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Os adjetivos temporais, em princípio, não deveriam ser graduáveis. No entanto, no que diz respeito à modificação por grau, alguns aceitam modificadores como “mais” ou “menos” e advérbios intensificadores (“muito/pouco/bastante”) quer em posição atributiva quer em posição predicativa. Um desses exemplos é o adjetivo recente, que admite todos os modificadores deste tipo. Também o adjetivo próximo aceita modificação adverbial intensificadora, mas apenas em situação predicativa com o verbo “estar”, como foi visto em (14).

Embora provisoriamente, concluímos que os adjetivos temporais ocorrem tipicamente quer à esquerda quer à direita dos nomes e que evidenciam algumas discrepâncias no que diz respeito à participação em estruturas predicativas e à graduabilidade.

2.4. Adjetivos adverbiais temporais e modificação intersectiva

Observemos agora o comportamento dos adjetivos adverbiais temporais segundo as relações semânticas da intersecção.

Segundo Bosque (2010), os adjetivos adverbiais são não intersectivos46. Dando como exemplo “el actual ministro de Economía” (p. 927), refere, tal como Demonte (1999) na definição que propõe para estes adjetivos, que o adjetivo não apresenta uma qualidade do ministro, mas que “los substantivos que expresan cargos, puestos, funciones y otros estados que se les asimilan se interpretan como predicados de los indivíduos relativos a algún segmento temporal” (p. 955). Assim, “el actual ministro de Economía” poderá constituir paráfrase de “el que es actualmente ministro de Economía”. Este autor acrescenta ainda que estes adjetivos não intersectivos podem ser temporais, mas também são não intersectivos adjetivos modais como provável, presumível e outros.

Referimos no capítulo 1 que Partee (2003) considera que os adjetivos não intersectivos não têm todos as mesmas características; por isso, divide-os em subsectivos e não subsectivos e estes em privativos e plain (evasivos, cf. Vidal, 2004). Por seu turno, Vidal (2004) propõe que os adjetivos privativos e os adjetivos evasivos constituem um tipo de modificação diferente quer da intersectiva quer da subsectiva. Assim, seguindo a sua proposta, poderemos afirmar que um adjetivo como antigo em “antigo militar”, por exemplo, não seria um modificador intersectivo, pois o sintagma no qual está integrado não possui as condições suficientes para pertencer ao conjunto intersecção dos militares e dos seres antigos; mas também não seria subsectivo porque não pode estar incluído no conjunto dos militares, visto que, no momento atual, as entidades denotadas por “antigos militares” já não pertencem ao conjunto dos militares. A mesma autora não classifica, como faz Bosque (2010), os adjetivos antigo e presumível como não intersectivos nem tão pouco como subsectivos, porque considera que a modificação que realizam é de tipo diferente: não se pode afirmar que “um presumível assassino” é um assassino, porque há a possibilidade de o ser como a de não o ser; também não se pode afirmar que “um antigo militar” é um militar. Adjetivos como presumível serão evasivos e adjetivos como antigo serão privativos47.

Ora, sendo os adjetivos temporais, segundo Bosque (2010), não intersectivos, em qual grupo os colocar? No caso do adjetivo atual, poderemos considerar que modifica da mesma forma que antigo?

Observemos alguns exemplos de adjetivos temporais associados a um nome que denota um cargo, tal como sugerido por Bosque (2010, p. 995):

(16) O Eduardo é um antigo ministro da Economia48. (17) O Miguel será um futuro ministro da Economia. (18) O Álvaro é o atual ministro da Economia. (19) O Fernando é um recente ministro da Economia.

Relativamente a antigo (cf. (16)), já observámos que é um modificador privativo (cf. Vidal, 2004), pois, segundo a teoria dos conjuntos, “ ¬ (antigo ∩ ministro)” e “ ¬ (antigo ministro ⊆ ministro)”. Situação diferente observa-se em (17) com o adjetivo

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Embora tenhamos integrado antigo no conjunto dos adjetivos adverbiais temporais, consideramos que, de facto, apresenta algumas características dos adjetivos modais. As propostas de Milner (1967) e de Vidal (2004) confirmam esta interpretação deste adjetivo.

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Posteriormente, avaliaremos o papel dos determinantes na interpretação dos sintagmas nominais que integram adjetivos.

futuro. Neste caso, concordando com Bosque (2010), a interpretação está próxima da de presumível, visto que, tendo em atenção o significado de futuro, não se poderá garantir que “um futuro ministro” venha a ser “ministro”49

. Daí que este adjetivo seja um modificador evasivo (cf. Vidal, 2004) ou não intersectivo não subsectivo plain (cf. Partee, 2003). Relativamente a atual (cf. (18)), a situação é também diferente das anteriores: não é intersectivo, na medida em que o sintagma “atual ministro” não é o conjunto intersecção dos ministros com o dos seres atuais, mas inclui-se no conjunto dos ministros. Por isso, poder-se-á classificá-lo como modificador não intersectivo subsectivo. Situação ambígua verifica-se com recente (cf. (19)). Se considerarmos que a interpretação de “recente ministro” é a de “ministro que foi nomeado recentemente”, então será subsectivo como atual dado que pertence ao conjunto dos ministros. No caso de “recente ministro” corresponder a um ministro que ocupou o cargo até recentemente, então a sua classificação é a mesma de antigo (cf. (16)).

Como se pode observar, embora sendo não intersectivos, os adjetivos temporais não modificam todos de igual modo, mesmo que o nome modificado seja o mesmo. Veja-se ainda outro exemplo.

(20) As notícias atuais são pessimistas.

Para explicitar a modificação intersectiva dos adjetivos temporais, Bosque (2010) recorre à comparação entre “atual ministro” e “notícia atual”, propondo que, contrariamente ao que acontece na última destas expressões, o adjetivo em “atual ministro” não atribui nenhuma qualidade à entidade denotada pelo nome. Admitindo que este autor atribui ao adjetivo atual na expressão que toma como exemplo o significado de “real” ou de “efetivo” (cf. Novo Dicionário Aurélio, p. 198), a sua interpretação é adequada, mas, se não tiver este significado, continuará a ser um adjetivo temporal. Ora, considerando que em (20), o adjetivo atual exprime temporalidade como em “ministro atual”, qual será a diferença entre as duas expressões relativamente à modificação? Na nossa opinião, a modificação é a mesma. Só seria diferente, como propõe Bosque (2010), se atual fosse qualificativo.

49 Devido a ter esta interpretação, Bouchard (2002, p. 8) propõe que futuro não apresenta uma leitura