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O pedido inicial inaugura a primeira das 3 fases em que se divide o processo de recuperação judicial. Esta fase pode ser chamada de postulatória, pois o empresário individual ou a sociedade empresária em crise econômico-financeira apresenta ao juiz cível seu pedido de processamento da recuperação judicial (COELHO, 2008, p. 144).

A petição inicial de recuperação judicial deverá ser instruída com a exposição dos motivos que o levaram ao estado de crise econômico-financeira, as demonstrações contábeis relativas aos três últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, sendo observada a legislação societária aplicável, devendo conter o balanço patrimonial, a demonstração de

resultados acumulados, a demonstração do resultado desde o último exercício social e o relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção (BRASIL, 2005, art. 51, I e II, a, b, c, d).

A relação nominal completa dos credores, com o endereço, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, e a relação integral dos empregados, na qual deve constar as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que tem direito, bem como a discriminação dos valores pendentes de pagamento, também fazem parte da lista de documentos que deve ser apresentada junto com o pedido inicial de recuperação judicial (BRASIL, op. cit., art. 51, III e IV).

O devedor deve ainda, apresentar a certidão de regularidade no registro público de empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores (art. 51, V da LREF). A exigência de tais documentos se faz necessária, para que o devedor comprove o exercício da atividade de empresário há, no mínimo, dois anos, cujo prazo é uma das condições impostas pela LREF.

A relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor, os extratos atualizados das contas bancárias e de suas eventuais aplicações financeiras, bem como as certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial, também são necessários para instruir o pedido inicial (BRASIL, op. cit., art. 51, VI, VII e VIII).

Por fim, também se faz necessário juntar ao pedido inicial, a relação de todas as ações judiciais em que a empresa devedora figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados (BRASIL, op. cit., art. 51, IX).

A exigência de relacionar as ações trabalhistas é justificada por Bezerra Filho (2008, p. 160) ao afirmar que:

A situação dos empregados é fundamental para que o juiz e os credores possam avaliar a situação do devedor, como, aliás, ocorre em qualquer sociedade empresária. Além de informar o valor do salário e eventuais indenizações, essa lista deve trazer também a discriminação dos valores em atraso, ou seja, valores pendentes de pagamento.

A petição inicial, juntamente com os documentos obrigatórios exigidos pela LREF, será dirigida ao juízo competente, ou seja, na comarca do local onde se encontra o principal estabelecimento do devedor ou a filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.

Cabe ao juiz competente, nessa fase inicial, apenas analisar a documentação apresentada e verificar se o devedor cumpriu todos os requisitos legais para, então, proferir o despacho autorizando o processamento do pedido de recuperação judicial, ou a decisão indeferindo o pedido inicial (COELHO, 2008, p. 144).

Estando em ordem a documentação exigida pela LREF, o juiz defere o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato nomeia o administrador judicial, determina a dispensa da apresentação de certidões negativas para que o devedor exerça suas atividades, exceto para contratação com o poder público ou para recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios (BRASIL, 2005, art. 52, I e II).

No que se refere às ações ou execuções contra o devedor, salvo as que demandarem quantia ilíquida, reclamações trabalhistas e execuções fiscais, devem ser suspensas por ordem do juiz (BRASIL, op. cit., art. 52, III).

No decurso do processo de recuperação judicial o devedor terá que apresentar as contas demonstrativas mensais da recuperanda, sob pena de destituição de seus administradores (BRASIL, op. cit., art. 52, IV).

Cabe ao magistrado ainda, determinar a expedição de edital para publicação no órgão oficial, contendo o resumo do pedido do devedor e da decisão que defere o processamento da recuperação judicial, a relação nominal de credores com os valores atualizados e a classificação de cada crédito, a advertência acerca dos prazos para habilitação dos créditos, e para que os credores apresentem objeção ao plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor (BRASIL, op. cit., art. 52, §1º, I, II e III).

A partir do despacho que defere o processamento da recuperação judicial, os credores podem, a qualquer tempo, requerer a convocação da assembleia geral para a constituição do comitê de credores ou substituição de seus membros, desde que cumpra as exigências contidas no §2º do art. 36 da LREF, ou seja, a classe requerente deve representar no mínimo 25% do valor total dos créditos (BRASIL, op. cit., art. 52, §2º).

Todavia, basta qualquer credor opor objeção ao plano de recuperação judicial para obrigar ao juiz a convocar uma assembleia geral de credores para deliberar sobre o plano (BRASIL, op. cit., art. 56).

