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PREFÁCIO

3. ENQUADRAMENTO HIDROCLIMATOLÓGICO

3.1.2. AFLUENTES NA MARGEM ESQUERDA DO TEJO

O afluente da margem esquerda do Tejo que estabelece (em parte) a fronteira este de Portugal com a Espanha, à semelhança do que acontece com o Erges, é o rio Sever. Com 57 km de comprimento (Perfil 12, Quadro 3. 4), nasce na serra de S. Mamede (na ZCI), em Marvão, à altitude de 750 m, na “Formação de S. Mamede” (DSM), constituída por xistos, arenitos e calcários. Corta os granitos hercínicos e desagua em Fronteira, à cota de 70 m, no “Complexo xisto- grauváquico das Beiras”, nos turbiditos de Perais (CBP).

A ribeira de Nisa nasce na vertente oeste da serra de S. Mamede, na Lapa (Nisa), à altitude de 900 m, nos xistos, arenitos e calcários da “Formação de S. Mamede”. Atravessa o Silúrico, os ortogneisses pré-hercínicos e os granitos hercínicos. Junta-se ao Tejo a montante da barragem de Fratel, à cota de 60 m, no “Complexo xisto-grauváquico das Beiras”, percorridos 49 km (Perfil 13, Quadro 3.4).

Com nascente nos depósitos sedimentares pliocénicos (OO), a ribeira de Ulme, com ligação à vala de Alpiarça, nasce em Aranhos à altitude de 150 m. Situa-se nela a barragem dos Patudos, destinada a fins agrícolas.

A ribeira de Magos, com nascente no Pliocénico (OO), nasce em Magos à cota de 60 m; possui uma represa para fins agrícolas.

O afluente mais importante da margem esquerda do Tejo é o rio Sorraia, com cinco importantes ribeiras afluentes, quase todas oriundas de terrenos da Zona de Ossa-Morena (ZOM).

Na margem direita do Sorraia, a ribeira da Raia nasce em Retorta (Sousel) (Perfil 15 a, Quadro 3. 4), à altitude de 230 m. A ribeira da Seda, onde se situa a barragem do Maranhão, nasce, à cota de 340 m, em Cabeça Alta (Portalegre), nos xistos e grauvaques do Proterozóico (PEMT); atravessa os granitos hercínicos e entra no Cenozóico até a confluência com o Sorraia, praticamente no limite entre o Pliocénico e o Miocénico (Perfil 15 b, Quadro 3. 4). A ribeira de Sor, onde se situa a barragem de Montargil, nasce em Feitosa (Crato), à altitude de 340 m, em ortogneisses pré-hercínicos; passa pelos granitos hercínicos, entrando, em Monte da Pedra, no Pliocénico (Perfil 15 c, Quadro 3. 4). A ribeira de Erra (Perfil 15 d, Quadro 3. 4) nasce em Olho de Água (Montargil), à altitude de 150 m, nos depósitos sedimentares cenozóicos.

O primeiro componente da margem esquerda do rio Sorraia é a ribeira de Tera (Perfil 15 e, Quadro 3. 4). Esta nasce em Farinheira (Vila Viçosa), à altitude de 350 m, no Ordovícico (OBa), atravessa xistos e grauvaques da “Formação de Ossa” (COs) e os granitos hercínicos, para entrar no Pliocénico nos arredores de

Mora. A ribeira do Divor (Perfil 15 f, Quadro 3. 4), onde se situa a barragem do Divor, nasce em Moguizo (Évora), à altitude de 370 m, em tonalitos hercínicos, passa pelo “Complexo vulcano-sedimentar de Montemor-Ficalho” (XM) e por granitos hercínicos; entra no Miocénico perto de Brotas, atravessando o Pliocénico. Desagua no Sorraia nos terraços quaternários.

O rio Almansor recebe as ribeiras afluentes de Lavre (Perfil 16 a, Quadro 3.3) e de Canha (Perfil 16 b, Quadro 3. 4). Nascem, repectivamente, no Maciço Antigo em Amoreira (Montemor-o-Novo), à altitude 250 m; e em Andorinho (Arraiolos), à altitude de 210 m.

A ribeira de Lavre nasce em anfibolitos proterozóicos, passa pelos granitos hercínicos do Maciço de Évora, e pelo Miocénico, para terminar no Pliocénico. A ribeira de Canha nasce nos granitos hercínicos do Maciço de Évora, atravessa anfibolitos proterozóicos e entra no Miocénico em Vendas Novas, passando depois ao Pliocénico.

Na margem esquerda do rio Tejo teremos de considerar ainda, embora menos importante, a contribuição da Península de Setúbal, através do rio Judeu, Vala Real e a ribeira da Moita. A ribeira da Moita e o rio Judeu desenvolvem o seu percurso, exclusivamente, no Pliocénico; a Vala Real surge dos calcários e margas do Titoniano (J3F) da Serra da Arrábida.

