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11.9 PASTAGENS NATURAIS (NATIVAS OU NATURALIZADAS)

As pastagens naturais incluem os "campos nativos" e as pastagens naturaliza- das, resultantes da revegetação de áreas previamente utilizadas para outras finalida- des (culturas ou mesmo pastagens anuais). A expressão de seu potencial produtivo depende de práticas adequadas de manejo, incluindo a melhoria da fertilidade do solo. Para tanto, é essencial o conhecimento do tipo de pastagem disponível e o potencial de resposta. A caracterização geral dessas formações é difícil devido à ocorrência de um grande número de espécies, muitas vezes representadas por diferentes ecotipos. Do ponto de vista funcional, há uma grande variabilidade na produtividade, tanto no tempo quanto no espaço (Nabinger et al., 2000). No tempo, as variações são determi- nadas pelas condições meteorológicas. No espaço, a produtividade forrageira está diretamente relacionada às características físicas e químicas e ao relevo dos solos. Os fatores edáficos determinam grandes variações na composição botânica e na produtividade, em função da dominância de algumas espécies, adaptadas às condições predominantes de solo.

Para a decisão de utilização de áreas sob pastagem natural, é apresentada uma descrição resumida (Tabela 11.9.1) dos campos das principais regiões fisiográficas dos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina e dos sistemas produtivos utilizados.

Tabela 11.9.1. Regiões de ocorrência e descrição de agroecossistemas com a utilização de forrageiras nos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina

Região Descrição do agroecossistema

Litoral (SC) Nas terras baixas, argilosas e turfosas e mal drenadas, predominam espécies do gêneroBrachiaria(B. muticaeB. radicans), associadas a um grande número de gêneros nativos.

Encostas do Litoral (SC)

Relevo acidentado, solos bem drenados com baixa fertilidade natural, muitas vezes degradados pela agricultura, predominando pastagens naturalizadas, constituídas, na maioria, por gramíneas dos gêneros Axonopus e Paspalum,

com presença de leguminosas, principalmente do gênero Desmodium. Mais

recentemente, espécies cultivadas do gênero Brachiaria(B. decumbense B. humidicola) tem sido utilizadas.

Tabela 11.9.1. Continuação

Região Descrição do agroecossistema

Alto Vale do I tajaí (SC)

Região com relevo predominante acidentado, com solos de baixa fertilidade natural. As pastagens naturalizadas, compostas principalmente por espécies dos gênerosAxonopusePaspalum, ocupam grande parte da área destinada à pro-

dução animal. O melhoramento das pastagens pode ser feito pela calagem e adubação e sobre-semeadura de espécies de inverno, especialmente azevém, aveia, trevo branco, trevo vermelho, cornichão e ervilhaca.

Planalto Sul ( SC) e Campos de Cima da Serra (RS)

Região conhecida como campos de altitude, tendo como espécie predominante o capim-caninha (Andropogon lateralis). Predomínio de solos de baixa fertilidade

natural, acidez elevada, alto teor de alumínio e pobres em nutrientes, principal- mente fósforo. Como a carga animal destes campos é baixa, estabelecida em função da baixa qualidade e da pequena quantidade de forragem disponível no inverno, há uma grande sobra de forragem no verão. As alternativas para a melhor utilização são o aumento da fertilidade do solo e a introdução de espécies hibernais (aveia, azevém, capim lanudo, trevo branco, trevo vermelho, cornichão).

Planalt o Médio (RS)

Vegetação original muito modificada pelas lavouras intensivas. Em geral, são campos grossos, com baixa capacidade de suport e, predominando a barba-de-bode (Aristida jubata) no estrado superior. A melhoria desses campos

deve necessariamente incluir o controle da barba-de-bode e a correção da fertili- dade do solo. A introdução de espécies hibernais, como, aveia, azevém, trevos e cornichão, e a integração lavoura-pecuária são alternativas indicadas para esta região.

