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2.4 Fatores que influenciam o desempenho dos ruminantes em pastejo

2.4.3 Adubação

Pastagens localizadas em solos férteis são mais produtivas e de melhor qualidade forrageira quando comparadas com pastagens localizadas em solos de baixa fertilidade. Entretanto, no Brasil, a maior parte das pastagens tropicais é cultivada em solos de baixa fertilidade, que apresentam generalizada deficiência, baixa capacidade de adsorção de fósforo, além de elevados níveis de acidez, encontrando-se um elevado percentual em processo de degradação. Assim,

obviamente, a adubação e a calagem são fatores do manejo que interfere na eficiência das pastagens tropicais utilizadas na alimentação animal. Características morfogênicas e estruturais de gramíneas forrageiras têm sido modificadas por meio da adubação, principalmente nitrogenada.

A redução da disponibilidade do nitrogênio é certamente uma das principais causas da degradação das pastagens tropicais, pois resulta em diminuição acentuada da capacidade de suporte, do GMD e do GA a cada ano de utilização sem reposição adequada (WERNER, 1994). O efeito positivo do N sobre a taxa de expansão foliar pode ser analisado como resultado da combinação de uma série de fatores, tais como altura de bainha, alongamento foliar e temperatura agindo simultaneamente sobre a mesma variável (DURU; DUCROCQ, 2000a; DURU; DUCROCQ, 2000b).

Silva C.C.F. et al. (2009) constataram que: a) A taxa de aparecimento foliar, o número total de folhas e o número de perfilho por planta de Brachiaria decumbens foram maiores que os de Brachiaria brizantha cultivados em casa de vegetação e adubados com N. b) O filocrono, a taxa de alongamento foliar e a duração de vida da folha foram maiores na espécie de Brachiaria brizantha. c) A Brachiaria decumbens e a Brachiaria brizantha responderam de forma crescente até a dose de 190 mg/dm3 de nitrogênio. d) O processo de senescência dessas forrageiras foi acelerado com o aumento das doses de nitrogênio, reduzindo a duração de vida das folhas. Martuscello et al. (2005) também constataram em pastagens de B. brizantha cv. Xaraés que a duração de vida das folhas foi afetada de forma linear e negativa pelo aumento da adubação nitrogenada (y = 41,48 - 0,045N; r2 = 83%). Isto leva a

concluir que as plantas na ausência de N permanecem mais tempo com suas folhas vivas em detrimento de uma maior renovação de tecidos, ou seja, de uma maior expansão de novas folhas. Entretanto, níveis crescentes de N possibilitaram sustentar maior número de folhas vivas por perfilho em estudo avaliando características estruturais do capim-elefante anão “Mott” sob pastejo realizado por Setelich, Almeida e Maraschin (1998). Segundo estes últimos autores, ocorre aumento de matéria seca de lâminas foliares em decorrência da aplicação de N, o qual é atribuível a um efeito conjunto sobre a taxa de expansão foliar, ao peso específico de folhas e a densidade de perfilhos. Ocorre diminuição na duração da vida das folhas quando em alta disponibilidade de N em função da competição por luz que é determinada pelo aumento da taxa de alongamento foliar e pelo maior

tamanho final das folhas (MAZZANTI; LEMAIRE; GASTAL, 1994). Portanto, quando a dose de N aplicada é aumentada sem haver em consequência um ajuste na carga animal (aumento) quando em pastejo contínuo ou no intervalo de descanso (diminuição) em pastejo rotativo, pode-se estar permitindo que ocorra aumento demasiado da senescência, de acúmulo de material morto e queda na taxa de crescimento da pastagem (NABINGER, 2002).

O fósforo desempenha papel fundamental no desenvolvimento inicial da planta por estimular a formação e o crescimento radicular, bem como o perfilhamento, sendo após a água e N o nutriente mais limitante a produção das plantas forrageiras (WERNER; HAAG, 1972; WERNER, 1986; HOFFMANN et al., 1995). Não obstante, Moreira et al. (2006) constataram que a adubação fosfatada apresentou efeitos residuais sobre a produção de MS do capim-elefante durante dois anos após o estabelecimento da forrageira.

A constatação de Moreira et al. (2006) acima comentada serve para demonstrar que muitas vezes a comparação entre gêneros forrageiros ficam prejudicadas por fatores anteriores ao início de um experimento individual se em anos anteriores um tipo de gênero recebeu esta adubação fosfatada e outro não e a pesquisa tenha iniciado sem a devida correção. Da mesma forma deve se entender a falta que faz a um estudo meta-analítico a ausência de informações relativas principalmente a adubação nitrogenada de manutenção nos experimentos individuais que farão parte da base dados para se poderem comparar adequadamente alguns fatores, como por exemplo, gêneros forrageiros ou sistemas de pastejo.

O efeito do potássio (K) sobre as características morfogênicas é pouco pronunciado, não sendo normalmente verificado efeito da adubação potássica na taxa de aparecimento de folhas e no filocrono, não obstante as gramíneas forrageiras são relativamente exigentes em K, sendo necessária a adubação com esse nutriente, principalmente em sistemas intensivos de exploração das pastagens, de modo a não limitar a resposta ao nitrogênio (FERRAGINE; MONTEIRO, 1999).