QUADRO 3. 4

Afluentes do rio Tejo: comprimento do curso de água, cotas na nascente e na foz LINHA DE ÁGUA (rios e ribeiras) COMPRIMENTO (km) NASCENTE cota (m) FOZ cota (m) Margem direita Ponsul Ocresa Zêzere Nabão Almonda Alviela Maior Alcobertas Almoster Ota Alenquer Trancão Loures 73 76 176 65 28 40 40 42 42 24 25 22 23 660 1220 1950 326 200 505 200 379 150 140 340 330 230 70 40 10 20 10 8 - - - 2 2 1 1 Margem esquerda Sever Nisa Alpiarça Ulme Muge Raia Seda Sor Erra Tera Divor Canha Lavre 57 49 36 50 64 116 162 143 78 138 101 104 83 750 900 150 190 200 230 120 340 150 350 370 300 250 70 60 10 10 6 70 70 25 17 65 17 21 21

3.2. CLIMATOLOGIA

O estudo do clima constitui tarefa prioritária e de capital importância numa região desconhecida sob o ponto de vista hidrogeológico. Os critérios de prospecção e pesquisa a seguir em regiões húmidas, áridas ou semiáridas não são os mesmos.

Apesar dos estudos climatológicos se revestirem de grande importância, o tempo que lhes é dedicado é relativamente breve no que se refere aos restantes trabalhos.

O clima de uma área depende de características que a condicionam e são a razão das suas peculiaridades.

Os factores condicionantes são, em termos gerais, a proximidade do mar, a orografia, a hidrografia, a altitude, as concentrações urbanas, as áreas de bosque e superfícies interiores com água (lagos e represas).

A caracterização climática bem como a quantificação das componentes principais do ciclo hidrológico, ainda que sucintas, são de capital importância na estimativa das disponibilidades hídricas de uma região. Essas componentes são, genericamente, a precipitação, a temperatura e a evapotranspiração, real e potencial. Conhecidos estes parâmetros, é possível estabelecer balanços temporais que permitem quantificar os défices e excedentes de água num determinado intervalo de tempo. É dos excedentes que resultam os escoamentos subterrâneo e superficial, os quais alimentam os aquíferos e as linhas de água, principais fontes de abastecimento às populações para os diversos fins.

O clima de Portugal continental é influenciado (COSTA, 1994), pela acção conjugada de factores que actuam diferencialmente consoante a região e a época do ano, como sejam, a frente polar, o desenvolvimento da costa e o relevo. No Inverno, domina a frente polar, caracterizada por massas de ar frio; no Outono, as famílias ciclónicas do Atlântico; e no Verão, torna-se preponderante a influência dos anticiclones quentes do golfo da Biscaia e das Ilhas Britânicas. A acção conjugada destes factores determina a distribuição, na área estudada, dos valores das temperaturas e o regime de precipitações ao longo do ano.

O clima da parte portuguesa da bacia hidrográfica do Tejo é do tipo Mediterrâneo de transição para Atlântico. De acordo com a classificação racional de climas de Thornthwaite, baseada no valor do índice hídrico, ALMEIDA (1977), classifica o clima da área da Lezíria Grande como húmido, o da área a norte do Sorraia como sub-húmido e o da zona sul do Sorraia como sub-húmido-seco.

Para uma área tão extensa como a abordada aqui, o desenvolvimento deste tema de forma pormenorizada dava, só por si, para uma dissertação de doutoramento. A grande quantidade de dados necessários (e a inexistência, em muitos casos, de séries completas representativas de parâmetros tão aleatórios como os que estão em causa), bem como a dispersão da informação disponível constituíram limitações ao desenvolvimento do estudo.

Considerando o exemplo da precipitação, são satisfatórias a distribuição e a representatividade dos dados, pois existe uma rede bastante completa para todo o País de observatórios com registos consecutivos de 1941 a 1983; foram tratadas 93 000 medições de leituras de precipitações médias mensais (SIMÕES, 1991), por via informática. Tomaram-se séries de 42 anos consecutivos de registos efectuados em 185 estações, nas bacias hidrográficas do Tejo e do Sado. Um dos objectivos do trabalho foi traçar a carta de isoietas mensais para a área de estudo.

Não obstante as dificuldades, não deixamos de proceder à apreciação, ainda que sucinta e breve, das componentes principais do ciclo hidrológico em subdivisões (A, B e C), definidas para o efeito.

(A) Cenozóico na margem direita do rio Tejo (CMD) 3150 km2 (B) Cenozóico na margem esquerda do rio Tejo (CME) 6354 km2 (C) Bacia hidrográfica do Tejo em Portugal (BH) 25 641 km2

As divisões consideradas resumem a tentativa de efectuar balanços em áreas que, do ponto de vista hidrogeológico, se comportam de modo uniforme e homogéneo. Ao mesmo tempo, a distribuição geográfica facilita os cálculos. Revelaram-se também bastante abrangentes e representativas das unidades aquíferas. Estávamos, assim, em situações próximas das ocorrentes nos depósitos neogénicos da margem direita (constituída por depósitos sedimentares miocénicos com características muito semelhantes) e dos depósitos pliocénicos da margem esquerda, identificando-se a restante área, incluída na bacia hidrográfica com o meio fissurado de características diferentes, que poderão contribuir directa ou indirectamente para a recarga dos aquíferos e, assim, podermos contar com esses mananciais.

Para determinar as precipitações médias mensais (que constam do quadro dos balanços hídricos), partimos de cartas de isoietas médias mensais traçadas para o conjunto das bacias hidrográficas dos rios Tejo e Sado (SIMÕES

& COSTA, 1992). A evapotranspiração potencial foi calculada pela fórmula de Thornthwaite, em função da temperatura do lugar, do índice calórico anual e da latitude do lugar. A capacidade de campo considerada foi de 100 mm, por ser a que menos erros introduzia no processo, uma vez que partimos de áreas muito extensas.