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Análise teórica da Comunicação Organizacional

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3. Resultados

3.3 Análise teórica da Comunicação Organizacional

Esta análise refere-se à investigação, sob o critério semântico, das principais orientações discursivas em Comunicação Organizacional, com base na tipologia estabelecida por Deetz (2000) para a Organizational Communication, ou seja, as orientações normativa, interpretativa, crítica e pós-moderna. Nesta etapa da pesquisa foram considerados apenas os registros e documentos dos artigos (articles) e revisões (reviews). Entretanto, muitos desses registros não ofereceram todas as informações necessárias para a análise e não permitiram o acesso aos documentos originais. Devido a esses fatores, a amostra utilizada foi menor que 866 registros. Por outro lado, diversos registros puderam ser enquadrados em mais de uma orientação discursiva. O resultado geral dessa análise pode ser observado no quadro 13.

Quadro 13

Orientações discursivas em Comunicação Organizacional

Conforme pode ser observado no quadro acima, grande parte das orientações discursivas em Comunicação Organizacional, diz respeito à perspectiva normativa, cuja principal característica consiste na visão instrumental da comunicação; neste caso, as organizações são concebidas como objetos naturalmente existentes, sujeitos à descrição, predição e controle. Em segundo lugar vem a perspectiva interpretativa, cujo objetivo

primordial é mostrar como realidades particulares, representadas pelas organizações, são socialmente produzidas e mantidas por meio de conversas diárias, estórias, rituais e outras atividades cotidianas. Em terceiro lugar encontra-se a perspectiva crítica, segundo a qual as organizações são antes de tudo lugares políticos, forjadas sob condições de conflito e relações de poder; sua principal preocupação é criar uma sociedade, assim como ambientes de trabalho, livres de dominação, onde todos os membros possam contribuir igualmente para a satisfação das necessidades humanas. Em último lugar vem a perspectiva pós-moderna, que não está empenhada, como nos estudos críticos, na concretização de ideais utópicos de transformação da realidade social, mas sim em desvendar os processos micropolíticos e a natureza intrínseca do poder e da resistência.

Como o próprio Deetz (2000) alertou ao elaborar sua tipologia, essas orientações não podem ser consideradas paradigmas pelo fato de representarem “tipos ideais”, construídos artificialmente. Mesmo no interior de cada uma dessas orientações é possível encontrar, na literatura disponível, disputas, conflitos e debates acadêmicos acalorados. Além disso, muitos pesquisadores e professores não se consideram pertencentes, de forma exclusiva, a um desses protótipos. Tendo como base essa precaução, foi possível verificar na análise teórica que nem todos os artigos e revisões enquadram-se estritamente nessa tipologia. Alguns artigos que, em termos metodológicos, poderiam ser classificados como pertencentes à perspectiva normativa, devido à utilização de pesquisas de opinião, estavam bastante preocupados com questões relacionadas ao poder e a assimetria nas organizações – questões essas contempladas pela perspectiva crítica. Outros artigos, declaradamente críticos, adotaram em sua análise autores relacionados por Deetz (2000) à perspectiva pós-moderna. Essas constatações permitiram desmitificar algumas idéias correntes, associadas às principais orientações teóricas em Comunicação Organizacional, conforme pode ser verificado a seguir.

Perspectiva normativa – de acordo com a classificação de Deetz (2000), no discurso dos estudos normativos prevalece a grande narrativa de comprometimento das organizações, particularmente das corporações comerciais, com a construção de um mundo melhor por meio do progresso científico, da produção de bens e serviços acessíveis à população e do crescimento econômico. A análise teórica demonstrou que a concepção instrumental dessa perspectiva não é atributo exclusivo das organizações com fins lucrativos, sendo adotada por governos e organizações do terceiro setor (ongs, igrejas, associações de classe etc) em busca da realização de seus objetivos. Entre esses objetivos podem estar a melhoria do bem-estar da população pelo aprimoramento dos serviços públicos, a sensibilização da opinião pública em

favor de determinadas causas ou o comprometimento do governo na resolução de problemas sociais. Para isso, utilizam instrumentos inerentes à abordagem normativa, tais como a avaliação e implementação de processos organizacionais, a realização de pesquisas de opinião ou mesmo técnicas consagradas de marketing, entre outros.

Perspectiva interpretativa – sob essa perspectiva, a organização é concebida como um tipo especial de comunidade, sujeita a investigação por intermédio de estudos etnográficos e hermenêuticos. Sua principal atenção encontra-se direcionada para a compreensão da realidade organizacional. A análise teórica dos artigos e revisões presentes na Web of Science, demonstrou conexões entre essa orientação e as perspectivas crítica e normativa. Estudos etnográficos também são aplicados no interior de uma organização, de modo a permitir a compreensão de mecanismos de opressão, exclusão e controle. O resultado desse trabalho pode ser empregado na melhoria da qualidade de vida e das relações entre os públicos internos. A perspectiva interpretativa pode ainda ser empregada na compreensão das interações entre dirigentes de partidos políticos e seus filiados, na investigação sobre o papel do humor dentro das organizações, ou mesmo na compreensão de fenômenos tais como a construção simbólica de investigações criminais, por meio da análise das relações entre a polícia e a imprensa.

Perspectiva crítica – a orientação crítica dos estudos organizacionais é a que se declara mais explicitamente comprometida com questões éticas e morais, estando atenta às distorções da comunicação e a formas equivocadas de percepção nas organizações. Muitas vezes seus adeptos possuem uma clara agenda política, focada no interesse de grupos específicos, tais como trabalhadores, mulheres e minorias étnicas. Entretanto, a análise teórica constatou a presença de estudos críticos que extrapolam essa visão, como os que reconhecem, por exemplo, a existência de assimetrias e relações de poder empregados e voluntários de organizações não-governamentais. A existência desse tipo de problema no interior de organizações que, em tese, se dedicam a combater diversas formas de exploração e de injustiça sociais, sinaliza para o fato de que discussões de ordem ética e moral também devem ser travadas dentro de casa, não apenas como forma de manter a coerência com os objetivos organizacionais externos, mas também como forma de sustentabilidade institucional. Daí a importância, cada vez mais premente, dos estudos críticos em Comunicação Organizacional.

Perspectiva pós-moderna – A principal contribuição dos estudos pós-modernos é desvendar continuamente os processos micropolíticos e a natureza intrínseca do poder e da resistência, ao valorizar o papel da linguagem na construção dos processos sociais. Seus autores também estão preocupados em colocar em xeque a estabilidade das organizações e a enfatizar a natureza fluida e hiper-real do mundo contemporâneo, entre outros temas. A análise teórica dos artigos e revisões em Comunicação Organizacional presentes na base Web of Science revelou, no caso dos processos micropolíticos, a existência de estudos sobre assédio sexual, sobre a função da ironia na vida organizacional e sobre os mecanismos de resistência individual contra os processos de globalização, no interior das organizações. Além de temas específicos como esses, a perspectiva pós-moderna também se coloca a serviço de discussões mais amplas, tais como o questionamento, sob a abordagem desconstrutivista, de algumas teorias relacionadas às práticas profissionais em Comunicação Organizacional. Devido à sua inserção relativamente recente nos estudos de Comunicação Organizacional, a participação da abordagem pós-moderna ainda é pequena entre os artigos e revisões sobre essa área, presentes na base de dados Web of Science.

3.4. Perfil geral da Comunicação Organizacional

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