Aumentos no nível (teor ou percentual) de proteína bruta (PB) da forragem como resposta a incrementos na adubação nitrogenada já foram comprovados por diversos pesquisadores utilizando diferentes espécies (CECATO; SANTOS; BARRETO, 1985; MOOJEN et al., 1993 e MARTINS; RESTLE; BARRETO, 2000; entre outros). Quando em condições edafoclimáticas normais, e mediante a

inexistência de outra limitação, seguramente o nitrogênio é o fator de maior impacto na produtividade de uma pastagem (EUCLIDES, 2002).

Os maiores benefícios da adubação nitrogenada são dois: 1º) o aumento da capacidade de suporte de pastagem, equivalente a uma maior produção por área, ou seja, a uma maior produtividade decorrente da maior taxa de acúmulo e consequente maior disponibilidade de MS de forragem que possibilita, mesmo não havendo aumentos no ganho médio individual diário (kg de PV ou de leite/ha/dia), aumentos substanciais na produção (Kg de PV ou Kg leite/ha/dia), o que foi demonstrado e discutido por Martins, Restle e Barreto (2000); 2º) aumento na disponibilidade de carboidratos (CHO) com redução no teor de FDN (ROCHA et al., 2001 e CORREA et al., 2007), sem alterar o teor de FDA (ROCHA et al., 2001), acompanhados de aumentos na DIVMS da forrageira (CORREA et al., 2007) tendo sido observados aumentos na carga animal, no número de animais.dia/ha e no ganho de peso vivo/ha (MARTINS; RESTLE; BARRETO, 2000) certamente decorrentes, em parte, desta maior disponibilidade e digestibilidade. Entretanto, segundo Van Soest (1994), estas maiores percentagens de PB e disponibilidade de CHO observadas na forrageira não são acompanhadas por aumentos no teor de proteína disponível ao ruminante que atribui a maior parte destes aumentos em % de PB a aumentos no NIDA (nitrogênio insolúvel em detergente ácido).

A melhoria na DIVMS da forragem com incremento da adubação nitrogenada não foi constatado por Martins, Restle e Baretto (2000) e Rocha et al. ( 2001), sendo que estes últimos argumentaram que a maturidade exerce maior efeito sobre a DIVMS do que o N aplicado no solo, pois o avanço da idade das plantas acarreta um aumento no conteúdo de parede celular (PC), decrescendo drasticamente a DIVMS das mesmas.

Também existem trabalhos que discordam das considerações de Van Soest (1994) com relação ao aumento proteico ser atribuído quase exclusivamente em NIDA. Silva (2003) observou ausência de respostas nos teores de lignina aos aumentos de adubação nitrogenada em quatro diferentes espécies de gramíneas forrageiras tropicais, fato a ser considerado tendo em vista ser esta indisponível tanto a nível ruminal como intersticial, ser associada à menor digestibilidade da forrageira e ser constituída por compostos nitrogenados em razoável percentual.

A inclusão de níveis crescentes de adubação nitrogenada contribuiu para redução dos teores de carboidratos fibrosos da PC, entretanto os carboidratos não-

fibrosos não apresentaram respostas evidentes quanto a este tipo de adubação (nitrogenada), como constataram Henriques et al. (2007a), sendo que se observa na primeira tabela do artigo destes autores que a % de PB mostra aumentos substanciais nas quatro diferentes gramíneas avaliadas e em quase todas as idades de corte como resposta ao aumento dos níveis de nitrogênio. Em trabalho complementar a esse acima relatado os mesmos autores (Henriques et al., 2007b), analisando o fracionamento dos compostos nitrogenados das mesmas quatro gramíneas (setária, hemartria, angola, acroceras/nilo) concluíram que a adubação nitrogenada contribuiu para a elevação dos teores das frações de NNP (nitrogênio não-protéico) e B1+B2, entretanto as frações associadas à parede celular (frações B3 e C) não apresentaram respostas evidentes quanto aos diferentes níveis de nitrogênio utilizados.

Rocha et al. (2002) avaliando as gramíneas Coastcross, Tifton 68 e Tifton 85, submetidos a quatro doses de nitrogênio (0, 100, 200 e 400 kg/ha) na forma de sulfato de amônio constataram que a adubação nitrogenada incrementou a produção de matéria seca e de proteína bruta (aumento linear significativo correspondente a 3,220 kg de PB/ha para cada kg de nitrogênio aplicado), elevou consideravelmente o teor de proteína bruta (aumento linear e da ordem de 0,01783 unidades no teor médio de PB para cada kg de nitrogênio aplicado), reduziu o teor de FDN e não influenciou significativamente no teor de FDA das mesmas.

Corrêa et al. (2007) avaliando o efeito de fontes e doses de nitrogênio na produção e qualidade da forragem de Cynodon dactylon cv. Coastcross constataram que o nitrato de amônia é superior à ureia na produção de MS atribuindo isto a menores perdas de N por volatilização na forma de amônia e que, diferentemente da ureia, ainda reduz o teor de MS e FDN da forragem.

Portanto, a adubação nitrogenada favorece a ocorrência de um maior percentual ou de uma maior proporção de folhas na pastagem comparativamente a bainha+colmos e material morto. Isto explicaria os maiores teores proteicos nas pastagens adubadas com nitrogênio bem como as maiores taxas de acúmulo obtidas que permitem aumentar a carga animal e, consequentemente, obter um maior ganho por área. Assim, qualquer comparativo entre gêneros forrageiros, métodos de pastejo, entre outros parâmetros, juntando vários experimentos através da meta-análise deve considerar a necessidade de ajuste para adubação

nitrogenada utilizada sobre pena de conclusões equivocadas caso isto não seja contemplado adequadamente na análise estatística.