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CAP.4 PENAS ALTERNATIVAS

III- A culpabilidade, os antecedentes a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa

4.4 ADEQUAÇÃO DAS PENAS ALTERNATIVAS

Vamos tratar agora da adequação das penas alternativas, os fundamentos que tornam essas penas mais adequadas do que a pena de prisão em resposta à crimes de médio e pequeno potencial ofensivo, aplicando para esse estudo sempre o filtro constitucional.

sendo o delinquente punido de acordo com a sua culpabilidade, prevenção geral, fazendo o corpo social evitar a prática de infrações penais, e da prevenção especial, reforçando os valores sociais e éticos do apenado, evitando a sua reincidência delitiva e lhe auxilando em sua reinserção como membro útil da sociedade. Sendo que, durante o comprometimento com todos os objetivos agora citados, a pena deve sempre respeitar os princípios constitucionais, mais especificamente o princípio-valor da dignidade humana.

Ao tratar do estudo sobre adequação das citadas penas é necessário relembrar o texto constitucional que proíbe o tratamento desumano e degradante, a transcendência da pena da pessoa do condenado, a imposição de penas corporais, cruéis, ou de morte.

No contexto minimalista que prepondera no direito penal em todo o mundo contemporâneo temos que esse ramo do direito deve limitar o máximo possível a sua atuação no que toca a liberdade do agente, devendo ser a prisão o último recurso a ser aplicado.

As penas alternativas aqui estudadas representam um passo enorme para a ressocialização do condenado e a busca de uma sociedade mais justa e igualitária, elas apresentam como principal vantagem a não utilização do encarceramento, evitando-se assim todos os males que a prisão causa no ser humano e que já foram analisados em capítulo próprio.

O fato da pessoa estar aprisionada afasta ela do convívio familiar, ela deixa de conviver com as pessoas que lhe são queridas e passa a viver num ambiente totalmente diferente e negativo. Devido a dificuldade das visitas e dos constrangimentos que os visitantes passam na maioria dos presídios, o apenado vai perdendo cada vez mais o contato com amigos e parentes. No final, ele é condenado não só a perder a liberdade, mas a perder a família, os amigos e o emprego.

egresso do sistema prisional sofre, poucas são as oportunidades de subsistência atreladas a uma vida digna.

Outro fator estimulante do uso das penas não privativas de liberdade é o Princípio da Proporcionalidade. Para crimes de pequena monta, nos quais o bem jurídico tutelado pelo direito penal não foi mortalmente afrontado, uma resposta penal da altura da prisão é por demais severa se comparada a pequenez de certos delitos.

Como comparar o furto de um objeto de pequeno valor com a privação da liberdade de um ser humano? Questões como essas, vistas através do espírito humanitário presente em nossa Carta Magna, apontam diretamente para as penas alternativas como solução desse tipo de conflito.

Outra questão importantíssima a ser levantada em defesa da adequação das penas alternativas frente ao nosso cenário constitucional é o seu baixíssimo valor em relação à pena de prisão. Um presidiário custa mensalmente aos cofres públicos em torno de 3 a 5 salários mínimos, essa quantia é suficiente para a criação de 11 vagas em escolas públicas de nível médio. Esse é um custo altíssimo a ser aguentado pela população em geral, além de que se o presidiário estiver trabalhando de carteira assinada, a sua família faz jus ao auxílio reclusão, que atualmente gira em torno de R$780,00. Por outro lado, o custo de manutenção das penas restritivas de direito é baixíssimo, sendo que nas penas de caráter pecuniário e nas penas de prestação de serviço à comunidade a sociedade sai lucrando com a pena.

Temos que as penas alternativas, principalmente no que toca o procedimento orquestrado nos juizados especiais criminais, traz uma tônica restaurativa ao direito penal, através da composição de danos e da pena de prestação pecuniária, sendo, dessa forma, a vítima ou seus dependentes ressarcidos do dano causado pelo crime, esse é um fator que até recentemente estava afastado do direito penal, no caso a vítima teria que procurar o ramo civil para ter algum ressarcimento.

Outro fator essencial que labuta pela prevalência das penas alternativas é a prevenção específica que ela gera. Como já mencionado anteriormente, as instituições privativas de liberdade são verdadeiras faculdades do crime, deixando o criminoso cada vez mais perigoso a medida que vai passando por suas portas.

O índice de reincidência das penas privativas de liberdade é altíssimo, chegando à 70% segundo o Ministério da Justiça, o que na verdade não poderia deixar de ser já que o Estado não empregou nenhum esforço no sentido de ressocializar o apenado, ao contrário, ele embruteceu durante o seu contato com o mundo da prisão.

Entretanto quando falamos de penas alternativas a realidade é outra, existe toda uma equipe de psicólogos e assistentes sociais que auxiliam o apenado durante todo o processo de cumprimento da pena, na tentativa de auxiliá-lo a enveredar no caminho correto e não mais delinquir, o que faz o índice de reincidência daqueles que cumpriram penas alternativas ficar no patamar de 6%.

É de imensa importância no cumprimento das penas alternativas a participação da comunidade, principalmente através da rede social para o sucesso das medidas alternativas.

A rede social é composta de vários segmentos da sociedade e do Estado que trabalham juntos para a consecução da medida, são entidades assistenciais que trazem o condenado para dentro de suas portas para que ele cumpra a medida através do trabalho, pagamento da prestação inominada ou até trazendo palestras ou outras medidas para aquele que cumpre a limitação de fim de semana. Vemos dessa maneira que, diferente da prisão que estigmatiza o condenado como membro doente do corpo social, a medida alternativa o trás mais perto do mesmo.

Há de se combater a falácia de muitos que tratam a pena alternativa como sinônimo de impunidade. A pena restritiva de direitos em momento algum deixa de ser sanção, muito pelo

contrário, ela se presta ao bem maior tanto do apenado quanto da sociedade, ela dá possibilidades de o agente, por meios próprios, ser o autor de sua própria mudança, sendo também sujeito ativo da aplicação da pena.

Há de se desmistificar a ideia, já muito combalida, de que o cárcere e o endurecimento das penas são as saídas para a paz social, esse tipo de medidas apenas aumenta a exclusão social e alimenta ciclo vicioso da violência.

A ressocialização do apenado através da sua exclusão da sociedade livre é conceito por si só contraditório.

Está provado que apenas com novas e edificantes experiências pode despontar a esperança da reinserção social. Não podemos defender que o Estado faça lavagem cerebral nos apenados, tentando lhes incutir à força valores morais e éticos. A função do Estado no cumprimento da pena alternativa é dar chances através de medidas educativas e profissionalizantes para que aquele que delinquiu possa, a partir do cumprimento da reprimenda, engendrar novo caminho para a sua vida.