Importante destacar que a LREF não prevê nenhuma penalidade no caso de não se realizar a assembleia no prazo de 150 dias, mas os interessados não devem esquecer que o §4º do art. 6º estabelece o prazo improrrogável de 180 dias para suspensão das ações e execuções contra o devedor, contados do deferimento do processamento da recuperação. Isso significa que decorrido esse prazo, os credores recuperam o direito de iniciar ou continuar as ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial.

Mesmo que os credores restabeleçam o direito de continuar as ações e execuções, a assembleia geral pode ser realizada a qualquer momento e, se o plano for aprovado e o juiz conceder a recuperação judicial, obrigatoriamente devem ser extintas devido à ocorrência da novação das obrigações (MUNHOZ, 2007, p. 280- 281).

A obrigatoriedade de o juiz convocar a assembleia geral de credores para deliberar sobre a objeção ao plano de recuperação ocorre pelo fato de que os credores possuem a competência para apreciar e decidir sobre o plano (COELHO, 2008, p. 164).

O plano de recuperação pode sofrer alterações na assembleia geral, desde que haja expressa concordância do devedor e que não diminua direitos exclusivamente dos credores ausentes (BRASIL, 2005, art. 56, §3º).

Se o plano de recuperação judicial for rejeitado pela assembleia geral de credores, o juiz decreta a falência do devedor (BRASIL, op. cit., art. 56, §4º).

Após a juntada aos autos do plano de recuperação aprovado pela assembleia geral de credores ou, se decorrido o prazo legal, não haja nenhuma objeção, o devedor tem o dever de apresentar as certidões negativas de débitos tributários (BRASIL, op. cit., art. 57).

Para que a reestruturação da empresa seja completa, se faz necessário a criação de condições especiais de parcelamento dos débitos tributários para empresas em recuperação judicial, conforme dispõe o art. 68 da LREF (MUNHOZ, op. cit., p. 284). E complementa:

Não por outra razão, a edição da lei falimentar e de recuperação veio acompanhada da Lei Complementar 118, de 9 de fevereiro de 2005, que alterou o CTN para introduzir, dentre outros dispositivos, os §§ 3.º e 4.º do

art. 155-A: “§3.º Lei específica2

disporá sobre as condições de parcelamento

2

Até novembro de 2011 não havia sido editada a lei complementar que regulamenta a matéria, havendo apenas o trâmite do Projeto de Lei do Senado (PLS 245, de 24 de agosto de 2004), o qual fora enviado para a Câmara Federal e convertido no Projeto de Lei nº 5250/2005, estando na seguinte situação: “aguardando constituição de Comissão Temporária na Seção de Registro de Comissões”

dos créditos tributários do devedor em recuperação judicial; §4.º A inexistência da lei específica a que se refere o §3º deste artigo importa na aplicação das leis gerais de parcelamento do ente da federação ao devedor em recuperação judicial, não podendo, neste caso, ser o prazo de parcelamento inferior ao concedido pela lei federal específica.”

A fase de deliberação termina com a concessão da recuperação judicial, e tem início a fase de execução. A decisão judicial que concede a recuperação poderá ser impugnada por recurso de agravo de instrumento interposto por qualquer credor ou pelo Ministério Público, desde que o objeto do recurso seja o descumprimento da LREF no que diz respeito à convocação, instalação ou quorum de deliberação da assembleia geral de credores, não podendo ser questionada nenhuma outra matéria (COELHO, 2008, p. 169).

A decisão judicial que conceder a recuperação constituirá título executivo judicial, o qual poderá ser executado na hipótese de o devedor descumprir o prazo de pagamento previsto no plano de recuperação judicial aprovado na assembleia geral (COELHO, op. cit., p. 169).

A alienação de filiais ou unidades produtivas isoladas do devedor poderá ser realizada, desde que esteja previsto no plano de recuperação judicial aprovado pela assembleia geral de credores. O objeto da alienação estará livre de qualquer ônus, não implicando sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária (BRASIL, 2005, art. 60, parágrafo único).

O devedor permanecerá em recuperação judicial, desde a decisão concedente, até que sejam cumpridas todas as obrigações previstas no plano que se vencerem até 2 anos depois. Durante esse período, se o devedor descumprir qualquer obrigação estabelecida no plano terá a sua falência decretada, acarretando na reconstituição de direitos e garantias dos credores, conforme foram originalmente contratadas, com as deduções de valores eventualmente pagos (BRASIL, op. cit., art. 61, §1º e §2º).

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