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7.2 Legitimação do framework

7.2.2 Adequação do framework na perspectiva dos pesquisadores

O roteiro central da entrevista foi formulado em quatro blocos. O primeiro deles foi destinado à caracterização dos informantes. Os outros três blocos de questões tiveram por objetivo a validação do framework.

Para facilitar a compreensão da estrutura da entrevista, apresenta-se o quadro 17 no qual se especifica os principais núcleos analíticos de cada bloco.

Quadro 17 – Identificação dos núcleos analíticos

BLOCO REFERÊNCIA NÚCLEO ANALÍTICO

Alinhamento sobre a proposta de

pesquisa Bloco 2

Certificar se o entrevistado possui dúvidas sobre o framework proposto. Visão geral do produto/serviço Bloco 3 Entender, de maneira sintética, a criação e

funcionamento do produto/serviço. Adequação do framework ao

processo de criação do produto/serviço

Bloco 4

Analisar se o construto do framework está alinhado ao processo de criação do

produto/serviço. Fonte: Elaborado pelo autor.

A seguir serão apresentadas todas as questões do roteiro de entrevista (APÊNDICE H) e os principais pontos extraídos das entrevistas.

O BLOCO 2 iniciou com a primeira questão: Tendo em vista a apresentação do projeto de pesquisa “UM FRAMEWORK DE DESIGN THINKING PARA A TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO ÂMBITO DA GESTÃO DA INOVAÇÃO”, o elemento inicial do

framework é chamado de GATC Mindset. Você o compreendeu plenamente? Em caso negativo, qual esclarecimento é necessário?

Todos os entrevistados relataram terem compreendido plenamente a finalidade do elemento GATC Mindset. Isso demonstra que a proposta foi bastante clara tanto na forma de exposição do conteúdo, como na alusão ao DNA humano e o raciocínio do Design Thinking.

Dando sequência, a segunda questão do bloco indagou: O processo de Design Thinking que compõe o framework é formado por 5 etapas: PROBLEMATIZAÇÃO, DEFINIÇÃO, IDEAÇÃO, PROTOTIPAÇÃO/TESTE e REALIZAÇÃO. Você compreendeu plenamente cada etapa? Em caso negativo, qual esclarecimento é necessário?

De igual maneira, nenhum dos entrevistados apresentou dúvidas ou pontos a serem esclarecidos quanto a finalidade de cada etapa. Mais uma vez a clareza da construção do framework pode ser destacada e, principalmente por se tratar de Design Thinking, esse entendimento pleno é uma condição essencial para o sucesso da proposta. De acordo com Kunitake (2017), as soluções de DT devem ser apresentadas de maneira a ter significado para o usuário.

A terceira questão foi: O framework prevê 03 (três) tipos de contribuições resultantes da adesão do Design Thinking: TEÓRICA, TECNOLÓGICA e HÍBRIDA. Você compreendeu plenamente cada contribuição? Em caso negativo, qual esclarecimento é necessário?

Novamente o entendimento de todos os entrevistados foi pleno quando perguntados sobre a finalidade de cada contribuição. Isso demonstra a nitidez do encadeamento estrutural do framework, haja vista as respostas positivas para as três perguntas relacionadas à compreensão dos elementos formadores do construto.

A quarta questão do bloco interpelou: Em sua opinião, num espectro geral, a proposta e a forma de construção do framework estão compreensíveis? Justifique sua resposta.

Os participantes foram unânimes no parecer: a proposta da pesquisa e a construção do framework estavam compreensíveis. Os entrevistados PE1 e PE3 não teceram justificativas que vão além de mencionar que o framework estava claro. Entretanto as colocações do PE2 e PE4 merecem destaque:

“Sim. Como eu acabei de te falar, eu acho que se você olhar do ponto de vista de desenvolvimento de um método científico, ele encaixa certinho com o próprio método científico.” (PE2, 2018).

Eu acho que estão compreensíveis, com a ressalva de algumas coisas que a gente chegou a discutir sobre algumas etapas. Para quem vem do âmbito da pesquisa, elas

funcionam um pouco diferente. Mas, de forma geral, dá para ter uma ideia, uma noção boa de como você dividiu e como o método funcionaria. (PE4, 2018).

O Bloco 2 foi encerrado nesta última questão. Ao se confrontar o resultado das entrevistas com o núcleo analítico do bloco (certificar se o entrevistado possui dúvidas sobre o framework proposto), conclui-se que a proposta foi plenamente entendida. A comparação da proposta com o método científico feita pelo PE2, bem como o apontamento para alguma ressalva a ser feita pelo PE4, demonstram que houve um tempo dedicado ao entendimento do objeto de pesquisa.

