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2. Qualidade do Ambiente Interior em Edificios de Habitação

2.2. Qualidade do ar interior

2.2.4. Fontes de poluição do ar interior

2.2.4.2. Actividade humana

Quer as actividades que decorrem no interior dos edifícios, quer os próprios materiais integrados na construção podem produzir ou libertar substâncias indesejáveis no ambiente interior. No Quadro 2.4 é indicada a produção de vapor de água e a libertação de dióxido de carbono provocada pelos ocupantes para diferentes níveis de actividade.

Quadro 2.4- Poluição provocada pelos ocupantes humanos (adaptado de [2.3] e [2.17]).

Actividade Vapor de água [g/h] Dióxido de carbono [l/h] Repouso 40 14,4 Trabalho leve 50 23,0 a 46,1 Trabalho moderado 50 46,1 a 69,1 Trabalho pesado 50 69,1 a 93,6

Trabalho muito pesado 50 93,6 a 115,2

Nota:

- informação adicional pode ser encontrada em [2.14] e [2.18].

Humidade / vapor de água

A humidade relativa do ar interior pode influenciar, directa ou indirectamente, a actividade dos ocupantes. Baixos valores de humidade relativa podem provocar sensações de secura, irritação na pele e nas membranas mucosas de alguns ocupantes, infecções das vias respiratórias ou desconforto no contacto com alguns materiais devido à geração de electricidade estática. Valores altos de humidade relativa podem também originar desconforto (inibem a transpiração através da pele) e o desenvolvimento de bolores e ácaros causadores de alergias, irritações e, em casos mais graves, asma. Valores de humidade relativa entre 30 a 70% são considerados adequados [2.11], [2.14], [2.19].

Nas normas EN 15 251: 2007 [2.7] e ASHRAE 55: 2004 [2.20] apenas se limita o valor superior do teor de humidade em 12 g/kg. O Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE: DL 80/06, de 4 de Abril) [2.21] estabelece uma humidade relativa interior de referência de 50% para a estação de arrefecimento.

As diversas actividades domésticas geram também quantidades apreciáveis de vapor de água. No Quadro 2.5 são apresentados valores indicativos da massa de vapor de água libertada por essas actividades.

Quadro 2.5- Massa de vapor de vapor de água libertada em actividades domésticas (adaptado de [2.3] e [2.17]).

Actividade Vapor de água

[g/dia]

Cozinhar a electricidade 2000

Cozinhar a gás 3000

Lavagem de loiça manual 400

Banho (por pessoa) 200

Lavagem de roupa manual 500

Secagem de roupa no interior de

um compartimento (por pessoa) 1500

A taxa de ventilação necessária para atingir um certo nível de humidade interior pode ser calculada a partir da equação do balanço de humidade num compartimento. Assim, tem- se [2.22]:

q = 2,83⋅10-3T/(Ue – Ui) (2.1)

em que:

- q: caudal volúmico de ar exterior [m3/s];

- Te: temperatura do ar exterior [K];

-

ω

: produção de vapor no interior de um local [kg/s]; - Ue: teor de humidade do ar exterior [kg/kg];

As hipóteses que estão na base da equação anterior são:

- mistura homogénea entre ar exterior e ar interior;

- pressão atmosférica igual a 101 315 Pa e constante universal dos gases relativa ao ar seco igual a 287 J·kg-1·K-1;

- compartimentos sem trocas de humidade com compartimentos vizinhos;

- difusão de humidade nos materiais de revestimento do compartimento, desprezável comparativamente à transferência de humidade devida à ventilação.

Dióxido de carbono

A combustão dos aparelhos do tipo A e B [2.4] e o fumo do tabaco produzem vapor de água e dióxido de carbono (CO2). No Quadro 2.6 são indicados os caudais produzidos por dois dos combustíveis mais usados.

Quadro 2.6- Produção de vapor de água e de dióxido de carbono resultante da combustão (adaptado de [2.3] e [2.17]).

Combustível Vapor de água [g/h por kW]

Dióxido de carbono [l/h por kW]

Gás natural 150 97

GPL 130 119

O processo metabólico dos ocupantes de um espaço requer oxigénio (0,1 a 0,9 l⋅s-1⋅pessoa-1, dependendo do metabolismo [2.22]) e produz gases como CO2, H2O, aldeídos, ésteres e álcoois [2.19]. O CO2 é um gás incolor e inodoro e em termos de quantidade é o mais importante bioefluente com uma taxa de emissão proporcional ao metabolismo, podendo ser estimada a sua produção pela equação [2.22]6:

G = 4⋅10-5MA (2.2)

6

em que:

- G: emissão de CO2 [l/s];

- M: produção de calor metabólico [W/m2];

- A: superfície do corpo [m2].

A baixas concentrações, tipicamente ocorridas no interior de edifícios, o CO2 é inofensivo. No entanto, se presente em concentrações elevadas, pode originar afectações da respiração, dores de cabeça, etc. [2.1]. No que respeita a valores limite, dado que o CO2 não é considerado um gás tóxico, a Organização Mundial de Saúde (OMS) não define um valor limite para a concentração deste gás no interior de edifícios não industriais. No entanto, a

Health Canada recomenda para edifícios de habitação um nível máximo de referência de

3500 ppm para uma exposição prolongada [2.8]. A taxa de ventilação requerida para manter este nível de concentração é bastante baixa, o que quer dizer que, raramente, por si só, o CO2 coloca problemas de saúde.

O CO2 raramente atinge níveis excessivos no ambiente interior, todavia, pode ser usado como uma medida da percepção da qualidade do ar, quando a principal fonte de poluição são os bioefluentes humanos. No entanto, apesar de ser um bom indicador da poluição provocada por seres humanos sedentários, é frequentemente um indicador geral pobre da percepção da qualidade do ar, nomeadamente de fontes não poluidoras de CO2 [2.11].

Monóxido de carbono

O monóxido de carbono (CO) é um gás inodoro, insípido e incolor, resultante da combustão, em especial quando esta ocorre em situação redutora (ambiente pouco rico em oxigénio). Como exemplos de fontes de CO temos os fogões, o tabaco e os automóveis. Informação sobre a produção de CO2, CO e NOx por parte do tabaco, fornos e fogões domésticos encontra-se em [2.18]. Em concentrações extremamente baixas, o CO provoca dores de cabeça e sonolência e à medida que a concentração vai aumentando os sintomas passam a incluir problemas de concentração, visão e náuseas e, em casos limites, pode levar à morte, uma vez que a hemoglobina do sangue reduz o oxigénio para níveis insuficientes, pelo facto de ter maior afinidade com o monóxido de carbono.

Foi desenvolvido um estudo em Portugal, por uma equipa hospitalar, entre Novembro de 1992 e Novembro de 2004, onde se observaram 148 crianças com sintomas de intoxicação devidas ao CO. A grande maioria dos casos ocorreu nas estações mais frias (Outono e Inverno) em habitações que dispunham de um esquentador ou caldeira [2.23].