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5.3 Avaliação de fatores categorizados que afetam as variáveis de desempenho

5.3.6 Tipo de suplemento

Na Tabela 41 estão os modelos selecionados que demonstram a influência do tipo de suplemento sobre as variáveis respostas GMD, CAD e GAD (respectivamente Anexos 32, 33 e 34) no período das águas. Os baixos coeficientes de determinação (R2) específicos para tipo de suplemento verificados, principalmente para GMD (4,46%), não são em decorrência do erro experimental, o que se constata ao observar que os R2 gerais dos três modelos selecionados foram superiores a 90%, sendo isto atribuído a grande influência dos demais fatores fixos e das covariáveis que participaram dos mesmos. Não obstante, possivelmente o “n” para este tipo de análise tenha sido reduzido, pois pouca influência do tipo de suplemento no período das águas é improvável.

Tabela 41 – Análise meta-analítica do ganho médio diário de peso vivo (PV) por animal (GMD) e por área (GAD), e carga animal diária (CAD) observados durante o período das águas em sistemas tropicais de bovinos em função do tipo de suplemento Item GMD1 (kg de PV) CAD 2 (kg de PV/ha/dia) GAD 3 (kg de PV/ha/dia) Tipo de suplemento Sal Proteinado 0,729b 1151b 2,741b Proteico 0,951a 1260b 5,860a Energético 0,746b 1713a 4,286ab P < 0,01 0,01 0,05 EPR4, kg 0,240 1246 3,678 N total 50 135 50 R2 Modelo, % 90,29 90,82 92,14

R2 fator tipo de suplemento 4,46 9,21 9,54

1 Participaram do modelo como: a) fatores fixos = classificação suplemento, a condição sexual do animal e o gênero forrageiro; b) covariáveis = consumo de suplemento em % do PV (linear) e razão folha colmo (linear).

2 Participaram do modelo como: a) fatores fixos = classificação suplemento, a condição sexual do animal, o gênero forrageiro e a idade categorizada; b) covariável = consumo de suplemento em % do PV (linear).

3 Participaram do modelo como: a) fatores fixos = classificação suplemento, a condição sexual do animal e o gênero forrageiro; b) covariáveis = consumo de suplemento em % do PV (linear) e razão folha colmo (linear).

4EPR= erro padrão residual das médias.

As médias nas colunas com letras sobrescritas diferentes, considerando cada variável resposta em separado, diferem estatísticamente (Tukey; P<0,05).

Na Tabela 2, vista inicialmente no estudo bibliográfico (subitem 2.5), constata- se que apenas quando houver, concomitantemente, uma disponibilidade de massa forrageira alta que apresente baixo teor de fibra e alto conteúdo de proteína é que não se espera uma resposta animal positiva para nenhum tipo de suplemento considerado. Isto pode ocorrer em se tratando de pastagens temperadas como aveia e azevém ou em pastagens obtidas através da consorciação de gramíneas e/ou leguminosas temperadas (por exemplo, aveia + azevém ou aveia + azevém + cornichão + trevo branco), mas dificilmente em pastagens com gramíneas tropicais. Entretanto, deve-se salientar que mesmo nestes casos a suplementação faz sentido quando buscamos exclusivamente o efeito substitutivo propriamente dito, onde o consumo de suplemento em detrimento da redução proporcional do consumo de volumoso possibilita um aumento da lotação e um melhor desempenho por área.

É salutar lembrar que o efeito apenas substitutivo também é buscado e válido para aumentar a taxa de lotação e o ganho por área, caso o custo do concentrado seja compensado pelo aumento obtido no ganho/hectare e, em se considerando este efeito apenas matematicamente, também por uma possível melhoria na qualidade da carcaça recompensada quando da venda ou ainda por uma redução no tempo necessário para o abate.

