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2. Qualidade do Ambiente Interior em Edificios de Habitação

2.2. Qualidade do ar interior

2.2.4. Fontes de poluição do ar interior

2.2.4.4. Outras fontes

Neste ponto tem cabimento analisar os poluentes que têm uma fonte maioritariamente externa ao edifício, como é o caso do radão, bem como os poluentes que têm diversas fontes, como são os casos das partículas, ozono e microorganismos.

Radão

O radão (Rn) é um gás inodoro, insípido e incolor, que existindo naturalmente no solo, é facilmente introduzido nos edifícios, quer por efeito de difusão, quer por depressão dos ambientes interiores provocada por sistemas de ventilação ou por efeito de chaminé.

Sendo radioactivo, o radão quando inalado é uma substância carcinogénea responsável pelo incremento da incidência de casos de cancro nos pulmões em populações expostas.

Os valores médios medidos em Portugal, no interior de edifícios públicos e habitações rurais ou urbanas, situam-se abaixo dos 50 Bq/m3. No entanto, há regiões onde as concentrações atingem 400 Bq/m3, principalmente em zonas graníticas [2.28].

Partículas

As partículas dos ambientes interiores podem ter diâmetros compreendidos entre 0,001 e 100 µm. Podem ser de diversa tipologia e transportar organismos vivos como vírus (0,003 a 0,06 µm), fungos (2 a 10 µm) e bactérias (0,4 a 5 µm). As partículas cuja dimensão sejam menores que 10 µm (PM10) designam-se por torácicas e são normalmente retidas no nariz e traqueia, mas podem entrar nos pulmões e penetrar em qualquer parte deste órgão, dependendo da sua dimensão. Designam-se por partículas respiráveis ou finas (PM2,5) as

partículas que, devido à sua muito pequena dimensão, podem penetrar profundamente no nosso sistema respiratório. Estas partículas podem ter proveniência do fumo do tabaco (0,01 a 1 µm), dos produtos da combustão ou do ar exterior. Refira-se que no ar, 99% do número de partículas tem diâmetro inferior a l µm [2.10].

Em média, em ambientes sem fumo do tabaco, metade da exposição a partículas finas provém de partículas com origem no ambiente exterior, mas que se encontram no ambiente interior. Em ambientes com fumo do tabaco, 50% da exposição a partículas finas provém deste. Normalmente, a exposição a PM10 é maior do que os níveis destas partículas no exterior, excepto em casos pontuais de elevada poluição exterior [2.29].

A composição química e a forma geométrica destas partículas é muito variável pelo que os seus efeitos sobre o organismo humano são muito diversos. No entanto, quanto mais pequenas as partículas, mais os efeitos são adversos para a saúde (partículas inferiores a 2 µm têm efeitos mais adversos [2.10]). De uma forma geral, podem-se associar com problemas respiratórios, bronco-constrição, agravamento de sintomas em doentes com asma, redução das funções pulmonares, etc.. Uma exposição prolongada a este tipo de partículas pode resultar em bronquite crónica [2.1].

Ozono

A formação do ozono (O3) troposférico resulta das reacções, na presença da luz solar, entre os óxidos de azoto (NOx) e os COVs. No interior de edifícios, o ozono é libertado, nomeadamente, por fotocopiadoras e impressoras a laser.

Os sintomas da exposição ao ozono relacionam-se, nomeadamente, com alteração das funções pulmonares e inflamações nas vias respiratórias bem como o exacerbar de problemas de asma.

Microorganismos

As quatro maiores categorias de microorganismos que ocorrem em ambientes interiores de habitações são: bactérias7, ácaros8, microorganismos provenientes de animais de estimação

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e fungos9. Estes microorganismos podem provocar manifestações de alergia do tipo rinites (inflamação da mucosa do nariz) e asma [2.30].

Os fungos e bactérias implicados em manifestações de alergia geralmente vivem alimentando-se de matéria orgânica (escamas de pele humana ou animal, papel e madeira) em ambientes húmidos.

A maioria dos fungos desenvolve-se a temperaturas entre 10 e 35ºC, sendo o teor de água dos materiais onde se depositam de capital importância. A maior parte dos fungos responsáveis por problemas no interior dos edifícios pertence a um grupo normalmente designado por bolor (fungo com estrutura de filamentos e reprodução através de esporos [2.10]). A água que favorece o seu desenvolvimento, normalmente, provém da condensação superficial ou intersticial. A presença de fungos varia consoante a estação do ano e, normalmente, o maior número ocorre nas estações do Outono e Verão. Durante estas estações, o ar exterior é a maior fonte de fungos no ambiente interior [2.30].

As bactérias são muito mais simples que os fungos, geralmente requerem mais água para crescer, e frequentemente crescem em líquidos ou periodicamente em superfícies húmidas. O crescimento de populações de bactérias até concentrações excessivas é geralmente associado a medidas inadequadas de manutenção de locais onde a água é retida (ex.: sistemas fechados de água quente ou fria e reservatórios de água) ou fugas de água criando água estagnada [2.10]. Um dos exemplos mais estudado é a Legionella, fonte de infecções e causadora de pneumonia.

De acordo com os conhecimentos actuais, não é possível indicar valores limites [2.30]. A maioria das autoridades de saúde, em vez de prescrever níveis máximos de concentração no interior dos edifícios, recomenda a comparação, para cada microorganismo, entre as concentrações do interior e exterior. Se este rácio é significativamente maior do que a unidade, assume-se que o organismo é reproduzido no interior e, portanto, deve-se encontrar a fonte e eliminá-la [2.31]. No Quadro 2.7 apresenta-se uma classificação da

8Animal do grupo dos acarídeos, que inclui os causadores da sarna do homem e as carraças dos cães.

