a Globalized

Environment: Changing Borders, Organizational Boundaries, and Social Roles. Armonk: M. E. Sharpe, p. 76- 99, 2002, p. 84).

120

consumidores de produtos com essas empresas, mediante propaganda e divulgação maciça de informações;

(vi) a consciência de que a internacionalização do sindicalismo adiciona um novo patamar de complexidade aos conflitos trabalhistas e, por isso, requer um novo patamar de sofisticação das estratégias sindicais, de modo a que o sindicalismo possa antever movimentos do capital antes de danos ocorrerem, a fim de que postos de trabalho sejam preservados;

(vii) uma maior contribuição em termos de atuação, pesquisa e coleta de informações, para o sucesso da ação internacional, por parte do sindicalismo do local de onde o problema surgiu24; e

(viii) a humanização do conflito para o público e para os acionistas das empresas confrontadas25.

Aliado a todas essas perspectivas para o êxito do empreendimento de confronto, algumas providências administrativas e institucionais são necessárias para reforçar a atuação internacional. Entidades sindicais mundiais e a CSI instruem o sindicalismo a

(i) informar e consultar os sindicatos similares em outros países, organizações não-sindicais e organizações sindicais de outros países que não tenham uma filiação internacional comum acerca das atividades de determinada multinacional e dos problemas normalmente vivenciados pela comunidade laboral;

(ii) convidar as entidades de grau superior, nos respectivos países, quer sejam confederações, quer sejam, eventualmente, centrais sindicais, a entrar em contato com entidades congêneres em outros países;

(iii) orientar as filiadas de qualquer federação sindical internacional a informar a respectiva federação sindical internacional a respeito de solicitações de ajuda ou de cooperação a ela formuladas;

24 “When multinationals attempt to boost their power and profits at the expense of workers, unions must

mobilize long-term, cross-border campaigns based on carefully research and analysis, membership education and involvement, organizing, and international labor solidarity” (RECHENBACH, Jeff; COHEN, Larry. Union Globalization Alliances at Multinational Corporations: A Case Study of the Ameritech Alliance. In: NISSEN, Bruce (ed). Unions in a Globalized Environment, p. 82).

25 GORDON, Michael E.; TURNER, Lowell. Making Transnational Collaboration Work. In: GORDON,

Michael E.; TURNER, Lowell (ed.). Transnational Cooperation among Labor Unions. Ithaca: Cornell University Press, p. 256-261, 2000, pp. 257-260, passim.

121

(iv) orientar a que as confederações ou centrais sindicais informem a CSI e as suas organizações regionais sobre os pedidos formulados advindos de entidades de outros países; e,

(v) quando as medidas ou as campanhas de solidariedade envolvam, ao menos, uma confederação ou central sindical ou, mesmo, a CSI, a incluir, na atividade ou campanha, as confederações ou centrais sindicais dos países para os quais se solicitou a ajuda ou a cooperação e dos ou a partir dos quais se solicitou a ajuda ou a cooperação26.

5. A NEGOCIAÇÃO COLETIVA E OS INSTRUMENTOS COLETIVOS