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2.2 PRINCÍPIOS DA LEI DE RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FALÊNCIAS

2.3.3 Comitê de Credores

O comitê de credores é constituído, se for o caso, por deliberação de qualquer das classes de credores na assembleia geral, sendo composto por um representante indicado por cada classe e dois suplentes. Caso alguma classe não indique seu representante, a constituição do comitê não será prejudicada, pois poderá funcionar mesmo com número inferior ao previsto na lei (BRASIL, op. cit., art. 26, I, II, III, §1º).

A instalação do comitê de credores não é obrigatória, e sim facultativa, devendo existir apenas nos processos de recuperação judicial ou falência mais complexos e volumosos, que envolvam grandes empresas (COELHO, op. cit., p. 71). A decisão de criar o comitê cabe apenas aos credores, pois precisam avaliar os custos de sua instalação e funcionamento, bem como se o passivo da devedora é complexo o suficiente para recomendá-lo (COELHO, op. cit., p. 71).

A escolha do presidente do comitê de credores é feita pelos próprios membros, podendo cada um votar em si mesmo, levando a eleição a um empate. Neste caso, o impasse deve ser resolvido pelo administrador judicial ou, na incompatibilidade deste, pelo juiz (BRASIL, op. cit., art. 26, §3º; art. 27, §2º).

A LREF prevê as atribuições do comitê de credores, dentre as quais, destacam-se a de fiscalizar as atividades do administrador judicial e do devedor, apresentando relatório a cada 30 dias, examinar as contas do administrador judicial, fiscalizar a execução do plano de recuperação judicial, e submeter à autorização do juiz, quando ocorrer o afastamento do devedor nas hipóteses previstas nesta lei, a alienação de bens do ativo permanente, a constituição de ônus reais e outras garantias, bem como atos de endividamento necessários à continuação da atividade empresarial durante o período que antecede a aprovação do plano de recuperação judicial (BRASIL, 2005, art. 27 e incisos).

Outra atribuição importante do comitê de credores é a de zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento da lei. Essa atribuição pode ser comparada, de certa forma, à do Ministério Público atuando como fiscal da lei. No entanto, a diferença está no fato de o Ministério Público atuar na defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, enquanto o comitê atua apenas na defesa dos interesses dos credores (TOLEDO, 2009, p. 80).

O comitê, como defensor dos interesses dos credores, tem o dever de comunicar ao juiz violação dos seus direitos ou atos ilícitos que possa causar-lhes prejuízos (TOLEDO, op. cit., p. 80).

Assim, conclui-se que a principal competência do comitê de credores é a de fiscalizar, seja o administrador judicial e, também, o devedor, antes e depois da concessão da recuperação judicial, tendo, inclusive, acesso irrestrito ao estabelecimento empresarial, bem como a todos os documentos contábeis, fiscais e financeiros do devedor (COELHO, 2008, p. 75).

Mas a atribuição essencial do comitê de credores é, indubitavelmente, a fiscalização da execução do plano de recuperação judicial, pois todos têm interesse no seu cumprimento, descartando-se a convolação em falência (TOLEDO, op. cit., p. 82).

No relatório mensal sobre as atividades desenvolvidas pelo devedor, elaborado pelo comitê de credores, devem ser destacadas todas as possíveis irregularidades constatadas para que, posteriormente, seus membros não respondam por negligência de suas funções (COELHO, op. cit., p. 76).

As deliberações e decisões do comitê de credores, tomadas pela maioria, devem ser consignadas em livro de atas apropriado, rubricado pelo juízo, e

disponibilizado ao administrador judicial, credores e ao devedor (BRASIL, 2005, art. 27, §1º).

O comitê de credores, além da atribuição de fiscalizar, pode também elaborar um plano de recuperação alternativo, mesmo não havendo previsão legal, indicando as diferenças e vantagens em relação ao apresentado pelo devedor, e colocá-lo à apreciação na assembleia geral de credores (COELHO, 2008, p. 76).