Na estação das águas, a disponibilidade de nitrogênio para a síntese proteica pelos microrganismos ruminais normalmente não é o fator limitante, como ocorre na época das secas, e assim, a energia pode assumir esta condição de fator limitante quando o potencial para ganho de peso do animal não é atingido (THIAGO, 1999). Entretanto, constata-se superioridade (P<0,05) do suplemento proteico sobre os suplementos energético e sal proteinado, os quais não diferiram entre si com relação ao GMD (Tabela 41, Anexo 32). Isto demonstra, em situações que normalmente a energia é pouco limitante, como pode ocorrer no caso de pastagens tropicais no período das águas, que maiores ganhos somente são obtidos com a utilização de suplementos ricos em proteína verdadeira e com alto NDT que é o que mais diferencia o suplemento proteico (73,4% de NDT) do sal proteinado (27,5% de NDT), além do alto percentual de ureia na formulação deste último, conforme podemos constatar na Tabela 27 (vista previamente no subitem 5.1.7); evidenciando que nesta situação, portanto, haveria melhor complementaridade de nutrientes com a utilização do suplemento proteico. Mesmo que o conteúdo total de proteína seja alto, como ocorre em pastagens de melhor qualidade, a suplementação proteica com

proteína de passagem (proteína de escape, “by pass” ou PNDR) pode ressultar em melhor desempenho animal (ANDERSON; KLOPFENSTEIN; WILKERSON, 1988). Assim, quando o objetivo da criação na estação das águas for pelo abate precoce ou obtenção de animais aptos à reprodução com menor idade, o correto seria optar pelo uso de suplemento protéico em detrimento do energético e do sal proteinado.

Com relação a CAD o modelo selecionado apresentou maior “n” que os selecionados para GMD e GAD pela RFC não participar como covariável no mesmo. Constata-se que o suplemento energético proporcionou maior CAD que os suplementos proteico e sal proteinado e estes não diferiram entre si. Isto demonstra claramente que com os suplementos energéticos nesta estação do ano houve efeito substitutivo de MS do pasto pelo suplemento com decorrente sobra de pasto, o que possibilitou aumentos na CAD.

Já, com relação ao GAD os suplementos proteico e energético não diferiram entre si, ou seja, o maior ganho individual possibilitado pelo proteico equiparou-se a maior carga permitida pelo energético. Não obstante apenas o suplemento proteico foi superior (P<0,05) ao sal proteinado quanto a esta variável resposta.

Assim, desconsiderando o custo diferenciado dos suplementos (R$/kg), se o objetivo no período das águas for por aumento da taxa de lotação (aumento de carga nas pastagens) a opção correta é pelo fornecimento de suplementos energéticos, entretanto, se o objetivo é buscar maiores ganhos individuais com vistas a abates mais precoces ou à entrada na vida reprodutiva mais cedo a opção deverá ser pelo uso de suplementos proteicos. Não obstante, também desconsiderando o custo unitário por quilograma e o custo quanto à diferença de instalações para o fornecimento dos diferentes suplementos, como quanto ao GMD e GAD os suplementos classificados como energético e sal proteinado não diferiram, apenas se o objetivo for por uma maior CAD a opção deverá ser pelo uso de suplementos energéticos em detrimento do uso do sal proteinado, tendo em vista a facilidade de fornecimento deste último, o que possibilita menor gasto com mão de obra neste sentido.

Portanto, resumidamente, no período das águas as melhores respostas de desempenho animal individual (GMD) foram obtidas com o uso de suplemento proteico, enquanto que o uso de suplemento energético possibilitou uma maior CAD, sendo que estes dois tipos de suplemento não diferiram entre si quando ao GAD. Não obstante, o suplemento proteico foi superior ao sal proteinado quanto ao GAD.

5.3.6.2 Período das Secas

Na Tabela 42 estão os modelos selecionados na busca da influência do tipo de suplemento sobre as variáveis respostas GMD (Anexo 35), CAD (Anexo 36) e GAD (Anexo 37) no período das secas. Ao contrário dos modelos para CAD e GAD a condição sexual do animal não participou do modelo para GMD, pois, apesar de significativa, não melhorou o mesmo em mais de três pontos percentuais.

