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Conclusão geral e discussão

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3. Resultados

3.5 Conclusão geral e discussão

A partir das hipóteses estabelecidas anteriormente, foi possível confirmar, por um lado, que o termo Organizational Communication é o que se enquadra com mais freqüência nos três critérios de cientificidade (sintático, semântico e pragmático) selecionados. Entretanto, sob a perspectiva do critério semântico, de todas as denominações relacionadas à Comunicação Organizacional, contempladas na pesquisa empírica, não foi confirmada a maior freqüência na adoção, por parte do termo Organizational Communication, de referenciais teóricos relacionados à teoria da complexidade, na medida em que essa abordagem é relativamente recente nos estudos em Comunicação Organizacional.

Conforme os resultados demonstrados até este momento, é possível concluir que os estudos em Comunicação Organizacional ainda se caracterizam pela preponderância da perspectiva normativa direcionada à perspectiva econômica. Com exceção da Organizational Communication, que se configura pela produção de textos mais investigativos e teóricos, os demais termos encontram-se direcionados a abordagens mais intervencionistas, preocupados com a eficácia dos processos comunicacionais no âmbito das organizações. Uma análise comparativa dos termos em inglês e português relacionados à Comunicação Organizacional (ver quadro 20) demonstra mais afinidade da Comunicação Organizacional brasileira com a Corporate Communication norte-americana. Enquanto nos Estados Unidos esse termo encontra-se fortemente associado à atividade de Relações Públicas, em países europeus como a Espanha e a Holanda a Corporate Communication é geralmente concebida enquanto decorrência histórica da idéia de comunicação integrada surgida nos estudos de Publicidade e Marketing.

No Brasil, a concepção de comunicação integrada materializou-se pela primeira em estudos acadêmicos no âmbito das Relações Públicas (KUNSCH, 1997, 2003). Entretanto, os termos mais utilizados em português para o estudo da comunicação no âmbito das organizações são Comunicação Empresarial e Comunicação Organizacional. A vinculação do termo Comunicação Organizacional a Relações Públicas por importantes associações brasileira e latino-americana de pesquisa em Comunicação59, assim como a tradução do termo

Comunicação Organizacional para o inglês e o espanhol como sinônimos de Corporate Communication e Comunicación Corporativa (ORGANICOM, 2005, n.1), e não

59 As principais associações são as seguintes: Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – Intercom, Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – Abrapcorp e Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación – Alaic.

Apesar de sua vocação investigativa e teórica, voltada para o público interno das organizações, a Organizational Communication norte-americana já demonstra sinais de abertura ao reconhecer a importância do ambiente organizacional externo e a dimensão instrumental da comunicação. Entretanto, a Organizational Communication continua convivendo com Public Relations em núcleos de estudo distintos dentro da International Communication Association – ICA e da National Communication Association – NCA. Enquanto isso, na Espanha, a Asociación de Directivos de Comunicación – ADC-Dircom se propõe a consolidar a comunicação como ferramenta estratégica para o desenvolvimento e a gestão das organizações, segundo a concepção de comunicação integrada nascida no âmbito da Publicidade. Ao mesmo tempo, essa associação é membro fundador da Global Alliance for Public Relations and Communication Management. Nos países Nórdicos, é praticamente impossível falar de Relações Públicas com os mesmos significados que nos Estados Unidos, sendo esse termo substituído por designações tais como administração da comunicação, comunicação corporativa ou comunicação integrada (VAN RULER & VERSIC, 2003).

Essa configuração internacional da Comunicação Organizacional, ainda difusa, é paradigmática dos tempos em que vivemos; um tempo marcado por drásticas mudanças sociais condicionadas, em grande parte, pela profunda reestruturação do capitalismo e pela revolução tecnológica concentrada nas tecnologias da informação, disseminados por todo o globo. Nesse contraditório processo de globalização, a tecnologia possibilita presenciar vários acontecimentos ao mesmo tempo, separando a idéia de lugar, que representa o que é fixo, da idéia de espaço, que pode ser veloz e constantemente ultrapassado, instigando-nos a descobrir o que há de planetário no local e de local no planetário. Este momento representa uma grande oportunidade para a Comunicação Organizacional brasileira interagir e se inserir no cenário internacional, de modo a criar fluxos de informação e de influência recíproca entre as diversas formas de organização institucional dessa área de conhecimento pelo mundo afora. Essa oportunidade, entretanto, também representa um desafio: o desafio de se posicionar adequadamente diante da diversidade.

Em nossa opinião, posicionar-se adequadamente significa adotar uma concepção de Comunicação Organizacional mais equilibrada em suas dimensões teórica/investigativa e prática/intervencionista. Quanto à dimensão teórica, a Comunicação Organizacional brasileira, apesar dos avanços, ainda tem muito o que aprender com a Organizational

Communication norte-americana; quanto à dimensão prática/intervencionista, a Comunicação Organizacional brasileira possui uma tradição que a coloca em condições de dialogar com as diversas propostas de organização dessa área do conhecimento em outros países. Certamente, um dos primeiros desafios desse posicionamento encontra-se na forma como a Comunicação Organizacional brasileira poderia ser traduzida para outros idiomas.