A seguir são apresentadas as questões concernentes ao BLOCO 3, que tem por finalidade ter uma visão geral de cada produto/serviço analisado.

Começando o bloco, a primeira pergunta deste bloco foi: Quando foi desenvolvido o Projeto [nome]?

O PE1 destacou que o Projeto ViVa possui dois componentes e que eles foram desenvolvidos em momentos distintos. “Uma parte que a gente chamada de back-end – que é toda a parte de processamento do dado [...]. E depois, uma parte de front-end, que é uma parte de visualização” (PE1, 2018).

A primeira parte foi originada de uma necessidade acadêmica de um grupo de pesquisa do qual o PE1 participava – ainda não havia foco comercial. “É uma coisa que o grupo já faz há muito tempo. Então, eu diria aí que a gente já fazia mesmo antes de eu vir aqui para a UFRN. Então aí, certamente, perto de 10 anos” (PE1, 2018). A parte de visualização possui cerca de 3 ou 4 anos.

No que refere ao Projeto Proteômica, o entrevistado (PE2) relatou que o início do projeto ocorreu antes dele atuar como docente na UFRN – quando trabalhava num laboratório na Noruega.

Antes de me mudar para Natal, eu já era prestador de serviço. Eu era gerente de um laboratório centralizado de proteômica. Eu recebia e-mail o tempo todo de pessoal aqui do Brasil, de antigos colaboradores, ou até de ex-colegas de faculdade de 20 anos atrás, que precisavam da análise e não tinham acesso aqui no Brasil. (PE2, 2018). Os demais projetos surgiram a partir de demandas de trabalho requisitadas no ano de 2017. O responsável pelo Projeto Modelagem (PE3) relata que “o projeto foi desenvolvido por volta de maio ou junho de 2017, e ele foi a partir de um problema enfrentado por um grupo de pesquisa lá de São Paulo” (PE3, 2018). Já o Projeto Epítopos, de acordo com o entrevistado

(PE4), “ele surgiu em meados do ano passado, como efeito de uma pesquisa que a gente estava elaborando aqui” (PE4, 2018).

Esses relatos apresentam uma característica interessante do BioME: a abertura para projetos de variadas fontes. Para fazer parte do portfólio local não é necessário produzir um produto/serviço nativo – como é o caso dos projetos Modelagem e Epítopos – pois o ambiente incorpora experiências bem-sucedidas dos seus pesquisadores, ainda que anteriores ao seu vínculo com o BioME - como pode ser visto nos projetos ViVa e Proteômica.

Passando para a pergunta seguinte – a segunda questão – indagou: Em sua opinião, quais foram os facilitadores para o desenvolvimento?

O know-how ou expertise da equipe de criação foi um facilitador apontado por todos os entrevistados, permitindo a eles responder imediatamente às oportunidades de oferta comercial. Essa resposta vai totalmente ao encontro daquilo que foi refletido no referencial teórico deste estudo sobre a importância de equipes multidisciplinares nos processos de inovação. O chamado “Perfil T” (STICKDORN; SCHNEIDER, 2014) – a capacidade de combinar o conhecimento profundo numa área do conhecimento com o entendimento geral em diversas disciplinas – pode ser identificado nesta resposta.

Em seu relato, o entrevistado PE1 acrescentou: “Eu acho que a principal delas foi a demanda, porque é uma ferramenta que os concorrentes são todos internacionais, com um custo altíssimo.” (PE1, 2018). O PE2 reforçou que a sua experiência prévia foi um facilitador. “Ah, com certeza o fato de eu já ter sido prestador de serviços [...]. Isso obviamente já me deu todas as conexões que eu precisava para ter acesso a hardware [...] a equipamentos.” (PE2, 2018).

Dando continuidade à entrevista, a terceira questão foi: E quais foram as barreiras? O PE3 apontou que, embora a prestação do serviço sem a interferência do cliente ofereça mais confiabilidade aos resultados, a falta de contato presencial foi um problema. “A principal barreira foi a gente não ter tido uma reunião com o grupo diretamente” (PE3, 2018). O PE4 aponta que no início do Projeto Epítopos, a principal barreira foi adquirir o conhecimento (background) dos conceitos acadêmicos envolvidos.

