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Adoção do referencial teórico

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1. Procedimentos metodológicos

1.3 Adoção do referencial teórico

Este trabalho parte do reconhecimento da estreita relação entre a ciência e suas condições de produção, adotando como referencial teórico a teoria geral dos campos de Pierre Bourdieu. Trata-se de uma perspectiva consagrada nas ciências sociais e que vem se afirmando como uma das mais estimulantes para as pesquisas no campo comunicacional (BARROS FILHO & MARTINO, 2003; FUENTES NAVARRO, 2003; LOPES, 2003;

55 Organização sem fins lucrativos dedicada à resolução do problema da violência nas favelas do Rio de Janeiro.

MARTINO, Luis Mauro, 2003; PRADO, 2002; MIRANDA, 2005; THOMPSON, 1995). No âmbito deste trabalho, esta opção se justifica, em primeiro lugar, pela visão epistemológica de Bourdieu, para quem as dimensões teórica e metodológica do trabalho científico encontram-se estreitamente relacionadas, não podendo ser separadas rigidamente – além dessas, poderíamos acrescentar as dimensões filosófica e epistemológica. Outro aspecto importante de sua proposta é a superação das análises estritamente internalistas ou externalistas da ciência, às quais o autor contrapõe um nível intermediário, que se configura como um universo dentro do qual estão inseridos os agentes e as instituições que produzem, reproduzem ou difundem o saber científico. Esse universo, denominado de campo científico, é um campo social como outro qualquer. No entanto, ele obedece a leis sociais mais ou menos específicas, onde se verificam conflitos políticos e lutas científicas, que se manifestam em sua produção simbólica, por meio de critérios de classificação e lógicas de distinção (BOURDIEU, 2004a, p.20-21; BOURDIEU, 2004b, p.4).

Essa concepção de Bourdieu revela-se extremamente atual quando aplicada à esfera da Comunicação Organizacional, em particular sobre sua vertente instrumentalista a serviço do management, cujos modelos de representação sobre a área geralmente estão a serviço dos interesses de determinadas categorias acadêmicas e profissionais, tais como as relações públicas, o marketing, a publicidade ou mesmo o jornalismo, no caso brasileiro. Ao mesmo tempo, a perspectiva bourdiana também pressupõe o exercício reflexivo por parte do pesquisador, de modo que sua própria posição seja questionada durante a realização da pesquisa, como forma de controle de seu trabalho de produção de sentido. No âmbito desta investigação, esse procedimento implica na tomada de consciência por parte de seu autor sobre o lugar de onde ele fala – o jornalismo, por formação profissional – com o objetivo de, se não neutralizar, pelo menos reconhecer as limitações e as implicações dessa formação na condução da pesquisa. Apesar do risco, trata-se de um trabalho que precisa ser feito porque “construir um objecto científico é, antes de mais e sobretudo, romper com o senso comum, quer dizer, com as representações partilhadas por todos” (BOURDIEU, 2004b, p.34). Além do mais, “uma prática científica que se esquece de pôr a si mesma em causa não sabe, propriamente falando, o que faz” (BOURDIEU, 2004b, p.27).

A postura crítica de Bourdieu no que se refere, neste caso, à investigação sobre uma determinada área do conhecimento, encontra ressonância em sua proposta metodológica, ao condicionar a adoção de uma postura mais aberta pelo pesquisador, pois sua noção de campo exige “que se lute por todos os meios contra a inclinação primária para pensar o mundo social de maneira realista” (BOURDIEU, 2004b, p.27), ou seja: é preciso pensar relacionalmente,

procurando reconhecer as diversas formas de diferenciação social. “Se é verdade que o real é relacional, pode acontecer que eu nada saiba de uma instituição acerca da qual eu julgo saber tudo, porque ela nada é fora das suas relações com o todo” (BOURDIEU, 2004b, p.31). Na prática, “esse modo de pensamento realiza-se de maneira perfeitamente lógica pelo recurso ao método comparativo, que permite pensar relacionalmente um caso particular constituído em caso particular possível” (BOURDIEU, 2004b, p.33, grifo do autor). Para realizar esse empreendimento, a metodologia proposta pelo autor é aberta o suficiente para “combinar a mais clássica análise estatística com um conjunto de entrevistas em profundidade ou observações etnográficas” (BOURDIEU, 2004b, p.26).

Na medida em que este trabalho, em sua dimensão científica, se caracteriza como uma pesquisa de nível exploratório, tendendo para o descritivo, seu objetivo não é verificar hipóteses precisas, estabelecidas a partir de relações entre variáveis56. Enquanto estudo exploratório, esta pesquisa visa proporcionar uma visão geral, de tipo aproximativo, sobre o processo de transformação da Comunicação Organizacional, como área do conhecimento, no momento atual, sob a perspectiva dos campos sociais de Bourdieu. Enquanto estudo descritivo, o método comparativo de Bourdieu é utilizado com o objetivo de investigar as principais características subjacentes às diversas denominações em Comunicação Organizacional, sob a perspectiva de três critérios de cientificidade: sintático, semântico e pragmático.

Tendo como base o referencial teórico sobre essa disciplina abordado anteriormente, este trabalho formula as seguintes hipóteses:

a) De todas as denominações relacionadas à Comunicação Organizacional a serem contempladas na pesquisa empírica, o termo “organizational communication” é o que se enquadra com mais freqüência nos três critérios de cientificidade selecionados;

b) Sob a perspectiva do critério semântico, de todas as denominações relacionadas à Comunicação Organizacional contempladas na pesquisa empírica, o termo “organizational communication” é o que adota com mais freqüência referênciais teóricos relacionados à teoria da complexidade.

56 De acordo com Gil (1999, p.56-58), é possível encontrar na literatura três tipos de hipóteses: 1) hipóteses casuísticas, 2) hipóteses que se referem à freqüência de acontecimentos e 3) hipóteses que estabelecem relações entre variáveis. Entretanto, alguns autores consideram rigorosamente como hipóteses apenas as que se enquadram no terceiro nível.

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