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Organismo celular vegetal que se reproduz por esporos e que normalmente se alimenta de matéria orgânica morta e se encontra preferencialmente em lugares húmidos e pouco iluminados.

população de fungos e bactérias baseada na gama de valores encontrada em ambientes interiores de habitações relativamente ao exterior (e não na avaliação de risco na saúde).

Quadro 2.7- Níveis das populações, em relação ao exterior, de fungos e bactérias em habitações (adaptado de [2.30]). Nível Fungos [UFC/m3] Bactérias [UFC/m3] Muito baixo < 50 < 100 Baixo(a) < 200 - 500(b) < 500 Intermédio < 1 000 < 2 500 Alto < 10 000 < 10 000 Muito alto > 10 000 > 10 000 Notas:

- a: coincide com valores de referência do Quadro 2.1, embora neste não se indique se o respectivo valor é para ser tomado relativamente ao exterior;

- b: os limites variam em função do método de análise.

Pode recomendar-se, como critério adicional, que sempre que um determinado fungo tenha concentrações até 50 UFC/m3 deverá realizar-se uma investigação ao ambiente [2.32].

Os poluentes apresentados anteriormente representam somente uma pequena parcela daqueles que se podem encontrar em ambientes interiores (informação adicional poderá ser encontrada em [2.33] e [2.34]). No Quadro 2.8 sintetiza-se a informação referente às fontes dos diversos poluentes, bem como o rácio concentração interior versus concentração exterior.

Quadro 2.8- Lista das principais substâncias poluentes no interior, fontes e rácio concentração interior versus concentração exterior (adaptado de [2.10]).

Poluente Fonte de poluição interior Rácio concentração interior

versus concentração exterior

Dióxido de carbono (CO2) Processo de combustão e humanos >> 1

Monóxido de carbono (CO) Combustão incompleta e fumo do tabaco >> 1 Vapores orgânicos Produtos da combustão, solventes e produtos

de limpeza > 1

Formaldeído (HCHO) Isolantes térmicos, colas, derivados da

Quadro 2.8 - Lista das principais substâncias poluentes no interior, fontes e rácio concentração interior versus concentração exterior (adaptado de [2.10]) (continuação).

Poluente Fonte de poluição interior Rácio concentração interior

versus concentração exterior

Radão (Rn) Terreno ou rochas por baixo do

edifício e materiais de construção >> 1 Ozono (O3) Fotocopiadoras e impressoras laser > 1

Organismos viáveis(a) Humanos, animais de estimação, insectos,

plantas, fungos e ar condicionado > 1

Nota:

- a: os microorganismos têm que se manter viáveis para provocar infecções, no entanto, microorganismos não viáveis podem provocar reacções alérgicas.

Em estudo recente a nível europeu, realizado em 9 países, envolvendo 164 edifícios, 66 de apartamentos e 98 de escritórios (75% dos quais energeticamente eficientes), teve-se por objectivo avaliar o desempenho integrado dos edifícios, tanto a nível energético, como ao nível da saúde dos ocupantes e conforto. O desempenho foi avaliado recorrendo, sequencialmente, à inspecção ao edifício (recolha de dados do edifício e envolvente), questionários aos trabalhadores/moradores e medições (ex.: teores de CO e COVT). Obtiveram a classificação de “Green” (bom desempenho) 24 edifícios de apartamentos, em contraste com somente oito de escritórios, e a classificação de “Red” (mau desempenho) 34 edifícios de apartamentos e 15 de escritórios. No Quadro 2.9 apresentam-se alguns dos resultados obtidos para os edifícios de apartamentos.

Quadro 2.9- Alguns resultados do programa HOPE (Health Optimisation Protocol for

Energy-Efficient Buildings) em apartamentos (adaptado de [2.35] e [2.36]).

Item Média Item Provavelmente

presente(b) Presente

(b)

Nariz bloqueado 33% Baixa concentração de

CO 76% 9% P re v al ên -c ia d e si n to m as S E D

Letargia, fadiga 39% Infecção a partir do

edifício 82% 0%

Rinite alérgica 56% Infecção a partir dos

ocupantes 94% 0% Enxaqueca 53% Ozono 3% 0% Problemas de pele além de eczemas 51% COVs não carcinogéneos 21% 79% P re v al ên ci a d e d o en ça s d ec la ra d as e al er g ia s

Bronquite 51% COVs carcinogéneos 59% 6%

Qualidade do ar - média Verão/Inverno (escala de 1 a 7)(a)

2,95 Fungos 50% 50%

Conforto térmico - média Inverno/Verão (escala de 1 a 7)(a)

2,87 Partículas 56% 41%

Notas:

- a: 1- satisfeito; 7- insatisfeito;

- b: os valores apresentados dizem somente respeito ao grupo de edifícios classificados como “Red”.

O mesmo estudo (HOPE) também envolveu Portugal, onde foram analisados 10 edifícios de apartamentos, com 639 apartamentos ocupados, e 12 edifícios de escritórios. Recolheram-se 352 inquéritos a adultos ocupantes dos apartamentos, com os seguintes resultados médios mais significativos:

- qualidade do ar - Inverno (escala de 1, satisfeito, a 7, insatisfeito): 3,08;

- qualidade do ar - Verão: 2,84;

- qualidade do ar - média Inverno/Verão: 2,96;

- conforto térmico - Inverno: 3,17;

- conforto térmico - Verão: 2,64;

- conforto térmico - média Inverno/Verão: 2,91.

Pela análise dos resultados, pode concluir-se que em relação aos parâmetros de qualidade do ar e conforto térmico as habitações portuguesas têm níveis de conforto semelhantes às europeias.