Tabela 42 – Análise meta-analítica do ganho médio diário de peso vivo (PV) por animal (GMD) e por área (GAD), e carga animal diária (CAD) observados durante o período das secas em sistemas tropicais de bovinos em função do tipo de suplemento Item GMD1 (kg de PV) CAD 2 (kg de PV/ha/dia) GAD 3 (kg de PV/ha/dia) Tipo de suplemento Sal Proteinado 0,586b 816,3a 1,941 Proteico 0,538b 912,1a 1,888 Energético 0,742a 548,8b 1,985 P = 0,000 0,002 0,867 EPR4, kg 0,494 1206 2,138 N total 179 195 179 R2 Modelo, % 62,77 21,30 44,26

R2 fator tipo de suplemento 5,29 9,02 9,10

1 Participaram do modelo como: a) fatores fixos = tipo suplemento; b) covariáveis = consumo de suplemento em % do PV (CS%PV, linear), %PB pastagem (linear) e %FDN pastagem (quadrática). 2 Participaram do modelo como: a) fatores fixos = tipo suplemento, a condição sexual do animal, o gênero forrageiro e a idade categorizada; b) covariável = CS%PV (linear).

3 Participaram do modelo como: a) fatores fixos = tipo suplemento e a condição sexual do animal; b)

covariáveis = CS%PV (linear), %PB pastagem (linear) e %FDN pastagem (quadrática).

4EPR= erro padrão residual das médias.

As médias nas colunas com letras sobrescritas diferentes, considerando cada variável resposta em separado, diferem estatísticamente (Tukey; P<0,05).

Quanto ao GMD o suplemento energético foi superior (P<0,01) aos demais suplementos, o que corroboraria com as considerações a este respeito feitas quando da apresentação da Tabela 2 (subitem 2.5 e 2.5.4.4) no caso de haver limitação quantitativa. Entretanto, este melhor desempenho possivelmente tenha sido obtido em condições de mais alta substituição do pasto pelo suplemento em se considerando não ter havido limitação quantitativa (ver subitem 5.3.5.2 e Tabela 40). De forma contrária, quanto a CAD observou-se superioridade (P<0,01) dos suplementos proteico e sal proteinado, os quais não diferiram entre si, sobre o suplemento energético. Nestes casos, certamente o efeito decorrente da

suplementação seja aditivo ou aditivo com estímulo, sendo que este último normalmente esta associado aos sais proteinados. Em consequência para o GAD não se observou diferença (P>0,05) entre os suplementos.

Tendo como base que a proteína é consensualmente considerada o nutriente mais limitante para o período das secas (CAVAGUTI; ZANETTI; MORGULIS, 2000), há que salientar que o suplemento classificado com energético apresentou um teor proteico médio um tanto próximo do limite entre energético e proteico (17,2% de PB) como já pôde ser constatado na Tabela 27 (subitem 5.1.8). Assim, possivelmente apresentou superioridade quanto ao GMD por apresentar, além de maiores taxas de substituição comparativamente aos suplementos proteico e sal proteinado, como já sugerido, uma relação NDT:PB de 5,3:1 (Tabela 27) que complementou mais adequadamente a relação NDT:PB observada nas pastagens tropicais neste período (relação de 8,9:1 conforme já se observou na Tabela 19, subitem 5.1.4) comparativamente ao que ocorreria com um concentrado energético típico que apresentasse relação NDT entre 7:1 e 9:1 por conter, por exemplo, em torno de 70% de NDT e 10% de PB como é o caso do sorgo, ou em torno de 80% de NDT e 9% de PB como é o caso do milho; ou seja, por equilibrar mais adequadamente energia e nitrogênio, o que não aconteceria caso apresentasse uma relação NDT:PB semelhante à observada nestas pastagens. Este assunto será complementado no subitem 5.5.8 onde será avaliada a influência da relação NDT:PB do suplemento sobre as eficiências de conversão da suplementação relativas às variáveis GMD, CAD e GAD.