Já para o Projeto ViVa, disse o entrevistado: “Eu acho que uma barreira - e que eu acho que a gente ainda enfrenta – é a questão, apesar de existir uma demanda, nós não fizemos uma ação de marketing muito agressiva”. (PE1, 2018). O responsável pelo Projeto Proteômica, por sua vez, não apontou uma barreira especificamente, mas deixou a entender que o custo da infraestrutura externa ao BioME para realizar parte do serviço é uma ameaça. “Se nós não tivéssemos acesso à infraestrutura, com certeza seria. [...] A gente desenvolver a parte de

informática aqui, em vez de utilizar a infraestrutura e o serviço em outro lugar, seria muito mais vantajoso.” (PE2, 2018).

Essas barreiras apontadas, de alguma forma, se alinham àquelas apontadas por Sheth e Ram (1987) apresentadas no capítulo 4 deste estudo. A ausência do marketing relatada pelo PE1 pode ser relacionada à “barreira para novos entrantes”. A barreira depurada da resposta do PE2 – o custo – está intrinsecamente ligada à barreira “falta de recursos” dos autores. O apontamento do PE3, que mencionou a falta de contato com o cliente como um problema, pode ser representada pela barreira “processos”. Por fim, a necessidade de conhecimento mencionada pelo PE4 é representada pela barreira “expertise” do estudo de Sheth e Ram (1987).

Prosseguindo, a quinta questão do bloco foi: Você poderia fazer uma breve descrição de como funciona o Projeto [nome]? Se possível, cite um exemplo.

Essa questão foi utilizada apenas para se fazer a descrição dos produtos/serviços realizada na seção 7.2. Basicamente, o Projeto ViVa faz associações entre variantes do genoma de um indivíduo com variantes provenientes de bancos de dados públicos, com a finalidade de prever doenças e resposta a fármacos. O Projeto Proteômica faz um trabalho parecido com o proteoma. A finalidade do Projeto Modelagem é simular, em ambiente computacional, possíveis reações de um organismo vivo a determinada alteração biológica. Finalizando, o Projeto Epítopos investiga, num paciente com câncer, a possibilidade do seu próprio organismo combater a doença.

Com isso, o Bloco 3 foi finalizado. Ao se comparar os relatos dessa parte com o núcleo analítico do bloco (entender, de maneira sintética, a criação e funcionamento do produto/serviço.), foi possível observar que os projetos se originaram tanto de inquietações acadêmicas dos próprios pesquisadores, quanto de questionamentos, problemas ou lacunas de pesquisa de uma demanda externa. Dois projetos existiam antes mesmo da instituição do BioME e foram incorporados ao portfólio em razão de seus idealizadores estarem vinculados à organização. Os outros dois surgiram em decorrência da própria expertise presente no grupo de pesquisadores do BioME.

Ao falarem sobre os facilitadores, os entrevistados foram unânimes em apontar que o conhecimento da equipe (know-how) foi o principal ponto favorável no desenvolvimento dos projetos. No caso das barreiras ao desenvolvimento dos projetos, não houve similaridade nas respostas.

Dando sequência, se passará agora às questões do BLOCO 4 (o último), que abordam a visão dos pesquisadores quanto à adequação do framework ao processo de criação de cada produto/serviço analisado.

A primeira questão do bloco foi: Como surgiu(ram) a(s) ideia(s) de criação do Projeto [nome]?

De acordo com o entrevistado, o Projeto ViVa teve uma motivação acadêmica, no primeiro momento, para uso apenas do próprio grupo de pesquisa. Após um tempo “surgiu um pouco da demanda e nós avaliamos que a gente estava muito perto de ter uma solução para essas demandas [...]. Esses testes genéticos estão se popularizando [...] a demanda por esse tipo de serviço tende a aumentar.” (PE1, 2018).

O entrevistado do Projeto Proteômica foi categórico: “Com certeza foi com base, assim... saber que existe a demanda [...]. Eu já tinha acesso à tecnologia e, por saber que já existia demanda por essa tecnologia, por esse tipo de análise.” (PE2, 2018).

No Projeto Modelagem a ideia veio totalmente de uma provocação externa:

Surgiu, basicamente, a partir do problema que nos foi trazido. Então, esse grupo de pesquisadores, eles tinham esse problema com uma modificação e disseram: ‘olha, a gente fez uma modificação numa proteína e a gente está querendo saber, in sílico, como é que ela se comportaria, para ver se a gente faz alguma previsão que a gente poderia fazer in vitro, ou in vivo’. (PE3, 2018).

Por fim, o PE4 relatou que a ideia do Projeto Epítopos “surgiu dentro da demanda e a partir de um projeto científico que a gente estava conduzindo. Então, aconteceu de um dos nossos clientes pedir esse tipo de análise e a gente já estar apto a executá-la.” (PE4, 2018).