Missões (RS) Vegetação original profundamente modificada, sobretudo nos campos grossossituados no centro e leste, que apresentam baixa capacidade de suporte, tendo, na sua maioria, sido substituídos pela lavoura. A oeste, em direção ao Rio Uru- guai, predominam campos finos, com melhor capacidade de suporte, localiza- dos, de modo geral sobre solos sedimentares e planos. Nesses solos, predomina a atividade integrada arroz/ pecuária de corte. Apresentam boa cobertura de solo, formando pastagens de boa qualidade, que respondem muito bem à corre- ção do solo e à adubação. Na integração com a lavoura de arroz, a sucessão com pastagens de inverno-primavera representa uma alternativa altamente viável. Depressão

Central (RS)

Caracteriza-se como campos mistos nos solos derivados do basalto e granito e campos grossos nos solos arenosos. Os campos mistos, que são encontrados na maior parte da região, respondem facilmente ao manejo (ajuste de carga, diferi- mento e roçada), bem como à correção da fertilidade do solo, associada ou não à sobre-semeadura de espécies de inverno. Aveia, azevém, trevo vesiculoso, trevo subterrâneo, trevo branco (nas áreas de várzea) e cornichão são espécies utiliza- das com sucesso no melhoramento das pastagens naturais da região. Há alto potencial para cria e parte da recria em pastagem natural e terminação em pas- tagens nativas melhoradas por adubação e sobre-semeadura de espécies de inverno, ou pastagens cultivadas, na rotação com lavouras (soja, milho, arroz).

Região Descrição do agroecossistema

Campanha (RS)

Apresenta, em geral, os melhores campos naturais do Rio Grande do Sul. Em função do material de origem e da profundidade dos solos, os campos da Cam- panha podem ser classificados em três tipos principais: campos finos sobre solos rasos, campos finos sobre solos profundos e campos grossos e mistos sobre solos profundos e arenosos. Os campos finos sobre solos rasos (Uruguaiana, Quaraí, parte de Alegrete, Santana do Livramento e sul de I taqui) são campos limpos, com grande número de espécies de baixo porte, de excelente valor forra- geiro, com alta cobertura do solo e boa presença de espécies hibernais. O maior problema é a pouca profundidade dos solos, associada a freqüentes estiagens. O manejo adequado (ajuste da carga e diferimento), associado à fertilização, pode aumentar muito a participação de espécies nativas hibernais. A sobre-semea- dura de espécies cultivadas de inverno, como azevém, cornichão e trevo branco, constitui uma boa alternativa de aumento da capacidade de suporte durante o período de inverno e de primavera. Os campos finos, sobre solos férteis e mais profundos, que ocorrem nos municípios de Bagé, Dom Pedrito e adjacências, possuem excelente cobertura, suportam bem as estiagens e propiciam produ- ções satisfatórias. Em geral, o principal problema nesses campos é o excesso de carga animal, necessidade de limpeza e falta de melhor uso da integração lavoura-pecuária. Os campos grossos e mistos sobre solos arenosos são encon- trados nos municípios de Rosário do Sul, parte de São Gabriel, Santana do Livra- mento, Alegrete, São Francisco de Assis e oeste de São Sepé. Os campos são sujos na parte leste, com presença de carqueja, alecrim, caraguatá e andropo- gôneas, e relativamente limpos e de melhor qualidade a oeste e ao sul. O princi- pal problema da região é o excesso de carga animal, sobretudo nos solos arenosos, que associada à agricultura convencional pode ter contribuído para a arenização de alguns locais. A sobre-semeadura de espécies de inverno, prece- dida da correção do solo e da adubação, permite o melhoramento dos campos mais limpos pelo aumento da ocorrência de espécies de melhor qualidade. Serra do

Sudeste (RS)

Correspondem à savana, com arbustos e árvores isoladas no estrato superior e gramíneas no estrato inferior. Em geral, a vegetação campestre é rala e com espécies de baixo valor forrageiro, especialmente nas partes das encostas, com alta porcentagem de solo descoberto. Devido à topografia acidentada, predo- minam solos rasos, pouco férteis, com afloramentos de rocha. A atividade prin- cipal é a pecuária, com ovinos e bovinos. Uma prática comum e inadequada é a derrubada e posterior queima da vegetação arbustiva, para ampliar a área de utilização com animais. Além de descaracterizar a fisionomia da região, aumenta progressivamente a área de solo descoberto, podendo tornar irrever- sível a sua recuperação. De modo geral, esses campos requerem o controle das espécies indesejáveis por roçadas periódicas e controle da lotação para evitar sobrepastoreio, permitindo melhor cobertura do solo e, posteriormente, o aumento da capacidade de suporte pela melhoria da fertilidade e mesmo a sobre-semeadura de espécies hibernais, como aveia, azevém, trevo vesiculoso, trevo vermelho ou trevo subterrâneo.

