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Efeitos associados à suplementação e suas possíveis inter-relações com o

2.5 Suplementação de bovinos em pastagens

2.5.3 Efeitos associados à suplementação e suas possíveis inter-relações com o

Estratégias adequadas para obter incrementos na produção animal através do uso de suplementos requerem uma compreensão também apropriada dos efeitos dos diferentes tipos de suplementos quanto a alterações na ingestão de MS, na degradabilidade e no desempenho individual e por área, além do fornecimento de nutrientes que complementam o pasto (BARGO et al., 2003).

2.5.3.1 Efeito aditivo com estímulo (efeito aditivo estimulativo) e efeito aditivo

Ocorrem geralmente quando o consumo de nutrientes via forragem é reduzido, por motivo de baixa qualidade, pouco tempo de pastejo, limitada oferta forrageira e/ou deficiência protéica para os microrganismos ruminais, sendo que o estimulativo é mais evidenciado normalmente quando o uso exclusivo de NNP ou de sal proteinado está correto, ou seja, respectivamente deficiência de apenas N (PDR) para uma adequada fermentação ruminal ou deficiência de N (PDR) associada à PNDR e esqueletos de carbono. Estes dois tipos de efeito aumentam o ganho de peso médio diário (GMD) dos animais e, em decorrência, o ganho por área diário (GAD). Em pastagens com baixa qualidade (teor proteico inferior a 7%) a suplementação com proteína degradável no rúmen (PDR) ou nitrogênio não protéico (NNP, ureia) possibilita aumentar a degradação da fibra, aumentando a taxa de passagem e, consequentemente o consumo de forragem (Van Soest, 1994).

Os efeitos associativos aditivos são geralmente resultantes da suplementação de um nutriente que pode limitar a digestão ruminal, como a proteína (OLDHAM, 1984). Entre os fatores que afetam a eficiência microbiana, destacam-se a disponibilidade e a sincronização entre energia e compostos nitrogenados, assim, considerando que em condições tropicais, os carboidratos fibrosos (CF) são a maior fonte de energia no ruminante e que as gramíneas destas regiões apresentam teores médios ou baixos de proteína, a disponibilidade de N-NH3 no rúmen pode ser

o principal limitador do crescimento microbiano (CABRAL et al., 2008). Apesar da maioria das espécies bacterianas ruminais (mais de 90%) poder utilizar amônia para síntese de seus compostos nitrogenados, para uma parte destas, particularmente aquelas que degradam os carboidratos estruturais (em torno de 25% das espécies), a amônia é essencial para seu crescimento (KOZLOSKI, 2002). Em trabalho utilizando cordeiros alojados em gaiolas metabólicas alimentados “ad libitum” com feno de baixa qualidade (Cynodon sp.), Kozloski et al. (2007) constataram que o consumo de energia digestível, a síntese de proteína microbiana ruminal e a retenção de N foram melhorados somente quando a suplementação com uma fonte de carboidrato não estrutural (carboidrato não fibroso, ou seja, farinha de mandioca) esteve associada com uma fonte de proteína degradável no rúmen (PDR), não importando se esta era oriunda de proteína verdadeira (caseina na forma de caseinato de cálcio) ou não (NNP, ou seja, ureia: sulfato de amônia, 9:1).

2.5.3.2. Efeito combinado (substitutivo + aditivo)

O combinado é normalmente o efeito mais observado nos experimentos, uma vez que sob condições práticas os efeitos aditivo e substitutivo dificilmente ocorrem isoladamente (LANGE, 1980). O melhor desempenho animal individual observado quando ocorre este efeito é devido, além do aumento na quantidade de MS consumida, a provável e buscada melhora, ao suplementarmos, na qualidade da quantidade de dieta ingerida. Nestes casos, certamente o animal não suplementado não tem seus requerimentos atendidos; enquanto que o suplementado, em razão de um melhor atendimento de seus requerimentos energéticos, principalmente, e proteicos proporcionados pela suplementação, possivelmente apresenta maior disposição e, essencialmente, seletividade ao pastejar, ingerindo aquelas espécies ou as partes da forragem de melhor valor nutritivo. Assim, a melhora na dieta ingerida pelos suplementados pode não ser apenas decorrente do equilíbrio nutritivo propiciado pela suplementação ao fornecer nutrientes deficientes no pasto, mas também decorrente do consumo de um pasto de melhor qualidade. A redução da disponibilidade de forragem proposta por Bargo et al. (2003) quando se optar pela adoção da suplementação busca justamente evitar esta seletividade em prol da manutenção de uma pastagem de melhor qualidade e de se evitar gastos desnecessários com roçadas após o pastejo. Esta redução de oferta forrageira seria através do aumento da taxa de lotação e, assim ocorrendo, o aumento no ganho por área (GAD) seria decorrente tanto de um maior ganho individual por cabeça (GMD) como de um aumento na carga animal diária (CAD). Entretanto, não ocorrendo este ajuste na oferta o maior GAD seria decorrente apenas de um maior GMD.