Diante da diversidade de termos existentes (pelo menos em inglês e espanhol) para Comunicação Organizacional, qualquer opção de tradução possui vantagens e desvantagens. Ao optar por sua tradução como sinônimo de Corporate Communication, a Comunicação Organizacional brasileira tende a se alinhar, em termos internacionais, à perspectiva normativa e instrumental da comunicação que a caracteriza atualmente, ficando bastante próxima da concepção internacional de comunicação integrada e, portanto, mais comprometida com as práticas profissionais. A desvantagem, neste caso, é que a Comunicação Organizacional brasileira abdicaria, perante a comunidade internacional, de sua dimensão mais teórica e investigativa. Por outro lado, caso a opção seja por Organizational Communication, a Comunicação Organizacional brasileira tenderia a ser interpretada como uma área mais teórica, voltada para a investigação dos públicos internos da organização, o que não corresponde, necessariamente, à sua realidade atual. Entretanto, sob a perspectiva acadêmica, essa postura poderia ser mais vantajosa a médio prazo, na medida em que a Organizational Communication caminha para o reconhecimento do ambiente externo e da importância das práticas profissionais.

Diante das transformações que verificam atualmente no âmbito da sociedade e das próprias organizações, em que a realidade vem se tornando cada vez mais complexa, optar pela tradução da Comunicação Organizacional como sinônimo de Corporate Communication, significa colocar essa área do conhecimento a serviço de uma visão estreita dos fenômenos e processos comunicacionais, na medida em que privilegia sua dimensão normativa e instrumental. Neste caso, a diversidade de organizações na sociedade, bem como suas interações, contradições e assimetrias, tendem a ser interpretadas a partir da missão e dos objetivos de cada organização, ficando a realidade social reduzida à condição de mero ambiente organizacional. Além disso, sob uma perspectiva mais teórica, a fusão e a descaracterização das organizações na forma de cadeias, redes, conglomerados e alianças estratégias, no decorrer da expansão global, coloca em xeque alguns conceitos tradicionais da comunicação integrada, tais como a divisão da Comunicação Organizacional entre interna e externa, institucional e mercadológica.

Sob a perspectiva acadêmica, a Comunicação Organizacional brasileira teria muito a contribuir para o avanço do conhecimento, inclusive na esfera internacional, caso se alinhasse à Organizational Communication norte-americana (incluindo Estados Unidos e Canadá), na medida em que já dispomos de tradição e experiência no âmbito das práticas profissionais. Além disso, de acordo com o estudo elaborado por Shelby (1993), de todas as denominações em inglês para a Comunicação Organizacional, por ela estudada, o termo Organizational Communication é o que se encontra mais aberto a diversas contribuições e possui mais condições de incorporar as características dos demais. Entretanto, para que esse alinhamento se torne realidade no Brasil, faz-se necessário um profundo questionamento no interior do campo sobre em que medida suas lutas institucionais não estariam contribuindo negativamente para seu desenvolvimento, de forma a superá-las.

Certamente, um bom começo para essa superação seja repensar a Comunicação Organizacional enquanto área do conhecimento para além do management, contemplando a possibilidade de sua re-organização institucional a partir das conexões entre pesquisa básica, pesquisa aplicada e desenvolvimento experimental. Esta é a classificação proposta pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, por intermédio do Manual de Frascati (OECD, 2003), disponível a partir de 1963, em diferentes versões, e criado para fornecer diretrizes metodológicas globais, visando a avaliação do desenvolvimento científico e tecnológico das diferentes nações. De acordo com esse manual (OECD, 2003, p.81-83), a pesquisa básica “consiste em trabalhos experimentais e teóricos que se empreendem fundamentalmente para obter novos conhecimentos sobre os fundamentos dos fenômenos e fatos observáveis, sem pensar em atribuir-lhes nenhuma aplicação ou utilização determinada”. Quanto à pesquisa aplicada, ela “consiste também em trabalhos originais realizados para adquirir novos conhecimentos; no entanto, está dirigida fundamentalmente para um objetivo prático específico”. Já o desenvolvimento experimental “consiste em trabalhos sistemáticos fundamentados nos conhecimentos existentes obtidos pela pesquisa ou pela experiência prática, dirigidos à fabricação de novos materiais, produtos ou dispositivos, a estabelecer novos procedimentos, sistemas e serviços, ou melhorar consideravelmente os que existem”60.

Em nossa avaliação esses conceitos fundamentais elaborados no âmbito da OECD encontram-se estreitamente relacionados ao esquema de níveis epistemológicos propostos por Barbosa (1990), citado nas páginas anteriores, criado para caracterizar epistemologicamente as diversas disciplinas, bem como suas relações de interdisciplinaridade e

multidisciplinaridade. Aliás, esta tese demonstrou em diversas ocasiões a estreita relação da Comunicação Organizacional com outras áreas do conhecimento. Devido a esse fato, faz-se também necessário o monitoramento constante da literatura internacional, principalmente através de bases de dados eletrônicas, como as disponíveis no Portal Periódicos Capes, de forma a se ampliar o conhecimento dessa área fascinante que é a Comunicação Organizacional. Afinal, nós nascemos, vivemos e morremos por intermédio de organizações. Investigar seus processos comunicacionais significa compreender a nós mesmos e o mundo em que vivemos; um mundo cada vez mais difuso, volátil, complexo e incerto, que necessita de abordagens mais abertas, não redutoras, como a proposta por Edgar Morin em sua Teoria da Complexidade. Na reflexão que fazemos a seguir, demonstramos a pertinência dessa teoria para a compreensão dos fenômenos e processos comunicacionais no âmbito das organizações.

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