• Nenhum resultado encontrado

2.2 PRINCÍPIOS DA LEI DE RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FALÊNCIAS

2.3.1 Administrador Judicial

Na anterior lei de falências e concordatas existiam as figuras do comissário e do síndico, sendo que o primeiro exercia o papel de fiscal do concordatário, e o segundo, administrava a massa falida. A escolha de um ou outro, deveria obedecer a um critério objetivo, ou seja, o credor titular do crédito de maior valor tinha o direito de exercer a função de comissário ou síndico (VERÇOSA, 2007, p. 164-165).

A LREF inovou ao simplificar o procedimento de escolha do administrador judicial, devendo o escolhido ser um profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresa, contador ou pessoa jurídica especializada (BRASIL, 2005, art. 21).

O juiz tem o livre arbítrio de escolher o profissional ou a pessoa jurídica de sua confiança para auxiliá-lo no processo de recuperação judicial ou falência (COELHO, 2008, p. 57).

Bezerra Filho (2008, p. 95) assevera que “a lei atual deu ao juiz um poder maior para a nomeação do administrador, relativamente ao que havia na lei anterior para a nomeação do síndico, então cercada de diversas exigências que a prática do dia-a-dia demonstrou inexequíveis.”

A LREF estabelece que o profissional nomeado administrador judicial deve ser pessoa idônea. A idoneidade, neste caso, deve ser interpretada no sentido moral e financeira, pois esse profissional tem que administrar, em alguns casos, bens e valores volumosos, assim como interesses diversos e conflitantes no curso do processo (TOLEDO, 2009, p. 55).

Apesar de a LREF ter especificado os profissionais que possuem preferência na nomeação para a função de administrador judicial, não significa que o juiz tem o dever de escolher apenas os indicados, até mesmo porque o artigo não é taxativo e sim exemplificativo. Não há nenhum impedimento de se nomear um profissional de outra área e, até mesmo, uma pessoa que não possua diploma de curso superior, bastando ter competência e experiência na atividade empresarial (TOLEDO, op. cit., p. 55).

A pessoa nomeada para a função de administrador judicial, segundo Sztajn (2007, p. 258) deve, necessariamente, ser especialista e com vasta experiência na área empresarial, pois requer que o profissional tenha pleno conhecimento de suas atribuições.

Sztajn (op. cit., p. 258) comenta também que:

A função desse administrador judicial é mais complexa do que a de administrador de sociedade que não enfrente crise econômica. De um lado, porque além de tomar decisões cujos efeitos recairão sobre a sociedade, diretamente e, indiretamente, sobre credores e sócios, deve gerir a empresa de modo a, cumprindo as propostas do plano, sugerir mudanças sempre que eventos externos e não previstos, ainda que previsíveis, possam afetar de maneira negativa o planejado.

O administrador judicial precisa ter domínio em gestão empresarial para administrar uma empresa em crise, pois tem a árdua tarefa de comandar a sua reorganização e recuperação. É necessário também ter conhecimento da LREF e outras áreas do direito, pois, durante o processo de recuperação judicial, certamente haverá ações trabalhistas, execuções fiscais, execuções de títulos judiciais e extrajudiciais, dentre outras. Essas ações podem comprometer a recuperação da empresa devedora, se o administrador judicial atuar com negligência, imprudência ou imperícia.

Se o administrador judicial, por dolo ou culpa, causar prejuízo ao devedor ou aos credores, será responsabilizado civilmente e terá a obrigação de indenizar.

O resultado positivo ou negativo da recuperação judicial ou falência depende da atuação do administrador judicial, pois este precisa ser diligente e ter bom conhecimento técnico para resolver os problemas encontrados no curso do processo (BEZERRA FILHO, 2008, p. 96).

As funções do administrador judicial, na recuperação judicial, podem variar um pouco dependendo de alguns fatores, como a existência ou não do comitê de credores, e a decretação do afastamento dos administradores da empresa devedora (COELHO, 2008, p. 63).

