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9.8 ADUBAÇÃO ORGÂNICA E AGRICULTURA ORGÂNICA

Considerando o interesse atual em agricultura orgânica, é importante esclare- cer alguns aspectos.

A adubação orgânica é a aplicação ao solo de materiais orgânicos, constituídos por resíduos (vegetais, animais, urbanos e industriais) e por adubos verdes. Já a agri- cultura orgânica é um método de produção, tal como a agricultura convencional. A agricultura orgânica, às vezes, é considerada como uma tecnologia de processos e não de uso de insumos, porém ambos os métodos de produção necessitam de insumos externos à propriedade. Nas normas da agricultura orgânica não é permitido o uso de fertilizantes minerais industrializados (solúveis) e da maioria dos defensivos agrícolas modernos. Tanto a agricultura orgânica como a convencional propõem um desenvolvi- mento agrícola sustentável, visando manter a capacidade produtiva do solo a longo prazo e a preservação dos recursos naturais. Geralmente apregoa-se que os alimentos produzidos organicamente são mais naturais, mais saudáveis ou mais nutritivos que os produzidos convencionalmente, no entanto os trabalhos de pesquisa no assunto ainda não comprovaram tal fato.

No meio científico também há dúvidas quanto à viabilidade técnica e econô- mica da agricultura orgânica a longo prazo e aos possíveis efeitos do uso exclusivo de adubos orgânicos. A agricultura orgânica ocupa cerca de 17 milhões de hectares no mundo (Boletim Pecuário, 2002). Pelas limitações de adoção de algumas tecnologias, os rendimentos tendem a ser menores. Na mesma escala de produção, a agricultura orgânica demanda mais mão-de-obra, e os custos de produção são maiores que na agricultura convencional. A comercialização diferenciada desses produtos, com selo de "produto orgânico", deve ser feita conforme as normas (Brasil, 1999).

GRÃOS

A produção de grãos constitui grande parte da economia agrícola nos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Geralmente as propriedades agrícolas são especializadas na produção dessas espécies ou, então, associam as mesmas com a produção de forragem e criação de animais.

A alternância de culturas é uma prática indispensável para o manejo adequado da propriedade, bem como para reduzir a incidência de doenças e de pragas.

Todas as culturas do grupo das espécies graníferas são adequadas ao sistema plantio direto, que apresenta vantagens em relação ao sistema convencional. Em termos de manejo do solo, a viabilidade do sistema plantio direto depende do cultivo permanente do solo, com produção de elevadas quantidades de palha, reduzindo, dessa forma, a erosão hídrica e propiciando condições físicas adequadas ao solo.

Calagem

Considerando a amplitude de características que as culturas de grãos apresen- tam, seu desenvolvimento em geral é máximo quando o pH do solo está entre 5,5 e 6,0. Nessa condição, a solubilidade do Al e do Mn é baixa, e estes não causam fitoto- xidez. Na implantação do sistema plantio direto, recomenda-se aplicar calcário para o solo atingir pH 6,0, incorporando-o na camada de zero a 20 cm de profundidade, prin- cipalmente quando culturas de leguminosas forem introduzidas na rotação. Após o estabelecimento do sistema plantio direto, o calcário não necessita ser incorporado, sendo suficiente a sua aplicação na superfície do solo.

A calagem é recomendada no sistema plantio direto quando o pH em água for menor que 5,5 ou a saturação por bases for menor que 65% (Tabela 6.3). Quando somente um desses critérios for atendido, não se recomenda aplicar calcário se a por- centagem da saturação da CTCefetivapor alumínio for menor do que 10% e a faixa de teor de P igual a "Muito alto". Essa recomendação aplica-se também para lavouras em

que o sistema plantio direto é implantado a partir de campo natural com baixo teor de alumínio na camada sub-superficial (10 a 20 cm de profundidade com índice SMP > 5,3). Nessas condições, a reamostragem do solo é recomendada a cada três anos, visando o monitoramento da acidez do solo.

Para determinar a necessidade de recalagem em área sob sistema plantio direto, o solo deve ser amostrado na camada de zero a 10 cm de profundidade, apli- cando-se metade da dose indicada pelo método SMP para o solo atingir pH 5,5, uma vez que o objetivo é corrigir a camada de zero a 10 cm, pela aplicação superficial de calcário (Tabela 6.3). Para evitar o excessivo aumento do pH na camada superficial do solo, sugere-se aplicar no máximo 5 t/ ha.

No caso de se optar pela aplicação de calcário na linha de semeadura, sugere-se observar as recomendações específicas para esta prática (item 6.8.3, p. 70). Os procedimentos de amostragem de solo nos diferentes sistemas de cultivo constam no Capítulo 3.

Adubação

As quantidades de fertilizantes contendo P e K a aplicar variam em função dos teores desses nutrientes no solo. A interpretação agronômica das diversas faixas de teores de P e de K no solo é apresentada no Capítulo 5 (p. 51 e 52). O limite inferior da faixa de teor "Alto" é considerado o teor crítico de P e de K no solo, cujo nível deve ser mantido pela aplicação de quantidade adequada de fertilizante. A partir do limite supe- rior do teor "Alto" a probabilidade de resposta à aplicação de fertilizantes é muito pequena ou nula.