2.5.3.3 Efeito substitutivo e efeito substitutivo depressivo

Matematicamente o efeito substitutivo é o mais difícil de ocorrer, ou seja, haver idêntica redução de consumo de MS de volumoso comparativamente a quantidade de MS ingerida via suplemento. Teoricamente, quando ocorre este efeito podem-se esperar três resultados no GMD ou produção de leite diária (PLD): se a qualidade do suplemento for inferior a do volumoso, o que é menos provável ocorrer, determinará redução; se for de igual qualidade ocorrerá manutenção e, se de qualidade superior propiciará melhora no desempenho individual. Desconsiderando

a primeira hipótese, este efeito, embora possa não aumentar o GMD ou a produção de leite diária individuais, possibilita aumentar a carga animal/ha pelo menor consumo individual de forragem, com isto o ganho de peso vivo/ha ou a produção de leite/ha também será aumentado(a).

Com relação ao primeiro resultado possível (redução no GMD ou PDL), Stockdale (1995) constatou que as produções de leite foram reduzidas à medida que uma maior proporção de silagem de milho foi consumida como suplemento exclusivo por vacas leiteiras pastejando azevém perene (Lolium perenne) na Austrália, atribuindo este fato à baixa disponibilidade protéica do suplemento volumoso e a ocorrência do efeito chamado de substituição, no qual o animal deixa de ingerir a pastagem de boa qualidade para consumir o suplemento de qualidade inferior. Salienta-se que Stockdale (1995) trabalhou com suplementação volumosa, o que não será abordado neste trabalho. Não obstante, a utilização de suplementos energéticos em pastagens abundantes de alta qualidade pode gerar taxas de substituição próximas a 1,0 (SCARM, 1990), e, teoricamente, proporcionar desequilíbrio energético-proteico e redução no GMD ou PDL. Portanto, se o suplemento é basicamente energético e o consumo de pastagem decresce tanto que a contribuição desta em proteína não satisfaz as exigências do animal ocorre um desbalanço nutricional, podendo ser observada uma redução na taxa de ganho de peso (ROCHA, 1999).

Na maioria das vezes o suplemento melhora o GMD, mesmo que consumido na mesma quantidade de MS deixada de consumir de volumoso, pela complementaridade de nutrientes que tal substituição proporciona. Neste caso o suplemento possui qualidade superior ao volumoso, sendo que o maior GMD proporcionado pode também possibilitar um maior GAD. Não obstante, o efeito substitutivo propriamente dito pode ser vantajoso mesmo quando não há resposta positiva no desempenho individual, caso o consumo de suplemento em detrimento da redução proporcional do consumo de volumoso possibilita um aumento da lotação e um melhor desempenho por área. É salutar lembrar que o efeito apenas substitutivo também é buscado e válido para aumentar a taxa de lotação e o ganho por área, caso o custo do concentrado seja compensado pelo aumento obtido no ganho/hectare e, em se considerando este efeito apenas matematicamente, também por uma possível melhoria na qualidade da carcaça recompensada por ocasião da venda ao frigorífico.

O efeito substitutivo com depressão no consumo de MS pode ser observado quando a qualidade e a disponibilidade forrageira não são limitantes e, ainda assim, o suplemento apresenta qualidade, principalmente energética, superior ao volumoso, ou seja, este efeito, neste caso, ocorre quando o consumo é regulado quimiostaticamente e, assim sendo, pode-se verificar aumentos no desempenho animal (se o suplemento proporcionar maior equilíbrio em nutrientes) e até se obter consequentes aumentos no ganho por área, mas com menor influência ou reflexo nulo na carga animal comparado ao efeito apenas substitutivo. Entretanto, o efeito substitutivo depressivo teoricamente também poderia ser verificado em casos que o suplemento apresenta qualidade inferior ao volumoso, constatada principalmente por apresentar maiores teores de FDN e FDA que a pastagem (por exemplo, suplemento contendo elevado percentual de casca de arroz triturada) em se considerando a ocorrência de regulação física do consumo (total distensão do trato gastrointestinal) com prováveis efeitos negativos sobre o desempenho individual e por área.

2.5.4 Efeitos observados e esperados com relação a diferentes tipos de suplementos