As respostas dos participantes remetem à etapa “levantamento” do ciclo de inovação proposto por Carvalho, Reis e Cavalcante (2011). De acordo com os autores, nessa etapa se busca sistematicamente por oportunidades de inovação (ideias) com o objetivo de antecipar tendências de novos produtos, processos e serviços, observando sinais de mudança no ambiente competitivo.

Dando continuidade à entrevista, a segunda questão indagou: Você considera que a etapa PROBLEMATIZAÇÃO do framework é suficiente para representar a ideia de criação do Projeto [nome]? Justifique.

Todos os entrevistados foram bastante enfáticos na concordância com a proposição da etapa PROBLEMATIZAÇÃO para representar a fase de criação do projeto. A título de exemplo, no Projeto Modelagem:

Quando problema chegou aqui para a gente, a gente teve que fazer... não sei se a palavra é essa... a gente teve que destrinchar esses problemas em algumas possibilidades de problemas adicionais. Então, eu acredito que o que chegou aqui, depois que a gente começou, basicamente a gente trabalhou nessa parte de problematizar. (PE3, 2018).

O PE4 também destacou:

Considerando que a problematização, ela está relacionada com o insight e com a averiguação do problema em si, eu diria que sim. Principalmente, porque dentro da metodologia científica é assim que funciona – que funciona para a gente: primeiro surge a ideia, a hipótese a ser levantada... para depois começar a investigação sobre ela. (PE4, 2018).

O responsável pelo Projeto ViVa (PE1) manifestou concordância, mas também teceu algumas críticas ao modelo na relação prática entre a etapa PROBLEMATIZAÇÃO e a etapa seguinte: a DEFINIÇÃO (objeto da pergunta seguinte).

Sem dúvida! Sem dúvida! Talvez aqui na questão da definição, que seria o segundo, talvez tenha entrado aqui também, né? É que, no fundo, se me permite uma crítica no modelo, essa borda aqui, essa fronteira ela não é tão claramente definida. Então assim... à medida que você vai problematizando, você já vai fazendo algumas escolhas. (PE1, 2018).

Quando se busca relacionar o conteúdo das respostas ao processo de Design Thinking, o conceito de “mistério” apresentado por Martin (2010) se mostra relevante. Ele pode ser entendido como o problema em questão, apresentando-se ainda de forma obscura e com uma variedade infinita de formas. Para o autor o mistério é algo que desperta a curiosidade e a busca por respostas.

Dentro do framework a PROBLEMATIZAÇÃO é uma etapa divergente, relacionada à criação de opções. Sendo assim, o relato dos entrevistados permite deduzir que a proposta da etapa PROBLEMATIZAÇÃO tem relação com o processo de criação dos projetos. Para Brown (2010, p. 63) “ao testar ideias concorrentes comparando-as umas com as outras, são maiores as chances de o resultado ser mais ousado, mais criativo e mais atraente. [...] Para ter uma boa ideia, você antes precisa ter muitas ideias”.

A pergunta seguinte – terceira questão do bloco – faz a seguinte proposição: A partir da(s) ideia(s) inicial(ais) do Projeto [nome], como aconteceu a decisão sobre o escopo do projeto?

No ponto de vista do Projeto Proteômica, o PE2 declarou que “boa parte da definição vem daquilo que a gente pode fazer aqui e daquilo que tem que ser feito em outro lugar” (PE2, 2018). E continuou: “Então, o que limita o que a gente faz e o que o grupo terceirizado ou infraestrutura terceirizada faz, é aquilo que cada um pode fazer.” (PE2, 2018). Essa afirmação traz à tona a fundamentação teórica sobre as Redes de Conhecimento, entendidas como espaços

formulados para a troca de informações e experiências de variados indivíduos, pertencentes ou não a uma mesma organização (FLEURY, 2003)

Em relação ao Projeto Epítopos, argumenta o entrevistado:

Ah, dentro, especialmente, do Projeto Epítopos, o escopo ele foi definido pela demanda, certo? A gente tinha alguns pontos que a gente gostaria de sanar e tinha, dentro desses pontos, os mais requisitados pelo nosso cliente. Então, a gente primeiro priorizou esses, para depois ir estendendo o projeto aos poucos (PE4, 2018).

No Projeto Modelagem o entrevistado disse que foram avaliadas todas as possibilidades de resposta para o projeto com o intuito de, na sequência, fazer uma definição.