O sistema de recomendação de adubação para P e K oferece duas alternativas de correção da deficiência desses nutrientes para as culturas de grãos: a) adubação corretiva gradual e b) adubação corretiva total.

A primeira opção é indicada quando há menor disponibilidade de recursos financeiros, sendo a quantidade total de P ou de K aplicada ao solo no decurso de dois cultivos. A segunda opção (adubação corretiva total) é indicada quando há disponibili- dade de recursos financeiros para investimento. Em ambos os casos a meta é elevar os teores de P e de K no solo ao nível adequado para o desenvolvimento das plantas. No caso de solos arenosos (< 20 % de argila) ou com CTC < 5 cmolc/ dm³ não se reco- menda a adubação corretiva total de potássio.

As doses de P2O5e de K2O para as culturas de grãos são indicadas em função de dois parâmetros básicos:

a) a quantidade necessária para o solo atingir o limite inferior da faixa de teor "Alto" em dois cultivos (adubação corretiva); e,

b) a exportação desses nutrientes pelos grãos acrescida da estimativa de perdas diversas do sistema (adubação de manutenção).

Nas faixas "Muito baixo", "Baixo" e "Médio", a diferença entre a quantidade indicada em cada cultivo e a manutenção é a adubação de correção, ou seja, é a quan- tidade necessária para elevar o teor do nutriente no solo ao teor crítico. Quando a cor- reção total do sistema é feita no 1º cultivo, a dose a aplicar deve ser a soma das quantidades dos dois cultivos menos a reposição do 2º cultivo. Assim, exemplificando com a cultura da soja (p. 146) e para o rendimento referência de 2 t/ ha e teor "Baixo" de P, a dose a aplicar, será: 70 + 50 – 30 = 90 kg P2O5/ ha, correspondendo a 60 kg de adubação corretiva e 30 kg de manutenção. Se a cultura de trigo for o 2º cultivo e a expectativa de rendimento for 2 t/ ha, aplicar-se-á somente a manutenção de 30 kg/ ha para esta cultura (p. 78 e 151), pois o teor de P do solo, provavelmente já estará pró- ximo do teor crítico. Com base nesses critérios, tem-se uma adubação que permite aumentar e manter os teores no solo, obtendo-se, assim, produções elevadas e retorno econômico.

As doses indicadas nas tabelas são para um rendimento mínimo, denominado rendimento referência (Tabela 7.2, p. 78). Para rendimentos maiores devem ser acres- centadas, por tonelada adicional de grãos a serem produzidos, as quantidades de P2O5 e K2O especificadas nas notas de rodapé das tabelas das respectivas culturas.

Para os teores de P e de K interpretados como "Alto" e "Muito alto", as doses de P2O5e de K2O indicadas para essas faixas nas tabelas são a adubação de manutenção ou reposição.

Em algumas situações em que os teores de P e de K estão nas faixas de teor "Baixo" ou "Muito baixo" e a expectativa de rendimento é elevada, as quantidades desses nutrientes também serão altas. Para evitar a concentração excessiva de nutrientes junto à semente e possível efeito salino do fertilizante potássico, é recomen- dado aplicar parte do fertilizante a lanço antes da semeadura.

Decorridos dois cultivos após a aplicação das quantidades indicadas, reco- menda-se reamostrar e analisar o solo para verificar se os teores de P e de K atingiram os valores desejados e, então, planejar as adubações para as culturas subseqüentes.

As doses indicadas pressupõem que os outros fatores de produção estejam em níveis adequados. Dessa forma, em alguns casos, haverá necessidade de alterar as

doses de fertilizantes, de acordo com as situações específicas de solo, clima, época de semeadura, potencial de produção, recursos financeiros disponíveis, etc.

Para permitir o ajuste das doses em relação às fórmulas de fertilizantes existen- tes no mercado, as quantidades de P2O5e de K2O recomendadas nas tabelas podem variar em ± 10 kg/ ha, sobretudo nas doses mais elevadas.

Por serem as quantidades de P2O5e de K2O maiores no 1º cultivo para as faixas de teores de nutrientes "Muito baixo", "Baixo" e "Médio", sugere-se que o sistema de adubação seja iniciado com as culturas de menor espaçamento entre linhas (ex.: cereais de inverno), aplicando os fertilizantes na linha, especialmente para as faixas de teores "Muito baixo" e "Baixo".

Pelos critérios apresentados, o sistema é coerente quanto à adubação para elevar os teores do solo ao nível desejado, independentemente da seqüência utilizada de culturas, pois sempre será adicionada a quantidade que a cultura necessita mais as perdas e uma quantidade referente à correção do solo com efeito residual ("sobra") para a cultura seguinte. O conceito de produtividade variável introduzido a partir dessa edição do Manual permite ajustar a adubação para qualquer expectativa de rendi- mento e uso de tecnologia.

O valor zero indicado nas tabelas para a faixa de teor "Muito alto" no primeiro cultivo significa que é remota a possibilidade das plantas responderem a qualquer quantidade de adubo. No entanto, algumas culturas necessitam de uma pequena quantidade na linha de semeadura para permitir um bom desenvolvimento inicial das plantas. A decisão de não adubar deve levar em conta os outros fatores de produção e o custo da adubação.