Por outro lado, Toledo (2009, p.83) afirma:

Eis aqui duas atribuições que não foram conferidas ao comitê de credores. A primeira refere-se à possibilidade, prevista na redação final do Projeto da Câmara, de que o comitê elaborasse um plano de recuperação alternativo, instruído com um estudo fundamentado que demonstrasse a inviabilidade do plano apresentado pelo devedor. Este plano alternativo deveria ser submetido à assembleia geral de credores e por ela aprovado. A ideia não foi encampada pelo Senado, que não incluiu a atribuição na redação do Substitutivo. Prevaleceu o entendimento de que a assembleia geral de credores é que tem poderes para, discutindo o tema com o devedor, propor alterações ao plano original [...] Também não se atribuiu ao comitê de credores legitimidade para requerer a convolação da recuperação judicial em falência. A função, com efeito, extrapolaria o caráter fiscalizador das atribuições confiadas ao comitê.

O comitê de credores, excepcionalmente, pode ter competência de natureza administrativa, pois no caso de afastamento do administrador da empresa em recuperação judicial pelo juiz, o comitê passa a ser o responsável pelas alienações de bens do ativo permanente e dos endividamentos necessários à continuação da atividade empresarial, submetendo à autorização do juiz as medidas administrativas a ele relacionadas, durante o período que antecede a aprovação do plano de recuperação judicial (COELHO, op. cit., p. 76).

O devedor não é responsável pela remuneração dos membros do comitê, mas deve ressarcir as despesas que estes tiverem na realização de atos previstos na LREF, desde que devidamente comprovadas e autorizadas pelo juiz, e havendo disponibilidade de caixa (BRASIL, op. cit., art. 29).

O ressarcimento aos membros do comitê das despesas realizadas durante o processo de recuperação judicial se justifica por haver, neste caso, a convergência de interesses (TOLEDO, op. cit., p. 85).

Na hipótese de a assembleia geral de credores decidir pela remuneração dos membros do comitê, deve também estabelecer o valor e o responsável pelo pagamento, ou seja, devem estipular a contribuição de cada credor para levantar o

montante necessário ao pagamento aprovado, incluindo os credores que votaram contrariamente a remuneração (COELHO, 2008, p. 78).

A LREF estabelece que não pode integrar o comitê quem, nos últimos 5 anos, atuou em recuperação judicial ou falência anterior e foi destituído, deixou de prestar contas no prazo legal ou teve a prestação de contas desaprovada.

Está impedido também de integrar o comitê quem tiver relação de parentesco até o terceiro grau com o devedor, seus administradores, controladores ou representantes legais ou deles for amigo, inimigo ou dependente. Cabe ao Ministério Público, qualquer credor ou o devedor requerer ao juiz a substituição do membro do comitê que desobedecer a esses preceitos (BRASIL, 2005, art. 30, §1º e §2º).

O membro do comitê que desobedecer aos preceitos da LREF, descumprir seus deveres, omitir-se, for negligente ou praticar atos lesivos ao devedor ou a terceiros, pode ser destituído pelo juiz, de ofício ou a requerimento de qualquer interessado. E, se todos os membros forem responsáveis pela negligência ou lesão, o juiz pode dissolver o comitê, e convocar os suplentes para a sua recomposição (BRASIL, op. cit., art. 30, §1º).

Na hipótese de o administrador judicial ou os membros do comitê que, por dolo ou culpa, causar prejuízos ao devedor, aos credores ou ainda, à massa falida, respondem pelos danos causados. Por isso, o membro dissidente em deliberação do comitê, deve consignar sua discordância em ata para eximir-se da responsabilidade (BRASIL, op. cit., art. 32).

Coelho (op. cit., p. 83) afirma que “não há, na recuperação judicial, nenhum pressuposto específico para a ação de indenização contra o administrador judicial ou membro do comitê, como existe na hipótese de estarem respondendo enquanto órgãos da falência.”

A assembleia geral de credores pode optar pela não criação do comitê de credores, por ser inviável ou não haver interesse, e neste caso, o administrador judicial passa a exercer as atribuições desse órgão. Se houver incompatibilidade, cabe ao juiz exercer tais atribuições. (COELHO, op. cit., p. 77-78).

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