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9.6 MANEJO DOS ADUBOS ORGÂNICOS

Os materiais orgânicos devem ser aplicados ao solo imediatamente antes da semeadura ou plantio, para possibilitar melhor aproveitamento dos nutrientes, minimi- zando as perdas por escoamento superficial (em áreas sem revolvimento de solo) e por lixiviação de nitrato. Para diminuir as perdas de nitrogênio por volatilização de amônia, os estercos devem ser aplicados em dias com temperatura baixa ou antes de uma chuva ou irrigação. A maior perda de amônia ocorre durante o transporte e a aplicação do produto.

Em qualquer sistema de cultivo, as necessidades nutricionais de uma determi- nada cultura dificilmente serão supridas de forma equilibrada com o uso exclusivo de materiais orgânicos, pois as concentrações de N, de P2O5 e de K2O nesses materiais diferem, na maioria das vezes, das relações requeridas pelas plantas. Para melhorar o aproveitamento dos adubos orgânicos, recomenda-se ajustar a adubação pelo nutriente cuja quantidade seja suprida com a menor dose de adubo orgânico. Para os outros nutrientes, calcula-se a contribuição referente à quantidade de adubo orgânico aplicado e suplementa-se o restante com fertilizantes minerais, conforme indicado no item 9.4.

Como a maioria dos adubos orgânicos com alta relação C/ N não supre as quan- tidades adequadas de N para o crescimento e a produção econômica de muitas cultu- ras, normalmente há necessidade de utilizar fertilizantes nitrogenados minerais para complementar a necessidade das plantas.

Não se recomenda a utilização de resíduos orgânicos com alto teor de N na adubação de leguminosas que apresentam boa capacidade de fixar este nutriente sim- bioticamente. Em um sistema de rotação de culturas, deve-se aplicar o adubo orgânico

no cultivo de cereais e cultivar a leguminosa em sucessão, para aproveitamento do efeito residual.

O material orgânico sólido deve ser armazenado preferencialmente com baixo teor de umidade e em locais cobertos, para evitar perdas de amônia por volatilização, e de nitrato e de potássio, por eluição. Deve-se evitar a entrada da água de chuva nas esterqueiras e o excesso de água de lavagem dos estábulos, para não diluir excessiva- mente o material; o teor de matéria seca deve ser mantido entre 6% e 7% para o esterco líquido de suínos e entre 7% e 8% para o esterco líquido de bovinos.

A utilização continuada de adubos orgânicos pode melhorar as propriedades físicas do solo (porosidade, capacidade de retenção de água) e aumentar alguns atri- butos químicos (CTC, teor de P e de matéria orgânica, etc). Porém o uso excessivo de adubos orgânicos proporcionará os mesmos problemas que os decorrentes do uso excessivo de fertilizantes minerais, principalmente aqueles devidos à lixiviação de nitrato e o transporte de P para cursos d'água. Além disso, muitos adubos orgânicos, especialmente os derivados de animais alimentados com ração, apresentam teor ele- vado de alguns micronutrientes (Fe, Zn, Cu), que são acrescentados à ração na forma de sais. Por outro lado, os adubos derivados de lodo de esgoto ou de resíduos indus- triais podem apresentar metais pesados indesejáveis na cadeia alimentar (Tabela 9.2). Ainda é importante lembrar que os resíduos orgânicos incompletamente compostados podem ser fonte de organismos patogênicos (fungos, bactérias, vírus, helmintos).

9.7 - RESÍDUOS ORGÂNICOS E QUALIDADE AMBIENTAL

Nas proximidades de grandes cidades ou em criações de animais confinados, são disponibilizadas grandes quantidades de resíduos, como lodo de esgoto, composto de lixo, dejetos de suínos e outros. Todos esses produtos apresentam valor fertilizante. Entretanto o transporte para áreas distantes é oneroso e, em conseqüência, muitas vezes são aplicadas quantidades excessivas ao solo das proximidades dos pontos de geração desses resíduos, podendo causar prejuízos ambientais. Os principais impactos ambientais negativos desta prática são:

a) acúmulo de nitrato em águas superficiais e/ ou subterrâneas;

b) aumento do teor de fósforo em águas superficiais, devido ao escoamento de material orgânico solúvel ou particulado, causado por enxurrada ou descarga direta nos cursos d'água, provocando eutrofização;

c) aumento da carga orgânica e da demanda biológica de oxigênio (DBO) nos corpos d'água, com prejuízo para a fauna aquática;

e) acúmulo de metais pesados no solo, tornando-o impróprio à produção de ali- mentos para consumo humano.

Com referência ao último item, as legislações de diversos países estabelecem limites máximos de aplicação de vários metais no solo, conforme consta na Tabela 9.7. No Estado do RS, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler (FEPAM) estabeleceu limites para a adição de metais no solo. Os limites de aplicação podem ser monitorados pelo somatório das quantidades adicionadas, com base na análise do material ou do solo.

Para evitar a poluição ambiental, que pode ocorrer com a aplicação de grandes quantidades de resíduos, deve-se:

a) não aplicar os resíduos em áreas próximas a cursos d'água (permanentes ou vias de drenagem intermitente);

b) aplicar os resíduos subsuperficialmente, deixando, de preferência, a superfí- cie do solo irregular; outras práticas de controle à erosão são também essenciais (ter- raceamento, cordões vegetados, etc.);

c) não aplicar quantidades que liberem 20% a mais do que o nitrogênio reco- mendado para a cultura, conforme cálculo exemplificado no item 9.4; a dificuldade neste caso, é a estimativa da taxa de decomposição;

Tabela 9.7. Quantidades de metais que podem ser aplicados no solo, conforme a legisla- ção de diversos países e do Estado do RS

Metal USA

(1) CEE(2) RS(3)

Total Taxa anual Total Total

- - - -- - - kg/ ha - - - - Cu 1500 75 120 280 Zn 2800 140 300 560 Cr - - - 1000 Ni 420 21 30 70 Pb 300 15 150 1000 Cd 39 1,9 1,5 5 Hg 17 0,8 2,0 2 (1)USEPA (1996).

(2)Comunidade Econômica Européia (CEE, 1986). (3)Rodrigues et al. (1993).

d) não aplicar quantidades que, cumulativamente, possam ultrapassar os limi- tes de metais estabelecidos pela legislação; e,

e) manter a vegetação ripária.

A utilização de resíduos industriais em áreas florestadas é uma alternativa de descarte, tendo em vista o não aproveitamento dos produtos florestais na alimenta- ção. O uso de resíduos em solos arenosos deve ser feito com cuidados adicionais, pois a fração biodisponível dos metais às plantas e aos microorganismos pode ser maior do que em solos argilosos. No caso de aplicação de resíduos orgânicos em áreas de pasta- gem natural, devem ser introduzidas espécies forrageiras de maior potencial de produ- ção de massa e aplicadas doses menores no período de inverno.