Se houver a instalação do comitê, cabe ao administrador judicial verificar os créditos, presidir a assembleia geral e fiscalizar o devedor. Por outro lado, não havendo comitê, o administrador judicial assume, se não houver incompatibilidade, as funções deste órgão. Havendo impedimento do administrador judicial por qualquer motivo, a responsabilidade recai sobre o juiz (COELHO, op. cit., p. 63).

No caso de afastamento dos administradores da empresa devedora, o administrador judicial passa a administrá-la até a eleição do gestor judicial pela assembleia geral de credores. Apenas e tão somente neste caso, o administrador judicial possui o poder de gerir a atividade empresarial. Não ocorrendo o afastamento dos administradores da devedora, o administrador judicial tem apenas o poder de fiscalização, verificação dos créditos e o de presidir a assembleia geral de credores (COELHO, 2008, p. 63).

O administrador judicial possui, também, o poder de exigir dos credores, do devedor ou seus administradores, quaisquer informações que sejam necessárias para deixá-lo inteirado de todos os casos ocorridos anteriormente ou durante o processo de recuperação judicial. Importante destacar que o administrador não precisa de autorização judicial para exigir tais informações, pois a LREF lhe concede este poder (BEZERRA FILHO, 2008, p. 98).

Na hipótese de recusa por parte dos administradores da empresa devedora em prestar informações ao administrador judicial, os mesmos devem ser afastados de suas funções pelo juiz (BRASIL, 2005, art. 64, V).

Em processo de recuperação judicial complexo ou de grande vulto, o administrador judicial pode contratar profissionais ou empresas especializadas para auxiliá-lo no exercício de suas funções, mediante autorização do juiz (BRASIL, op. cit., art. 22, I, “h”).

Verçosa (2007, p. 170) critica essa exigência de autorização judicial ao administrador para contratar profissionais ou empresas especializadas para auxilia- lo, afirmando que:

[...] teria sido de melhor alvitre a dispensa da autorização do juiz, a quem cabe a permanente fiscalização das atividades do administrador judicial. Caso este vier a abusar do seu direito e efetuar contratações desnecessárias, poderá ser destituído com a perda de sua remuneração (art. 24, §3º), sujeitando-se, ainda, a indenizar a empresa em recuperação ou a massa falida, pelos prejuízos que tiver causado em virtude de contratações desarrazoadas ou desnecessárias.

O administrador judicial tem o dever de apresentar ao juiz relatório mensal sobre as atividades do devedor, e, no final do processo de recuperação judicial, um relatório sobre a execução do plano de recuperação.

A remuneração e a forma de pagamento do administrador judicial são fixadas pelo juiz, observados a capacidade de pagamento do devedor, o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados no mercado para o desempenho

de atividades semelhantes, desde que não ultrapasse 5% do valor devido aos credores submetidos à recuperação judicial (BRASIL, 2005, art. 24, §1º).

A LREF estabeleceu a forma de pagamento da remuneração do administrador judicial apenas no caso de falência, que deve ser feito em duas parcelas, sendo a primeira parcela correspondente a 60% do valor de venda dos bens da massa falida no início do processo falimentar, e o restante, após a sentença de encerramento e aprovação das contas do administrador (BRASIL, op. cit., art. 24, §2º).

No entanto, não há previsão de parcelamento na LREF para o administrador judicial nomeado no processo de recuperação judicial, deixando essa incumbência ao juiz, que possui o livre arbítrio de estipular uma remuneração mensal, desde que não extrapole os parâmetros estabelecidos pela lei, bem como a capacidade econômico-financeira da empresa devedora (VERÇOSA, 2007, p. 177).

Importante destacar que a remuneração do administrador judicial no processo de recuperação judicial deve ser paga pelo devedor, de acordo com o valor e forma arbitrados pelo juiz (COELHO, 2008, p. 69).

Caso o administrador judicial seja substituído durante o processo de recuperação judicial, este recebe uma remuneração proporcional ao trabalho realizado, salvo se renunciar sem justo motivo ou for destituído de suas funções por desídia, culpa, dolo ou descumprimento das obrigações fixadas na LREF (BRASIL, op. cit., art. 24, §3º).

O administrador judicial também não tem direito a remuneração, se tiver suas contas reprovadas (BRASIL, op. cit., art. 24, §4º).

Documentos relacionados