• Nenhum resultado encontrado

2.2 PRINCÍPIOS DA LEI DE RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FALÊNCIAS

2.3.2 Assembleia Geral de Credores

A assembleia geral de credores não é uma inovação da LREF, pois existia na anterior lei de falências e concordatas, mas era utilizada apenas no caso de falência para deliberar sobre a forma de realização do ativo, podendo ser convocada por credores que representassem mais de um quarto do passivo habilitado (MACHADO, 2005, p. 34).

A inovação da LREF em relação à anterior lei de falências e concordatas está na inclusão da assembleia geral de credores também na recuperação judicial. Importante destacar que a assembleia geral de credores possui poderes

deliberativos e não decisórios e, portanto, não obriga o juiz da causa a acatar as suas deliberações.

Lobo (2009, p. 96-97) conceitua assembleia geral de credores como “um colegiado deliberativo, convocado e instalado na forma da lei, que tem a função de examinar, debater e decidir as matérias de sua atribuição exclusiva [...]”

A assembleia geral de credores é o órgão que defende os interesses comuns dos credores, na qual as decisões tomadas pela maioria subordinam os demais (LOBO, op. cit., p. 97).

A convocação da assembleia geral de credores, na recuperação judicial, somente será obrigatória se houver objeção ao plano de recuperação judicial por algum credor (FRANÇA, 2007, p. 189).

A assembleia geral de credores para deliberar sobre o plano de recuperação deve ser realizada no prazo máximo de 150 dias, contados a partir do deferimento do processamento da recuperação judicial (BRASIL, 2005, art. 56, §1º).

Na recuperação judicial, a assembleia geral de credores possui a competência para aprovar, rejeitar ou revisar o plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor, aprovar a criação do comitê de credores e eleger seus membros, manifestar-se sobre o pedido de desistência da recuperação judicial pelo devedor, nomear o gestor judicial, devido ao afastamento do devedor da administração da empresa, e deliberar sobre outras matérias de interesse dos credores (COELHO, 2008, p. 87).

A legitimidade para convocar a assembleia geral de credores é do juiz, nos casos que a lei determina, e quando julgar necessário. Os credores também possuem legitimidade, desde que a soma de seus créditos represente, no mínimo, 25% do valor total de uma determinada classe.

A assembleia geral de credores deve ser convocada por edital no órgão de imprensa oficial e em jornais de grande circulação nos locais da matriz e filiais, indicando o local, data e horário da assembleia em primeira e segunda convocação, a ordem do dia, o local onde os credores poderão obter cópia do plano de recuperação judicial. A publicação do edital de convocação deve ser feita com, no mínimo, 15 dias de antecedência da data de sua realização (BRASIL, op. cit., art. 36).

O administrador judicial deve presidir a assembleia geral de credores, o qual designa um secretário dentre os credores presentes (art. 37 da LREF). Caso o

administrador judicial não esteja presente à assembleia, por qualquer que seja o motivo, ou se a pauta for sua destituição, o presidente será o credor presente que tenha o crédito de maior valor.

A assembleia geral de credores possui formalidades legais para que tenha validade, sendo que a primeira é a assinatura da lista de presença pelos credores assim que chegam ao local. Após a instalação da assembleia a lista de presença deve ser encerrada, e os retardatários não podem ser admitidos (COELHO, 2008, p. 90).

O credor que não puder comparecer pessoalmente na assembleia geral, pode enviar um procurador para representá-lo, desde que seja entregue ao administrador judicial com 24 horas de antecedência, o documento que comprove os poderes ou indique as folhas dos autos do processo em que se encontre.

O quórum de instalação da assembleia, em primeira convocação, deve ter a presença de credores titulares de mais da metade dos créditos de cada classe, computados pelo valor e, em segunda convocação, com qualquer número (art. 37, §2º da LREF). O intervalo entre as convocações deve ser de, no mínimo, 5 dias de diferença (BRASIL, 2005, art. 36, I).

O segundo ato formal diz respeito à composição da mesa responsável pela condução dos trabalhos da reunião, a qual é formada pelo presidente da assembleia e o secretário (COELHO, op. cit., p. 90).