Tabela 11.9.1. Continuação

Os campos com predominância de espécies de melhor qualidade, como as do gêneroPaspalum,apresentam boa resposta à melhoria da fertilidade e propiciam pro- dução animal comparável às melhores pastagens cultivadas de verão, com a vantagem de não apresentarem os riscos inerentes à fase de estabelecimento das pastagens. Neste tipo de campo, as respostas à correção do solo e à adubação têm sido economi- camente viáveis, desde que as demais práticas de manejo sejam corretamente adotadas.

Calagem

Se os teores de Ca e de Mg forem baixos, aplicar em superfície 1 t/ ha de calcá- rio dolomítico (PRNT 100); para a introdução de espécies melhoradoras da pastagem (gramíneas e leguminosas), aplicar em superfície a quantidade equivalente à dose ½ SMP para pH de referência 5,5 (Tabelas 6.2 e 6.4).

Nitrogênio

O nitrogênio é o principal fator que restringe o potencial produtivo do campo nativo. Para as pastagens naturais, aplicações em cobertura de aproximadamente 100 kg de N/ ha, divididas em duas aplicações de 50 kg/ ha no início da primavera e no início do verão, embora não atendam ao potencial das boas pastagens, têm apresentado

Região Descrição do agroecossistema

Litoral e região das grandes lagoas (RS)

Nas áreas próximas ao oceano, ocorrem algumas espécies andropogôneas, típi- cas de solos arenosos, e outras gramíneas de hábito estolonífero. Um grande número de leguminosas contribuem para aumentar a qualidade destes campos. No litoral continental, a oeste das lagoas, ocorrem campos limpos de relevo plano, com espécies de excelente qualidade, especialmente do gêneroPaspa- lum,sendo freqüentes leguminosas do gêneroDesmodium.Na porção sul do Litoral, o sistema de produção predominante é a integração lavoura-pecuária. As culturas de cebola e arroz são importantes para a região e a pecuária mista, de bovinos e ovinos, utiliza as pastagens naturais e terras de “pousio” de arroz. Em geral, o sistema de sucessão arroz/ pastagem de inverno possibilita a melho- ria na flora nativa de sucessão e propicia uma disponibilidade de forragem de boa qualidade no período outono-inverno-primavera. Como os campos do litoral são de formação geológica recente, a vegetação desenvolve-se sobre uma tênue camada de solo arenoso. Estes campos podem ser melhorados, tanto pela correção e adubação do solo, como pela sobre-semeadura de espécies de inverno.

Adaptado de Nabinger et al. (2000)

altas respostas produtivas e econômicas, comparáveis às obtidas com pastagens culti- vadas de verão. A eficiência de uso de nitrogênio depende da correção das demais deficiências do solo, principalmente da acidez e do baixo teor de fósforo.

Fósforo e potássio

Para as pastagens naturais, utilizar, no primeiro ano, a metade da dose de fós- foro indicada para as consorciações de gramíneas e de leguminosas de estação fria, com base na análise de solo. A partir do segundo ano, aplicar a dose de reposição de 40 kg de P2O5/ ha. Aplicar no início da primavera, em cobertura, juntamente com o nitrogênio.

Quando for aplicado calcário ou em solos com pH maior que 5,2, é recomen- dada a utilização de fosfatos solúveis. Pode-se utilizar fosfatos naturais reativos em solos com teor de fósforo baixo ou muito baixo, sendo a dose calculada conforme seu teor de P2O5 total. A solubilidade destes fosfatos é maior em solos com baixos teores de cálcio e de fósforo e baixo pH.

Se necessário, aplicar também em cobertura, na primavera, a dose de potássio recomendada para gramíneas de estação quente. Em solos com CTC "Baixa", dividir a quantidade total em duas doses, a serem aplicados juntamente com o adubo nitrogenado.

11.10 - PASTAGENS NATURAIS COM INTRODUÇÃO DE