Por fim, o PE1 pondera que, no caso do Projeto ViVa, pesou o trabalho em equipe. “Eu acho que aí, um ponto importante, foi o trabalho em equipe. Por exemplo: muitas dessas decisões, elas tinham como base uma questão técnica. [...] Outras definições foram mais baseadas, por exemplo, numa experiência mais minha” (PE1, 2018). Depura-se dessa reposta uma forte ligação com referencial teórico que tratou dos fatores idiossincráticos e de estrutura organizacional da transferência do conhecimento (capítulo 3) propostos por Lemos e Joia (2012). Para os autores, a confiança mútua, a linguagem comum, a hierarquia e o poder são indicadores relevantes para a TC.

Prosseguindo, a quarta questão do bloco arguiu: Você considera que a etapa DEFINIÇÃO do framework é suficiente para representar decisão do escopo do Projeto [nome]? Justifique.

O PE1 sinalizou concordância com a finalidade da etapa. Para ele, a proposta do framework se parece muito com o método científico, porém, além de pensar no resultado acadêmico, na DEFINIÇÃO é preciso valorizar as decisões de ordem técnica: “No fundo, isso é muito parecido com o método científico [...] mas, ao mesmo tempo, você tem decisões técnicas para fazer. Então, eu acho que é mais ou menos nessa linha.” (PE1. 2018).

Esses níveis de decisão encontram respaldo na abordagem do Design Thinking. Para Pinheiro e Alt (2011) o DT é o conjunto intersecção de três elementos centrais para o sucesso de produto ou serviço: ser rentável para o negócio; ser tecnicamente possível; ser desejável para as pessoas. No ponto de vista de Kunitake (2017), o DT pode ser utilizado para resolver problemas de maior complexidade por meio das respostas dadas a problemas menores, ou seja, há um processo contínuo de decisões a serem tomadas.

Na perspectiva do Projeto Modelagem, o PE3 também concorda com a proposição da etapa. “A gente tem o entendimento de como abordar o problema, botando de uma forma como

você está colocando” (PE3, 2018). Em relação à adequação da DEFINIÇÃO com o processo de criação do projeto, ele pondera: “Como a gente não teve definições metodológicas, ela não vai representar completamente, mas ela define em boa parte” (PE3, 2018).

A opinião do PE2 – em relação ao Projeto Proteômica – é parecida: “Com certeza representa. Eu não sei se nesse meu projeto, especificamente, mas em outros projetos com certeza, porque você tem mais amplitude.” (PE2, 2018).

Já o PE4 disse que etapa representa apenas em parte. “Eu diria que em parte [...]. A definição está falando de como você representa o problema, certo? [...] O problema surgiu dentro de uma demanda, então, ele meio que foi definido antes da parte de problematização.” (PE4, 2018). Essa observação do PE4 foi importante no sentindo representar mais uma característica do Design Thinking: a não linearidade. Para Martin (2010) é necessário entender a possibilidade de também inovar pelo aperfeiçoamento e refinamento de um mesmo estágio.

A etapa DEFINIÇÃO é um processo convergente dentro do framework, vinculado ao processo de fazer escolhas. Nesse sentido, o fato das respostas mencionarem várias vezes termos relacionados a decisões e definições, mostra que a proposição desta etapa é coerente com o processo de criação dos projetos.

Continuando a apresentação das entrevistas, a quinta questão do bloco 5 foi: Após decidir sobre as diretrizes iniciais do Projeto [nome], como aconteceu o seu desenvolvimento prático?

No caso do Projeto ViVa, o PE1 relatou ser muito comum que o desenvolvimento prático de um projeto auxilie em alguns pontos de definição (a etapa anterior do framework). Isso permitiu constatar que, nesse projeto, o processo de criação foi formado por caminhos ou etapas cíclicas, ou seja, durante o seu desenvolvimento novas (re)definições foram acontecendo.

Então, principalmente em Tecnologia da Informação, onde você desenvolve tudo relativamente rápido, a execução te ajuda a definir. Então, você começa a fazer aqui e, ao fazer, você fala: ‘Espera aí, nisso eu não tenho como usar aquilo, eu tenho que…’ isso já contribui. Então, você pode decidir avançar e voltar sempre que necessário. (PE1, 2018).

Essa posição do PE1 encontra respaldo na literatura sobre o DT. “Os projetos podem percorrer esses espaços mais de uma vez à medida que a equipe lapida suas ideias e explora novos direcionamentos” (BROWN, 2010, p. 16). Os processos relacionados ao DT poderão passar de uma fase a outra por várias vezes, aumentando lentamente a qualidade da saída,

portanto, é melhor pensar no DT mais como uma bússola do que como um mapa (KUNITAKE, 2017).

Para o PE2, no Projeto Proteômica o desenvolvimento prático demandou algumas