Modelos alternativos utilizando a RFC como covariável em substituição aos teores de FDN e PB nos modelos para GMD e GAD e sendo introduzidos junto com IMAM no modelo CAD apesar do menor “n” aumentaram o R2 do modelo com pouca

influência sobre o R2 do suplemento, entretanto neste comparativo ficou de fora da análise, ao serem cruzados os dados, o suplemento energético devido ao baixo “n”. Nestes modelos o suplemento proteico foi superior (P<0,01) ao sal proteinado nas três variáveis respostas. Isso demonstra que um maior teor proteico oriundo da proteína verdadeira é mais favorável a um maior desempenho animal e por área.

O concentrado proteico em geral equivale a rações balançadas com alto teor proteico ou misturas contendo um ingrediente proteico de alta (por exemplo, farelo de soja) ou média qualidade (por exemplo, farelo de girassol com alta FB) com teor de matéria orgânica e NDT superior aos sais proteinados que são mais ricos em

minerais e contêm elevada quantidade de NNP na forma de ureia em suas formulações. A Tabela 27 identifica esta diferença com relação ao teor de MO entre estes suplementos. Considerando que normalmente os suplementos proteicos não contêm ureia e quando contêm a mesma normalmente não é maior que dois pontos percentuais da formulação, do valor de 31% de PB observado na Tabela 27 um mínimo de 25,3% seria de proteína verdadeira e no máximo 5,6% seria na forma de NNP oriundo de ureia considerando um equivalente proteico da mesma de 281%. Já o sal proteinado, considerando um valor de 7,5% de ureia na fórmula, que estaria pouco acima do mínimo (5%) normalmente encontrado em uma formulação do mesmo, do valor de 42% de PB observados na Tabela 27 a metade (21% de PB) seria na forma de NNP. Entretanto, como formaram parte da classe sal proteinado também os sais considerados nitrogenados energéticos (sem ingrediente proteico em sua formulação, mas teores mais elevados de ureia) e os sais nitrogenados (apenas sal comum e/ou sal mineral misturado a ureia) certamente este percentual de participação de ureia é ainda maior.

Os efeitos aditivos e aditivos estimulativos ocorrem geralmente quando o consumo de nutrientes via forragem é reduzido por motivo de baixa qualidade em geral da mesma, pouco tempo de pastejo, limitada oferta e deficiência proteica para os microrganismos ruminais, sendo que o estimulativo é mais evidenciado normalmente quando o uso exclusivo de NNP (sal mais ureia) ou de sal proteinado está correto, ou seja, respectivamente deficiência de apenas N (proteína degradável no rúmen, PDR) para uma adequada fermentação ruminal ou deficiência de N (PDR) associada à proteína não degradável no rúmen (PNDR) e esqueletos de carbono. Estes tipos de efeito podem agir aumentando o ganho de peso médio diário (GMD) dos animais e, em decorrência, o ganho por área. Entretanto para os suplementos proteico e sal proteinado a resposta a estes efeitos ocorreu na CAD com consequente influência no GAD, se considerarmos os resultados obtidos para estes comparativamente aos obtidos com o suplemento energético; ou seja, este último suplemento (energético) apresentou GAD semelhante aos demais por ter apresentado GMD superior a ambos, tendo em vista que possibilitou a utilização de menor CAD que ambos.

Entre os fatores que afetam a eficiência microbiana, destacam-se: a disponibilidade e a sincronização entre energia e compostos nitrogenados, assim, considerando que em condições tropicais, os carboidratos fibrosos (CF) são a maior

fonte de energia no ruminante e que as gramíneas destas regiões apresentam teores médios ou baixos de proteína, a disponibilidade de N-NH3 no rúmen pode ser

o principal limitador do crescimento microbiano (CABRAL et al., 2008).

Em resumo, no período das secas as melhores respostas de desempenho