Para o credor exercer o direito de voto na assembleia geral de credores, se faz necessário constar o nome e o respectivo valor de seu crédito no quadro geral de credores, ou ainda, se este não tiver sido elaborado, tenha efetuado a habilitação de crédito ou conste na relação de credores apresentada pelo devedor juntamente com a petição inicial da recuperação judicial (FRANÇA, 2007, p. 209-210).

Na recuperação judicial os credores retardatários, ou seja, àqueles que se habilitam após o término do prazo legal, podem participar da assembleia geral de credores, mas não têm direito a voto, restando apenas o direito a voz.

Os credores não atingidos pela recuperação judicial, ou seja, o proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, arrendador mercantil, o proprietário ou promitente vendedor de imóvel com cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade no respectivo contrato, inclusive em incorporações imobiliárias, o proprietário em contrato de venda com reserva de domínio e adiantamento a

contrato de câmbio para exportação, não participam da assembleia geral de credores (BRASIL, 2005, art. 39, §1º; art. 49, §3º e 4º).

Nas deliberações acerca do plano de recuperação judicial, o voto do credor é proporcional ao valor de seu crédito, com exceção dos credores trabalhistas, os quais votam com o total de seus créditos, independentemente do valor.

Todas as classes de credores deverão aprovar o plano de recuperação judicial, sendo que na classe trabalhista o voto favorável da maioria simples é suficiente, e nas demais classes é necessário o voto favorável de mais da metade do valor total dos créditos e, também, pela maioria dos credores presentes à assembleia (BRASIL, op. cit., art. 45, §1º e §2º).

Os credores que não tiverem alterados o valor ou as condições originais de pagamento de seus créditos no plano de recuperação judicial, não têm direito a voto, bem como não podem ser considerados para fins de verificação do quórum de deliberação (BRASIL, op. cit., art. 45, §3º).

Coelho (2008, p. 111) discorda do texto da lei que proíbe a participação dos credores que não tiveram alterados pelo plano de recuperação judicial o valor ou as condições originais de pagamento, pois a assembleia pode aprovar um plano inviável economicamente, ameaçando a recuperação da empresa devedora e, consequentemente, o direito de receberem seus créditos.

Apesar de não poder votar, o credor que se considerar prejudicado, pode apresentar ao juiz objeção ao plano de recuperação (LOBO, 2009, p. 121).

A LREF estabelece que o juiz deve conceder a recuperação judicial do devedor, desde que cumpridas as exigências legais, se o plano de recuperação não tenha sofrido objeções de credor, ou ainda, se houver a aprovação por todas as classes de credores na assembleia geral (BRASIL, op. cit., art. 58).

Nesse caso, o juiz não possui discricionariedade para decidir contrariamente ao resultado da assembleia geral de credores, cabendo apenas cumprir o que a lei determina, ou seja, conceder a recuperação judicial ao devedor (MUNHOZ, 2007, p. 287).

Todavia, mesmo que o plano não seja aprovado por todas as classes de credores, o juiz pode ainda conceder a recuperação judicial se, na mesma assembleia, o plano obtenha o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os créditos, independentemente de classes, assim como a

aprovação de duas classes de credores, ou se houver apenas duas classes, a aprovação de pelo menos uma delas. E, na classe que houver a rejeição ao plano, é necessário o voto favorável de mais de 1/3 dos credores (BRASIL, 2005, art. 58, §1º, I, II e III).

O voto contrário ao plano de recuperação por uma classe de credores não é suficiente para o juiz indeferir a recuperação judicial, pois havendo a aprovação da maioria dos credores, e também, se os credores vencidos não sejam tratados de forma desigual pelo plano, o juiz deve conceder a recuperação (BRASIL, op. cit., art. 58, III e §2º).

O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias (BRASIL, op. cit., art. 59).

A novação prevista na LREF tem validade e eficácia enquanto o plano de recuperação estiver em vigor, pois se houver a convolação da recuperação judicial em falência, os credores terão de volta todos os seus direitos (COELHO, 2008, p. 168).

Documentos relacionados