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Suplementos energéticos ricos em fibra digestível (volumosos-concentrados

2.5 Suplementação de bovinos em pastagens

2.5.4 Efeitos observados e esperados com relação a diferentes tipos de suplementos

2.5.4.3 Suplementos energéticos ricos em fibra digestível (volumosos-concentrados

Ingredientes como polpa cítrica, polpa de beterraba, casca de grão de soja (CGS) e leguminosas apresentam altas concentrações de substâncias pécticas, entretanto a concentração em gramíneas geralmente é baixa. As pectinas são consideradas carboidratos associados com a parede celular não covalentemente unidas às porções lignificadas, sendo digeridas de 90 a 100% no rúmen (VAN SOEST, 1994 e HALL, 2001).

Nelmann et al. (2005) suplementando terneiros em pastagem de capim elefante com suplementos isoenergéticos, mas com redução no nível de proteína à medida que aumentava a o percentual de participação destes com base no PV, obtido pela diminuição de farelo de soja e fosfato bicálcico com consequente aumento consubstancial na CGS e pequeno ajuste na % de milho constataram que os animais suplementados ao nível de 0,5% do PV apresentaram menores (P<0,05) ganhos de peso (0,558kg dia-1) frente aos animais com níveis de suplementação de 0,75% do PV (0,727kg dia-1), de 1,00% do PV (0,786kg dia-1) e de 1,25% do PV (0,851kg dia-1), obtendo uma resposta linear com início ascendente demonstrada pela equação GMD = 0,4027 + 0,3748*NS (R² = 0,2746; CV = 23,45%; P>0,0001), onde NS representa o nível de suplementação, com incremento de 37,48g no GMD a cada 0,1% do PV de aumento no nível da suplementação. Segundo os autores

essa resposta linear positiva ao incremento do nível de suplementação deve-se ao menor estresse dos animais frente às variações da disponibilidade e qualidade da forragem disponível e da dinâmica da pastagem frente ao avanço de seu ciclo produtivo, estando estas associadas à maior ingestão de matéria seca e nutrientes digestíveis totais contidos na fração concentrada ofertada diariamente aos animais. Outro aspecto considerado importante pelos autores relaciona-se à situação de melhor condição de seleção da forragem de melhor qualidade consumida pelos animais suplementados, principalmente aos níveis de 1,0 e 1,25% do PV.

Embora não medido o consumo de pasto no trabalho supracitado de Nelmann et al. (2005), certamente o aumento significativo da participação de um ingrediente volumoso concentrado rico em pectina com o aumento do nível de substituição não causou graves problemas de diminuição no consumo de pasto como tantos evidenciados quando ocorre aumento consubstancial de amido. Além disso, este aumento pode ter decorrido por haver em determinados períodos de utilização da pastagem apenas efeito aditivo em todos os níveis de suplementação considerando que a oferta de ingrediente volumoso estivesse bastante limitada, baseando este comentário em considerações feitas pelos próprios autores.

A razão (relação) de substituição de feno de grama nativa de baixa qualidade (FGNBQ) por grão de milho (M) foi muito grande em experimento realizado por Chase Junior e Hibberd (1987), pois a suplementação de 3 kg de M diminuiu o consumo de FGNBQ em 3,7 Kg. O consumo de feno semelhante ao utilizado por Chase Junior e Hibberd (1987) aumentou com a suplementação de 1 kg de cascas de grão de soja (CGS), mas diminuiu minimamente quando dois ou 3 kg de CGS foram suplementados, em trabalho realizado por Martin & Hibberd (1990). Consequentemente, a razão de substituição de CGS para este feno foi muito pequena (3 kg de CGS diminuíram o consumo de feno de grama nativa de baixa qualidade em apenas 0,64 kg). Devido a esta baixa razão de substituição, Martin & Hibberd (1990) concluíram que a CGS não reduz o consumo de forragem tão efetivamente quanto à suplementação com grãos.

No experimento realizado por Chase Junior e Hibberd (1987) a suplementação com milho (M) acima de 2 kg/dia decresceu a digestibilidade de feno de grama nativa de baixa qualidade (FGNBQ). No entanto, a digestibilidade de FGNBQ semelhante ao utilizado por Chase Junior e Hibberd (1987) não foi decrescida com a suplementação de até 3 kg/dia de cascas de grão de soja (CGS)

no experimento realizado por Martin e Hibberd (1990) sugerindo que as CGS não são digeridas à custa de forragem. Comparado a suplementos contendo milho, os suplementos contendo CGS podem aumentar o consumo de energia por vacas de corte em condições de pastejo sem decrescer a utilização da forragem (MARTIN; HIBBERD, 1990).

O pequeno tamanho da partícula da casca de grão de soja (CGS) facilita uma veloz taxa de passagem através do rúmen-retículo permitindo altos consumos de matéria seca, (BERNARD; McNEILL, 1991). Entretanto isto não é o ideal, pois se as mesmas deixarem o rúmen-retículo sem serem digeridas aumentará a velocidade de passagem pelo restante do trato digestivo em prejuízo de uma maior digestão total, o que se evidenciou em estudo de digestibilidade in vivo com ovinos onde animais não suficientemente adaptados a mesma apresentaram fezes moles durante todo o período experimental (QUICKE et al., 1959) ao contrário de trabalho realizado por Tambara et al. (1995) que por utilizarem um período de adaptação maior, constataram que alguns animais após demonstrarem o mesmo problema e, mesmo consumindo casca de grão de soja como único alimento, quando da fase de coleta já apresentavam as fezes praticamente normais, o que contribuiu, segundo estes últimos autores, para os melhores resultados de digestibilidade aparente e NDT que encontraram comparativamente aos obtidos por Quicke et al. (1959). Corroborando com isto, Van Soest (1994) considera que a pectina apresenta uma digestibilidade verdadeira de 98% e salienta que a mesma pode ser utilizada somente via fermentação microbiana para ácidos graxos voláteis e outros produtos microbianos, sendo esta característica dividida com a celulose e a hemicelulose, pois apresenta fermentação microbiana predominantemente acética. Como a CGS tem alto teor de substâncias pécticas, ao não ser digerida no rúmen-retículo, no restante do trato digestivo atuará como fibra insolúvel fisicamente efetiva e, se estiver em excesso, apressará a velocidade de passagem com prejuízo de uma melhor digestão a nível abomasal e intestinal.

Outra explicação plausível para baixa razão de substituição de CGS para o feno de grama nativa de baixa qualidade encontrada pode ser o pequeno tamanho das partículas de CGS que, talvez, permite-as se adaptar (juntar) com o feno no interior do rúmen com pequeno aumento do volume total (MARTIN; HIBBERD, 1990). Hintz et al. (1964), observaram em ovinos uma taxa de passagem pelo trato digestivo total mais rápida quando CGS foram fornecidas sozinhas do que quando

conjuntamente com feno. O acima comentado indica que fontes de fibras não forrageiras como a casca de grão de soja apesar de serem altamente digestíveis, possuem uma alta taxa de passagem, o que pode limitar a máxima digestão da FDN, entretanto esta digestão pode ser potencializada se forem usados procedimentos que façam aumentar a retenção ruminal.

Outras considerações sobre ingredientes volumosos-concentrados energéticos ricos em substâncias pécticas comparados com fontes de amido serão feitas posteriormentes no subitem 2.5.4.6.