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CAP.4 PENAS ALTERNATIVAS

4.1 HISTÓRICO DAS PENAS ALTERNATIVAS

Devido aos inúmeros problemas aqui já mencionados que resultaram na crise do sistema prisional, os juristas do início do século XX começaram a positivar, de forma tímida, algumas alternativas para que se evitasse a pena privativa de liberdade.

Como nos ensina Shecaira42 no Código Penal Soviético datado de 1926 já existia a previsão de prestação de serviços à comunidade como forma de pena e antes, em 1912, o Egito introduziu o trabalho penal como substituto às penas de curta duração.

Apesar desses pequenos avanços, a utilização das penas alternativas só passou a ser ampliada após o fim da Segunda Guerra Mundial, como estudamos em capítulo anterior, o fim da Segunda Grande Guerra trouxe uma revolução de ideias no que toca à valorização da dignidade humana e o respeito ao homem. Nessa esteira de pensamentos, vistos os males causados pela pena privativa de liberdade, começou-se a repensar o seu uso, principalmente para as penas de pequena duração.

A ONU passou a tratar com mais amplitude do assunto penal, tendo em vista a precariedade de condições dos presídios na maior parte do globo e o desrespeito com os direitos humanos dos apenados.

Dessa forma, com a Declaração Universal dos Direitos dos homens em 1948 e o Pacto internacional de Direitos Civis e Políticos de 1966, foi-se pavimentando o caminho para que em 14 de dezembro de 1990 fossem editadas as regras de Tóquio que dispunham sobre sanções não privativas de liberdade.

De acordo com o seu próprio texto as regras de Tóquio43 “visam encorajar a colectividade a participar mais no processo da justiça penal e, muito especialmente, no tratamento dos delinquentes, assim como desenvolver nestes últimos o sentido da sua responsabilidade para com a sociedade.” Sempre levando em consideração “um justo equilíbrio entre os direitos dos delinquentes, os direitos das vítimas e as preocupações da sociedade relativas à segurança pública e à prevenção do crime.” Tratando desde a etapa pré processual, do âmbito de aplicação de medida não provativa de liberdade e até do treinamento

42SHECAIRA, Sérgio Salomão, CORREIA JUNIOR, Alceu. Op. Cit.

43 http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-dh/tidhuniversais/dhaj-NOVO-regrastoquio.html acessado em 10/06/2011.

do pessoal capacitado para monitorá-la, o documento internacional mostra-se como bússola a orientar a justa aplicação de um direito penal que não pode mais se focar unicamente no encarceramento.

No sistema jurídico brasileiro as penas alternativas foram incorporados na reforma ocorrida no ano de 1984 quando foram implementadas para substituir a prisão de até um ano para os crimes dolosos e sem limites de tempo para culposos.

Já no ano de 1995 entrou em vigor a lei dos Juizados Especais que trouxe uma série de medidas alternativas à prisão como a suspensão condicional do processo, composição civil e transação penal, o que afastaria a incidência da pena de prisão e tentaria medidas mais amenas para o crime, com a valorização da figura da vítima.

Com a implementação dos juizados especiais criminais vislumbramos o surgimento de toda uma estrutura institucional que visou a solução dos conflitos gerados pelos crimes de menor potencial ofensivo, dicotomizando, dessa forma, a justiça criminal entre aquela voltada para os crimes mais violentos, que realmente precisam ser enfrentados com toda a força do direito penal e aqueles de menor potencial ofensivo que, apesar de não transtornarem tanto a sociedade, ainda necessitam da guarida do direito penal.

Apesar de toda a revolução jurídica que a lei dos juizados especiais causou na seara penal, as penas alternativas per si ainda encontram pouco campo de atuação dentro do sistema legal.

Em resposta aos apelos da comunidade jurídica, surge orquestrada pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), a Lei 9714 de 1998 que veio a consolidar no cenário legal brasileiro o instituto das penas alternativas.

O retro mencionado diploma ampliou o leque de penas alternativas à disposição do magistrado e aumentou de 1 para 4 anos o valor máximo da pena de prisão aplicada que poderia ser substituída pela pena alternativa, dando grande fôlego para o instituto.

Dessa forma o legislador infra constitucional demonstrou claro a sua escolha de um direito penal garantista e minimalista, de acordo com as exigências da Carta Maior e os ditames dos Direitos humanos.

Subsiste o modelo penal clássico, que continua aplicando a pena de prisão para os crimes de grande potencial ofensivo, enquanto assistimos o nascimento de um modelo voltado para os crimes de pequeno potencial ofensivo que, segundo conceitua o artigo 61 da lei dos juizados especiais são aqueles cuja pena máxima cominada não supere dois anos, e de médio potencial ofensivo que são aqueles cometidos sem violência ou grave ameaça e cuja pena máxima cominada não exceda 4 anos.

Ainda sobre os avanços da lei que ampliou o campo de atuação das penas alternativas Geder Luis Rocha Gomes44 afirma:

“A legitimidade que busca a lei 9714/98 , encontra ressonância na ideia de intervenção mínima do direito penal que está implícita no sistema constitucional pátrio que, entre outras disposições, traz, em seu artigo 3ª, como objetivo fundamental da República, construir uma sociedade livre, justa e solidária, e erradicar a pobreza e a marginalização, objetivos estes que, para serem alcançados, perpassam, notadamente, por uma justiça penal que privilegia a liberdade do infrator e a possibilidade de sua integração social em detrimento da prisão nos casos em que esta não se revele necessária”